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ACADEMIA PERNAMBUCANA DE CIÊNCIAS (APC) TEM NOVOS ACADÊMICOS (CORREÇÃO)
SE EMPRESAS BRASILEIRAS INOVASSEM, CRISE PODERIA SER REVERTIDA
Agência Fapesp. 17.06.2019
MARCOS PONTES TENTOU COMANDAR RECURSOS DO FUNDO
Wanderley de Souza, Opinião, 26.06.2019
A CIDADE DE CURITIBA PRETENDE SER O NOVO VALE DO SILÍCIO BRASILEIRO
Mundo Digital, 26.06.2019
CONCURSO ATRAI STARTUPS ALEMÃS PARA O BRASIL
DWIH – Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo
BOLSONARO, O ECOCIDA
Luiz Marques, Jornal da UNICAMP, 19.06.2019
AQUECIMENTO E DESMATE PODEM CORTAR AMAZÔNIA PELA METADE EM 2050
Observatório do Clima, 24.06.2019
Prof. Marcos Antonio Lucena - Secretário Regional
Profa. Rejane Mansur Nogueira - Secretária Adjunta
José Antônio Aleixo da Silva (Editor)
Professor titular da DCFL/UFRPE
Conselheiro da SBPC
Matheus Santos Veras
Designer do Jornal
SECRETARIA REGIONAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA (SBPC-PE) EM PERNAMBUCO ELEGE NOVA DIRETORIA
Pela primeira vez em sua história, a Secretaria Regional da SBPC-PE que foi fundada em 1961, e teve o Dr. Frederico Simões com primeiro Secretário Regional, será comandada por duas mulheres. Conheça um pouco sobre elas:
SECRETÁRIA REGIONAL - MARIA DO CARMO FIQUEREDO SOARES
Possui graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (1985), mestrado em Produção Aquática pela Universidade Federal da Bahia (1989) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2000). Atuou nas Universidades Federal do Amazonas (1990-2000) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (2001-2018).
Tem experiência na área de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca, com ênfase em Piscicultura Continental, principalmente nos seguintes temas: piscicultura, engenharia de pesca, ensino, pesquisa e extensão em Aquicultura e Recursos Pesqueiros.
Consultora ad hoc da FACEPE, da FABESP, da FUNDECT, da FAPEAM, da EMBRAPA. Revisora dos periódicos: Boletim do Instituto de Pesca, Boletim Técnico do CEPTA, Revista Brasileira de Agrociências, Revista Brasileira de Ciências Agrárias, Acta Scientarium Biological Sciences, Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal e Revista Pesquisa Agropecuária Brasileira.
Parecerista da Avaliação de Programas PET junto a CAPES e ao MEC/SEsu, de Cursos Superiores junto ao INEP e ao Guia do Estudante, da Editora Abril. Implantou o PET do curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Amazonas, tendo permanecido na tutoria de 1992 a 1996. Foi tutora do Programa de Educação Tutorial (PET) do curso de Engenharia de Pesca da UFRPE de 2001 a 2011.
Dedicou-se a atividades administrativas da UFAM e da UFRPE, tendo sido chefe do Departamento de Produção Animal e Vegetal (DPAV) da Faculdade de Ciências Agrarias da UFAM no biênio 1992-1993, Coordenadora Geral dos Programas PET da UFAM (1993-1994), Coordenadora de Planejamento de Ensino na Pró-Reitoria de Graduação da UFRPE (2001-2004), Interlocutora do Programa Especial de Treinamento (PET) da UFRPE (2002-2004). Coordenou o Laboratório de Aquicultura Prof. Johei Koike da UFRPE de 2002-2018. Conselheira da SBPC, Área B (AL, BA, CE, PB, PE, PI, RN e SE) gestão 2015-2019. Membro do Conselho de Representante da ADUFERPE pelo Departamento de Pesca e Aquicultura para o Biênio 2015/2017 e Biênio 2018/2020.
Atualmente é professora Associada IV, aposentada pela Portaria N. 103, de 23/01/2019. Encontra-se atuando em dois projetos de extensão vinculados a UFRPE e FACEPE respectivamente e na organização e participação de eventos na UFPE e outros locais.
SECRETÁRIA ADJUNTA - MARÍLIA REGINA COSTA CASTRO
Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (1999), graduação em Licenciatura em Ciências Agrícolas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2001), Mestrado em Agronomia (Ciências do Solo) pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2002) e doutorado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco (2008). Possui Pós-doutorado pela Technische Universität Berlin-Alemanha, na área de Tecnologias Ambientais e Gestão de Recursos Hídricos (2013).
É professora da carreira EBTT do Instituto Federal de Pernambuco - IFPE desde 2007, lecionando disciplinas nos cursos de Graduação e Pós-graduação em Tecnologia em Gestão Ambiental. Atualmente é membro permanente do Programa de Pós-graduação em Gestão Ambiental do IFPE (Mestrado). É sócia da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência -SBPC e da Internacional Water Association (IWA). Membro titular do Conselho Gestor do Refúgio de Vida Silvestre do Engenho Uchoa-Pernambuco.
Tem experiência na área de Engenharia Sanitária, Agrícola e Ambiental, com ênfase em Gestão e qualidade ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: vinhaça, solo, resíduos no solo, recursos hídricos, águas subterrâneas, agrotóxicos e sistemas de gestão ambiental.
Participou como membro da Equipe Científica do projeto Finep para construção do Centro de Pesquisa do IFPE/Campus Recife, Chamada Pública MCT/Finep/CT-Infra-Proinfra01/2009, e é sua atual Coordenadora.
No Mestrado Profissional em Gestão Ambiental orientou sete dissertações e co-orientou nove. No Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da UFPE co-orientou uma dissertação e duas teses e no Programa de Ciências Florestais da UFRPE uma tese. Na Iniciação Científica orientou 10 trabalhos (bolsistas CNPq e do IFPE), na Iniciação a Extensão e outras modalidades 17 trabalhos (bolsistas IFPE), 16 trabalhos de conclusão do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental e cinco trabalhos na Especialização em Gestão Pública do IFPE.
Desempenhou funções administrativas como Coordenadora de Pesquisa do IFPE Campus Recife, Coordenadora do Curso de graduação em Tecnologia de Gestão Ambiental, Vice-coordenadora do seu Mestrado Profissional em Gestão Ambiental (MPGA) e foi Pró-reitora de Extensão do IFPE. Presidiu a Comissão de criação do Mestrado Profissional em Gestão Ambiental do IFPE-Campus Recife. Atualmente preside a Comissão de estruturação do curso de Engenharia Ambiental do IFPE Campus Recife e compõe a Comissão de criação do Doutorado Profissional em Gestão Ambiental do PPGA-IFPE.
Lidera o Grupo de Pesquisa Tecnologia Ambiental e Bioprocessos e coordena o Laboratório de mesmo nome, localizado no Centro de Pesquisa do IFPE. Coordena projetos de pesquisa e extensão e participa como colaboradora de outros em parceria com a UFPE (Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil), UFRPE (Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais), participa dos programas institucionais de Iniciação Científica, Iniciação a Extensão, Iniciação Tecnológica, Incentivo Acadêmico -BIA/FACEPE, monitoria e Estágio de Docência.
Atua como revisora de trabalhos científicos e é editora do periódico Coleção Interdisciplinar Meio Ambiente e Sustentabilidade-CIMAS vinculado ao Programa de Pós-graduação em Gestão Ambiental do IFPE. É consultora da fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Pernambuco-FACEPE. Foi bolsista de Produtividade em Pesquisa do Programa Institucional do IFPE e membro suplente da SBPC no Conselho Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco-CONSEMA.
ACADEMIA PERNAMBUCANA DE CIÊNCIAS (APC) TEM NOVOS ACADÊMICOS (CORREÇÃO)
No jornal passado a relação d@s nov@s acadêmic@s da APC saiu incompleta, pois cinco nomes não foram incluídos.
Segue abaixo a relação completa:
ANA LÚCIA FIGUEIREDO PORTO
EDVANIA TORRES DE AGUIAR GOMES
JOSE ALMIR CIRILO
LEONOR COSTA MAIA
LUANA CASSANDRA B. B. COELHO
LUCIA CARVALHO PINTO DE MELO
MANOEL JOSÉ MACHADO SOARES LEMOS
MARCELO BRITO CARNEIRO LEÃO
MARIA DE LOURDES FLOR. DOS SANTOS
MARIA DO SOCORRO DE M. CAVALCANTI
MARIA HELENA NEVES L. S. FILHA
MÉRCIA VIRGINIA F. DOS SANTOS
PATRÍCIA MUNIZ M. FREIRE DE MOURA
RAFAEL DHALIA
RICARDO LUIZ LONGO
RINALDO LUIZ CARACIOLO FERREIRA
SUZANA MARIA GICO L. MONTENEGRO
ZULMA MEDEIROS
Os nomes que estão em azul, não foram incluídos na edição passada.
INEP-MEC. ESCOLA DE APLICAÇÃO DA UPE É A MELHOR ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL DO BRASIL
Blog Informação e Opinião (Ronaldo Cesar), 24.06.2019
Resultado contou com mais de 11 mil escolas públicas e privadas que participaram do ENEM 2018
A Escola de Aplicação do Recife da Universidade de Pernambuco (UPE) foi classificada como a melhor escola pública estadual do Brasil de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) do Ministério da Educação (MEC).
“Isso é fruto de um trabalho de gestores, de professores, de alunos, da comunidade escolar e de todos nós que fazemos a UPE. Sabemos que ainda tem muito a ser feito, mas o caminho que vem sendo trilhado é o certo. Esse trabalho vai continuar sendo feito”, destacou o Reitor da UPE, Prof. Pedro Falcão.
Na classificação geral do Estado, incluindo escolas públicas e particulares, a Escola do Recife, como é mais conhecida, ocupou a terceira posição.
O resultado é fruto da análise dos microdados, que englobam as provas, os gabaritos, informações sobre os itens (questões), as notas e o questionário respondido pelos participantes inscritos, do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2018.
A divulgação das informações cumpre as diretrizes da política de dados abertos e atende a demanda por informações específicas sobre o Enem. O objetivo do Inep é disseminar as informações educacionais que produz.
Os dados do Enem 2018 resultou em uma lista de 11.212 escolas. Desse total, 51% são privadas e o restante, públicas.
JOVENS DEFENDEM A CIÊNCIA, MAS DESCONHECEM PRODUÇÃO CIENTÍFICA DO PAÍS
Herton Escobar, Jornal da USP, 24.06.2019
Pesquisa inédita com mais de 2 mil pessoas revela o que os jovens pensam, sabem e não sabem sobre a ciência e tecnologia no Brasil
A maioria dos jovens brasileiros gosta de ciência e acha que o governo deveria investir mais no setor — inclusive em momentos de aperto econômico, como o atual. Por outro lado, são poucos os que buscam ativamente informações sobre ciência e tecnologia; e apenas uma minoria sabe dizer o nome de alguma instituição de pesquisa nacional. A maioria se informa sobre o assunto pela internet, e confessa ter dificuldade para saber se uma notícia é verdadeira.
Esses são alguns dos resultados de um levantamento inédito sobre a percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil, com foco no público jovem. Realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), o estudo é baseado em 2,2 mil entrevistas domiciliares, realizadas com jovens de 15 a 24 anos de idade, em 21 Estados e no Distrito Federal, no início deste ano.
A pesquisa segue os moldes de um levantamento nacional sobre o tema, que vem sendo realizado periodicamente desde o início dos anos 2000, com resultados publicados em 2006, 2010 e 2015. Porém, com algumas especificidades e categorias adicionais. Além de focar no público jovem, os pesquisadores incluíram perguntas sobre o problema das fake news e questões relacionadas a posicionamentos políticos, morais e religiosos — numa tentativa de entender como esses posicionamentos afetam a opinião dos jovens sobre temas de ciência e tecnologia.
“É importante entender a percepção dos jovens, porque eles são nossos futuros cidadãos”, disse a coordenadora do INCT-CPCT e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Luisa Massarani. “É uma geração que já nasceu no contexto da internet.”
O Jornal da USP teve acesso com antecedência aos resultados do estudo, divulgados publicamente nesta segunda-feira, 24 de junho, no Museu da Vida da Fiocruz, no Rio de Janeiro. Veja alguns destaques da pesquisa abaixo.
Resultados
Quase 70% dos jovens entrevistados disseram ter interesse em ciência e tecnologia — mais do que em esportes (62%) e o mesmo que em religião (67%). O tema só ficou atrás de meio ambiente (com 80% de interessados) e medicina e saúde (74%), que também são temas fortemente ligados à ciência e tecnologia.
Cerca de 70% consideraram que a ciência traz “muitos benefícios” para a humanidade e 82% concordaram com a afirmação de que “a ciência e a tecnologia estão tornando nossas vidas mais confortáveis”.
Com relação ao apoio do poder público, 94% disseram que o governo federal deveria aumentar, ou ao menos manter, os investimentos em ciência e tecnologia, mesmo “sabendo que os recursos são limitados e que gastar mais com alguma coisa significa ter que gastar menos com outras”. Além disso, 68% concordaram que “ os governantes devem seguir as orientações dos cientistas”.
Apesar disso, somente 26% disseram buscar informações sobre o tema com frequência; e apenas 12% souberam citar o nome de alguma instituição “que se dedique a fazer pesquisa científica no Brasil”. As três instituições mais lembradas foram a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto Butantan e a Fiocruz. Só 5% souberam dizer o nome de algum cientista brasileiro. Os mais citados foram o astronauta Marcos Pontes (atual ministro da Ciência e Tecnologia), o inventor/aviador Santos Dumont e o médico sanitarista Oswaldo Cruz.
Pouco mais da metade (57%) dos entrevistados disse acreditar que “a ciência e a tecnologia vão ajudar a eliminar a pobreza e a fome no mundo”; 54% consideraram que os cientistas “estão exagerando sobre os efeitos das mudanças climáticas”; e 40% concordaram com a afirmação de que, “se a ciência não existisse, meu dia a dia não mudaria muito” — apesar de a ciência estar por trás de todos os produtos que utilizamos no nosso dia a dia, das roupas e alimentos aos remédios e aparelhos eletrônicos.
Análises
Os resultados são ao mesmo tempo “desalentadores e empolgantes”, segundo Yurij Castelfranchi, pesquisador do INCT-CPCT, diretor de divulgação científica e professor de Sociologia da Ciência na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Se por um lado os jovens demonstram ter uma visão muito positiva da ciência e dos serviços que ela presta para a sociedade, há um desconhecimento muito grande sobre conceitos básicos de ciência e sobre como a ciência e a tecnologia são produzidas no Brasil. “Esperávamos que os jovens se saíssem melhor que os adultos nesse quesito, por estarem mais próximos das universidades; mas não”, afirma Castelfranchi. “Temos um trabalho urgente a fazer na melhoria da comunicação da ciência no Brasil. Não só há pouco conhecimento, como a desinformação é muito alta.”
O cruzamento dos diversos dados do estudo — incluindo informações sobre o perfil político, religioso e socioeconômico dos entrevistados — sugere que “ter a verdade ao alcance de um click” não é suficiente para moldar a opinião dos jovens sobre temas científicos, ressalta Castelfranchi.
“Boa parte da atitude das pessoas sobre ciência não tem a ver com o seu grau de conhecimento científico, mas com posicionamentos políticos e morais”, diz o pesquisador. As opiniões sobre mudanças climáticas, por exemplo, são influenciadas por vieses políticos, enquanto que as opiniões sobre evolução humana são fortemente moldadas por crenças religiosas. “O nível de conhecimento é importante, mas não é suficiente.”
É algo que precisa ser levado em conta na formulação de estratégias de comunicação da ciência sobre esses e outros temas polêmicos, como vacinas e alimentos geneticamente modificados, diz Castelfranchi. “A pessoa pode ter doutorado e ser contra transgênicos”, exemplifica ele — ainda que as evidências científicas respaldem amplamente a segurança desses alimentos.
Também fica claro no estudo que não há um “bloco único” de jovens anticiência no Brasil, mas uma pluralidade de opiniões e posicionamentos que são influenciados por fatores diversos na sociedade. “Não existe um grupo compacto que rejeita a ciência como um todo, mas pessoas que, em geral, reconhecem o valor da ciência e que rejeitam ou se distanciam de algumas áreas, aplicações ou evidências específicas”, afirma Castelfranchi.
Ecossistemas de informação
As mídias e plataformas digitais são as mais usadas pelos jovens para acessar informações de ciência e tecnologia, com grande destaque para o Google e YouTube — usados por 79% e 73% dos entrevistados, respectivamente, segundo a pesquisa.
Além das entrevistas-padrão, os pesquisadores realizaram conversas com grupos focais de jovens no Rio de Janeiro (RJ) e Belém (PA) para discutir principalmente a questão das fake news. As conversas revelaram uma mudança no “ecossistema” de consumo de informações, em que os jovens, mais do que buscar ativamente as informações que lhes interessam, passam a encontrá-las de forma passiva nas mídias digitais. Muitos, segundo Luisa, dizem “tropeçar” nas notícias sobre ciência e tecnologia, à medida que elas lhes são servidas pelas redes sociais e pelos mecanismos de busca da internet.
“O que está acontecendo é que os jovens estão perdendo o protagonismo no acesso e no tipo de informação de ciência e tecnologia com que têm contato”, avalia Luisa. “Porque, se você deixa de procurar a informação que te interessa e simplesmente espera que ela chegue até você, obviamente você perde o protagonismo nesse processo.”
A preocupação com a veracidade das informações parece ser alta. Cerca de um quarto dos entrevistados disse receber com frequência, ou “muita frequência”, notícias de ciência e tecnologia que acreditam que possam ser falsas. Quase metade considerou ser “difícil” saber se uma notícia é verdadeira e 21% disseram ser “muito difícil ou impossível” fazer essa checagem.
“Há uma expressão muito forte de angústia com relação a isso”, afirma Luisa. O método de checagem mais usado pelos jovens, segundo a pesquisa, é conversar com amigos e familiares.
O protagonismo do YouTube como mídia de preferência para obtenção de informações de ciência e tecnologia é algo que precisa ser avaliado com atenção, avalia Castelfranchi. “O YouTube pode ajudar muito como um motivador e como uma bússola, para apontar direções e conectar as pessoas com outras fontes de informação”, avalia o sociólogo. “Mas, sozinho, não é suficiente.”
O pesquisador alerta que os resultados quantitativos do estudo não devem ser avaliados de forma isolada, pois nenhum desses números conta uma história completa por si só. A verdadeira força desse tipo de pesquisa, segundo Castelfranchi, vem das análises qualitativas, que derivam do cruzamento de diversas informações.
Repercussões
Para o comunicador de ciência Atila Iamarino, do canal Nerdologia (com quase 2,5 milhões de inscritos no YouTube) o que a pesquisa revela é exatamente o modelo operacional dessas plataformas digitais — algo que já é conhecido e vem sendo explorado com grande eficiência pelos disseminadores de pseudociência e teorias da conspiração na internet.
“A proposta toda do YouTube é, justamente, otimizar o conteúdo e a maneira como esse conteúdo é apresentado para induzir o consumo passivo. É para você assistir um vídeo e ele te recomendar o próximo, depois outro, e mais outro, sem que você tenha de procurar ativamente aquilo que quer saber”, diz Iamarino, que é doutor em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP). “É em cima disso que esse mercado trabalha há pelo menos cinco anos.”
Os cientistas e as instituições de pesquisa brasileiras, segundo ele, não estão preparadas para trabalhar nem lidar com esse tipo de comunicação. Já os “anticientistas” sabem fazer isso muito bem — por exemplo para questionar a influência humana no aquecimento global ou a segurança das vacinas.
“Se você fizer uma busca por qualquer tema pelos quais os jovens se interessam hoje no Google, e principalmente no YouTube ou Facebook, só aparecem vídeos de conspiração e pseudociência”, diz Iamarino. “A anticiência está muito mais ativa nesses meios e conversando muito melhor com o público do que os canais de ciência propriamente dita. São vídeos mais engajantes, que mantêm as pessoas assistindo por mais tempo, e por isso mesmo são mais referenciados pelas plataformas para quem está fazendo consumo passivo de informação. Isso é terrível.”
Para a também microbióloga e divulgadora de ciência Natalia Pasternak, essa passividade informativa e o desconhecimento das instituições de pesquisa nacionais sugerem que o interesse dos jovens por ciência, na verdade, “é mínimo e superficial”.
“Esse dado também é muito preocupante, porque o consumo passivo de conteúdo deixa os jovens suscetíveis às informações impulsionadas por lobbies de grupos com interesses politicos e econômicos”, destaca Natalia, que é pesquisadora colaboradora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, diretora do festival Pint of Science no Brasil e diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC).
Uma pesquisa encomendada ao Datafolha pelo IQC e divulgada em maio indica, segundo ela, que 90% dos jovens brasileiros concordam que o aquecimento global é real e causado pelo homem. Segundo a pesquisa do INCT-CPCT, porém, 54% deles acham que os cientistas estão exagerando o problema. “Ou seja, entendem que o problema existe mas não a sua gravidade, o que demonstra também um comportamento superficial e de desinteresse”, avalia Natalia. “Estamos falhando em engajar os jovens em ciência.”
O professor Nelio Bizzo, da Faculdade de Educação da USP, especialista em educação científica, aponta também para o fato de a grande mídia brasileira não valorizar devidamente os feitos da ciência nacional. “Temos grandes projetos científicos, produzindo resultados muito importantes, mas que passam despercebidos pela grande imprensa, só por serem de instituições públicas”, afirma Bizzo. “Altas autoridades se manifestam mostrando total desconhecimento da ciência brasileira; então não surpreende que o cidadão comum também a desconheça.”
SE EMPRESAS BRASILEIRAS INOVASSEM, CRISE PODERIA SER REVERTIDA
Agência Fapesp. 17.06.2019
Interesse das empresas em inovar
A estagnação da produtividade da economia brasileira nos últimos anos se deve, entre outros fatores, à baixa atividade de inovação do setor industrial no país - assim como ao próprio encolhimento desse setor industrial, uma vez que o país passa por uma fase reconhecida de desindustrialização.
A fim de mudar esse quadro, é essencial que a iniciativa privada se interesse em incorporar as políticas e as práticas da inovação.
Esta é a avaliação dos participantes de um debate durante o 8º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, evento promovido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) e pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em São Paulo.
"O Estado tem o papel importante de alavancar o investimento e o esforço do setor privado em inovação. Mas o protagonismo nessa seara é, fundamentalmente, da iniciativa privada," disse Carlos Américo Pacheco, da FAPESP. "Sem uma iniciativa forte do setor privado em inovar, as políticas públicas voltadas a fomentar essa atividade serão inócuas." disse Pacheco.
Tecnologias novas e já existentes
Segundo Jorge Almeida Guimarães, diretor-presidente da Emprapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), há 307 mil empresas classificadas como indústrias no Brasil, das quais 83% são pequenas empresas.
Se um número pequeno dessas empresas inovasse já seria possível, em poucos anos, sair da crise econômica em que o Brasil se encontra, estimou. "Estimular a inovação nas pequenas indústrias brasileiras representa um enorme desafio e custa caro. Precisamos de políticas públicas que facilitem esse processo," disse.
Políticas públicas de apoio à inovação deveriam ter foco não só a inovação disruptiva, baseada em pesquisa e desenvolvimento (P&D), mas também na inovação incremental, recomendou Igor Nazareth, subsecretário de inovação do Ministério da Economia: "A inovação organizacional e de processos, por exemplo, traz ganhos de produtividade para as indústrias".
Outra medida necessária é estimular a difusão de tecnologias existentes, como de internet das coisas (IoT), megadados, robótica avançada e inteligência artificial, que permitiriam ao setor industrial brasileiro se capacitar para atender às exigências da indústria 4.0 ou da manufatura avançada no país, ponderou Pacheco: "Ao olhar para o parque industrial do país vemos que há uma grande necessidade de difundir tecnologias existentes de modo a atualizá-lo. Parte das políticas públicas de inovação deve ter esse foco."
Torneirinha de incentivos
Os participantes lembraram das várias políticas públicas voltadas à inovação criadas no Brasil nos últimos 20 anos. Mas eles pedem mais.
Nesse período foram criadas, por exemplo, a Lei de Inovação, que trouxe uma série de avanços para aumentar a interação entre universidades e empresas em pesquisas e que estabeleceu incentivos fiscais para a inovação no setor industrial.
"O Brasil conta com inúmeros modelos inovadores de gestão da inovação e com instituições de ciência e tecnologia. Essa experimentação institucional contínua é fundamental para estabelecer um sistema de inovação saudável e produtivo no país," disse Cauam Ferreira Pedroso, pesquisador do Centro de Desempenho Industrial do MIT, dos Estados Unidos.
Um dos desafios na implementação de políticas públicas voltadas a estimular a inovação, porém, é garantir a segurança jurídica para as empresas fazerem investimentos nessa atividade, disse Paulo Alvim, secretário de empreendedorismo e inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC): "É fundamental o entendimento de que a inovação é um processo continuado. Não podemos ter processos espasmódicos, mas evolutivos, e que garantam o fluxo de recursos necessários para fortalecer a capacidade de inovação das empresas."
Outro desafio apontado por Pedroso é não tratar as políticas de inovação de forma isolada de outras, como as econômicas e sociais: "As políticas de inovação são transversais e influenciam as políticas econômicas e sociais. Nesse sentido, a agenda de políticas econômicas e sociais do Brasil está intimamente ligada à capacidade de implementação de uma agenda de inovação e crescimento estratégica."
FINANÇAS APROVA DESTINAÇÃO DE 25% DE FUNDO DO PRÉ-SAL PARA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Luis Macedo, Agência Câmara Notícias, 27.06.2019
Fundo Social já prevê recursos do pré-sal para ciência e tecnologia. Projeto aprovado apenas estabelece percentual mínimo para a área
Deputado Otto Alencar Filho, relator da proposta
A Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 5876/16, que destina 25% do Fundo Social do Pré-Sal para programas e projetos na área de ciência e tecnologia.
O relator, deputado Otto Alencar Filho (PSD-BA), recomendou a aprovação, devido à adequação financeira e orçamentária. “O projeto não aumenta despesa, não propõe renúncia de receita, não cria fundo contábil e nem vincula receita orçamentária a qualquer tipo de despesa”, disse.
Segundo Otto Alencar Filho, a lei que criou o Fundo Social (12.351/10) – recursos oriundos da exploração do petróleo da camada do pré-sal – já determina o investimento dos recursos nas áreas de educação, cultura, saúde pública, meio ambiente e ciência e tecnologia. A proposta apenas estabelece um percentual mínimo para a área de ciência e tecnologia.
O projeto foi apresentado pelo ex-deputado Celso Pansera, que foi ministro da Ciência e Tecnologia e Inovação no governo Dilma Rousseff, e pela deputada Bruna Furlan (PSDB-SP). O texto já havia sido aprovado pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.
Tramitação
O projeto tramita em caráter conclusivo e ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.
ÍNTEGRA DA PROPOSTA:
Reportagem – Ralph Machado
Edição – Roberto Seabra
MARCOS PONTES TENTOU COMANDAR RECURSOS DO FUNDO
Wanderley de Souza, Opinião, 26.06.2019
No mundo acadêmico brasileiro, a sigla Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) sempre esteve associada à Financiadora de Estudos e Projetos Finep). Tanto o Fundo como a empresa foram criados bem antes do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC).
Ao longo de todos estes anos passaram pelo MCTIC dezenas de ministros e secretários executivos, muitos com grande prestígio científico ou político. Nunca passou pela cabeça destes experientes gestores retirar o FNDCT da Finep e transferi-lo para o MCTIC. Afinal, o Fundo foi criado para apoiar a infraestrutura científica brasileira bem como, tanto por subvenção econômica como por operações de crédito em condições especiais, estimular o processo de inovação tecnológica nas empresas.
Eis que de repente, e sem nenhuma consulta aos representantes da comunidade, a nova equipe dirigente do MCTIC, tendo à frente o ministro Marcos Pontes, resolve propor ao Poder Legislativo, de forma quase que reptícia, o esvaziamento da Finep visando concentrar os recursos do Fundo em suas mãos para poder determinar o seu destino.
É necessário recompor o quanto antes o orçamento do FNDCT
O papel do FNDCT é apoiar os melhores projetos de infraestrutura com base exclusivamente na análise de relevância científica e de mérito, o que deve ser feito sempre por uma agência de fomento e não por um órgão de natureza política, com decisões ao sabor dos interesses que nem sempre são os mais adequados para a Ciência brasileira.
Para atuar como secretaria-executiva do FNDCT, a Finep se estruturou com dezenas de técnicos altamente especializados no julgamento e acompanhamento de projetos. À tentativa do ministro, a comunidade acadêmica se posicionou com um rotundo não.
Em claro desrespeito à opinião da comunidade, bem como do corpo funcional da Finep, o ministro Marcos Pontes enviou mensagem a membros do Congresso nos seguintes termos: “Peço o seu apoio para que essa parte da MP (art. 76-A do PLV 10) não seja retirada, e a secretaria-executiva do Fundo Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico fique no MCTIC, o que é natural e lógico para a coordenação e alinhamento de prioridades”. Felizmente, para a mais isenta utilização dos recursos, a Câmara dos Deputados não atendeu à reivindicação do ministro.
A cada dia, o Ministério de Ciência e Tecnologia vem se mostrando incompetente para atender às demandas da comunidade acadêmica que vê, com preocupação crescente, a deterioração das condições de desenvolvimento de projetos de pesquisa. A equipe ministerial, reconhecidamente a mais frágil do ponto de vista técnico e político dos últimos 25 anos, precisa mostrar rapidamente a que veio.
É necessário recompor o quanto antes o orçamento do FNDCT aprovado pelo Congresso Nacional autorizando a Finep a efetivar empenhos no montante de R$ 851,1 milhões, tal como aprovado pelo Congresso Nacional. Se tal não ocorrer, ficará o sentimento de que o MCTIC está sem prestígio, o que vai requerer maior articulação da comunidade científica no sentido de solicitar mudanças que efetivamente atendam a área de Ciência e Tecnologia.
Cabe ainda registrar, e isto não é culpa da atual gestão, que o MCTIC conta hoje com mais pessoal do que as maiores instituições de pesquisa a ele vinculados. É a atividade meio suplantando a atividade fim. Neste contexto, cabe sempre registrar que as agências de fomento e as instituições de pesquisa são indispensáveis para o desenvolvimento científico e tecnológico, enquanto que ministérios devem se ater apenas à definição de macro políticas setoriais.
Inclusive países líderes da Ciência mundial, como é o Caso dos Estados Unidos, não têm ministério (ou Departamento de Estado) voltado para Ciência e Tecnologia. Na atual gestão do MCTIC já se percebe uma clara inversão de valores, e a tentativa frustrada de tirar o FNDCT do âmbito da Finep aponta neste sentido.
Aliás, atitude semelhante se passa neste momento na Hungria, onde o primeiro-ministro Victor Orban planeja retirar do âmbito da Academia de Ciências da Hungria, uma instituição de Estado, a coordenação dos seus institutos de pesquisa para abrigá-los em uma nova entidade mais controlada pelo governo. Por trás desta ideia está o desejo de que “os recursos sejam destinados a projetos de interesse da economia húngara”.
Nada contra que a pesquisa científica seja “motivada” ao estudo dos problemas de cada país, e para tal é necessário ampliar os recursos e definir claramente os programas estratégicos, o que deve sim ser papel dos ministérios ouvindo as entidades mais representativas da área.
Wanderley de Souza
Professor titular da UFRJ, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina. Ex-secretário-executivo do MCT, ex-presidente e ex-diretor da Finep.
A CIDADE DE CURITIBA PRETENDE SER O NOVO VALE DO SILÍCIO BRASILEIRO
Mundo Digital, 26.06.2019
Vale do Silício (Silicon Valley) é o apelido dado a região da baía de São Francisco, na Califórnia, onde estão situadas algumas das principais e mais inovadoras empresas de tecnologia do planeta. No Brasil, a cidade de Curitiba está cobiçando o título de “Vale do Silício brasileiro”. A capital paranaense é palco do surgimento de várias empresas e startups de destaque no mercado nacional da tecnologia. Essa efervescência fez com que a Prefeitura de Curitiba tirasse do papel o projeto do Vale do Pinhão, que reúne instituições de ensino, investidores e grandes empresas com o objetivo de transformar a cidade em referência em inovação.
Um ótimo exemplo dessa onda inovadora da capital paranaense está na área da saúde. Em 2015, Fábio Tiepolo, que contava com vasta bagagem na indústria farmacêutica, resolveu criar o aplicativo de saúde Docway. Na época, lançado inicialmente em Curitiba, a startup tinha como objetivo melhorar o atendimento de saúde no Brasil, levando o médico até o paciente.
“Nós queríamos trazer algo novo, algo que fosse realmente modificar o olhar de todos em relação à saúde. No país onde o déficit de consultas chega a quase 407 milhões, o aplicativo veio como uma ótima alternativa”, comenta Fábio Tiepolo, CEO e idealizador do aplicativo
No Docway, que roda nos sistemas Android e iOS, há um banco de dados com milhares de médicos disponíveis. Ao escolher a especialidade, o usuário pode solicitar a consulta para quando desejar. As consultas não têm preço fixo, variando de acordo com atendimento e especialidade. “Hoje, o Docway conta com mais de 55.000 downloads e está presente em mais de 340 cidades brasileiras, entre elas grandes capitais como Curitiba, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Salvador e Rio de Janeiro. O aplicativo conta ainda com mais de 4.000 médicos cadastrados no sistema, com diversas especialidades, como pediatria, ginecologia, cardiologia, psiquiatria e geriatria”, destaca Tiepolo.
Outro case de sucesso que teve origem na capital paranaense é de julho de 2011: a Nexcore Tecnologia. Com um conceito moderno de empreendedorismo e apostando em soluções inovadoras, desenvolvidas na época por Ricardo Zanlorenzi e Gabriel Ortiz Lour, a empresa curitibana queria preencher um espaço falho e carente. Ela passou a oferecer uma plataforma de alto nível com preço justo para se transformar em uma referência nacional na fabricação de softwares para comunicação empresarial e relacionamento com clientes. Rapidamente a Nexcore se consolidou como uma das principais empresas do segmento, com atuação no Brasil, México e Angola, atendendo o complexo mercado de contact centers e verticais de mercado de missão crítica, como os setores da saúde e mercado financeiro. Atualmente, a empresa é responsável pela gestão de contact centers de mais de 300 empresas e instituições brasileiras de pequeno, médio e grande porte.
Ricardo Zanlorenzi desenvolveu a Nexcore Tecnologia
O James Delivery, fundado pelos empresários Juliano Hauer, Lucas Ceschin, Eduardo Petrelli e Ivo Roveda, é outro exemplo da inovação curitibana. Após uma temporada no Vale do Silício, eles voltaram para o Brasil com uma ideia inédita no país: criar um aplicativo onde os entregadores compram o que você quiser, na loja que você preferir e entregam no endereço em que você indicar. Ou seja, por meio do aplicativo é possível comprar perfume, comida, temperos, cartucho para impressora, ração para cachorro, flores e muito mais. E o melhor, tudo isso de maneira muito mais sustentável. 70% da frota do James é formada por bicicletas, o que torna as entregas ecologicamente responsáveis. No ano passado, a empresa curitibana foi adquirida pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA), mas a gestão segue na capital paranaense nas mãos dos fundadores.
James Delivery, um aplicativo onde os entregadores compram o que você quiser, na loja que você preferir e entregam no endereço em que você indicar
Para completar, a curitibana Portiee, que integra o Grupo Primee, também chegou ao mercado com uma solução tecnológica que tem ajudado milhares de brasileiros. A empresa laçou uma portaria remota exclusiva, utilizada por condomínios para substituir o porteiro convencional por sistemas de monitoramento 24 horas. Por trás dessa decisão dos condomínios, estão fatores primordiais: a busca por redução de custos, a definição de procedimentos de portaria bem-estabelecidos e o aumento da tecnologia, visto que há uma necessidade de investir em equipamentos.
“Para os conjuntos residenciais ou comerciais pequenos, as portarias convencionais têm um custo elevado – incidindo diretamente no valor da mensalidade – e geram uma dificuldade extra para administrar mão de obra”, detalha Igor Marçal, sócio fundador da Portiee.
Inovação de berço
Para Ronaldo Cavalieri, CEO do Centro Europeu – primeira escola de Economia Criativa do Brasil e Business Development Manager do Microsoft Innovation Center Curitiba, a capital paranaense tem destaque a nível internacional pelas suas inovações urbanas e sempre concentrou perfis diferenciados em muitas áreas de atuação. “Em termos mais amplos, Curitiba se destaca na tecnologia pelo seu volume de indústrias, empresas com perfis arrojados e grupos educacionais de impacto. Tudo isso aliado ao perfil do curitibano que é mais sério e exigente, dando condições para que um ambiente de tecnologia e inovação se desenvolvam”, detalha o especialista.
Além disso, quando se refere ao mercado de tecnologia da informação, Ronaldo destaca que Curitiba sempre foi referência em relação a sua mão-de-obra qualificada e que cada vez vem sendo mais exigida, em função da recessão da economia, para aumentar eficiência e racionalizar processos, o que impulsiona ainda mais os negócios dessas áreas. “Essa capacitação profissional destacada faz com que o mercado evolua com mais velocidade, contribuindo para essa excelência curitibana”, completa Ronaldo Cavalheri.
CONCURSO ATRAI STARTUPS ALEMÃS PARA O BRASIL
DWIH – Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo
© Divulgação
Startups da Alemanha têm em iniciativa da AHK São Paulo e do DWIH São Paulo uma grande oportunidade para se conectar ao ecossistema brasileiro de inovação, bem como a potenciais clientes. A vencedora na categoria “Alemanha” do Prêmio Startups Connected terá sua viagem financiada e poderá utilizar a estrutura do programa Startups Connected para seus primeiros passos no Brasil. As inscrições estão abertas até 19 de julho.
Através de um prêmio no Programa Startups Connected, o Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH São Paulo) e a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) abrem caminho para startups alemãs que queiram atuar no Brasil. A versão 2019 do programa tem início mais uma vez com um concurso com nove categorias para startups brasileiras e uma somente para alemãs interessadas em ingressar no mercado brasileiro. O prazo para candidaturas termina em 19 de julho.
À vencedora na categoria “Alemanha”, o DWIH São Paulo oferece uma viagem ao Brasil para a cerimônia de premiação e participação no 7º. Congresso Brasil-Alemanha de Inovação, nos dias 2 e 3 de outubro de 2019. Durante uma semana, a startup poderá conhecer o ecossistema brasileiro de inovação, podendo ter encontros com pesquisadores e potenciais clientes, fornecedores, investidores e parceiros. O roteiro de viagem e contatos será definido em conjunto com a startup vencedora e não está limitado a São Paulo.
Já a AHK São Paulo disponibiliza as instalações de seu Startups Connected Hub, localizado em um centro de empreendorismo, para servir de base para ações no Brasil. O prêmio proporciona visibilidade, networking, conexão com o mercado brasileiro e apoio à internacionalização.
As candidatas alemãs podem ser de qualquer área, desde que ofereçam soluções com potencial para o mercado brasileiro. Entretanto, ter soluções em uma das áreas das demais categorias do concurso poderá facilitar o início de sua atuação no país. As demais categorias da quarta edição do Programa Startups Connected baseiam-se em desafios de soluções inovadoras estabelecidos por seus patrocinadores, quase todas grandes empresas alemãs. Além da categoria “Alemanha”, promovida pelo DWIH São Paulo, o programa possui as seguintes categorias:
- Circular Economy, by BASF
- Data Farming, by Bayer
- Energy Efficiency for Industry, by GIZ
- Industrial Processes Digitalization, by Siemens
- Pacient Journey, by Oswaldo Cruz German Hospital
- Productive Chain 4.0, by Volkswagen
- Pulp and Paper Innovation, by Voith
- Sustainable Urban Mobility, by BMU
- TravelTech, by Lufthansa
Casos de sucesso: “categoria Alemanha” do Programa Startups Connected
Em 2018, a startup alemã SoilSpy foi a vencedora da categoria “Alemanha”. Ela se destacou com um dispositivo à base de um sensor nanoeletrônico que analisa o solo e pode ajudar os agricultores a aplicar a quantidade correta de fertilizantes. Por uma semana, o indiano Vijay Deep Bhatt, pós-graduando da Universidade Técnica de Munique (TUM), onde ele e seus dois sócios desenvolveram a solução, teve a oportunidade de realizar visitas técnicas diversas no Brasil, com suporte do DWIH São Paulo. Ele esteve na Embrapa Solos e na Embrapa Instrumentação Agropecuária, nas startups Fazenda Urbana e Mvisio, bem como nas empresas Basf e Bayer.
Em 2017, o prêmio nesta categoria foi igualmente para uma startup da área de agricultura digital, a alemã Greenspin, de Würzburg. A Greenspin oferece soluções em agricultura digital, com foco na digitalização, quantificação e monitoramento de diversas áreas para melhorar a produtividade e prevenir catástrofes. O diretor geral da startup, Clemens Delatrée, veio igualmente ao Brasil e manteve contatos com instituições de pesquisa (Embrapa Instrumentação Agropecuária, Esalq-USP, UFRGS), um produtor rural na Bahia e com empresas.
Mais informações e inscrições: https://www.startupsconnected.com.br/en/germany
O QUE O BRASIL TEM A ENSINAR À ALEMANHA NO MEIO AMBIENTE. E O QUE PODE APRENDER
Roger Pereira, especial para a Gazeta do Povo, 28.06.2019
"Vista aérea de trecho da reserva de Mamirauá, na Amazônia brasileira.| Foto: Mauro Pimentel/AFP"
O presidente Jair Bolsonaro disse na quinta-feira (27) que o Brasil tem muito a ensinar à Alemanha no meio ambiente, citando o uso de energias renováveis como exemplo. Era uma resposta às críticas que a chanceler alemã Angela Merkel havia feito, no dia anterior, aos rumos da política ambiental brasileira, especialmente sobre o desmatamento. A Gazeta do Povo levantou dados e consultou especialistas para saber quem está certo: Bolsonaro ou Merkel? E a conclusão é que cada país tem a aprender e a ensinar com o outro.
“O Brasil tem, de fato, muito o que ensinar", diz a vice-presidente da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (ABECO), Márcia Marques. "O Brasil assumiu um papel protagonista no plano ambiental ao longo dos anos. Vários dos acordos internacionais tiveram participação decisiva da equipe brasileira, que tem assentos importantes em todos esses órgãos. O Brasil é um país gigante, com uma economia também grande, com a maior biodiversidade do mundo e a maior floresta do mundo. Então, temos um protagonismo natural, somos muito relevantes do ponto de vista ambiental e sabemos compreender esse papel.”
Márcia Marques pondera: “Mas o Brasil precisa manter esse papel de protagonista, de pioneiro nessa questão. Nosso primeiro Código Florestal é de 1934. Nossa política de unidades de conservação é modelo. E a declaração da Merkel mostra preocupação com eventuais retrocessos nessa questão.”
VEJA TAMBÉM: Bolsonaro e Merkel se reúnem após troca de farpas sobre meio ambiente Bolsonaro tem reunião com Macron depois que o presidente francês ameaçou o Brasil se país sair do acordo climático Governo divulga ranking internacional de uso de agrotóxicos para mostrar que Europa utiliza mais defensivos que Brasil
Brasil e Alemanha: 67% contra 32% de vegetação preservada
O Brasil tem a terceira maior área florestal do planeta, com 4,7 milhões de km² conservados. Mais de 56% do território nacional é coberto por florestas e 67% das terras brasileiras ainda possuem sua vegetação nativa. É um exemplo de conservação para a Alemanha – que tem, hoje, apenas 32% de sua vegetação nativa preservada.
Ambos os países assumiram o compromisso de recuperar suas matas. Mas o Brasil saiu na frente por se comprometer com essa recuperação antes de a degradação ter sido mais extensa.
“Existe uma curva de transição [no desflorestamento]. Os países começam com uma alta cobertura de florestas. Tendem a perder parte disso na urbanização e industrialização. E, depois, buscam recuperar – o que está acontecendo hoje com a Alemanha e a Inglaterra", explica Natalie Unterstell, especialista em políticas públicas ambientais e ex-negociadora do Brasil na ONU para mudança do clima. "O Brasil e a Indonésia, que têm muita floresta, estão tentando não cair tanto nesta curva [de desflorestamento] e já iniciar a recuperação. O Brasil já colocou metas de recuperação no Tratado de Paris [acordo climático global], por exemplo.”
Natalie Unterstell diz que o monitoramento do desmatamento da Amazônia em tempo real, feito pelas autoridades brasileiras, é outro exemplo a ser seguido internacionalmente.
Ela também destaca experiências de uso sustentável da floresta por comunidades locais. “É o caso de reservas extrativistas, que a gente criou. Hoje temos, por exemplo, uma produção bilionária de açaí que advém dessas comunidades. E há interesse das organizações alemãs nessa nossa experiência.”
Brasil tem 75% de energia limpa contra 27,5% da Alemanha
Outro exemplo do Brasil para os alemães está em sua matriz elétrica. Quase 75% da eletricidade utilizada pelos brasileiros vem de fonte limpa e renovável – meta que a Alemanha pretende atingir apenas em 2050. Extremamente dependente do carvão e da energia nuclear, a Alemanha tem apenas 27,8% de sua matriz em energia limpa e renovável (eólica e solar, principalmente).
“Mas eles [os alemães] têm um programa robusto de energia, que prevê chegar a 50% em 2030 e mais de 80% em 2050", diz Natalie Unterstell. "Enquanto isso, o Brasil vem diminuindo a participação de energia limpa, que já foi de 90% nos anos 1990, apelando constantemente para as termoelétricas [movidas a carvão ou a óleo] nos períodos de seca. E não temos um planejamento energético alternativo a isso.”
Na questão energética, inclusive, a especialista cita a primeira lição que o Brasil precisa aprender com os alemães: eficiência energética. “Eles consomem mais, poluem mais, mas com muito mais eficiência no resultado do PIB. Eles aumentaram o PIB em 40% nos últimos anos, consumindo apenas 10% a mais de energia", diz Natalie Unterstell. "No Brasil, essa relação está invertida. Estamos aumentando o consumo acima do crescimento do PIB.”
A especialista faz uma advertência: “Falar que estamos em um quadro melhor hoje, mas não fazer nada daqui para frente, não é uma lição. Tem que olhar a foto do momento atual, mas também a tendência: de onde se está vindo e para onde está indo”.
Natalie também cita que Brasil e Alemanha têm uma forte parceria em energia renovável, com o país de Merkel exportando tecnologia para a geração de energia solar e eólica. “A pior área de insolação do Brasil equivale à melhor área de captação solar da Alemanha. Mesmo assim, eles têm mais de 40GWh de potência solar instaladas; e nós apenas 2GWh.”
Risco de sanções comerciais
Já o diretor-executivo da ONG ambiental Sociedade em Pesquisa da Vida Selvagem (SPVS), Clóvis Borges, tem uma visão mais crítica. Ele afirma que não há comparação entre o que Alemanha e Brasil têm feito pela conservação ambiental.
“Não há o que comparar. Eles estão recuperando florestas e nós desmatando", diz Borges. "A Alemanha, inclusive, investe pesadamente em projetos de conservação no Brasil. Os números de vegetação nativa no Brasil ainda são consideráveis porque a Amazônia maquia a real situação. Se tira a Amazônia, não sobra quase nada. Já acabamos com o Cerrado, com a Caatinga, com a Mata Atlântica”, critica. Ele prevê inclusive que o Brasil pode sofrer sanções comerciais por causa disso.
O que o Brasil tem a ensinar para a Alemanha
Preservação de 67% de sua vegetação nativa
74,2% da matriz elétrica limpa e renovável
Legislação rigorosa e abrangente sobre o tema
Uso de biocombustíveis, como o etanol
Monitoramento da vegetação
Iniciativas de uso sustentável das áreas florestais
O que o Brasil tem a aprender com a Alemanha
Programa de reflorestamento
Eficiência energética
Expansão da base de energias renováveis
Utilização da energia solar
Aplicação da legislação ambiental
Utilização de veículos elétricos
BOLSONARO, O ECOCIDA
Luiz Marques, Jornal da UNICAMP, 19.06.2019
O mote Écrasons l’infâme, com o qual Voltaire assinava suas cartas, exprimia sua indignação contra o obscurantismo e o desprezo pela ciência. No Brasil de hoje, a infâmia chama-se Bolsonaro, agente de anomia social e, acima de tudo, um ecocida que está acelerando exponencialmente a trajetória de nossas sociedades em direção a um colapso socioambiental. É preciso que todos nos organizemos numa grande frente de autodefesa socioeconômica e ambiental para deter a ruína final do país. Bem-vinda seja a essa frente a crescente legião de bolsonaristas desiludidos! Confrontos e revanchismos seriam fatais agora. Quando a casa está pegando fogo, a única opção é salvar o essencial, isto é, a sobrevivência da sociedade organizada e dos alicerces da vida no planeta.
Essa frente de oposição à catástrofe Bolsonaro está crescendo muito rapidamente. Os exemplos chegam de toda a parte. Todos os ex-Ministros ainda vivos do Meio Ambiente, da Educação e da Justiça de todos os governos anteriores conseguiram superar suas imensas diferenças e assinar documentos conjuntos, em nome da obrigação maior de alertar a sociedade brasileira sobre a catástrofe em curso.
A primeira reação veio das sete personalidades que chefiaram o Ministério do Meio Ambiente, desde sua criação em 1992. Rubens Ricupero, Gustavo Krause, José Sarney Filho, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc, Izabella Teixeira e Edson Duarte denunciaram por meio de uma carta aberta o “desmonte” desse Ministério pelo moleque de recados de Bolsonaro e do Ministério da Agricultura.
Em carta aberta, publicada na Folha de São Paulo, os onze ex-chefes da pasta da Justiça – homens situados em posições ideológicas tão diversas quanto Aloysio Nunes Ferreira, Eugênio Aragão, José Carlos Dias, José Eduardo Cardozo, José Gregori, Luiz Paulo Barreto, Miguel Reale Jr., Milton Seligman, Raul Jungmann, Tarso Genro e Torquato Jardim – denunciam os “retrocessos” de conquistas históricas sobre a convivência civilizada entre os membros da sociedade:
“Como ex-ministros e cidadãos, estamos convencidos de que ampliar o acesso às armas e o número de cidadãos armados nas ruas, propostas centrais dos decretos publicados pelo Executivo federal, não é a solução para a garantia de nossa segurança, de nosso desenvolvimento e de nossa democracia".
Não menos contundente é a carta aberta lançada por seis ex-Ministros da Educação – José Goldenberg, Murilo Hingerl, Cristovam Buarque, Fernando Haddad, Aloizio Mercadante e Renato Janine Ribeiro – na qual afirmam:
"A Educação se tornou a grande esperança, a grande promessa da nacionalidade e da democracia. Com espanto, porém, vemos que, no atual governo, ela é apresentada como ameaça".
Cientes da necessidade de derrotar a tentativa de destruir o pouco que foi alcançado na educação brasileira, os ex-ministros estão criando o Observatório da Educação Brasileira.
Essas cartas abertas à sociedade brasileira são um fenômeno sem precedentes na história política do país e mostram boa percepção da envergadura extrema do perigo Bolsonaro. Não por acaso os signatários em questão são justamente os ex-representantes, nas políticas públicas nacionais, da educação, da justiça e do meio ambiente, pois esses são os três setores nos quais o déficit histórico da sociedade brasileira é nada menos que abissal. Os dois primeiros setores – a educação e a justiça – estão se insurgindo contra Bolsonaro.
Educação
Milhões de pessoas já foram às ruas em todos os estados do país e estão mobilizadas em defesa da agenda educacional. Essas manifestações mostraram a importância que a sociedade como um todo atribui a todos os níveis da educação e à pesquisa universitária. E quando digo a sociedade como um todo, refiro-me ao arco que vai de Delfim Neto a Haddad e Boulos, e que vai dos setores mais excluídos aos mais privilegiados da sociedade brasileira. Desde 15 de maio, a sociedade brasileira vem colocando Bolsonaro contra a parede, reduzindo-o às suas vociferações habituais contra os estudantes e a seus disparos instintivos contra tudo o que lhe pareça dotado de vida inteligente. A vitória da sociedade é clara: a Justiça atendeu ação movida pelo diretório estudantil da UnB e mandou o MEC suspender o bloqueio de recursos às Universidades federais. Abraham Weintraub foi completamente desmoralizado pela inquirição da Deputada Tabata Amaral no Congresso Nacional. Ele ainda pode recorrer da decisão judicial, mas isso só o tornará ainda mais desprezível aos olhos da opinião pública. E isso é só o começo...
Justiça
A questão da Justiça não se restringe apenas ao pacto civilizacional, segundo o qual o Estado deve ter o monopólio das armas, de modo a inibir a extrema agressividade pulsional de nossa espécie. E isso inclui inibir o fetiche de Bolsonaro por armas, já várias vezes associado à sua obsessão pelo falo. A questão da Justiça estende-se a outra condição essencial de toda civilização: a distinção entre política e justiça.
A autodenominada Força-Tarefa Lava-Jato de Curitiba, chefiada pelo então juiz e hoje Ministro da Justiça de Bolsonaro, traiu o anseio da sociedade brasileira por isonomia no combate à corrupção e demais formas de malversação dos recursos públicos. As revelações trazidas pelo The Intercept Brasil começaram a desnudar o fato maior da história recente do país: o ex-juiz Sérgio Moro fez ignóbil dobradinha contra a defesa, traindo a missão primeira de todo juiz: julgar de modo objetivo e equidistante das partes.
Como bem afirma Glenn Grenwald, "o objetivo de Moro era prender Lula e torná-lo inelegível". Ele estava "obcecado por isso". Num artigo da revista Época (15/VI/2019), Luiz Fernando Vianna põe em evidência um dos fatos mais grotescos do Brasil contemporâneo: “Nem que fosse para manter as aparências, [Moro] jamais poderia aceitar um convite de Jair Bolsonaro, cuja vitória foi impulsionada pela inviabilização da candidatura de Lula”. Só um homem com dose tão repugnante de improbidade e indignidade poderia caber na posição de Ministro da Justiça de Bolsonaro. E também aqui a sociedade brasileira está se mostrando intransigente. A começar pelos próprios pares do Ministro. O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, por exemplo, divulgou nota na qual afirma: [I]
“Não se pode desconsiderar (...) a gravidade dos fatos, o que demanda investigação plena, imparcial e isenta, na medida em que estes envolvem membros do Ministério Público Federal, ex-membro do Poder Judiciário e a possível relação de promiscuidade na condução de ações penais no âmbito da operação lava-jato. Este quadro recomenda que os envolvidos peçam afastamento dos cargos públicos que ocupam, especialmente para que as investigações corram sem qualquer suspeita. A independência e imparcialidade do Poder Judiciário sempre foram valores defendidos e perseguidos por esta instituição, que, de igual modo, zela pela liberdade de imprensa e sua prerrogativa Constitucional de sigilo da fonte, tudo como forma de garantir a solidez dos pilares democráticos da República. A Ordem dos Advogados do Brasil, que tem em seu histórico a defesa da Constituição, da ordem jurídica do Estado Democrático e do regular funcionamento das instituições, não se furtará em tomar todas as medidas cabíveis para o regular esclarecimento dos fatos, especialmente junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), Procuradoria-Geral da República (PGR), Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e Conselho Nacional de Justiça (CNJ), reafirmando, por fim, sua confiança nas instituições públicas”.
O juiz Alfredo Attié Junior, presidente da Academia Paulista de Direito, afirmou no mesmo sentido: “A principal nulidade de qualquer processo, sobretudo do processo penal, decorre da suspeição do juiz ou da juíza que profere uma decisão. (...) Em teoria do direito, chama-se princípio do juiz natural. (...) O sistema jurídico se corrompe quando o princípio do juiz natural é quebrado. Ou seja, o pior que pode acontecer numa sociedade é o juiz se tornar parcial. Quer dizer, ele não julga mais. Ele passa a participar do processo, torna-se parte, aconselhando um dos lados, tornando-se próximo, íntimo de uma das partes. No caso, segundo o que se lê da publicação, não negada pelas pessoas envolvidas, o juiz do caso trocava ideias com o órgão de acusação, sugerindo caminhos e usando, inclusive, o pronome ‘nós’, primeira pessoa do plural. O órgão de acusação recebia do juiz impressões e sugestões fora dos autos, sem o controle da sociedade e sem que as outras partes, os réus e investigados, soubessem e pudessem se defender e mesmo apresentar representação pelo afastamento do juiz, que se tornava suspeito, ou seja, parcial, interessado no desenrolar do processo e na decisão da condenação. Vejo como grave a referência a órgãos da mídia, como se aliados fossem, ou, pior, como se a condução se pautasse pela utilização de meios de comunicação, ao ponto de se poder pensar em manipulação da opinião pública. É extremamente grave, porque o ato ilegal de um juiz ou de uma juíza, seja quem for, influencia na visão que a sociedade tem do judiciário como um todo. (...) Penso que deve haver investigação dos órgãos de controle, invalidação de decisões e mesmo de atos do Ministério Público e punição dos responsáveis. O TER, o STJ, o STF devem investigar. (...) Mas não é possível prever o que o presidente Bolsonaro vai fazer. Ele deve, em tese, preservar seu governo de uma dúvida de ilegitimidade. Se fizer o oposto, a crise vai aprofundar, pois vivemos momento de contestação da legitimidade”. [II]
A transgressão de vários artigos do código penal por Moro, sob o pretexto de um pretenso combate à corrupção econômica, corrompeu a lisura do judiciário e tornou a corrupção brasileira ainda mais sistêmica. No que se refere em particular a Lula, não cabe a mim e a ninguém que não tenha competência jurídica e não esteja imerso na análise dos autos do processo emitir vereditos. Mas cabe a todos nós, cidadãos, reconhecer e afirmar alto e bom som que Lula não teve um julgamento justo. E porque não teve, tudo o que Moro e “seus” Procuradores conseguiram foi, em suma, transformá-lo num prisioneiro político. E essa é uma razão a mais, importantíssima, mas não a principal, para tornar moralmente ilegítima a vitória eleitoral de Bolsonaro.
O Irreparável
Por que não a principal? Pela simples razão de que o mal feito por Bolsonaro e Moro à educação e à justiça, por pior que seja, é reparável. Ninguém ignora que a educação no Brasil nos níveis pré-universitários está de há muito numa situação alarmante. Indicadores de progresso existem, mas são modestos e não definem claramente a tendência geral. Com Bolsonaro, todos os indicadores vão despencar a níveis jamais imaginados. E, entretanto, reverter esse declínio será sempre possível no “após-Bolsonaro”, pois essa reversão depende apenas da decisão da sociedade de pôr em marcha um processo positivo. Na esfera da justiça ocorre o mesmo. Injustiças podem causar estragos imensos, mas também elas são reparáveis. Aliás, a Justiça existe justamente para reparar injustiças, já que é impossível evitá-las.
Mas o mal que Bolsonaro está fazendo à natureza e a nós todos, ao liberar o desmatamento, a caça e os agrotóxicos, é irreparável ou, na melhor das hipóteses, o será muito em breve, talvez mesmo já durante o quadriênio de seu mandato. E, no entanto, esse mal, incomparavelmente maior que todos os demais, ainda não mobiliza as ruas, a imprensa e, de forma geral, a opinião pública. Com exceção das vigorosas manifestações dos ex-Ministros do Meio Ambiente e de algumas associações da sociedade civil (Observatório do Clima, ClimaInfo, Instituto Socioambiental, Greenpeace etc), poucos são ainda os sinais vitais de autodefesa da sociedade. As greves dos adolescentes em defesa do meio ambiente (Fridays for Future) não estão ecoando com força entre nossos adolescentes.
Nem mesmo na Universidade, supostamente mais bem informada sobre os diagnósticos científicos, percebem-se reações de grande envergadura. Trata-se de uma omissão grave e injustificável. As Universidades não estão cumprindo sua missão e dever de informar e alertar a sociedade para o colapso socioambiental já em curso, processo que ainda podemos, contudo, atenuar significativamente, aumentando nossas chances de adaptação. Num próximo artigo, devo abordar o uso em doses brutais pelo agronegócio brasileiro de clorpirifós, um inseticida da classe dos organofosforados que inibe a transmissão dos receptores do sistema nervoso, consensualmente acusado de ser responsável pela perda irreversível de QI nas crianças. Atenho-me aqui, por falta de espaço, apenas à questão da perda de biodiversidade.
As florestas tropicais são (ainda) o habitat de 80% das espécies terrestres. O desmatamento é, portanto, a forma mais fulminante de destruir o maior número possível de formas de vida. Um trabalho publicado por James Watson e colegas (2016) mede a dimensão da catástrofe em escala global: [III] “Demonstramos perdas alarmantes, compreendendo um décimo (3,3 milhões de km2) de áreas selvagens (wilderness [IV]) globais nas duas últimas décadas, particularmente na Amazônia (30%) e na África Central (14%)”.
“Estamos tirando o governo do cangote de quem produz”
Na mente entrevada de Bolsonaro, contudo, as florestas tropicais são um estorvo. Para ele, os que desmatam são vítimas da “indústria das multas”. Por isso, proclama com orgulho que “está tirando o Estado do cangote de quem produz e investe”. [V] Em outras palavras, “liberou geral”... O presidente do Brasil conclamou suas hostes a substituir florestas por soja e gado. A destruição da cobertura florestal do país não começou com Bolsonaro, é claro. Mas pode se consumar com ele. Justamente porque essa destruição foi posta em marcha pela ditadura militar no final dos anos 1960, e justamente porque os governos civis prolongaram a linha ascendente da devastação (exceção feita aos anos 2005 – 2012), a situação das florestas brasileiras tornou-se hoje extremamente precária. Estamos muito próximos de cruzar pontos críticos, os quais, uma vez cruzados, dão lugar a processos terminais irreversíveis. Um “empurrãozinho” a mais numa floresta já muito amputada e degradada pode bastar para que ela se desestabilize de vez e transite para uma formação não florestal, num processo eventualmente abrupto.
IPBES: 1 milhão de espécies ameaçadas
Também a sobrevivência das espécies depende de não se ultrapassarem pontos críticos de redução de suas populações e de empobrecimento de sua diversidade genética, dois fatores obviamente interligados. Quando ambas declinam muito, a espécie torna-se criticamente vulnerável à extinção. Fruto de um trabalho de três anos de mais de 150 cientistas de mais de 60 países, a primeira avaliação global do estado da biodiversidade planetária, lançada em maio de 2019 pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), mostra exatamente isso: 1 milhão de espécies animais e vegetais – 12,5% do total estimado de 8 milhões de espécies na Terra (75% das quais são insetos) – podem se extinguir nas próximas poucas décadas. [VI] Segundo as estimativas do IPBES, cerca de 550 mil espécies de insetos estão ameaçadas de extinção. Grande parte dos polinizadores são insetos e da polinização depende a conservação das florestas e de muitos produtos agrícolas.
Taxas atuais de defaunação e de extinção
O agente maior do colapso da biodiversidade advertido pelo IPBES é a engrenagem do sistema alimentar corporativo e globalizado, dominado pelas megacorporações da agroquímica, por um punhado de Traders, por bancos que transformaram os alimentos em commodities negociadas em mercados futuros e por fazendeiros que veem nas florestas um obstáculo à expansão de seus negócios. Os fazendeiros são apenas a ponta do iceberg, mas são os agentes diretos do abate global de algo como 15 bilhões de árvores por ano. [VII]
Consequência direta disso: segundo Rodolfo Dirzo, Mauro Galetti e coautores de uma revisão publicada na Science de julho de 2014, “estamos perdendo entre cerca de 11 mil e 58 mil espécies anualmente”, [VIII] o que significa algo entre 30 e 159 espécies por dia. Doze anos atrás, Sigmar Gabriel, então Ministro do Meio Ambiente na Alemanha, já afirmava: “A perda de diversidade biológica em escala global está avançando a um ritmo sem precedentes. Até 150 espécies estão se extinguindo a cada dia. A teia da vida que sustenta nossa sociedade global está se tornando mais e mais frágil”. [IX] Em junho de 2010, o documento The State of the Planet’s Biodiversity do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estimava que “entre 150 e 200 espécies animais e vegetais extinguem-se a cada 24 horas”. [X] A velocidade da sexta extinção não tem medida comum com as cinco maiores extinções em massa anteriores. Em 2005, o Millenium Ecosystem Assessment afirmava: “As taxas de extinções conhecidas de espécies no século XX foram de 50 a 500 vezes maiores que a taxa de extinção calculada a partir dos registros fósseis, que é de 0,1 a 1 extinção por 1.000 espécies por 1.000 anos. A taxa atual é até 1.000 vezes maior que as taxas de extinção de base, se incluirmos as espécies possivelmente já extintas”. E o mesmo documento projetava que em 2050 a taxa de extinção será uma ordem de grandeza maior que as taxas atuais, isto é, uma taxa até 10.000 vezes maior que a taxa de base [XI]. Estamos agora, em 2019, em suma, em estado de denegação, isto é, de recusa irracional de confrontar a realidade.
E, entretanto, ainda está em nossas mãos, como sociedade organizada, evitar esse não futuro. E a responsabilidade de quem mora no Brasil é tanto maior, dada a riqueza extraordinária da biodiversidade no país. O Brasil, justamente por essa riqueza, está sendo a maior vítima desse processo. Isso se evidencia de modo inequívoco no terceiro dos três gráficos da Figura 1, que resumem os dados da última avaliação do Living Planet Index (LPI).
Fonte: Damian Carrington, “Humanity has wiped out 60% of animal populations since 1970, report finds”. The Guardian, 30/X/2018. Baseado em Living Planet Index. 2018: Aiming higher.
Figura 1 - Perdas de abundância, entre 1970 e 2014, em 16.704 populações de 4.005 espécies de vertebrados no mundo todo
Esses três gráficos mostram quedas abruptas de abundância, entre 1970 e 2014, em 16.704 populações de 4.005 espécies de vertebrados em todo o planeta, avaliadas por mais de 50 cientistas do LPI. O gráfico da esquerda mostra que nesse período de menos de meio século a humanidade eliminou em média 60% das populações das 4.005 espécies de vertebrados avaliadas. A esse respeito, Mike Barrett, diretor executivo de ciência e conservação da WWF, comentou: [XII]
“Estamos sonambulando em direção à beira do abismo. Se houvesse um declínio de 60% da população humana, isso seria equivalente a esvaziar a América do Norte, a América do Sul, a África, a China e a Oceania. Essa é a escala do que fizemos. Isso é muito mais do que simplesmente estar perdendo as maravilhas da natureza, tão desesperadamente triste quanto isso seja. Isso está na realidade ameaçando o futuro das pessoas. A natureza não é algo ‘agradável de se ter’ – é o sistema de suporte de nossa vida”.
Há anos, outros cientistas vêm dizendo o mesmo. Em 2011, comentando o relatório do Panorama da Biodiversidade Global 3, Achim Steiner, então subsecretário-geral das Nações Unidas e diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), lamentava: “A arrogância da humanidade é que, de alguma forma, imaginamos que podemos sobreviver sem a biodiversidade, ou que ela é, de algum modo, periférica”.
O gráfico central da Figura 1 mostra que as populações dos vertebrados vivendo em habitats de água doce colapsaram em média em 83%. O gráfico da direita mostra, enfim, o que está acontecendo no Brasil, e em geral na América do Sul e Central: uma redução média de 89% das populações avaliadas. Isso quer dizer que onde havia 100 indivíduos de uma dada espécie, hoje há apenas, em média, 11. Lontras e macacos aranhas, por exemplo, estão no limiar da extinção. Como mostra a Figura 2, os três principais vetores dessa aniquilação da natureza são a caça (Exploitation, 37%), a degradação dos habitats (31,4%) e o desmatamento (13,4%), os três pontos que Bolsonaro tem priorizado pessoalmente em seu “plano de governo”. Juntos, eles somam 81,8% das causas do extermínio em curso dos vertebrados, como mostra a Figura 2.
Figura 2 – Ameaças primárias às populações de vertebrados avaliadas. Living Planet Index Report 2014 .
Ecocídio
Por sua “guerra suja” contra a biosfera, Bolsonaro será um dia julgado por ecocídio, um delito que designa a destruição em larga escala do meio ambiente. O Tribunal Penal Internacional (TPI) reconhece o ecocídio como um crime contra a humanidade. Valérie Cabanes, da ONG End Ecocide On Earth, afirma que “a ideia de ecocídio existe há 50 anos e foi evocada pela primeira vez quando os americanos usaram dioxina nas florestas durante a Guerra do Vietnã. Agora queremos reviver essa ideia que considera que atentar gravemente contra ciclos vitais para a vida na Terra e ecossistemas deve ser considerado um crime internacional". [XIII] Objetos dessa criminalização são as grandes corporações e chefes de Estado, e as penas de prisão podem valer para o Brasil, país signatário do Tratado de Roma, que aceita a jurisdição do TPI. Em todo o caso, Bolsonaro terá assegurado o direito a um julgamento imparcial, o que é bem mais do que o julgamento a que Lula teve direito.
[II] - Cf. Frederico Vasconcelos, “Juiz sugere afastamento de Moro e criação de CPI”. Folha de São Paulo, 11/VI/2019.
[IV] - "We mapped decline of wilderness, defining wilderness as biologically and ecologically largely intact landscapes that are mostly free of human disturbance. These areas do not exclude people, as many are in fact critical to certain communities, including indigenous peoples”.
[V] - Cf. Gustavo Porto, “Na Agrishow, Bolsonaro diz querer não atrapalhar quem produz”. UOL, baseado em O Estado de São Paulo, 29/IV/2019.
[VI] - O IPBES segue critérios estabelecidos pela União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN), cuja Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas soma 25% das mais de 70 mil espécies monitoradas.
[VII] - Cf. T. W. Crowther et al. (2015). “Mapping tree density at a global scale” Nature, 2/IX/2015.
[VIII] - Cf. R. Dirzo, M. Galetti; Ben Collen et al. “Defaunation in the Anthropocene”. Science, 345, 6195, 25/VII/2014, pp. 401-406.
[IX] - Citado por Thomas L. Friedman, “In the Age of Noah”. The New York Times, 23/XII/1997: “The loss of global biological diversity is advancing at an unprecedented pace. Up to 150 species are becoming extinct every day. The web of life that sustains our global society is getting weaker and weaker.”
[X] - Veja-se http://www.unep.org/wed/2010/english/biodiversity.asp.
[XI] - Cf. Ecosystems and human well-being. Synthesis, 2005, p. 38 (em rede).
[XII] - Citado por Damian Carrington, “Humanity has wiped out 60% of animal populations since 1970, report finds”. The Guardian, 30/X/2018: “We are sleepwalking towards the edge of a cliff. If there was a 60% decline in the human population, that would be equivalent to emptying North America, South America, Africa, Europe, China and Oceania. That is the scale of what we have done. This is far more than just being about losing the wonders of nature, desperately sad though that is. This is actually now jeopardising the future of people. Nature is not a ‘nice to have’ – it is our life-support system.”
[XIII] - Cf. “Tribunal Penal Internacional reconhece "ecocídio" como crime contra a humanidade”. Consultor Jurídico, 12/II/2017.
Luiz Marques é professor livre-docente do Departamento de História do IFCH/Unicamp.
Pela editora da Unicamp, publicou Giorgio Vasari, Vida de Michelangelo (1568), 2011
e Capitalismo e Colapso ambiental, 2015, 3a edição, 2018. Coordena a coleção Palavra
da Arte, dedicada às fontes da historiografia artística, e participa com outros colegas do coletivo Crisálida, Crises SocioAmbientais Labor Interdisciplinar Debate & Atualização (crisalida.eco.br).
FLORESTA E USO DIVERSIFICADO DO SOLO PRESERVAM ABELHAS E VESPAS
Rita Stella – Jornal da USP, 27.06.2019
Estudo mostra que Corredor Ecológico Cantareira-Mantiqueira apresenta condições favoráveis para vida de abelhas e vespas solitárias
Tetrapedia sp, uma das espécies de abelha solitária identificada no levantamento realizado no Corredor Ecológico Cantateira-Mantiqueira, em São Paulo; apesar da ocupação urbana, abelhas e vespas ainda são abundantes em toda a região – Foto: cedida pela pesquisadora
Estudo realizado no Corredor Ecológico Cantareira-Mantiqueira (Zona Norte de São Paulo) por pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP revela uma boa notícia sobre a vida de abelhas e vespas, insetos que estão desaparecendo da natureza. A pesquisa do Laboratório de Ecologia e Evolução de Abelhas e Vespas do Departamento de Biologia da FFCLRP constatou que elas ainda são abundantes no local, apesar da ocupação urbana. Segundo os pesquisadores, a quantidade de floresta nativa (mais de 50% da área) e a utilização diversificada das terras entre os fragmentos de Mata Atlântica são os principais fatores da preservação dos insetos. As abelhas são insetos polinizadores e as vespas, agentes de controle biológico.
A ecóloga Paula Carolina Montagnana, responsável pela pesquisa, explica que se a região fosse dominada por monocultura (como a observada em diversos outros locais do Estado de São Paulo, por exemplo), as abelhas e vespas não teriam a mesma sorte para encontrar alimentos ou construir seus ninhos. “As abelhas e vespas solitárias têm autonomia de voo de cerca de 600 metros (m)”, conta. “Isto significa que elas precisam encontrar fontes de alimentação e condições de procriação dentro de uma área que não ultrapasse esse limite.”
Paula realizou pesquisa de campo na Cantareira entre 2014 e 2018 para a tese de doutorado que apresentou na FFCLRP, com orientação do professor Carlos Alberto Garófalo. O trabalho pretendia verificar a influência das diferentes formas de utilização do solo na vida de abelhas e vespas solitárias. Assim, foram confeccionados e instalados em 29 pontos da região da Cantareira ninhos-armadilha (pequenos tubos de cartolina preta e gomos de bambus) que ficaram disponíveis para essas espécies construírem seus ninhos. Paula coletou todos os ninhos-armadilhas ocupados e os levou para o Laboratório de Ecologia e Evolução de Abelhas e Vespas da FFCLRP.
Na região estudada, a ecóloga encontrou condições que favoreceram a identificação de uma maior quantidade de espécies e de um número mais elevado de abelhas e vespas. “Em uma linha reta de 1 quilômetro (km), traçada a partir do local de um dos ninhos-armadilha, haverá maior diversidade desses insetos se ao longo dessa reta houver locais com pastagem, floresta, agricultura, vilas rurais, entre outros tipos de uso da terra”, explica. “Mas também é igualmente importante a porcentagem de floresta que existe dentro de paisagens com 5 km de raio, que deve superar 50% dessa área.”
Vista da região de monitoramento das abelhas e vespas solitárias; estudo aponta que preservação de mais de 50% da mata nativa favorece a sobrevivência dos insetos, que são polinizadores e agentes de controle biológico – Foto: cedida pela pesquisadora
Indicadores ambientais
A escolha pelas espécies solitárias, de acordo com a pesquisadora, “se deve ao fato da presença delas na natureza ser ótimo indicador ambiental que pode ser extrapolado para as demais espécies de abelhas e vespas”, insetos polinizadores e agentes de controle biológico, respectivamente.
Na Cantareira, foram instalados 29 suportes com ninhos-armadilha – Foto: cedida pela pesquisadora.
As duas espécies são chamadas solitárias pois, ao contrário dos insetos que formam colônias, elas utilizam cavidades preexistentes na natureza para fazer seus ninhos. A coleta aconteceu entre os meses de setembro e março, os mais chuvosos e quentes do ano no Estado de São Paulo, e período de maior atividade e diversidade de insetos.
Após monitoramento dos ninhos e identificação das espécies, foram encontradas 24 espécies de abelhas e 21 de vespas, comprovando a condição ecológica favorável do Corredor Cantareira-Mantiqueira. A partir destes dados, o estudo constatou a importância do uso diversificado da terra e da quantidade suficiente de mata nativa (mais de 50% de preservação) para a sobrevivência desses insetos. Para as regiões em que grande parte da vegetação nativa já tenha sido retirada e a atividade humana seja intensa, a ecóloga afirma que ainda assim é possível preservar algumas espécies.
“A sugestão é que haja uma diversificação no uso da terra, principalmente com atividades de menor impacto como agroflorestas, locais de recuperação da vegetação nativa, agricultura orgânica, mas que também sejam preservados os locais de vegetação nativa já existentes”, recomenda Paula. “Essa diversidade é muito melhor para a vida de abelhas e vespas que paisagens onde há apenas um uso da terra, como, por exemplo, as áreas dominadas por grandes monoculturas de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto (interior de São Paulo) ou nos plantios de soja, algodão e milho presentes no Centro-Oeste do Brasil.”
Colaborou: Tainá Lourenço
AQUECIMENTO E DESMATE PODEM CORTAR AMAZÔNIA PELA METADE EM 2050
Observatório do Clima, 24.06.2019
Novo estudo sugere que efeitos combinados reduziriam a riqueza de espécies em até 58% e criariam “duas Amazônias”, com porção fragmentada ao sul.
Imagem: Divulgação
DO OC – A combinação entre desmatamento e mudança climática pode reconfigurar radicalmente o mapa da Amazônia em 2050. Um estudo publicado nesta segunda-feira (24) por pesquisadores do Brasil e da Holanda indica que esses dois fatores podem cortar a maior floresta tropical do mundo ao meio, com uma imensa porção a sudeste reduzida a fragmentos. A riqueza total de espécies de árvore pode cair em 58%, com quase metade delas sob algum grau de ameaça de extinção.
O resultado sinistro vem de uma análise da distribuição atual de mais de 10 mil espécies arbóreas, cruzada com modelos de projeção de desmatamento e com dois cenários dos modelos climáticos do IPCC, o painel do clima das Nações Unidas. Os resultados estão num artigo científico no periódico Nature Climate Change.
O grupo liderado pelo cientista ambiental Vítor Gomes, da Universidade Federal do Pará, mostrou que, embora o desmatamento seja hoje a maior causa da perda de habitat na Amazônia, nas próximas décadas ele deverá ser suplantado pela crise do clima. No meio deste século, as motosserras e os tratores podem causar perdas de 19% (no melhor cenário) a 36% (no pior) na riqueza de espécies da Amazônia, enquanto a mudança climática causaria reduções de 31% a 37%. “O resultado nos surpreendeu”, contou o pesquisador paraense ao OC.
A explicação para isso reside na ubiquidade do clima. “O desmatamento está concentrado em determinadas faixas e seu impacto no oeste e no norte da Amazônia é menor”, afirmou Gomes. “O clima, por outro lado, age em toda a floresta, alterando a precipitação e a temperatura.”
Quando isso acontece, a área de distribuição ideal de uma espécie muda. Em geral, as criaturas impactadas pelo clima migram em busca de locais mais adequados. No caso da Amazônia, os climas mais adequados daqui a 35 ou 40 anos poderão estar a mais de 300 km das zonas de distribuição atuais das espécies.
O problema, claro, é que árvores são lentas para migrar. “A gente sempre brinca que elas não vão subir num ônibus e dizer, ‘tchau, pessoal, vamos para um lugar melhor’”, a diz Gomes. Durante os períodos secos do Holoceno, período geológico iniciado 12 mil anos atrás, comunidades de árvores da Amazônia também precisaram migrar. Isso ocorreu a uma taxa de menos de 100 quilômetros em 3.000 anos. Ou seja, a perspectiva de deslocamento de 300 quilômetros em 35 ou 40 anos simplesmente não existe.
Já hoje o desmatamento vem causando impactos graves na diversidade de espécies. Estima-se que a Pan-Amazônia, ou seja, o bioma em todos os seus nove países, já tenha perdido 11% de sua cobertura. Isso causou uma perda de 7% no habitat das espécies. Para 2050, a projeção com políticas de controle de desmatamento mostra 21% de redução da floresta (e 19% na diversidade); sem controle, isso vai a 40% (e 36% de perda de diversidade).
Para a mudança climática foram considerados dois cenários: o melhor, o qual o Acordo de Paris é cumprido e o mundo esquenta menos de 2oC, causa uma perda de 31% na diversidade de espécies na Amazônia; no pior, no qual não se faz nada, esse número sobe para 37%.
Quando se somam os dois efeitos, a Amazônia literalmente quebra. Uma linha diagonal de nordeste a sudoeste passa a dividir o bioma a partir do leste do Amapá. Os maiores remanescentes de floresta permanecerão na porção noroeste (em azul no mapa). Toda a metade sudeste consistirá de matas altamente fragmentadas, e o que sobrar estará praticamente confinado a áreas protegidas e terras indígenas. No pior cenário de desmatamento somado com o pior cenário de mudança do clima, a riqueza de espécies declinaria 65% e 22% delas estariam criticamente ameaçadas de extinção.
Ima Vieira, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi e coautora do estudo, afirma que a situação pode ser ainda pior: o trabalho, afinal, não considera os potenciais efeitos do projeto de lei do Senado 2362/2019, de autoria de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho 01 do Presidente da República.
O texto propõe simplesmente o fim da reserva legal nas propriedades rurais, o que autorizaria o desmatamento de 89 milhões de hectares na Amazônia. “O valor é 30 vezes maior do que prevê o pior cenário de desmatamento usado neste estudo”, afirma. “Se já ficamos assustados com os resultados dessa pesquisa, imaginem o que pode vir pela frente com esse nível de retrocesso ambiental?”
Para evitar um desastre maior do que o que o estudo já aponta, afirma a cientista, “a rede de proteção da floresta amazônica deve sempre considerar as áreas protegidas e as reservas legais, que são complementares na proteção da biodiversidade”.
As áreas protegidas, vale lembrar, também estão sob cerco, com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo-SP), propondo a revisão de 334 unidades de conservação federais e considerando reduzir 67 delas alegadamente a pedido do Ministério da Infraestrutura.
JEAN PURDY, A CIENTISTA PIONEIRA QUE AJUDOU A DESENVOLVER A FERTILIZAÇÃO IN VITRO E NUNCA FOI RECONHECIDA
BBC News Brasil, 24.06.2019
Direito de imagem, GETTY IMAGES. Image caption - Jean Purdy trabalhou com Robert Edwards no desenvolvimento da fertilização in vitro
Os cientistas britânicos Robert Edwards e Patrick Steptoe (1913-1988) são conhecidos como os pais da fertilização in vitro, o procedimento que levou ao nascimento do primeiro bebê de proveta, em 1978.
Edwards foi premiado em 2010 com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, e Steptoe recebeu vários reconhecimentos por este trabalho.
Mas houve outra integrante essencial de sua equipe: Jean Purdy (1945-1985), uma enfermeira britânica e embriologista que também foi pioneira no tratamento de fertilidade.
A fertilização in vitro é um procedimento pelo qual a fecundação do óvulo pelo espermatozóide ocorre fora do corpo da mãe.
Em grande parte, o nascimento do primeiro bebê de proveta, Louise Brown, foi possível graças ao trabalho de Purdy, encarregada de transferir o embrião em um estado de blastômero (oito células) para o útero da mãe. Mas a contribuição de Purdy nunca foi devidamente reconhecida. Edwards pediu que Purdy fosse incluída em homenagens.
Direito de imagem - GETTY IMAGES - Image caption - O nascimento do primeiro bebê de proveta, Louise Brown (ao centro), foi possível graças ao trabalho de Purdy.
Cartas publicadas recentemente pela Universidade Cambridge, no Reino Unido, revelam que Edwards tentou em várias ocasiões que a contribuição da jovem pesquisadora se tornasse pública. Mas seus esforços nunca deram frutos.
Em uma das cartas, dirigida às autoridades municipais de saúde na cidade de Oldham, no noroeste da Inglaterra, que estavam prestes a inaugurar uma placa comemorativa no hospital onde Louise Brown nasceu, Edwards destacou que Purdy havia contribuído para o desenvolvimento da fertilização in vitro "assim como" ele e Steptoe.
Direito de imagem – PA - Image caption - Robert Edwards pediu diversas vezes que Purdy fosse incluída em placas comemorativas de hospitais, sem sucesso.
Edwards queria que o nome de Purdy fosse incluído na placa ao lado dos dele e de Steptoe, e repetiu a tentativa em ocasiões semelhantes antes de homenagens em outros hospitais. Mas seus pedidos foram sempre negados.
Outras cartas mostram as diversas tentativas de Edwards de convencer o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido a apoiar pesquisas sobre fertilização in vitro.
Os documentos agora fazem parte de uma exposição aberta ao público no Churchill Archives Center, na Universidade Cambridge.
As contribuições de Jean Purdy
Direito de imagem - BRISTOL POST/PA WIRE - Image caption - Estima-se que pelo menos 6 milhões de bebês, como Louise Brown (ao centro), já nasceram graças à fertilização in vitro.
Purdy começou a trabalhar com Edwards em 1968, quando a enfermeira e pesquisadora tinha 23 anos. A jovem colaborou bastante com Edwards, e ambos viajaram juntos para a Califórnia, nos Estados Unidos, em 1969, para realizar pesquisas.
Ela participou ativamente dos testes do novo procedimento e foi cofundadora em 1980 da Bourn Hall, na Inglaterra, a primeira clínica de fertilização in vitro do mundo.
A jovem foi coautora de 26 artigos com Steptoe e Edwards e, durante sua carreira, mais de 30 crianças foram concebidas por fertilização in vitro. Estima-se que pelo menos 6 milhões de bebês já nasceram no mundo graças a essa técnica.
Direito de imagem - BRITISH FERTILITY SOCIETY - Image caption - Purdy foi coautora de 26 artigos científicos com Steptoe e Edwards
"O trabalho de Purdy como cientista passou praticamente despercebido em comparação com o reconhecimento a Edwards e Steptoe", disse uma porta-voz de Cambridge.
"As cartas que acabam de ser publicadas não são apenas valiosas para os historiadores da ciência, mas para estudiosos das implicações sociais da ciência."
Além do Prêmio Nobel, Edwards foi reconhecido em 2011 com honras concedidas pela rainha Elizabeth 2ª.
Purdy morreu de câncer em 1985, aos 39 anos.
CARTA DE D. JOÃO II INCLUI A PRIMEIRA NOTÍCIA DA VIAGEM DE COLOMBO
Isabel Salema, Ipsilon – Publico Hoje, 27.06.2019
Documento inédito de 1493 foi encontrado num arquivo em Espanha e pode ser visto na sala de exposições do Arquivo Histórico da Nobreza, em Toledo, até finais de Julho.
A carta que assinala o regresso de Colombo do continente americano pode ser vista em Toledo ISMAEL HERRERO/EPA
Uma carta escrita em português pelo rei D. João II até agora desconhecida foi identificada como sendo muito provavelmente o mais antigo relato do descobrimento da América por Cristóvão Colombo. O documento inédito, datado de 3 de Maio de 1493, dá conta da chegada ao porto de Lisboa do almirante italiano ao serviço dos Reis Católicos e foi encontrado no arquivo dos condes de Villagonzalo, que está a ser submetido a um processo de tratamento técnico depois de ter sido incorporado em 2010 no Arquivo Histórico da Nobreza espanhola, um organismo do Ministério da Cultura.
“Veio ter com fortuna do mar ao nosso porto da nossa cidade de Lisboa Dom Cristóvão, vosso almirante, que folgamos muito de ver e mandar tratar bem por ser coisa vossa”, lê-se na carta escrita por D. João de Portugal a Fernando de Aragão, numa transcrição feita pelo paleógrafo Pedro Pinto, já disponível num blogue português dedicado a Cristóvão Colombo e por nós adaptada ao português contemporâneo.
Cristóvão Colombo atingiu oficialmente terras do continente americano a 12 de Outubro de 1492, pensando que chegava à Índia. No regresso, passados seis meses, a 4 de Março de 1493, aportou a Lisboa, acidentalmente, em consequência de uma forte tempestade que separou a sua caravela do resto da expedição.
A embarcação de Martín Alonso Pinzón chegou a Espanha uns dias antes (a 1 de Março), a Baiona (Galiza), tendo o navegador espanhol comunicado aos Reis Católicos, que se encontravam em Barcelona, a notícia de que havia terra firme para oeste do oceano Atlântico. “Contudo, não se conserva nenhum testemunho desta notícia, pelo que esta missiva de D. João II seria o primeiro testemunho do regresso com êxito de Colombo depois da sua primeira viagem”, lê-se no comunicado do Arquivo Histórico da Nobreza.
Cristóvão Colombo
“A carta escrita em Maio em Torres Vedras mostra que o rei levou dois meses a responder. O assunto foi muito mastigado. Estão a tentar ver em que medida a viagem afecta os interesses portugueses e o que é que, de facto, ele encontrou”, afirma o investigador José Virgílio Pissarra, do Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-UL), dizendo que a carta não acrescenta muito ao que já sabemos.
- João II comunica que o assunto será tratado por Rui de Sande, que se sabe ter chegado a Barcelona em inícios de Abril. “Além da notícia da chegada de Cristóvão Colombo, o documento é igualmente uma carta de acreditação para que o embaixador Rui de Sande entre em conversações com os Reis Católicos. A carta é muito diplomática e não desvenda as intenções do monarca português sobre as negociações que se seguirão. Diz apenas que o assunto vai ser tratado através de Rui de Sande, ao qual o rei português dará informações e instruções detalhadas.”
Quase 15 anos antes, o Tratado de Alcáçovas-Toledo, assinado pelas monarquias portuguesa e castelhana em 1479, estabelecia em relação à exploração do Atlântico que Castela ficava com as ilhas Canárias e que as terras a descobrir ao longo da costa africana seriam portuguesas. “Nada é dito sobre a exploração do Atlântico ocidental. A viagem do Colombo é que vem colocar a necessidade dessa discussão”, comenta o investigador.
Num segundo documento encontrado no mesmo arquivo dos condes de Villagonzalo, igualmente uma carta de D. João II a Fernando de Aragão, agora datada de 23 de Maio de 1493, o rei português diz que aceita cancelar a saída de uma armada, comandada por D. Francisco de Almeida, que se preparava para reclamar pela força as terras descobertas por Colombo: “Que nenhumas caravelas e navios de nossos reinos e fora deles não vão ao que ora novamente achou Dom Cristóvão Colombo, vosso almirante.”
As cartas, diz o arquivo espanhol, “constituem assim o começo das negociações que dariam lugar ao Tratado de Tordesilhas”, assinado um ano depois. Em 1494, a divisão passa a ser feita a partir do meridiano de Tordesilhas, de pólo a pólo, ficando Portugal com as terras descobertas e a descobrir até 370 léguas a ocidente de Cabo Verde.
Os documentos foram encontrados entre os papéis da família Maldonado, futuros condes de Villagonzalo, mais concretamente dentro dos documentos pessoais de Rodrigo Arias Maldonado (ca. 1456-1517). Segundo o arquivo espanhol, o documento foi parar às mãos de Rodrigo Maldonado porque este era membro do Conselho Real de Castela e não existia, naquela época, um arquivo destinado a recolher a documentação do que hoje consideramos público. O Arquivo de Simancas, o primeiro arquivo oficial da Coroa de Castela e Leão, só foi fundado em 1540.
Até finais de Julho, as cartas podem ser vistas na sala de exposições do Arquivo Histórico da Nobreza, em Toledo.
Prof. Marcos Antonio Lucena - Secretário Regional
Profa. Rejane Mansur Nogueira - Secretária Adjunta
José Antônio Aleixo da Silva (Editor)
Professor titular da DCFL/UFRPE
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