Notícias:
SEJA SÓCIO DA SBPC E CONTRIBUA COM O PROGRESSO DA CT&I NO PAÍS
Jornal da Ciência, 20.08.2018
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO (UFRPE) SEDIARÁ EM 2020, O V ENCONTRO BRASILEIRO DE MENSURAÇÃO FLORESTAL
José Antônio Aleixo da Silva*, 18.08.2018
FACEPE E FAPESP PUBLICAM EDITAL DE PESQUISA COLABORATIVA ENTRE PERNAMBUCO E SÃO PAULO
Notícias da FACEPE, 20.08.2018
VITÓRIA DA COMUNIDADE CIENTÍFICA POLÍTICA DE C, T & I |
Notícias da ABC nº 505 - 20 de agosto de 2018
PRINCÍPIOS PARA UM NOVO MODELO DE AVALIAÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO
Carlos Alexandre Netto, Cienc. Cult. vol.70 no.3 São Paulo July/Sept. 2018
CAPES DIVULGA RESULTADO PRELIMINAR DA ANÁLISE DE MÉRITO DA PRIMEIRA SELEÇÃO DO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INTERNACIONALIZAÇÃO
Revista Gestão Universitária – 20.08.2018
PESQUISADORA GANHA MEDALHA DE BRONZE EM FEIRA DE CIÊNCIAS NA CHINA
Portal Aprendiz, 21.08.2018
A ASFIXIA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA BRASILEIRA
Karina Pereira Vieira* e Tulio Chiarini**, Le Monde Diplomatique Brasil, 10.08.2018
FULBRIGHT OFERECE OPORTUNIDADES ACADÊMICAS NOS ESTADOS UNIDOS
Agência FAPESP, 20.08.2018
CONHEÇA AS SETE VENCEDORAS DO PRÊMIO PARA MULHERES NA CIÊNCIA 2018
Revista Galileu, 15.08.2018
BRASIL PERDE LIDERANÇA GLOBAL EM CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
Ricardo Dobrovolski*, Nossa Ciência, 14.08.2018
IMPORT NCIA DO BRASIL NA BIODIVERSIDADE MUNDIAL É MAIOR DO QUE SE PENSAVA, DIZEM CIENTISTAS
Camilla Costa, BBC News Brasil, 19.08.2018
MADEIRA ARTIFICIAL FEITA DE PLÁSTICO
Site Inovação Tecnológica - 20.08.2018
FAÇA O DOWNLOAD DO ATLAS DAS CAATINGAS
FUNDAJ/UFCG
CONSERVAR A AMAZÔNIA É QUESTÃO AMBIENTAL, SOCIAL E ECONÔMICA
Maria Fernanda Ziegler, de Manaus, Agência FAPESP, 21.08.2018
TECIDOS ELETRÔNICOS: O ADVENTO DO SOFT-HARDWARE
Site Inovação Tecnológica, 21.08.2018
PROJETO NOVO BRASIL SEGUE FIRME EM SEU PROPÓSITO DE VOLTAR AO TEMPO COLONIAL
Hildegard Angel, Jornal do Brasil, 19.08.2018
SEJA SÓCIO DA SBPC E CONTRIBUA COM O PROGRESSO DA CT&I NO PAÍS
Jornal da Ciência, 20.08.2018
Filie-se agora mesmo e participe de nossas ações pelo desenvolvimento do Brasil
Ser sócio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que luta há 70 anos pelo avanço científico e tecnológico e pelo desenvolvimento educacional e cultural do Brasil, significa validar e compactuar com tais ideais e lutas.
Desde a sua criação, em 1948, a SBPC tem se dedicado ao desenvolvimento do País. Seus primeiros anos coincidiram com a institucionalização da ciência no Brasil, com a criação, pelo governo federal, de organizações como o CNPq (1951) e a Capes (1951) – organizações aliadas a uma rede de instituições de ensino superior que se estruturava – e o fortalecimento da comunidade científica, que permitiram ao País demonstrar a capacidade de criar e utilizar conhecimento científico e tecnológico.
Durante os anos de governo militar, a SBPC cumpriu um papel fundamental de resistência, manifestando-se contra perseguições a professores, pesquisadores e estudantes, e interferências nos sistemas educacional e científico que pudessem ferir a autonomia das universidades.
A SBPC tem participado ativamente de todos os momentos cruciais da ciência brasileira nas últimas décadas, em particular na definição de políticas públicas para a Ciência & Tecnologia, com a inserção de um capítulo na Constituição Brasileira, e a criação de Fundações de Amparo à Pesquisa, em quase todos os estados.
Estas e outras ações são movidas pelo idealismo de cientistas que acreditam na ciência como propulsora do desenvolvimento do País. A SBPC quer você junto nesta luta.
Participe. Associe-se à maior sociedade científica do Brasil e ajude a SBPC a manter sua trajetória em prol do Brasil e dos brasileiros.
Conheça os benefícios como sócio da SBPC aqui e filie-se agora mesmo neste link.
Jornal da Ciência
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO (UFRPE) SEDIARÁ EM 2020, O V ENCONTRO BRASILEIRO DE MENSURAÇÃO FLORESTAL
José Antônio Aleixo da Silva*, 18.08.2018
O Encontro Brasileiro de Mensuração Florestal (MENSUFLOR) encerrou na última sexta-feira, sua quarta edição na Universidade Federal de Santa Maria no Rio Grande do Sul e participação de 400 inscritos. É um encontro bianual em que congrega professores, pesquisadores, técnicos e estudantes das diversas áreas ligadas à Mensuração Florestal.
Participantes do IV MENSUFLOR na UFSM-RS.
As três edições anteriores foram realizadas em Diamantina-MG (I); Curitiba (II); Piracicaba (III) sempre com o objetivo de mostrar o que mais moderno existe em termos de Mensuração Florestal no Brasil e no exterior. Participam palestrantes de Universidades do Brasil e do exterior, bem como profissionais de empresas que atuam no setor florestal.
Um dos destaques do encontro é a entrega da Medalha Walter Bitterlich, Engenheiro Florestal austríaco que revolucionou os processos de amostragem em Engenharia Florestal, destacando-se entre suas produções o processo de amostragem denominado prova de numeração angular (PNA) e o instrumento ótico Relascópio de Bitterlich. A medalha é entregue em cada encontro a profissionais de destaque ligados ao setor de Mensuração Florestal. A partir deste ano, os agraciados passaram a ser selecionados por um Comitê Especial que analisa as carreiras e contribuições dos candidatos à mensuração florestal no Brasil.
No I Mensuflor foram agraciados os professores: Sebastião do Amaral Machado (UFPR); Sylvio Péllico Neto (UFPR); Francisco de Paula Neto (UFV) e João Carlos Chagas Campos (UFV). No II Mensuflor os agraciados foram: Paulo Renato Schneider (UFSM); José Antônio Aleixo da Silva (UFRPE) e Hilton Thadeu Zarate Couto (ESALQ). No III Mensuflor os agraciados foram: Sergio Nascimento Kronka (UNESP) e Ricardo Antônio de Arruda Veiga (UNESP). No IV MENSUFLOR foram agraciados: Franz Heinrich Andrae (Universidade de Viena e ex-Professor da UFSM); César Augusto Guimarães Finger (UFSM); Doadi Antônio Brena (UFSM) e Agostinho Lopes de Souza (UFV).
Era pensamento do grupo fundador criar oficialmente/judicialmente a Associação Brasileira de Mensuração Florestal (ABMENSUFLOR). Entretanto, depois de uma profunda avaliação por parte dos integrantes do grupo que está organizando os encontros, concluiu-se que a ABMENSUFLOR já está criada de informalmente, não terá presidente, vice-presidente, secretário e tesoureiro, mas sim um grupo gestor que terá o professor Sebastião do Amaral Machado como coordenador do geral. Fazem parte do grupo os seguintes professores: Sylvio Péllico Neto, Ana Paula Dalla Corte, Carlos Roberto Sanquetta, Afonso Figueiredo Filho (Paraná); Cesár Augusto Guimarães Finger (Rio Grande do Sul); Gilciano Saraiva Nogueira, Natalino Calegário (Minas Gerais); José Antônio Aleixo da Silva (Pernambuco); Luiz Carlos Estraviz Rodrigues (São Paulo) e Gilson Fernandes Silva (Espírito Santo). Este grupo ficará encarregado de organizar as reuniões do MENSUFLOR e foi subdividido em áreas de atuação: Informática, Relação Universidade/Empresas Florestais, Padronização da terminologia científica em Mensuração Florestal, Editoração de uma Revista Brasileira de Mensuração Florestal, etc.
Após a construção da homepage, qualquer pessoa do país ou do exterior que trabalhe com Mensuração Florestal poderá ser membro da ABMENSUFLOR que não cobrará anuidade de seus filiados.
O V MENSUFLOR, ocorrerá em agosto de 2020, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que foi escolhida por unanimidade entre os participantes do encontro.
* José Antônio Aleixo da Silva é Professor Titular do Departamento de Ciência Florestal da UFRPE e presidente da Academia Pernambucana de Ciências (APC).
FACEPE E FAPESP PUBLICAM EDITAL DE PESQUISA COLABORATIVA ENTRE PERNAMBUCO E SÃO PAULO
Notícias da FACEPE, 20.08.2018
A Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) divulgam a oportunidade de pesquisa colaborativa aos pesquisadores vinculados a Instituições de Ensino Superior ou Pesquisa de ambos os Estados, interessados em submeter propostas que visem à formação ou ao fortalecimento de redes de pesquisa colaborativa entre os Estados de Pernambuco e de São Paulo.
Nesta Chamada a FACEPE e a FAPESP receberão propostas nas áreas de Ciências Biológicas e Ciências Exatas. Propostas só serão consideradas válidas caso sejam submetidas em ambas as instituições de fomento, FACEPE e FAPESP, pelos respectivos colaboradores de Pernambuco e de São Paulo.
A FACEPE fará um aporte global para esta chamada na ordem de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), cogitando um valor máximo por proposta de R$ 100.000,00 (cem mil reais).
A data limite para submissão das propostas será 28 de setembro de 2018.
Acesse o edital.
VITÓRIA DA COMUNIDADE CIENTÍFICA POLÍTICA DE C, T & I |
Notícias da ABC nº 505 - 20 de agosto de 2018
Sessão do Congresso Nacional destinada a deliberação sobre o PLDO.
Foto: Roque de Sá | Agência Senado
Publicada no Diário Oficial da União do dia 15 de agosto, a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2019 (LDO – Lei 13.707/2018), que estabelece diretrizes para a elaboração do Orçamento da União, teve o texto sancionado com 18 vetos. No entanto, a emenda proposta pelo Legislativo que previa a correção do orçamento da educação pela inflação deste ano foi mantida.
De acordo com o presidente da ABC Luiz Davidovich, “a emenda feita pelo Congresso Nacional que proíbe redução de recursos para o Ministério de Educação em relação aos recursos deste ano, corrigidos pela inflação, foi uma vitória importante”. Ele ressaltou que esta emenda foi objeto de ações da comunidade cientifica e também do atual ministro da educação, Rossieli Soares da Silva.
Durante a reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada no Palácio do Planalto na semana anterior, o presidente da ABC fez uma intervenção nesse sentido. Ele mencionou que, dada a importância da educação para o desenvolvimento do país, era fundamental manter esse item da lei de diretrizes orçamentárias que impede a redução de recursos para educação. Sua intervenção foi bastante aplaudida na ocasião, mostrando que se trata de uma opinião bastante unânime entre os participantes da reunião. “Felizmente isso foi confirmado agora, com a aprovação da lei pelo presidente Temer com essa emenda, contrariamente à posição do Ministério do Planejamento, que queria que o presidente vetasse a emenda.”
Com a sanção da LDO, o governo deve agora apresentar ao Congresso Nacional o Projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA), que vai detalhar o volume de recursos disponíveis para todas as áreas ao longo do ano que vem.
Saiba mais sobre a LDO no site do Senado.
(Elisa Oswaldo-Cruz para NABC, com dados do site do Senado e da Agência Brasil | Foto: Lucio Bernardo, Câmara dos Deputados)
PRINCÍPIOS PARA UM NOVO MODELO DE AVALIAÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO
Carlos Alexandre Netto, Cienc. Cult. vol.70 no.3 São Paulo July/Sept. 2018
Professor titular do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), conselheiro da SBPC e membro titular da Academia Brasileira de Ciências. Foi reitor da UFRGS entre 2008 e 2016
A pós-graduação é o nível da educação superior que mais tem avançado no país. Em pouco mais de 60 anos de trajetória, a atividade dos cursos de pós-graduação vem contribuindo para o desenvolvimento científico, econômico e social através da formação de profissionais qualificados, com impacto decisivo na produção científica, no desenvolvimento de tecnologias e inovação social e no recente engajamento com a qualificação da educação básica. Constituindo um sistema de dimensões continentais, hoje mais de quatro mil programas de pós-graduação estão em atividade no país, sendo a grande maioria abrigada em universidades públicas e comunitárias. A atividade de pesquisa associada aos programas de pós-graduação representa quase a totalidade da produção científica nacional.
A recente expansão das universidades federais, fomentada pelo Reuni (Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), gerou importante fenômeno de ampliação com interiorização da pós-graduação brasileira, um desafio há muito reconhecido pela comunidade acadêmica. A contratação de doutores motivou a criação de novos cursos de pós-graduação e a qualificação de outros existentes, aspecto que reforça a importância das universidades como elementos fundamentais na equação das políticas públicas com foco no desenvolvimento da pós-graduação.
São vários os fatores que contribuem para o sucesso da pós-graduação brasileira. Um deles é o portal de periódicos Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), uma das maiores coleções virtuais de periódicos científicos e de obras de referência do mundo que possibilita o acesso livre e imediato à informação científica para todos os programas de pós-graduação acreditados em atividade. A recente e crescente utilização de plataformas de acesso aberto para publicação de periódicos (open access) também tem exercido efeitos positivos sobre a divulgação e o acesso à produção científica da pós-graduação. A qualificação prévia ao ingresso nos programas é outra característica virtuosa do sistema. A disseminação dos programas de iniciação científica, a partir da iniciativa pioneira do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), oferece a oportunidade de iniciação à ciência durante a graduação e, em muitos casos, funciona como uma pré-qualificação ao ingresso na pós-graduação. Ainda, toda a comunidade reconhece que a sistemática de avaliação periódica dos programas de pós-graduação pela Capes foi um dos principais fatores que levaram ao crescimento da produção científica brasileira. O forte envolvimento da comunidade acadêmica da pós-graduação com a avaliação, aproximadamente 1700 pessoas na última quadrienal, por exemplo, indica a capilaridade do processo, bem como sua capacidade de expressar a percepção média de desenvolvimento da pós-graduação no Brasil.
PORQUE REVISAR A AVALIAÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO
A avaliação da pós-graduação é um processo singular, que coloca a educação terciária brasileira num patamar diferenciado frente aos países do continente e mesmo dos países desenvolvidos do Hemisfério Norte. A avaliação sistemática dos cursos de pós-graduação pela Capes é realizada há mais de 40 anos, com o intuito de acompanhar a evolução e garantir a qualidade, e a consequente acreditação. Com o crescimento do sistema, a avaliação foi assumindo complexidade e sofisticação; sua logística atual envolve centenas (ou milhares) de docentes das diversas áreas do conhecimento, apoiados na poderosa Plataforma Sucupira. A virtualização deu origem ao Qualis, sistema criado para normatizar o impacto da produção acadêmica da pós-graduação, para fins da avaliação. A sistematização do Qualis e a estrutura da plataforma (anteriormente chamada de Coleta Capes), de certa maneira conformaram as políticas internas da pós-graduação e contribuiram para que o Brasil atingisse posição de destaque na produção científica mundial, hoje figurando entre os 15 principais países em termos de número de artigos publicados e indexados na Web of Science.
Contudo, a sensação de uma parte importante da comunidade é que o modelo atual de avaliação parece ter se exaurido. Em todos os âmbitos, seja nos cursos de pós-graduação, nas comissões de área da Capes e nas sociedades científicas, discute-se a necessidade de rever o processo. Algumas das principais críticas são: a) visão demasiadamente quantitativa devido à importância assumida pelo Qualis; b) hegemonia de indicadores provindos das áreas de ciências "duras", que ao parametrizar os produtos da pós-graduação (o que facilita e agiliza a avaliação) não contempla adequadamente os distintos perfis disciplinares; c) grande heterogeneidade de critérios utilizados por comissões de uma mesma grande área, sobretudo a atribuição de categorias no Qualis; d) falta de mecanismos de avaliação e de apoio à interdisciplinaridade; e) dificuldade em avaliar a relevância social dos programas.
A necessidade de revisão da avaliação é um dos pontos previstos no Plano Nacional de Pós-graduação (PNPG) vigente. A própria comissão de acompanhamento de pós-graduação, nomeada pela Capes, vem refletindo e discutindo o tema, e tem ouvido a comunidade organizada nas associações e entidades científicas. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) foi instada a contribuir, e para tal ouviu sociedades científicas e outros membros da comunidade. Uma comissão formada por conselheiros da SBPC sistematizou as sugestões e redigiu um documento propositivo, já encaminhado à comissão de acompanhamento, e que constitui a base deste artigo.
É importante que se tenham claros alguns pontos quando a avaliação é discutida. É necessário entender e explicitar, porque avaliar? Avaliar para que e por quem? Avaliar somente para estabelecer "ranking"? Será que um único modelo de avaliação atende a todas as áreas?
A SBPC decidiu por sugerir princípios norteadores de uma nova avaliação, uma nova prática avaliativa que reflita as demandas da comunidade acadêmica e que exerça o papel de induzir boas práticas para o fazer científico e para a formação de pessoas qualificadas para a ciência. São sete os princípios:
- CONTEMPLAR A DIVERSIDADE DAS ÁREAS DISCIPLINARES E OS ASPECTOS REGIONAIS
Reconhecendo a heterogeneidade do sistema da pós-graduação, entendemos que é mister avaliar de forma distinta os diferentes. Assim, há peculiaridades dos cursos das áreas de humanas e sociais que não são valorizados no atual modelo (muito apropriado para as ciências chamadas "duras"). Cursos novos e aqueles em processo de reestruturação são penalizados ao serem avaliados pela mesma "régua" de cursos consolidados, especialmente aqueles da região amazônica; de fato eles demandam políticas de apoio, orientação e acompanhamento. Da mesma forma, os mestrados profissionais, ora em expansão, merecem um olhar mais profundo. Há que definir, com a clareza possível, os critérios de "excelência", com a participação da coletividade e considerando que as diferentes regiões do país têm distintos perfis socioeconômicos, potencialidades e necessidades em termos de produção de conhecimento e de qualificação de pesquisadores. Também sugerimos a participação de consultores com experiência internacional de avaliação para acompanhar cursos com conceitos 5, 6 e 7. O estímulo à solidariedade entre os cursos de pós-graduação e a prática da autoavaliação devem ser estimulados.
- UTILIZAR CRITÉRIOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS NA AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO INTELECTUAL
Apesar de instrumental, o uso do Qualis tem produzido distorções que prejudicam a avaliação. Homogeneizar o Qualis dentro de grandes áreas permitirá avançar na interdisciplinaridade e diluir feudos disciplinares. Por outro lado, há que respeitar os critérios das áreas disciplinares para construir a necessária inter/transdisciplinaridade. A autoria principal dos orientadores permanentes e os artigos científicos de alto impacto podem ser mais valorizados, também pelo aspecto das parcerias e da internacionalização. A avaliação de impacto pode ser repensada para permitir novos indicadores e bases mais compatíveis com as humanidades e as artes. Da mesma forma, há que "Quali"ficar livros, eventos científicos e outras produções técnicas, de forma ágil e transparente. Muitas áreas defendem que critérios qualitativos devem ser empregados, pois a formação de pós-graduandos vai além da contabilização dos artigos publicados. Os cursos poderiam elencar os itens (dissertações, teses, artigos e outros) a serem lidos e apreciados, para uma melhor avaliação.
- DEFINIR CRITÉRIOS CLAROS PARA ESTIMULAR E AVALIAR INTERDISCIPLINARIDADE E INOVAÇÃO
Cada vez mais a ciência dilui as fronteiras disciplinares, pois os problemas abordados por ela são, no mais das vezes, complexos e sua solução requer múltiplos olhares. Mas para melhor avaliar a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade, e assim passar do discurso (estímulo a) à prática (reconhecimento e recompensa pelo esforço interdisciplinar), o Qualis deve ser revisto (conforme acima comentado). Também, a área "multidisciplinar" deveria passar por extensa reformatação. Critérios qualitativos também devem ser definidos. Da mesma forma a inovação, prática crescente em programas nas áreas de engenharias e saúde, de humanas e sociais e das artes, carece de adequada conceituação (inovação tecnológica e inovação social, pelo menos) e de critérios claros. Dito de outra forma, há necessidade de estabelecer políticas claras de apoio; daí podem ser derivados critérios e formas de avaliação. As atividades de inovação enriquecem o percurso formativo dos estudantes e definem a vocação de cursos.
- DEFINIR CRITÉRIOS CLAROS PARA ESTIMULAR E INTERNACIONALIZAÇÃO
A boa prática científica desconhece barreiras geopolíticas, pois é a afinidade temática que define a aproximação de pesquisadores. Há muitos exemplos disso nos relatórios dos programas de pós-graduação, mas os critérios para valoração da internacionalização são ainda pobres e mantêm a língua inglesa como parâmetro principal. Ora, é importante considerar que as áreas possuem características e afinidades linguísticas, temáticas e geopolíticas, bem como há que estimular o desenvolvimento de novas relações institucionais Sul-Norte e Sul-Sul. E talvez, mais do que avaliar, seja importante definir mecanismos claros de estímulo e fomento à internacionalização da pesquisa realizada nos cursos de pós-graduação. Para além das bolsas de mobilidade de discentes e docentes, há que definir projetos científicos em cooperação internacional. Novamente, isto passa pela ação das agências de fomento baseadas em políticas claras definidas pela Capes, com adesão institucional (e não apenas de cursos de pós-graduação individualmente). São pouco mais de vinte universidades que posuem mais de cinco programas com conceitos de excelência, com notas 6 ou 7, aqueles naturalmente vocacionados para a internacionalização. Por outro lado, instituições com pequeno número de cursos de pós-graduação poderiam ser apoiadas de forma distinta. É importante reforçar que a internacionalização, sem dúvida necessária para que a produção científica ganhe em qualidade e impacto, necessita de fomento adequado e crescente, bem como de planejamento de médio e de longo prazos.
- RELEVÂNCIA SOCIAL E REGIONALIZAÇÃO
Nosso país continental possui cursos de pós-graduação que expressam, em sua prática, suas enormes diferenças regionais. Tanto em termos de fomento e condições econômicas, quanto em importância local e relevância. Isto é, um curso com nota 4 ou 5 nas regiões Norte ou Nordeste pode ter maior impacto na comunidade local que um curso nota 7 nas regiões Sudeste ou Sul. Há também importantes diferenças intrarregionais. O desafio é estabelecer critérios para avaliar, de maneira clara e transparente, a relevância social e as possibilidades criadas para apropriação social do conhecimento. Nesse sentido, diversificar talvez seja mais lógico do que homogeneizar. Um critério fundamental para avaliar as repercussões sociais dos cursos seria sua participação/aderência contínua (e não apenas em ações pontuais) em políticas públicas. Também é importante bem avaliar e estimular a articulação dos cursos de pós-graduação com a educação básica e sua contribuição para a melhoria da educação em todos os níveis, especialmente na formação ativa e continuada de professores.
- DIFUSÃO E COMUNICAÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
O conhecimento produzido na universidade e a qualificação dos pesquisadores formados na pós-graduação atinge real importância quando são socializados através dos diversos meios de divulgação não especializada. A apropriação social do conhecimento e da tecnologia (C,T&I) e o debate público sobre ciência, tecnologia e inovação constituem um dos importantes desafios da pós-graduação nos próximos anos, e os alunos devem participar de oficinas e de projetos de divulgação científica. A difusão da ciência precisa ser encarada como um compromisso da comunidade acadêmica, especialmente dos estudantes de pós-graduação, aqueles que serão os acadêmicos e pesquisadores de amanhã. Há que definir formas de avaliação apropriadas, como a edição/contribuições sobre C,T&I em diversos meios, por exemplo.
- VALORIZAÇÃO DA DIMENSÃO FORMATIVA DA PÓS-GRADUAÇÃO E DOS EGRESSOS
É importante que a avaliação valorize, além da produção intelectual do programa de pós-graduação, a qualidade da formação dos profissionais, mestres e doutores. Sugere-se que o critério "tempo de titulação" seja repensado, pois desconhece especificidades e não contempla a trajetória percorrida. Outra forma de avaliar o impacto positivo dos programas é acompanhar a absorção dos egressos pelo mundo do trabalho, tanto acadêmico como não acadêmico. Uma vez que menos de 2% da população brasileira conquista o nível da pós-graduação, este contingente engloba lideranças intelectuais e acadêmicas e gestores públicos qualificados. No atual cenário de crise, o acompanhamento dos mais de 55 mil mestres e doutores anualmente titulados pode, de alguma forma, contribuir para evitar o desperdício de vocações científicas e acadêmicas.
CONCLUINDO
A análise desse conjunto de princípios revela pelos menos dois aspectos interessantes. O primeiro é que não há propostas disruptivas, ou seja, em termos gerais os pilares da avaliação seguem bem aceitos; o que sinaliza a percepção da importância da avaliação e dos benefícios que a prática vem trazendo às atividades formativas e de pesquisa. O segundo é que as instituições que abrigam a pós-graduação, especialmente as universidades, devem assumir maior protagonismo na definição dos rumos de seus programas. Muitos dos pontos comentados podem ser elaborados e incorporados às práticas acadêmicas através de seus planos de desenvolvimento institucional, independentemente da avaliação pela Capes, e representariam claros avanços institucionais.
A revisão de um modelo tão complexo quanto eficaz de avaliação da pós-graduação brasileira deve se constituir num processo com ativa participação da coletividade acadêmica, organizada em suas mais diversas instâncias. Os princípios acima indicam que a almejada reformulação reflete a necessidade de definição clara de políticas de desenvolvimento e de apoio à pós-graduação, bem como da governança da avaliação pela Capes. Fomento crescente e continuado é fator essencial para que a pós-graduação continue avançando; na ausência de tal apoio toda e qualquer mudança que venha a ser implementada não atingirá o objetivo de qualificar a atividade. Prioridade máxima é a revogação da Emenda Constitucional 95, responsável pelo trágico congelamento de gastos pelo governo federal que já afeta a todos os projetos, laboratórios e programas de pós-graduação, bem como as universidades e os centros de pesquisa.
Revisar a avaliação significa renovar uma estrutura complexa e qualificada que em muito contribuiu para o enorme avanço da pós-graduação brasileira. Trata-se da necessária metamorfose que o presente e o futuro da prática científica que o país demanda estão a reclamar. De outra forma, é possível que essa necessidade de mudança da avaliação seja a primeira expressão de que, talvez, tenha chegado o momento de repensar a própria pós-graduação brasileira, seus objetivos, princípios e forma de organização. Serão avanços incrementais ou mudança de modelo? Esta é a próxima reflexão a merecer atenção e energia.
Observação: este texto é uma versão adaptada do documento propositivo elaborado pela comissão da SBPC para a pós-graduação, composta por Ana Maria Bonetti, Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, Carlos Alexandre Netto, Fernanda Antonia da Fonseca Sobral, Helena Bonciani Nader, Maira Baumgarten Correa e Zelinda Maria Braga Hirano.
CAPES DIVULGA RESULTADO PRELIMINAR DA ANÁLISE DE MÉRITO DA PRIMEIRA SELEÇÃO DO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INTERNACIONALIZAÇÃO
Revista Gestão Universitária – 20.08.2018
A CAPES anunciou nesta segunda-feira (20/08) o resultado preliminar da análise de mérito do Programa Institucional de Internacionalização (PrInt). Os recursos de 2018 serão destinados à 25 Instituições de Ensino Superior (IES) que participaram do processo de seleção, iniciado em 2017.
Os projetos selecionados terão início em novembro com prazo de duração de 4 anos. O investimento total da CAPES no projeto será de R$ 300 milhões anuais a partir de 2019. O PrInt foi concebido para a implementação e a consolidação de planos estratégicos de internacionalização das instituições contempladas, nas áreas do conhecimento por elas priorizadas.
Com essa iniciativa, a CAPES pretende ampliar as ações de apoio à internacionalização na pós-graduação. Visa ainda estimular a formação de redes de pesquisas internacionais para o aprimoramento da qualidade da produção acadêmica vinculada à pós-graduação. Pretende também promover a mobilidade de professores e alunos e incentivar a transformação das instituições participantes em um ambiente internacional.
Processo de seleção
Cada IES interessada apresentou o seu plano de internacionalização da pós-graduação, que foi submetido à análise de especialistas nacionais e internacionais, que se reuniram, em julho, para avaliar as propostas das IES que se inscreveram no PrInt. Entre as exigências para a participação no Programa está a de que as instituições tenham, no mínimo, quatro programas de pós-graduação recomendados pela CAPES na última Avaliação Quadrienal e, pelo menos, dois cursos de doutorado.
Para atender aos pré-requisitos do edital, a instituição concorrente precisou definir temas estratégicos a serem apoiados e mostrar, por meio de políticas e ações inovadoras, como iria ganhar maior protagonismo internacional nos próximos anos. A instituição deveria definir as suas metas para melhoria da qualidade da pós-graduação, com parcerias estratégicas e contrapartidas bem definidos, prevendo o fortalecimento de grupos de pesquisa em colaboração internacional.
A análise de mérito envolveu um diagnóstico institucional, capacidade técnica do grupo gestor, coerência e viabilidade da proposta – bem como seu caráter inovador –, além da sua relevância, considerando o impacto sobre a instituição. O resultado baseou-se não apenas na qualidade da instituição proponente, mas também na habilidade para escolher as áreas e parcerias estratégicas de acordo com a vocação da IES. Além disso, o uso de estratégias inovadoras para internacionalização e a capacidade da instituição atender as metas definidas, baseada nos dados disponíveis na proposta e utilizando plataformas de dados nacionais e internacionais, também contaram para avaliação.
O acompanhamento e monitoramento dos projetos será feito por um comitê de especialistas nacionais e internacionais, considerando as metas propostas pelas próprias instituições.
Ações financiáveis pelo PrInt:
- Auxílio para Missões de Trabalho no Exterior
- Recursos para Manutenção de Projetos
- Bolsas no Exterior (Doutorado Sanduíche, Professor Visitante Júnior e Sênior e Capacitação em cursos de curta duração)
- Bolsas no Brasil (Jovem Talento, Professor Visitante e Pós-Doutorado)
Mudanças no Doutorado Sanduíche
Com o PrInt, haverá mudanças no próximo edital do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE). As utilizações das cotas de doutorado sanduíche devem refletir uma política institucional clara de internacionalização, para ser um instrumento de construção de colaboração estratégica internacional, buscando a melhoria da qualidade de pesquisa e pós-graduação no Brasil.
Para que isto ocorra, a CAPES fará um novo acordo com as IES, uma vez que as cotas de bolsas serão por instituição e não por curso. Importante destacar que não haverá mudança no número de cotas para a instituição.
A instituição deverá esclarecer a sua política para distribuição das cotas bem como a seleção de candidatos. Esta política será utilizada para a concessão das bolsas a partir do edital de 2020.
Os processos de “Seleção” e “Homologação” serão feitos exclusivamente dentro da instituição, que deve seguir as regras descritas no edital do Programa. Um relatório institucional bianual será avaliado pela CAPES quanto a utilização das bolsas e mudanças ocorridas na IES devido a concessão das bolsas.
Instituições não contempladas
Para as instituições não contempladas pelo PrInt, haverá um novo programa, a ser lançado ainda no segundo semestre deste ano, que prevê a contratação de consultores para auxiliar na estruturação de seus programas institucionais de internacionalização. A iniciativa visa a preparação para o próximo edital do PrInt, que deverá ser lançado no início do 2019, com implementação no final de 2020.
Para saber mais sobre o CAPES PrInt e acompanhar a divulgação dos resultados, acesse o link http://www.CAPES.gov.br/cooperacao-internacional/multinacional/programa-institucional-de-internacionalizacao-CAPES-Print
PESQUISADORA GANHA MEDALHA DE BRONZE EM FEIRA DE CIÊNCIAS NA CHINA
Portal Aprendiz, 21.08.2018
A jovem pesquisadora Bruna Marschner (18 anos) foi a única representante brasileira presente na China Adolescents Science & Technology Innovation Contest (Castic 2018). Ela conquistou o 3º lugar na categoria projetos internacionais. A cerimônia de premiação ocorreu neste domingo (19).
Estudante do Curso Técnico de Química da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha (Novo Hamburgo/RS), ela participou do evento através do Prêmio Killing de Tecnologia, conquistado na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec) do ano passado.
O projeto apresentado em Chongqing foi “Protetor contra cnidários presentes nas costas marítimas”. Bruna desenvolveu um protetor contra as águas-vivas, as anêmonas-do-mar, os corais e as caravelas, responsáveis por inúmeros acidentes com banhistas todos os anos. A orientação do projeto é de Sabrina da Silva Bazzan.
No total, 42 países compareceram à Castic 2018. Estudantes da Liberato já conquistaram prêmios nesse evento em seis oportunidades distintas: 3° lugar em 2014, 2015 e 2018; 2° lugar em 2013 e 2017; e 1° lugar em 2016.
Sobre a pesquisa
O produto idealizado pela jovem pesquisadora Bruna Marschner já é comercializado em países do Mediterrâneo, mas importá-lo torna seu custo muito elevado.
Na versão do protetor desenvolvido por Bruna, as matérias primas ficam, aproximadamente, 100 vezes mais baratas. Testes já foram realizados com sucesso por voluntários do AquaRio, o Aquário Marinho do Rio de Janeiro (RJ).
A ASFIXIA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA BRASILEIRA
Karina Pereira Vieira* e Tulio Chiarini**, Le Monde Diplomatique Brasil, 10.08.2018
Em Terra Brasilis, fala-se de C&T como algo secundário… O preço desta aposta é alto. Pagamos com o nosso atraso, com a nossa eterna dependência das tecnologias geradas nos países centrais.
Nos últimos dois anos o sistema brasileiro de ciência e tecnologia (C&T) tem sofrido ataques constantes. Um dos mais fortes foi, sem dúvida, a aprovação do projeto de emenda constitucional (PEC 241/55) que limita os gastos do governo para os próximos anos. Segundo economistas mais críticos, tal medida não trata de uma agenda de crescimento, mas de um projeto de longo prazo de desmonte do Estado de bem-estar social brasileiro.[1]
As reduções orçamentárias para atuação tanto do Ministério da Educação (MEC) como do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC) podem ter efeitos de longo prazo desastrosos, ajudando a ampliar o hiato entre a nossa produção científica e a fronteira mundial. Justamente o contrário do que tem sido feito na China nos últimos anos. Enquanto em Terras Brasilis há cortes em C&T, a China investe pesadamente em atividades científicas e consegue dar saltos fantásticos, obviamente com ativa atuação do governo central.
O sistema de C&T brasileiro foi forjado lentamente durante décadas com forte presença do Estado. Nos anos 1950 foram criados o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e na década seguinte a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), cada qual com sua missão. Tais órgãos ajudaram a dar as disposições institucionais do sistema brasileiro de C&T contemporâneo. Sistema este que apresenta sim muitas lacunas que dificultam a geração de sinergias e a ampliação das oportunidades inovativas domésticas, porém nenhum especialista em sã consciência recomendaria seu desmonte. Aliás, o reconhecimento da importância da C&T ressurge nos anos 2000, após um longo período de total abandono e descuido na década de 1980-1990. Em 2004, o então presidente Lula sancionou a Lei 10.973, chamada popularmente de “Lei da Inovação”, tratando sobre incentivos à inovação e a pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à autonomia tecnológica do país, sendo regulamentada no ano seguinte pelo Decreto 5.563/2015. Por si só essa Lei marcou um avanço em aceitar que as atividades de C&T afetam sobremaneira o ambiente produtivo nacional e devem ser tratadas de forma endógena.
No bojo das ações referentes aos cortes gigantescos no orçamento de C&T, no início de agosto, o comunicado da Capes sobre a possível interrupção do pagamento das bolsas de pesquisa, a partir de 2019, causou estremecimento na comunidade científica brasileira. Apesar disso, o que presenciamos tem sido pouco ou nenhum posicionamento da mídia tradicional, a qual, pelo contrário, tem atacado sobremaneira a comunidade científica brasileira.
Em termos nominais, o orçamento da Capes para 2018 equipara-se ao de 2011 e, em termos reais, equivale ao de 2010, conforme pode ser visto na Figura abaixo. O ano de 2016 marca o fim da tendência de crescimento do orçamento da Capes para “subsidiar […] a formulação de políticas para pós-graduação, coordenar e avaliar os cursos desse nível e estimular, mediante bolsas de estudo, auxílios e outros mecanismos, a formação de recursos humanos altamente qualificados para a docência de grau superior, a pesquisa e o atendimento da demanda dos setores público e privado”.[2]
Orçamento autorizado por Lei Orçamentária para a Capes, Programa Educação Superior (graduação, pós-graduação, ensino, pesquisa e extensão), valores constantes
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponíveis nos Orçamentos Anuais, Ministério do Planejamento. Nota: A série foi deflacionada com o deflator implícito do PIB disponível pelo Banco Mundial (ano base = 2017)
Sabemos que não há “receita” para a superação do subdesenvolvimento, porém, a experiência histórica das estratégias desenvolvimentistas de muitas nações desde a primeira revolução industrial mostra que a C&T importa. Aliás, não só importa, mas é essencial para a ruptura do atraso. As conquistas científicas empurram a fronteira do conhecimento e ajudam a prover respostas e soluções para os desafios impostos pela sociedade, sejam estes econômicos, relacionados à saúde, bem-estar da população e ao meio-ambiente. A superação do subdesenvolvimento de diferentes nações demandou, portanto, investimentos pesados, sobretudos públicos, em pesquisa científica e tecnológica.
Infelizmente, em Terra Brasilis, fala-se de C&T como algo secundário… Algo que pode ser facilmente substituído pela aquisição de máquinas, equipamentos e conhecimentos produzidos e enlatados no exterior. Algo que não precisa ser construído ou continuamente trabalhado, porque acredita-se que possa ser comprado. O preço desta aposta é alto. Pagamos com o nosso atraso, com a nossa eterna dependência das tecnologias geradas nos países centrais.
Num momento em que tanto se fala em sustentabilidade, em políticas responsáveis de longo prazo, vamos na contramão do desenvolvimento, precarizando as instituições produtoras de conhecimento no país. Em meio a isso, assistimos à derrocada das políticas de saúde pública, ao sucateamento das universidades estaduais, federais e institutos de pesquisa.
*Karina Pereira Vieira é tecnologista lotada na Supervisão de Pesquisas Econômicas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em São Paulo. Economista e mestre em economia pela UFMG.
**Tulio Chiarini é analista em Ciência e Tecnologia lotado na Divisão de Estratégias do Instituto Nacional de Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Economista pela UFMG, mestre em economia pela UFRGS, mestre em administração da inovação pela Scuola Superiore Sant’Anna e doutor em teoria econômica pela Unicamp. Foi pesquisador visitante no Istituto di Ricerca sulla Popolazione e le Politiche Sociali (IRPPS) do Consiglio Nazionale delle Ricerche (CNR) em Roma.
FULBRIGHT OFERECE OPORTUNIDADES ACADÊMICAS NOS ESTADOS UNIDOS
Agência FAPESP, 20.08.2018
A Comissão Fulbright oferece oportunidades acadêmicas para brasileiros estudantes de pós-graduação, pesquisadores, professores universitários e professores de inglês recém-graduados.
Os benefícios serão concedidos no âmbito do Programa de Intercâmbio Educacional e Cultural do governo dos Estados Unidos de modo a ampliar o entendimento entre as sociedades norte-americana e brasileira.
Inscrições serão recebidas até 23 de setembro. As oportunidades disponíveis são:
Doutorado sanduíche: estudantes de doutorado brasileiros em todas as áreas do conhecimento podem se candidatar a uma das 30 bolsas de nove meses de duração com início em agosto ou setembro de 2019 e término em abril ou maio do ano seguinte.
Bolsa para ensinar português nos EUA: o Foreign Language Teaching Assistant Program (FLTA) oferece até 20 bolsas de nove meses de duração para brasileiros ensinarem português nos Estados Unidos. Os selecionados auxiliarão no ensino de português em diversas universidades norte-americanas e irão também frequentar cursos sobre a cultura e história dos EUA, além de outras disciplinas de seu interesse.
Professor/pesquisador: professores e pesquisadores de todas as disciplinas, com mais de sete anos após o doutorado, podem se candidatar a uma das 10 bolsas oferecidas, de três ou quatro meses de duração, para realizar pesquisas e/ou ministrar palestras em universidades ou centros de pesquisa nos Estados Unidos. O candidato deve apresentar carta de aceite da instituição anfitriã nos Estados Unidos.
Professor/pesquisador júnior: o programa oferece até 10 bolsas destinadas a jovens doutores em qualquer área do conhecimento, que sejam professores com vínculo permanente com instituições de ensino superior brasileiras. Os candidatos selecionados poderão realizar pesquisas, ministrar palestras e/ou apresentar cursos/seminários para a pós-graduação em universidades ou centros de pesquisa nos Estados Unidos, por três ou quatro meses.
Cátedra em Cidades Globais na City University of New York City (CUNY): destina-se a professores e pesquisadores de diferentes áreas que estudam problemas urbanos.
Cátedra em Estudos Brasileiros na Emory University: voltada para um professor/pesquisador para realizar pesquisa e, eventualmente, ministrar palestras e seminários.
Cátedra na University of Nebraska, Lincoln: destina-se a professores e pesquisadores na área das Ciências Agrárias.
Cátedra em Estudos Brasileiros na University of Massachusetts Amherst: voltada para acadêmicos atuantes na pesquisa e docência nas áreas de relações raciais, estudos feministas e de gênero, movimentos sociais, políticas sociais, antropologia cultural, sociologia política, economia política, história, estudos culturais ou comunicação.
Cátedra em Estudos Brasileiros na Universidade de Texas Austin: voltada para um professor ou pesquisador para conduzir pesquisas, cursos e ocasionalmente ministrar palestras e seminários com foco em Tensões Socioculturais e Políticas Públicas Educacionais.
Cátedra em Música na Universidade de Indiana, Bloomington: voltada para intérpretes experientes e acadêmicos experientes na área.
O programa da Comissão Fulbright beneficiou desde 1957 mais de 3,5 mil brasileiros. No mundo, foram concedidas desde 1946 mais de 370 mil bolsas Fulbright para pesquisa e docência a cidadãos norte-americanos e de outros 150 países.
Mais informações: www.fulbright.org.br
CONHEÇA AS SETE VENCEDORAS DO PRÊMIO PARA MULHERES NA CIÊNCIA 2018
Revista Galileu, 15.08.2018
Cada cientista receberá uma bolsa de R$ 50 mil para investir em sua linha de pesquisa; áreas que vão da saúde à física.
DA ESQUERDA PARA DIREITA, NATHALIA BEZERRA, SABRINA LISBOA, JAQUELINE SOARES, LUNA LOMONACO, ETHEL WILHELM, ANGELICA VIEIRA E FERNANDA CRUZ, VENCEDORAS DA EDIÇÃO 2018 DO PRÊMIO “PARA MULHERES NA CIÊNCIA”. (FOTO: PRÊMIO PARA MULHERES NA CIÊNCIA)
Com recorde de inscrições, o programa Para Mulheres na Ciência do Prêmio L'Oréal-Unesco-ABC anunciou nesta semana as vencedoras da sua 13ª edição. No total, 524 cientistas se inscreveram — um aumento de 34% em relação à 2017 — e sete delas serão contempladas com uma bolsa de R$ 50 mil para impulsionar suas pesquisas.
O programa é uma iniciativa da L’Oréal Brasil em parceria com a Unesco e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) que busca ajudar a promover a igualdade de gênero no ambiente acadêmico. Os estudos selecionados apresentam um grande potencial para encontrar soluções nas áreas da saúde, química, matemática e física e são encabeçados por algumas das melhoras pesquisadoras do país.
Conheça abaixo as sete brasileiras que receberão o prêmio no dia 4 de outubro, durante uma cerimônia no Rio de Janeiro.
CIÊNCIAS DA VIDA
Ethel Antunes Wilhelm
A química gaúcha estuda os mecanismos por trás das dores nas extremidades do corpo para garantir qualidade de vida aos idosos. Atualmente, é professora adjunta da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), coordena o Programa de Pós-graduação em Bioquímica e Bioprospecção (PPGBBio) e o Laboratório de Pesquisa em Farmacologia Bioquímica (LaFarBio) e também lidera Grupo de Pesquisa em Neurobiotecnologia da universidade.
Angelica Thomaz Vieira
Especialista em imunologia, a bióloga belo-horizontina desenvolve pesquisas para tentar resolver o problema global das superbactérias, resistentes aos antibióticos. Vieira é professora adjunta do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e já desenvolveu pesquisas na Austrália e na França.
Fernanda Ferreira Cruz
Médica carioca e pós-doutoranda em medicina regenerativa na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Cruz trabalha no desenvolvimento de terapias capazes de tratar doenças respiratórias crônicas de forma mais eficaz e já publicou dezenas de artigos na área. Foi premiada pela Sociedade Torácica Americana quatro vezes e se tornou membro do Programa Jovens Lideranças Médicas da Academia Nacional de Medicina.
Sabrina Francesca de Souza Lisboa
Compreender as alterações que acontecem no cérebro de quem vive com transtorno do estresse pós-traumático e criar um tratamento para isso é o objetivo da biomédica paranaense. Atualmente, ela é pesquisadora associada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP) e desenvolve estudos na área de farmacologia e neuroimunopsicofarmacologia.
QUÍMICA
Nathalia Bezerra de Lima
Química pernambucana e pós-doutoranda da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sua pesquisa busca encontrar formas de como aumentar a durabilidade do cimento nas diversas condições climáticas do Brasil. “O prêmio vai ser fundamental para ganhar reconhecimento e será um divisor de águas na minha carreira”, avalia ela, que trabalha em uma área predominantemente masculina.
MATEMÁTICA
Luciana Luna Anna Lomonaco
A matemática italiana é professora do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP e estuda um dos fractais mais famosos da matemática, o Conjunto de Mandelbrot. Para ela, a falta de modelos femininos é um dos principais obstáculos para mulheres da área. "Por falta de referências femininas na ciência e, em especial, na Matemática, as jovens nem sabem que existe essa possibilidade quando chega a hora de escolher sua carreira. O prêmio vem para mostrar que é possível ser mulher e cientista", diz.
Física
JAQUELINE DOS SANTOS SOARES
Outra mineira, Soares é professora do Departamento de Física da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Fez seu pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e se dedica a produzir nanotecnologia com uma matéria-prima abundante em Ouro Preto, a pedra-sabão, para aperfeiçoar próteses ortopédicas e dentárias.
BRASIL PERDE LIDERANÇA GLOBAL EM CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
Ricardo Dobrovolski*, Nossa Ciência, 14.08.2018
Estudo revela que crises econômicas e política afastam o país de metas internacionais de preservação do meio ambiente e de desenvolvimento humano
Menos unidades de conservação ambiental criadas, explosão dos indicadores de destruição da vegetação natural, manutenção de uma política irresponsável de manejo de dejetos da mineração, aumento dos assassinatos de ambientalistas e militantes pelo acesso à terra. A coincidência de todos esses dados a partir de 2014 não é mera casualidade, e sim consequência da triste associação de dois fatores: a crise econômica e a perda do foco em proteção ambiental e bem-estar humano, que vêm se refletindo em cortes dos orçamentos para pesquisa científica e ações de preservação ambiental nos últimos anos. A resultante de tudo isso é que o Brasil já não pode mais se gabar de ocupar uma posição de liderança global no quesito conservação ambiental.
É essa a interpretação de um grupo de pesquisadores brasileiros encabeçado pelo professor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Ricardo Dobrovolski, que publicou em julho o artigo “Science and democracy must orientate Brail´s path to sustainability” (Ciência e Democracia devem orientar o caminho brasileiro para a sustentabilidade) na revista Perspectives in Ecology and Conservetion (Perspectivas em Ecologia e Conservação), publicação de alcance internacional da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação, tida como a principal revista brasileira da área.
No estudo, a ênfase nos indicadores socioeconômicos e de conservação ambiental a partir de 2014 toma como marco a interrupção do ciclo democrático iniciado em 1995, em que cinco mandatos presidenciais foram inteiramente cumpridos pelos presidentes eleitos pelo voto popular – Fernando Henrique Cardoso (2 mandatos), Luiz Inácio Lula da Silva (2 mandatos) e Dilma Rousseff (1 mandato). Nesses 19 anos, segundo o artigo, “o país combateu alguns de seus problemas históricos de pobreza, destruição ambiental e déficits de ciência e educação”, e obteve resultados globais positivos, seja no âmbito fiscal, seja no aumento da criação de áreas de conservação e do combate ao desmatamento, além de ter elevado o investimento em ciência e tecnologia e na formação de nível superior.
Inversão de indicadores
A partir de 2014, contudo, o estudo aponta forte tendência de inversão desses indicadores: junto com sucessivos déficits nas contas públicas, vieram aumentos nos índices de desemprego, o retorno de cerca de 3 milhões de brasileiros a condições de vida abaixo da linha da pobreza, a deposição da presidenta eleita e a ascensão de um congresso com forte agenda reacionária e de um governo com os mais baixos índices de popularidade da história, na casa dos 3% de aprovação. Na interpretação dos biólogos, esse cenário serviu para justificar indevidamente cortes do percentual de investimento em ciência e tecnologia (que chegou a 0,39% e 0,41% do PIB em 2015 e 2017, respectivamente, os menores desde 2012) e o recuo de uma série de políticas ambientais.
Ao analisar os indicadores especificamente relacionados ao meio ambiente, o estudo aponta o aumento da área anual desmatada, que atingiu em 2016 picos que não se viam desde 2008, tanto na Amazônia (7.893 km² devastados, maior patamar numa escalada a partir de 2012, quando se registrou o menor desmatamento da floresta, 4.571 km²), quanto na mata atlântica (290,75 km² devastados, mais que o dobro dos 140,9 km² registrados em 2011, ano do menor desmatamento desse bioma). Ademais, a área total das unidades de conservação ambiental no país, que havia mais que dobrado entre 1995 e 2012, praticamente estagnou desde então. Segundo os autores, esse cenário claramente regressivo teve como precedente com a aprovação do chamado “novo código florestal”, aprovado ainda em 2012, que flexibilizou uma série de regras para a conservação ambiental no país.
Dados assustadores
Dobrovolski aponta ainda a existência no país de mais de 120 barragens de rejeitos de mineração que apresentam risco de provocar tragédias semelhantes às que ocorreram em Mariana (MG), em 2015, e em Bacarena (PA), neste ano. Outro dado assustador é o total de assassinatos de ambientalistas e militantes pelo direito à terra, que em 2015 chegou a 50 mortos – o mais alto somatório desde 2003, quando foram contabilizadas 73 mortes. Em 2017, 66 assassinatos foram computados, o segundo maior índice desde 2002.
O professor Dobrovolski salienta que, com esse vergonhoso conjunto de indicadores, o Brasil vai se afastando a passos largos do cumprimento de metas internacionais de conservação ambiental e de desenvolvimento humano, fixadas em acordos dos quais o país é signatário, como a Convenção sobre Diversidade Biológica, o acordo de Paris sobre emissões de gases de efeito estufa e os “objetivos do milênio” das Nações Unidas, voltados ao desenvolvimento sustentável.
“O Brasil necessita criar, com a contribuição da ciência, um caminho que associe desenvolvimento humano e conservação ambiental. Ainda que não tenham sido ideais, os investimentos que ocorreram durante esse ‘período democrático’ entre 1995 e 2014 trouxeram importantes avanços nesse sentido. No entanto, frente à crise econômica, o governo brasileiro, de maneira antidemocrática, virou as costas para nossas maiores riquezas, o povo a e natureza”, sintetiza o professor Dobrovolski, que mesmo assim mantém-se otimista quanto ao potencial do Brasil de resolver esses problemas e continuar a obter avanços sociais e ambientais.
*Ricardo Dobrovolski, autor do artigo, é professor do Instituto de Biologia da UFBA.
IMPORT NCIA DO BRASIL NA BIODIVERSIDADE MUNDIAL É MAIOR DO QUE SE PENSAVA, DIZEM CIENTISTAS
Camilla Costa, BBC News Brasil, 19.08.2018
Direito de imagem: Getty Images
Recifes de coral cobrem apenas 0,1% dos oceanos, mas são responsáveis pela sobrevivência de mais de 200 milhões de pessoas
Quase um quarto de todos os peixes de água doce do mundo - mais precisamente 23% - estão nos rios brasileiros. Assim como 16% das aves do planeta, 12% dos mamíferos e 15% de todas as espécies de animais e plantas.
Esses números estão sendo compilados pela primeira vez por cientistas brasileiros após a publicação do estudo O futuro dos ecossistemas tropicais hiperdiversos, divulgado no final de julho na revista Nature.
"Já imaginávamos que o Brasil tinha essa quantidade de espécies, mas os números exatos estavam espalhados em bases de dados muito diferentes pelo mundo. É uma combinação de dados única", disse à BBC News Brasil a bióloga Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, que participou do estudo e lidera os esforços para compilar os dados brasileiros.
"A condição do Brasil é muito única, mas, nas discussões políticas, o papel que o país tem na biodiversidade mundial é pouco considerável. Precisamos de um conjunto de políticas muito mais fortes e atuantes para lidar com essa biodiversidade."
O estudo, realizado por um grupo de 17 cientistas, incluindo quatro brasileiros, é a maior revisão de dados sobre a biodiversidade nos trópicos, segundo o biólogo marinho, zoólogo e botânico britânico Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, que liderou a pesquisa.
"Sempre soubemos que a região era importante. Mas encontramos números surpreendentes. Mostramos, por exemplo, que 91% de todos os pássaros do mundo passam ao menos parte de suas vidas nos trópicos. Isso é incrível", disse à BBC News Brasil.
"Eu também fiquei impressionado com o fato de o Brasil ser responsável por um quarto dos peixes de água doce. Geralmente, esses ecossistemas são ignorados."
Direito de imagem: Adam Ronan
Os ecossistemas tropicais – florestas, savanas, rios e lagos e recifes de coral – concentram mais de três quartos das espécies do planeta
Perda acelerada de espécies tropicais
No estudo, a equipe internacional de cientistas alerta para o fato de que a falta de ações de conservação e monitoramento dos ecossistemas tropicais pode causar, em breve, uma perda sem precedentes de espécies - muitas das quais sequer são conhecidas.
Os ecossistemas tropicais - florestas, savanas, lagos e rios e recifes de coral - cobrem 40% do planeta, mas abrigam mais de três quartos (78%) de todas as espécies.
Além disso, desses ecossistemas dependem as vidas de centenas de milhares de pessoas. Os recifes de coral, por exemplo, são responsáveis pela subsistência e pela proteção de mais de 200 milhões, apesar de só cobrirem 0,1% dos oceanos.
Em todos esses locais, dizem os pesquisadores, a flora e a fauna sofrem a "ameaça dupla" das atividades humanas, como o desmatamento e a pesca predatória em excesso, e de ondas cada vez mais frequentes de calor, causadas pela mudança climática.
"A maior parte dos cientistas foca em apenas um bioma. Mas nós mostramos que todos os ecossistemas tropicais estão sofrendo dos mesmos problemas", diz Barlow.
Direito de imagem: Alexander Lees
Espécies nos trópicos podem ser perdidas em breve por causa da atividade humana e do aquecimento global, mas são menos 'lembradas' do que as de regiões polares, segundo pesquisadores
"Quando falamos em mudança climática, falamos muito do seu impacto nas regiões polares, mas isso está devastando os trópicos. E o mundo parece ter dado um passo atrás no que se refere ao compromisso com ações relacionadas ao meio ambiente."
Para Joice Ferreira, da Embrapa, também é preciso considerar que a maior parte dos países tropicais são regiões mais pobres, com menor capacidade de pesquisa.
"Nossa região alimenta todas as outras do mundo com recursos naturais, mas a maior parte das pesquisas sobre os trópicos é liderada por países desenvolvidos", afirma.
"Isso nos coloca numa situação de vulnerabilidade, porque temos uma capacidade menor de resposta às mudanças climáticas. Estamos colocando em risco um número muito grande de espécies."
Dificuldade para catalogar dados no Brasil
Segundo Barlow, um dos principais problemas das regiões tropicais é a falta de investimento na coleta e na catalogação de espécies. Ou seja, sequer sabemos tudo o que está em perigo com o aumento das temperaturas globais.
Atualmente, cerca de 20 mil novas espécies são descobertas no mundo a cada ano. Mas, nesse ritmo, os pesquisadores estimam que seriam necessários pelo menos 300 anos para catalogar toda a biodiversidade do planeta.
Direito de imagem: Getty Images
O Brasil tem 16% das aves de todo o planeta; 91% das aves do mundo passa ao menos parte da vida nos trópicos
"Descrever novas espécies tem que ser um trabalho colaborativo global, com pesquisadores tendo acessos a recursos e espécimes em muitos museus e coleções. Mas tudo isso é dificultado pela burocracia excessiva - algo que o Brasil conhece muito bem", diz o britânico.
Ferreira diz que ainda falta no Brasil um programa "abrangente e integrado de avaliação da biodiversidade". A maior parte das pesquisas, ela afirma, são feitas em locais de fácil acesso - como a beira dos rios e as margens de estradas - e na região Sudeste, onde se concentra a maior parte dos pesquisadores.
"Tentamos aos trancos e barrancos cumprir as metas internacionais, mas é tudo muito grosseiro e genérico. Num país muito menor como o Reino Unido, se conhece a fauna e a flora de cada quilômetro do país", compara.
"Precisamos fazer programas de monitoramento amplo em todos os biomas brasileiros e programas de conservação nos outros biomas, além da Amazônia. Mas o que vemos é justamente o contrário disso, um corte massivo de financiamento para ciência e tecnologia, especialmente nos recursos humanos."
Em 2014, o governo brasileiro criou o Sistema de Informação Sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr), uma espécie de atlas das espécies do país, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC). A iniciativa, no entanto, avança a passos lentos na tarefa de catalogar apenas o que já se sabe sobre a fauna e a flora nativas.
"Nunca chegamos numa amostragem de toda a biodiversidade espacial. O território brasileiro é grande demais, nunca tivemos investimento com regularidade suficiente e os programas de pesquisa nunca se preocuparam em traçar uma estratégia que abrangesse o território todo", disse à BBC News Brasil a bióloga Andrea Nunes, coordenadora de biomas do MCTIC e diretora geral do SiBBr.
Direito de imagem: Leonardo Merçon – Getty Images
Sistema de catalogação da biodiversidade brasileira tem cerca de 15 milhões de registros, mas falta financiamento e cultura de compartilhamento de dados, diz bióloga
O principal obstáculo encontrado pelo sistema é justamente a dificuldade de convencer os pesquisadores a registrarem, uma por uma, todas as espécies que já pesquisaram.
"O Brasil não tem cultura de compartilhamento de dados. Esse problema começa pela própria academia, que usa dados de biodiversidade para a publicação de teses de mestrado, doutorado, e quase joga esses dados fora. Muitos pesquisadores acham que faz parte desse trabalho deles compartilhar esses dados primários", afirma a diretora.
"Além disso, o MCTIC apoiava as instituições de pesquisa pagando bolsistas para estruturar os dados e alimentar o sistema. Há cerca de um ano e meio, não podemos mais oferecer essa ajuda."
Nunes estima que, atualmente, o SiBBr tenha cerca de 15 milhões de espécies em sua base de dados. Mas só nas seis principais coleções do Brasil - ou seja, nas instituições como a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o Museu de Zoologia de São Paulo - pode haver até 40 milhões de registros.
"Imagine que essas coleções ainda não foram completamente catalogadas no nosso sistema, e que o Brasil tem mais de 300 coleções do tipo. Ninguém sabe o número total de registros de espécies que temos. Até porque pode haver muita coisa duplicada", diz.
MADEIRA ARTIFICIAL FEITA DE PLÁSTICO
Site Inovação Tecnológica - 20.08.2018
Ilustração do processo e fotos de toquinhos de madeira artificial de plástico. [Imagem: Zhi-Long Yu et al. - 10.1126/sciadv.aat7223]
Madeira de plástico
A madeira é um dos materiais mais utilizados pela humanidade não apenas por estar largamente disponível e ser renovável, mas também por apresentar uma grande resistência aliada a uma baixa densidade.
Agora, químicos da Universidade de Ciência e Tecnologia da China desenvolveram uma técnica biomimética para fabricar "madeira de plástico".
Mas se os plásticos representam um grande problema em relação ao meio ambiente, qual seria a vantagem de fabricar madeira artificial de plástico?
Zhi-Long Yu e seus colegas destacam pelo menos quatro: a madeira artificial não apodrece, é mais leve, apresenta melhor isolamento termal e pode ser fabricada com polímeros retardantes de fogo, como os usados nos revestimentos de fios e cabos elétricos.
"As madeiras poliméricas artificiais destacam-se mesmo em relação a outros materiais sintéticos, tais como materiais cerâmicos celulares e aerogéis, em termos de resistência específica e propriedades de isolamento térmico. Como uma espécie de material de engenharia biomimética, esta nova família de madeiras poliméricas bioinspiradas tem potencial para substituir a madeira natural em usos em ambientes agressivos," escreveu a equipe.
Estrutura interna da madeira artificial, imitando a estrutura celular da madeira natural. [Imagem: Zhi-Long Yu et al. - 10.1126/sciadv.aat7223]
Como fabricar madeira artificial
As madeiras poliméricas bioinspiradas foram fabricadas com uma matriz de polifenóis, criando microestruturas celulares semelhantes às da madeira por meio de um processo de automontagem e termocura das resinas.
As resinas termoplásticas líquidas são inicialmente congeladas para preparar um "corpo verde". Nesse processo, as moléculas passam por um processo de automontagem, que produz microestruturas que imitam a estrutura celular da madeira. A seguir, o material passa por uma termopolimerização para endurecer e produzir as madeiras poliméricas artificiais.
As madeiras artificiais têm uma grande semelhança com as madeiras naturais nas estruturas celulares em mesoescala e o processo permite controlar o tamanho dos poros e a espessura da parede para dosar a densidade e a resistência desejadas. De acordo com a equipe, o material apresenta propriedades mecânicas similares às da madeira real, ao contrário de tentativas anteriores, além de ser leve e de alta resistência.
A técnica também poderá ser utilizada partindo de outros nanomateriais, tais como nanofibras de celulose e óxido de grafeno.
Bibliografia:
Bioinspired polymeric woods
Zhi-Long Yu, Ning Yang, Li-Chuan Zhou, Zhi-Yuan Ma, Yin-Bo Zhu, Yu-Yang Lu, Bing Qin, Wei-Yi Xing, Tao Ma, Si-Cheng Li, Huai-Ling Gao, Heng-An Wu, Shu-Hong Yu
Science Advances
Vol.: 4, eaat7223
DOI: 10.1126/sciadv.aat7223
FAÇA O DOWNLOAD DO ATLAS DAS CAATINGAS
FUNDAJ/UFCG
Após quatro anos de extensa pesquisa, conduzida pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em parceria com outras universidades, pesquisadores e professores da comunidade científica brasileira e internacional podem finalmente comemorar a chegada de um livro completo e atualizado sobre o bioma Caatinga. O “Atlas Das Caatingas” promete uma abordagem inovadora, com vários mapas, imagens de satélite, gráficos, fotografias e levantamentos florísticos das áreas pesquisadas em 14 unidades de conservação de proteção integral da Administração Federal no Bioma Caatinga.
O Atlas das Caatingas faz parte das comemorações pela entrada dos 70 anos de existência da Fundação Joaquim Nabuco. A obra não será comercializada e as instituições públicas e privadas que desejam um exemplar, devem entrar em contato com a Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes) da Fundaj.
Clique nos links abaixo para fazer o download do Atlas das Caatingas.
:: Capa em 3D - 6.51 MB
:: Capa do Livro Atlas das Caatingas - 151.22 MB
:: Livro Atlas da Caatinga - Final - 91.79 MB
CONSERVAR A AMAZÔNIA É QUESTÃO AMBIENTAL, SOCIAL E ECONÔMICA
Maria Fernanda Ziegler, de Manaus, Agência FAPESP, 21.08.2018
A Amazônia é única. É a maior extensão de floresta tropical e o único lugar onde a própria floresta controla seu clima interno, impactando o mundo todo. Com sua biodiversidade ímpar, a Amazônia possibilita a manutenção de serviços ecossistêmicos e limpa a atmosfera do planeta. Porém, para que haja um desenvolvimento social sustentável na região, é necessária uma forte base científica capaz de subsidiar políticas públicas que atendam questões relacionadas à população, biodiversidade, meio ambiente e economia.
É o que destacaram participantes no workshop “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia”, realizado no dia 16 de agosto de 2018, em Manaus, pela FAPESP em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e com o Brazil Institute do Wilson Center, em Washington.
“É preciso ver a Amazônia a partir de vários aspectos diferentes. Ela não é um jardim botânico, pois não tem um funcionamento ou um impacto linear, e é chave para as mudanças climáticas globais”, disse Paulo Artaxo, professor no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.
O funcionamento biológico da Floresta Amazônica regula o clima sobre a região. “A floresta controla o balanço de energia, o fluxo de calor latente e sensível, o vapor d’água e os núcleos de condensação de nuvem que vão intensificar o ciclo hidrológico. E isso só é possível se houver uma extensão muito grande de floresta. Quando ela é fragmentada, deixa de ter essa propriedade”, disse Artaxo, organizador do workshop, à Agência FAPESP.
Um exemplo do impacto da floresta está na sua capacidade de armazenar carbono da atmosfera, questão fundamental para as mudanças climáticas.
“Mas a capacidade da Floresta Amazônica em armazenar carbono e, de certa forma, limpar a atmosfera, está diminuindo. Há três décadas, era relativamente mais intensa que hoje. O problema é se a floresta passar a emitir mais dióxido de carbono que absorver, o que agravaria as mudanças climáticas. O que acontece com a Amazônia interfere no mundo inteiro”, disse Luiz Antonio Martinelli, professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP.
De acordo com Martinelli, a hipótese principal para a diminuição de estocagem de carbono tem relação com os eventos extremos, como a seca, que estão mais frequentes e intensos. Isso ocasiona a mortalidade das árvores e a consequente perda em estocar carbono.
“Talvez já estejamos vendo o efeito das mudanças climáticas na Amazônia. E um interfere no outro, ou seja, o evento extremo degrada mais a floresta, degradando a floresta ela emite mais CO2 e aumenta a intensidade e frequência dos eventos extremos”, disse Martinelli.
Serviços ecossistêmicos
Fora o evidente impacto ambiental das mudanças climáticas, há ainda consequências sociais e econômicas.
“Secas como as que tivemos em 2005 e 2010 provocaram um impacto social enorme. Municípios ficaram completamente isolados, sem água e alimentos, pois os rios são o transporte na região. Já as cheias extremas deslocam populações da beira de Manaus, por exemplo”, disse Artaxo.
Modelos climáticos têm previsto aumento significativo dos eventos extremos nas próximas décadas.
“O Brasil precisa ter um plano de adaptação para a Amazônia. O aumento da temperatura na região foi da ordem de 1,6 °C, enquanto a média no Brasil foi de 1,3 °C e a mundial de 1,1°C [desde o fim do século 19]. Então, a Amazônia, por estar em uma região tropical, por receber muita radiação solar, é uma região sensível ao aumento da temperatura e à redução da precipitação. Dá para imaginar o impacto socioeconômico de um dia de verão em Manaus com temperatura média aumentada em até 5 ºC. É o que pode acontecer no futuro”, disse Artaxo.
Um ponto a ser investigado é o dos diversos serviços ecossistêmicos da floresta, como o processamento de vapor d’água e a absorção de uma quantidade enorme de CO2 da atmosfera.
“O valor dos serviços ecossistêmicos que a Floresta Amazônica realiza equivale a US$ 14 trilhões. Atualmente, o preço da tonelada de CO2 no mercado internacional está em torno de US$ 100, e a Amazônia absorve uma quantidade gigantesca desse gás. Isso vale muito”, disse Artaxo.
Mas existe uma lista maior de serviços ecossistêmicos, como, por exemplo, o vapor d’água – essencial para a agricultura. Durante as apresentações no workshop, foi destacada a dependência da agricultura de todo o sul do Brasil e dos estados de Mato Grosso e Goiás pelo vapor d’ água processado pela Amazônia.
“Essa floresta é valorizada, é valorizável. Mas o seu modo de exploração atual, baseado em grandes projetos agropecuários, não beneficia necessariamente a população da região”, disse Artaxo.
Outro ponto destacado foi o crescimento nos últimos cinco anos do índice de desmatamento, que vinha decaindo consideravelmente nos últimos 30 anos.
“Não ter essa floresta em um cenário futuro de aquecimento significa não ter um ativo econômico que terá muita importância para prevenir grandes prejuízos no futuro. Fora isso, se o Brasil quer ter uma meta além dos 7% da produção mundial [do agronegócio], é bom valorizar a conservação. Pois sem esse sistema gigante de irrigação, não será possível atingir essa meta. É uma questão econômica”, disse Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam).
Mau exemplo
A importância de conservar a biodiversidade também foi debatida no workshop. Para Maria Teresa Piedade, pesquisadora do Inpa, é preciso criar um desenvolvimento sustentável que seja compatível com a biodiversidade e não o contrário. “A biodiversidade está aqui muito antes da nossa vinda e da região se tornar a última fronteira de acesso a bens e produtos”, disse.
Piedade orienta estudos de impacto na hidrelétrica de Balbina, obra da década de 1980 no município de Presidente Figueiredo (AM) e que tem desdobramentos até hoje.
“A hidrelétrica de Balbina tem sido apontada há tempos como um péssimo exemplo de sustentabilidade. Ela deslocou populações tradicionais indígenas, gerou massiva mortalidade de peixes e vários outros problemas. Fora isso, tem baixa eficiência”, disse à Agência FAPESP.
“Houve um achatamento da variação de secas e cheias do rio. Estamos verificando a ocorrência de mortalidade em massa de árvores das porções mais baixas e a entrada de espécies de terra firme nas porções mais altas, anteriormente colonizadas por árvores das áreas úmidas. Isso altera a biodiversidade local, a composição florística e o banco de sementes para peixes que utilizam os rios da região para se alimentar”, disse Piedade.
O workshop “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia” terá continuação no dia 24 de setembro, no Wilson Center, nos Estados Unidos.
No evento, a intenção também será debater que o entendimento físico, químico e biológico da Amazônia auxilia na compreensão de suas fragilidades e resiliências, e que é preciso olhar para as dimensões sociais e econômicas da região de maneira integrada.
Mais informações: www.fapesp.br/eventos/amazon-workshop.
TECIDOS ELETRÔNICOS: O ADVENTO DO SOFT-HARDWARE
Site Inovação Tecnológica, 21.08.2018
As primeiras roupas eletrônicas chegarão ao mercado no próximo ano.
[Imagem: Michael Rein/Yoel Fink]
Engenheiros do MIT, nos EUA, incorporaram componentes semicondutores optoeletrônicos de alta velocidade - incluindo diodos emissores de luz (LEDs) e diodos fotodetectores - dentro de fibras ópticas, que foram então tecidas para criar tecidos laváveis e que funcionam de fato em sistemas de comunicação.Tecidos de fibra óptica
Isto representa um objetivo longamente esperado de criar "tecidos inteligentes", que incorporam componentes eletrônicos e optoeletrônicos funcionais - era a peça que faltava para chegarmos a roupas e acessórios com funcionalidades de comunicação e de processamento.
Michael Rein e Yoel Fink afirmam que já dá até para falar em uma "Lei de Moore para as fibras ópticas" - em outras palavras, uma progressão de inovações na qual as capacidades de processamento das fibras cresceriam rápida e exponencialmente ao longo do tempo, assim como as capacidades dos microchips cresceram ao longo de décadas.
Roupas eletrônicas
As fibras ópticas têm sido tradicionalmente produzidas por meio de um cilindro de vidro de sílica ou polímero, conhecido "pré-forma", que é aquecido até próximo do ponto de fusão e então puxado, o que resulta em uma fibra cada vez mais fina, que é finalmente coletada em um carretel.
O principal avanço para a produção dessas novas fibras foi adicionar à pré-forma os diodos semicondutores de luz, cada um do tamanho de um grão de areia, e um par de fios de cobre com uma fração da largura de um fio de cabelo. Durante o processo de puxamento da fibra - a equipe usou uma pré-forma de polímero - a fibra vai saindo com os diodos alinhados ao longo do seu centro e interligados pelos fios de cobre.
"Tanto os componentes quanto os fios mantêm suas dimensões enquanto tudo se reduz ao redor deles," disse Rein. Neste caso, os componentes sólidos são dois tipos de diodos padrão: diodos emissores de luz (LEDs) e diodos fotossensíveis.
As fibras resultantes foram então tecidas, testadas para suas funcionalidades de comunicação, e então lavadas 10 vezes para demonstrar a sua praticidade como material para vestuário.
Rein estima que os primeiros produtos comerciais incorporando esta tecnologia chegarão ao mercado já no próximo ano, na forma de produtos envolvendo comunicações e segurança.
"Será o primeiro sistema de comunicação de tecido. Estamos agora no processo de transicionar a tecnologia para fabricantes e indústrias em uma velocidade e escala sem precedentes," anunciou ele.
Bibliografia:
Diode fibres for fabric-based optical communications
Michael Rein, Valentine Dominique Favrod, Chong Hou, Tural Khudiyev, Alexander Stolyarov, Jason Cox, Chia-Chun Chung, Chhea Chhav, Marty Ellis, John Joannopoulos, Yoel Fink, Nature, Vol.: 560, pages 214-218, DOI: 10.1038/s41586-018-0390-x
PROJETO NOVO BRASIL SEGUE FIRME EM SEU PROPÓSITO DE VOLTAR AO TEMPO COLONIAL
Hildegard Angel, Jornal do Brasil, 19.08.2018
PROJETO NOVO BRASIL SEGUE FIRME EM SEU PROPÓSITO DE VOLTAR AO TEMPO COLONIAL
Hildegard Angel, Jornal do Brasil, 19.08.2018
DEZOITO ENTIDADES representativas de diversos segmentos da indústria audiovisual do Brasil lançaram um manifesto de surpresa e preocupação com a notícia veiculada na sexta-feira sobre a morte do Departamento de Economia da Cultura do BNDES, comunicada aos funcionários pelo presidente do banco, sr. Dyogo Oliveira. Elas estranharam que a presidência do banco, ao extinguir o departamento de cultura, demonstre desconhecer que a empresa de consultoria PricewaterhouseCoopers coloca a indústria do entretenimento e lazer cultural entre as três maiores cifras de negócios do mundo – quase US$ 2 trilhões. Lembram que a cultura brasileira, mesmo nesse quadro gravíssimo de crise econômica, é um dos setores mais dinâmicos da economia nacional, está em franca expansão, gera quase 1 milhão de empregos e sua participação no PIB é de 1,2% a 2,6%. Sem esquecer sua dimensão simbólica. Os signatários concluem, expressando sua confiança de que o BNDES esclarecerá essa notícia e que o Departamento da Economia da Cultura do banco continuará promovendo o desenvolvimento da indústria…
EM SUA RESPOSTA, o sr. Dyogo Oliveira só fez acentuar a impressão de desinformação sobre esses fatos, confundindo política de Patrimônio Histórico com política de financiamento à Industria Criativa Cultural. O que isso significa? Que o BNDES está apenas sendo coerente com o Projeto Novo Brasil – vamos chamá-lo assim – que desmonta o país e aniquila qualquer possibilidade de desenvolvimento intelectual do povo brasileiro, e faz estagnar toda iniciativa que promova a inclusão social. Uma aniquilação de terra arrasada, um retrocesso, não ao tempo do Governo Getúlio Vargas, com essa “releitura” grosseira de suas CLT, mas à própria Abolição da Escravatura, pois torna os pobres, negros na maioria, reféns do capital e totalmente escravizados pela ausência de instrumentos que promovam alguma justiça social…
ESSE PROCESSO vem se desenvolvendo desde o início deste governo, quando foi anunciada a extinção do Ministério da Cultura, ato que só foi revertido após forte posicionamento da classe artística brasileira, em uníssono, ocupando instalações do ministério e exigindo respeito para o setor. Assim, o MinC foi mantido, aos barrancos e trancos, com o atual orçamento pífio. Concomitante a isso, lançaram, logo nas semanas pós impeachment, e aprovaram, uma reforma do ensino básico, em que inicialmente só eram obrigatórios o português e a matemática! Os estudantes reagiram, ocuparam escolas públicas, e a nova grade curricular passou a incluir inglês (antes podia-se escolher entre ele e o idioma espanhol, agora, não mais), filosofia, sociologia, artes e educação física, com o foco maior de preparar para o ensino técnico. Sem discutir com a sociedade, com um conteúdo didático prejudicado, para a revolta e o protesto da sociedade civil, pais, alunos e professores, que pediram a rejeição da Medida Provisória, enquanto antigos ministros da Educação previram, com essa reforma, um grande risco de se ampliarem as desigualdades de oportunidades. Depois, veio o corte drástico de recursos para toda e qualquer pesquisa científica. Veio a campanha contra as universidades públicas, reduzindo-se drasticamente seus recursos, e até criminalizando reitores…
AGORA, O BNDES, tido como “a mãe da cultura brasileira”, tradicional impulsionador da nossa indústria criativa, sai de campo e deixa o setor desguarnecido de patrocínios e financiamentos. Faz refletir que o que se pretende são novas gerações de brasileiros com nível raso de informação, sem interesses culturais abrangentes, reduzidas à perspectiva de um futuro ensino técnico, quando muito. Nada a estranhar.. Apenas estão sendo sinceros em seus objetivos de desconstruir o Brasil, pois é sabido que “a cultura constrói uma Nação”. Sem cultura, sem ciência e com uma instrução incipiente, o que esperar do Brasil? Elementar: um país com poucas cabeças pensantes, país vassalo, sem deter patentes, 100% dependente do conhecimento importado… UM BRASIL consumidor da produção cultural estrangeira. Com o setor de audiovisual totalmente dominado por produções em inglês (daí a serventia de falar o idioma?). E voltando ao BNDES, colocar na mesma “caixinha” as suas políticas para a preservação do Patrimônio Cultural e as de uma pujante indústria criativa é, perdoe-me dizer, falta de cultura. Ou ojeriza a ela…
Prof. Marcos Antonio Lucena - Secretário Regional
Profa. Rejane Mansur Nogueira - Secretária Adjunta
José Antônio Aleixo da Silva (Editor)
Professor titular da DCFL/UFRPE
Presidente da Academia Pernambucana de Ciências e Conselheiro da SBPC
Matheus Santos Veras
Designer do Jornal