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A SBPC DESEMBARCA EM ALAGOAS
Deriky Pereira e Fabio Guedes, JC Email, 13.06.2018
"COPA DA CIÊNCIA"
Ildeu de Castro Moreira* (SBPC) e Luiz Davidovich** (ABC), Jornal do Brasil, 16.07.2018
BRASIL TEM SEIS UNIVERSIDADES NA LISTA DAS DEZ MELHORES DA AMÉRICA LATINA
Cesar Baima e Josy Fischberg, O Globo, 19.07.2018
BRASILEIRO CONQUISTA MEDALHA DE OURO NA OLIMPÍADA INTERNACIONAL DE MATEMÁTICA
Renato Grandelle e Sérgio Matsuura, O Globo, 13.07.2018
DELEGAÇÃO ALEMÃ TRAZ PASSADO E FUTURO PARA A 70ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC
ESTUDO MOSTRA QUE INVESTIMENTO EM PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLOGIA NO MUNDO ESTÁ ABAIXO DO PIB GLOBAL
Sayonara Moreno, Agência Brasil
BRASIL SOBE CINCO POSIÇÕES EM RANKING DE INOVAÇÃO
O Globo, 10.07.2018
PRESSÃO PRÓ-DESMATAMENTO E BARGANHAS POLÍTICAS COMPROMETEM METAS BRASILEIRAS DE EMISSÃO DE GÁS CARBÔNICO
Patricia Fachin, IHU On-Line, 19.07.2018
PROCESSADOR NEUROMÓRFICO BATE CÉREBRO ELETRÔNICO DE SUPERCOMPUTADOR
Site Inovação Tecnológica, 18.07.2018
BRASIL PERDE R$ 5,7 BILHÕES POR ANO EM PLÁSTICOS NÃO RECICLADOS
Agência Brasil, 16.07.2018
ESTUDO APONTA CAMINHO PARA EXPANSÃO E INTENSIFICAÇÃO DA AGROPECUÁRIA BRASILEIRA
Elton Alisson, Agência FAPESP, 19.07.2018
LISTA INTERNACIONAL ELEGE OS 25 MELHORES APLICATIVOS PARA ENSINAR E APRENDER
Porvir, 17.07.2018
COM CRISE E CORTES NA CIÊNCIA, JOVENS DOUTORES ENCARAM O DESEMPREGO: 'TÍTULO NÃO PAGA ALUGUEL'
OS 100 ANOS DE NELSON MANDELA
Lucas Seco, UOL Educação, 16.07.2018
A SBPC DESEMBARCA EM ALAGOAS
Deriky Pereira e Fabio Guedes, JC Email, 13.06.2018
Um mix de ciência, tecnologia, inovação, cultura e ensino. Durante sete dias, acadêmicos, cientistas, estudantes de todas as idades, setores governamentais e diversas entidades vão divulgar o que têm de melhor para toda a sociedade. Trata-se da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que, pela primeira vez, será em Maceió, no campus da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), entre os dias 22 e 28 de julho.
Este ano, o evento chega à sua 70ª edição e tem como tema Ciência, Responsabilidade Social e Soberania. “A Ciência é essencial para o avanço do País e é por isto que a SBPC luta há 70 anos. A Responsabilidade Social é fundamental para que a ciência e a tecnologia produzidas sejam voltadas para um desenvolvimento sustentável – social, econômico e ambiental – e a Soberania, no mundo contemporâneo, está evidentemente conectada com o nível educacional, científico e tecnológico de um país. Sem desenvolvimento em Ciência, Tecnologia e Inovação [CT&I] não há soberania”, explicou Ildeu Moreira, presidente da SBPC.
O vice-reitor da Ufal e coordenador da comissão local do evento, José Vieira, revelou que o tema foi uma construção conjunta entre a instituição sede e a entidade nacional. “O mote para essa escolha foi o fato de a SBPC e da Andifes [Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior] serem as duas entidades civis que fazem parte do comitê que está discutindo a implantação no Brasil da Agenda 2030, que aponta a necessidade da responsabilidade social. Então, já tínhamos o mote da ciência, a responsabilidade social veio em função das entidades citadas e, como vivemos um momento politico bastante sensível em que o desenvolvimento da CT&I tem sofrido contingenciamentos, o debate da soberania vem apontar: como o país poderá se manter soberano, sustentável e se desenvolver se não investe em ciência?”, questionou.
O diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), professor Fábio Guedes, reforçou a visão de Vieira e disse que o tema faz grande referência às condições atuais do Brasil. “O país que sonha em ser independente tecnologicamente ou depender menos de outros, garantir a segurança nacional de suas formas mais avançadas de produção e, também, agregar valor às riquezas, deve pleitear graus maiores de soberania. Acredito que a escolha foi bem apropriada e ganhamos muito por discutir, em Alagoas, temas tão importantes e de abrangência nacional”, declarou.
Importante parceira do evento, a Fapeal foi a grande responsável por trazer a Reunião da SBPC para Maceió numa iniciativa pioneira: a ideia partiu da própria Fundação quando, geralmente, o pedido é feito pelas universidades. “A Fapeal buscou a Ufal para que ela pudesse ser a executora desse projeto e eles, de pronto, aceitaram o desafio. De lá pra cá, temos participado de praticamente todas as reuniões e apoiando-a em suas demandas”, revelou Guedes.
Ciência, Tecnologia e Inovação: um direito de todos
As reuniões da SBPC têm o objetivo de debater políticas públicas nas áreas de CT&I e difundir avanços da Ciência em diversas áreas do conhecimento para a população. Com base nisso, o presidente da entidade comentou sobre a importância de se melhorar a educação pública e, em especial, a educação científica no País, algo que ele classificou como grande desafio e reforçou que é direito de cada brasileiro, principalmente dos jovens, ter a oportunidade de adquirir conhecimentos e práticas básicas, bem como de informações sobre CT&I.
“Não só de seu funcionamento, mas também seus riscos e limitações. Isto lhes dá condições de entender melhor o seu entorno, ampliar suas oportunidades profissionais e lhe possibilita uma atuação cidadã mais qualificada”, disse Ildeu Moreira.
Em Alagoas, o avanço em CT&I já é realidade. Dados divulgados pelo Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), durante o Seminário dos Coordenadores Regionais da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), ocorrido em setembro de 2017 em Brasília, apontaram que, em 2015, o Estado ocupava a 23ª colocação em ações de popularização da ciência e agora se posiciona em 8º lugar.
“O salto em ações dessa temática demonstra para nós que isso é uma realidade, que precisamos reforçar ainda mais e continuar apoiando. É importante, também, pois mostramos o potencial do Estado e que a CT&I não é uma coisa tão distante de nós alagoanos”, explicou Fábio Guedes.
Já na visão de Ildeu Moreira, a Ufal e a Fapeal têm desempenhado papeis decisivos para esse desenvolvimento em Alagoas. “O avanço da CT&I no Estado tem sido, de fato, bastante significativo e é importante que prossiga este crescimento na produção científica e que o sistema estadual de CT&I se consolide cada vez mais. A Reunião Anual da SBPC pode ajudar em dar mais visibilidade ao que já se tem feito e também possibilita um debate mais amplo sobre a situação de ciência, educação, tecnologia e inovação no País e sobre como Alagoas se insere e participa deste esforço permanente de aprimoramento da ciência”, apontou.
O professor José Vieira salientou que o fato de Alagoas vir formando e recebendo maior número de doutores – seja pela expansão da Ufal como pela consolidação das universidades estaduais – e o trabalho realizado pela Fapeal no sentido de dar transparência a editais voltados ao estímulo do desenvolvimento da pesquisa também explicam o recente avanço em áreas de CT&I.
“A Universidade Federal tem cumprido o papel de renovar seus quadros, expandir com novos cursos e novos projetos, as estaduais também consolidando seu quadro e de certa forma, talvez numa proporção menor, as particulares. A pesquisa, independente de onde esteja, atinge a todos de modo geral.”
Quinze mil pessoas respirando ciência
Com expectativa de receber cerca de 15 mil pessoas nos sete dias de evento, a 70ª Reunião Anual da SBPC no campus da Ufal terá atrações para todos os públicos. Serão conferências, mesas-redondas, encontros, minicursos e sessões de pôsteres com pesquisadores locais e nacionais, que discutirão temas da ciência e da realidade brasileira, da região e muitos outros assuntos. O professor José Vieira adiantou que a programação recém-divulgada perpassa o modelo de temas transversais, de diferentes áreas do conhecimento e instituições. “E esses temas estão sendo construídos em função do tema central, mas também em função das quase 140 sociedades acadêmicas que compõem a SBPC têm promovido nos seus respectivos campi e em relação ao atual momento em que o país vive”, complementou.
Ele falou também sobre os diversos eventos paralelos que acontecerão no Campus A.C. Simões e que compõem a Reunião. “Temos a ExpoT&C, uma exposição composta por estandes em diferentes instituições de pesquisa ou ligadas à pesquisa, que apresentam trabalhos e novidades num espaço apropriado para apresentar o que está se desenvolvendo nas suas respectivas áreas à sociedade e ao empresariado, promovendo uma troca de experiências de altíssimo nível”, disse.
Um estande de quase dois mil metros quadrados com feiras de ciências e experimentos dos mais diversos terá a missão de atrair o público para a SBPC Jovem. “É a ideia do ‘aprender fazendo’, do laboratório, com várias coisas acontecendo: experimentos da química, da física, da saúde, das ciências agrárias, o observatório de ciência, microscópios, experiências com reagentes, enfim, tudo vai acontecer e a gente espera receber a comunidade da rede pública, dos ensinos fundamental e médio e da rede particular também”, contou Vieira.
A SBPC Cultural, segundo o vice-reitor, vai trabalhar com diversos elementos da cultura popular alagoana e artística. “Vamos construir, inclusive, um anfiteatro e um palco para apresentações de diferentes grupos no âmbito do teatro, dança, musica. Muito provavelmente vamos trazer a nossa Orquestra Sinfônica, o Coro da Universidade [Corufal] e a comunidade que vive aqui no entorno e nem sempre tem acesso a esses equipamentos, vão ter essa chance. O desafio é trazer, divulgar e reforçar que todos poderão entrar gratuitamente para disfrutar disso”, destacou.
Também haverá a SBPC Afro-Indígena, considerada por Vieira um grande diferencial por envolver comunidades quilombolas e remanescentes indígenas do Estado. “Isso é muito significativo, pois estamos num contexto recente em que a Serra da Barriga foi tombada como patrimônio cultural do Mercosul e evoca toda uma história de resistência, tanto de ex-escravos como de indígenas que nesse contexto da expansão do açúcar e da cultura canavieira acabaram incorporados a esse setor produtivo de forma coercitiva, mas resistindo de diversas formas, inclusive com os famosos mocambos, quilombos”, comentou.
Haverá, também, espaço para apresentação dos 1,2 mil trabalhos científicos. “As pessoas submeteram os trabalhos, o conselho científico fez a seleção e terão a chancela das entidades que compõem a SBPC. Então, esses jovens cientistas ou cientistas seniores, farão as apresentações e o material ficará disponível à sociedade”, completou.
Evento terá programação nos três campi da Universidade
Por conta da grande demanda das licenciaturas, a SBPC Educação será feita três dias antes do início da Reunião Anual nos três campi da instituição. “A Ufal tem três campi [A.C. Simões, em Maceió, Arapiraca e do Sertão, em Delmiro Gouveia] e em todos eles temos essa demanda. Por conta disso, decidimos fazer nos três. Será de forma mais compacta, nos dias 19, 20 e 21 de julho, mas com o mesmo modelo: uma conferência de abertura e mesas-redondas focadas nas metodologias de ensino, ou seja, vai ser um evento focado no ensino e para o público que está ligado à educação e à sala de aula. E vamos convidar profissionais de todos os municípios do entorno dos campi para participar”, explicou.
Além disso, a variada programação científica e as mesas-redondas também ocorrerão em diversos pontos do Campus A.C. Simões, em Maceió. As mesas, de caráter interdisciplinar e interinstitucional, servirão para, além do debate, formular políticas públicas. “Vamos ter uma sobre a sustentabilidade do Rio São Francisco e teremos pesquisadores de diferentes instituições e áreas do conhecimento para debater a sustentabilidade do Rio em razão da transposição, da revitalização e sobrevivência das comunidades ribeirinhas. O modelo favorece o debate, a interdisciplinaridade, a interinstitucionalidade e o encontro de áreas do conhecimento que tem ângulos de abordagem diferentes. A ideia é que essas mesas possam contribuir para o país avaliar determinadas políticas públicas ou construí-las”, salientou Vieira.
E que tal uma mini Bienal do Livro? “Vamos organizar uma pequena feira no Centro de Interesse Comunitário [CIC], ao lado da nossa Edufal [Editora da Ufal]. Algumas editoras já foram contatadas, a gente espera que outras se aproximem e, simultaneamente, serão lançados livros em parceria com a nossa Editora e com a Imprensa Oficial Graciliano Ramos”, complementou o professor.
Pensa que acabou? Além de tudo isso, outras atrações também farão parte da comemoração dos 70 anos da SBPC. “Teremos uma exposição sobre a SBPC dentro do Congresso Nacional e em diversas cidades, a publicação de materiais de divulgação da SBPC, palestras, vídeos e um livro comemorativo. Usaremos muito as redes sociais para isto e estamos convidando a todos, que já participaram em algum momento da SBPC, a gravarem vídeos ou depoimentos curtos com o mote: A primeira SBPC a gente nunca esquece”, revelou Ildeu Moreira.
Atividades lúdicas para ensinar
Com o tema Meio ambiente, Tecnologia e Sustentabilidade, diversas atividades serão realizadas no estande da Fapeal, que dispõe de 200 m² e contará com três áreas de programações específicas e um quarto para atendimento ao público e esclarecimento de dúvidas.
Os espaços irão convergir em atrações imersivas e tecnológicas, como realidade aumentada e projeção de vídeo em sala escura, mas sem perder o lado lúdico: contação de histórias, oficinas de papercraft e atividades de educação ambiental estão programadas para acontecer pelas manhãs e tardes do dia 23 até o dia 28.
Um deles é a área infantil, inspirada nos biomas do semiárido e com uma decoração que remete ao agreste e à caatinga de Alagoas e que terá o maior número de atividades. A maioria ofertada pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) com o tema Alga não é lixo, curiosidades sobre a fauna e flora alagoana, o tráfico e a criação legal de animais silvestres, exposição de cobras e serpentes, oficina de frutos secos, entre outras. Há atividades tanto para o público infantil quanto para jovens e adultos.
O estande também vai tercaracterização do fundo do mar e trará a tecnologia da realidade aumentada. Quem participar poderá manipular, por meio de um aplicativo para as telas de TV, quatro espécies da fauna subaquática da orla de Maceió. Este material é inspirado no trabalho fotográfico do biólogo e bolsista da Fapeal Juliano Fritscher, que atua no IMA, com o reconhecimento e preservação destas espécies.
Já a terceira sala é a única totalmente fechada e permitirá entrada e saída de um grupo de pessoas para uma experiência imersiva de projeção de vídeo em 360 graus. Em pauta, a degradação ambiental provocada pela ação humana, na intenção de fazer repensar as questões de responsabilidade sobre suas consequências e revelando respostas buscadas para desacelerar este complexo.
Além da Fapeal e do IMA, a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), a Imprensa Oficial e a Agência de Fomento de Alagoas (Desenvolve) adicionam conteúdos específicos à programação. “Montamos esse estande permite a participação da população alagoana com atividades lúdicas e interativas. E privilegiamos o meio ambiente por termos uma diversidade natural, tanto da fauna quanto da flora, que casa muito bem com o tema da ciência e da tecnologia”, explicou.
Evento é gratuito!
A 70ª Reunião Anual da SBPC será completamente aberta ao público. Mas, para aqueles que tiverem vontade de frequentar um minicurso ou obter certificado de participação geral com um material das atividades, ainda podem se inscrever na secretaria do evento, a partir do dia 22.
“A Universidade vai ser toda ocupada, inclusive vamos redefinir o trânsito no Campus A.C. Simões. A gente sabe que os olhos do Brasil estarão focados em Alagoas, tanto da comunidade científica como os da política nacional. Por isso, queremos que esta Reunião seja a mais responsável socialmente e a mais socialmente referenciada”, afirmou o vice-reitor da Ufal, José Vieira.
Para saber os detalhes sobre a programação acesse o site do evento http://ra.sbpcnet.org.br/maceio/ ou acompanhe ainda os perfis nas redes sociais @sbpcnaufal do Instagram e Facebook.
Matéria publicada originalmente em:
https://ufal.br/ufal/noticias/2018/7/reuniao-anual-da-sbpc-desembarca-em-alagoas
"COPA DA CIÊNCIA"
Ildeu de Castro Moreira* (SBPC) e Luiz Davidovich** (ABC), Jornal do Brasil, 16.07.2018
Ilustração: Revista Piauí
Os presidentes da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Luiz Davidovich e Ildeu de Castro Moreira, respectivamente, escreveram para o Jornal do Brasil de 14/7 sobre a competição na qual os vencedores ganham qualidade de vida por muitas décadas e os derrotados amargam um futuro sofrido, empobrecido e desalentador: a Copa da Ciência e da Inovação.
A Copa do Mundo desperta paixões, mobiliza multidões, inflama a torcida pelo sucesso nacional. Mereceria atenção semelhante uma outra Copa, na qual os vencedores ganham qualidade de vida por muitas décadas e os derrotados amargam um futuro sofrido, empobrecido e desalentador: a Copa da Ciência e da Inovação.
Para essa Copa, uma competição que ocorre sem interrupção, os times são preparados continuamente e podem levar décadas para amadurecer. O Brasil vem preparando seu time de cientistas e técnicos, mais intensamente, desde 1950, com a criação do CNPq, da Capes, da Finep e das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs), e com a expansão das universidades públicas e instituições de pesquisa.
A trajetória ascendente da ciência no Brasil sofre agora, no entanto, um sério revés. O orçamento de custeio e capital do MCTIC para este ano – recursos para investimento em pesquisa, excluindo salários e gastos administrativos – é cerca de um terço do valor de 2013 corrigido pela inflação. Cortes atingem também a Capes. Por outro lado, a maioria das FAPs opera em regime falimentar. O orçamento não reembolsável da Finep, que alimenta pesquisas em CT&I e a subvenção econômica para empresas inovadoras, foi reduzido de R$ 4,2 bilhões em 2010 para R$ 920 milhões em 2017. Neste ano, a situação está ainda pior.
Alegando a crise financeira que afeta o país, o governo federal tem realizado cortes drásticos no orçamento da CT&I, da educação e de outras áreas sociais. Essa atitude reflete uma definição distorcida de prioridades, reflexo de incapacidade ou falta de vontade em formular uma agenda de desenvolvimento nacional. Essa política contrasta com a adotada por outros países que também padecem da crise global.
Em 2012, no auge da crise, o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, comunicou ao Congresso do Povo que a taxa de crescimento da China iria decrescer. No mesmo discurso, anunciou que o investimento em pesquisa básica aumentaria 26%. Diante da crise, adota-se uma medida anticíclica: o investimento em ciência abre as portas para a saída da crise. Recentemente, a proposta orçamentária do presidente Trump, contendo cortes severos no orçamento de C&T, foi rejeitada pelo Congresso norte-americano que, em um acordo bipartidário, não só anulou os cortes como adicionou US$ 20 bilhões a esse orçamento.
Enquanto o Brasil investe apenas cerca de 1% de seu PIB em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), outros países avançam nesse exigente campeonato entre nações: a Coreia do Sul já passa de 4%, a União Europeia pretende alcançar 3% em 2020, e os Estados Unidos já investem mais de 2,5%. Para alcançarem esses percentuais, tais países contam com a participação decisiva de empresas que investem em P&D para transformar conhecimento em produto. Na Coreia do Sul, por exemplo, 3/4 do investimento provêm de empresas. No Brasil, no entanto, essa participação é exígua: cerca de 40% do investimento total. Menos que 1% das 135 mil empresas industriais fazem uso dos incentivos fiscais para inovação da Lei do Bem, criada em 2005, e apenas 200 participam do Movimento Empresarial pela Inovação.
A balança comercial do país é dominada por bens primários, muitos deles possibilitados pela ciência e tecnologia desenvolvida antes, mas com baixo valor agregado. E esse processo se acentuou nos últimos anos. De 2011 a 2017, o Brasil passou do 47º ao 69º lugar no Índice Global de Inovação. Nessa Copa da Inovação caímos nos jogos eliminatórios.
Muitos jovens, craques em potencial da ciência e da inovação, têm deixado o país, desfalcando um time que tinha perspectivas de ser campeão. Para ter jogadores capacitados é necessário educação científica de qualidade e condições adequadas para o treino e o jogo.
Há tempo, ainda, de reverter esse processo. Este pode ser um momento da virada, aproveitando o ano eleitoral. Para isso, a ciência e a inovação, nas suas dimensões tecnológica e social, assim como a educação, precisam ocupar posição de destaque não apenas nos debates, mas nos corações e mentes dos brasileiros quando escolherem seus candidatos à Presidência, aos governos estaduais e aos parlamentos nacional, estaduais e municipais.
A sociedade brasileira precisa reagir a essa situação de retrocesso, apoiando programas e candidatos que proponham claramente uma agenda nacional de desenvolvimento, baseada na educação de qualidade, na ciência e na inovação, e que busque a redução das nossas desigualdades sociais e econômicas, um quesito no qual, infelizmente, estamos na vanguarda do conjunto de nações.
Muitas propostas que garantem um desenvolvimento sustentável para o país, nos âmbitos econômico, social e ambiental, foram elencadas no Livro Azul da 4a Conferência Nacional de CT&I, realizada em 2010, e em publicações da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Recentemente elas foram reunidas, por essas duas entidades, em documentos para os candidatos às eleições deste ano.
Há, ainda, um objetivo de curto prazo de grande importância: inicia-se agora a apreciação do orçamento federal para 2019 pelo Congresso Nacional. Cabe ao governo, em sua proposta de lei orçamentária, e aos parlamentares atuais aumentar substancialmente a dotação para C&T, colocando de novo o Brasil em trilhos que o levem a um futuro com maior desenvolvimento e uma melhor qualidade de vida para sua população.
É uma das responsabilidades do Congresso Nacional interromper esse processo de desmonte da ciência e da tecnologia nacionais, de modo que o país possa ocupar a primeira divisão na Copa da Ciência e destacar-se no jogo das nações. O povo brasileiro merece.
*Ildeu de Castro Moreira é físico, professor da UFRJ e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
**Luiz Davidovich é físico, professor da UFRJ e presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC)
BRASIL TEM SEIS UNIVERSIDADES NA LISTA DAS DEZ MELHORES DA AMÉRICA LATINA
Cesar Baima e Josy Fischberg, O Globo, 19.07.2018
O Brasil continua a dominar a lista das melhores universidades da América Latina elaborada pela revista britânica “Times Higher Education”. De acordo com o ranking divulgado nesta quarta-feira, o país tem seis das dez melhores instituições de ensino superior da região, e 43 das 101 melhores listadas.
Líder do ranking em 2017, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) manteve a posição este ano, após ter estreado em segundo lugar em 2016, quando a lista foi encabeçada pela Universidade de São Paulo (USP), agora na vice-liderança. Completam o rol das seis brasileiras entre as dez melhores: Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na 4ª posição, a Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), na 7ª, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 9º, e a estreante Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 10º (veja abaixo a lista completa).
A UFRJ, que em 2016 aparecia na 5ª posição e na 8ª em 2017, caiu para a 12ª este ano. A Uerj ficou em 25º em 2018, e a UFF, em 45º.
Reitor da Unicamp, Marcelo Knobel credita o sucesso da instituição a três fatores principais: uma grande proporção de estudantes de pós-graduação; melhorias na qualificação dos acadêmicos pesquisadores; e o recente foco em inovação e empreendedorismo por meio de seu parque científico-tecnológico.
Já para o vice-reitor para assuntos acadêmicos da PUC-Rio, José Ricardo Bergman, a internacionalização da instituição pode ser um dos motivos para a sua boa colocação.
— A interação com a comunidade acadêmica internacional e a vinda de alunos estrangeiros certamente fazem com que a nossa avaliação seja positiva. Entre as universidades brasileiras, temos um dos melhores indicadores nessa área — explica.
`Ensino superior brasileiro é vítima da pior recessão já registrada`
O maior número de universidades nas listas das dez e das 101 melhores, no entanto, não quer dizer que o ensino superior brasileiro tem se destacado mais do que o dos outros países da região, ressalta a publicação. Segundo a “Times Higher Education”, em outro ranqueamento que leva em conta o impacto das citações obtidas pelas pesquisas realizadas pelas instituições em periódicos científicos, as equatorianas tiveram uma média melhor, com 86,5 pontos em cem possíveis, seguidas pelas chilenas, com 70,9.
Ainda de acordo com a publicação, o ensino superior brasileiro está sendo vítima da pior recessão já registrada no país, com o financiamento para pesquisas caindo ao menor nível na história recente do Brasil. Em entrevista à “Times Higher Education”, Knobel lembrou que Unicamp, USP e Unifesp, por lei, devem receber cerca de 10% do imposto de valor agregado recolhido pelo estado, mas, com a crise econômica, este fluxo de recursos minguou.
— Estamos lidando com um déficit de cerca de US$ 80 milhões (pouco mais de R$ 300 milhões), o que é bem alto, e estamos trabalhando duro para achar um equilíbrio entre o que recebemos e o que gastamos – disse à revista.
Knobel também ressaltou que, embora a Unicamp receba cerca de US$ 200 milhões (aproximadamente R$ 770 milhões) anuais da iniciativa privada, estes recursos são restritos a investimentos em infraestrutura e projetos específicos, não podendo ser usados para cobrir os maiores gastos da universidade, os salários dos funcionários.
Assim, no mês passado, quatro professores do Instituto de Computação da Unicamp, um dos mais respeitados do país, anunciaram que estavam deixando a instituição, seja para irem para universidades fora do país ou para trabalhar para a iniciativa privada.
— Estamos enfrentando o mesmo problema na Escola de Medicina — acrescentou. Knobel. — Também temos tido problemas em atrair novos professores com boas qualificações por causa das perspectivas da carreira e da situação econômica do país. Estamos realmente preocupados com isso, e esperamos que a economia melhore logo.
Confira a seguir a lista das dez melhores universidades da América Latina da “Times Higher Education”:
1) Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
2) Universidade de São Paulo (USP)
3) Pontifícia Universidade Católica do Chile
4) Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
5) Instituto Tecnológico e de Educação Superior de Monterrey (México)
6) Universidade do Chile
7) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
8) Universidade dos Andes (Colômbia)
9) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
10) Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
BRASILEIRO CONQUISTA MEDALHA DE OURO NA OLIMPÍADA INTERNACIONAL DE MATEMÁTICA
Renato Grandelle e Sérgio Matsuura, O Globo, 13.07.2018
Equipe recebeu outras quatro medalhas de bronze e menção honrosa
A equipe brasileira: da esquerda para a direita, Lucas Harada, que ganhou menção honrosa; os medalhistas de bronze Pedro Cabral, Bruno Meinhart, Bernardo Trevisan e André Yuji Hisatsuga; e Pedro Lanaro Sponchiado, laureado com o ouro
- RIO — O paulista Pedro Lucas Lanaro Sponchiado, de 17 anos, conquistou uma medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática disputada em Cluj-Napoca, na Romênia. Com 35 pontos de 42 possíveis, nas duas provas da competição, ele terminou em 12º lugar na colocação geral, entre os cerca de 600 participantes. A equipe brasileira recebeu outras quatro medalhas de bronze e uma menção honrosa.
Conquistaram o bronze Bruno Brasil Meinhart, de 17 anos, e Pedro Gomes Cabral, de 15, ambos de Fortaleza; e Bernardo Peruzzo Trevizan, de 16 anos, e André Yuji Hisatsuga, de 18 anos, de São Paulo. Lucas Hiroshi Hanke Harada, de 17 anos, também de São Paulo, ficou com a menção honrosa.
BRASIL SUPEROU MARCA DA EDIÇÃO ANTERIOR
A equipe liderada pelos professores Régis Prado Barbosa e Armando Barbosa Filho ficou na 28ª posição no quadro geral da competição, superando o desempenho da edição do ano passado, quando o Brasil alcançou a 37ª colocação, com duas medalhas de prata, uma de bronze e duas menções honrosas, na olimpíada disputada no Rio de Janeiro.
Os seis representantes da equipe brasileira foram escolhidos entre os 19 milhões de participantes de olimpíadas de matemática realizadas no país. Para concorrer à competição internacional, os alunos precisam estar cursando o ensino médio ou terem encerrado esta etapa há, no máximo, um ano. O Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) coordenou o treinamento da equipe, com apoio de professores do Colégio Etapa.
Coordenador acadêmico da Olimpíada Brasileira de Matemática, Edmilson Motta revela que os estudantes brasileiros, embora tenham vindo de diferentes escolas, já se conhecem há anos, porque costumam se encontrar em competições nacionais.
— Realizamos olimpíadas desde o sexto ano do ensino fundamental, então os alunos mais fortes se encontram nestas ocasiões e, por isso, têm convívio desde cedo — destaca. — O crescimento dessas competições tem sido surpreendente, e mostra como a matemática pode ser ensinada de forma lúdica sem deixarmos de considerar sua importância no desenvolvimento econômico do país. O interesse pela disciplina nos torna cidadãos mais participativos.
Pedro Sponchiado, décimo brasileiro a vencer a medalha de ouro da Olimpíada Internacional de Matemática
A edição deste ano da Olimpíada Internacional de Matemática teve a participação de 594 estudantes de 107 países. No ano passado, a competição atingiu o marco recorde de 623 alunos de 111 nações. O torneio foi criado em 1959, e os brasileiros começaram a concorrer vinte anos depois. Já trouxeram para casa dez medalhas de ouro, 43 de prata e 77 de bronze, além de 33 menções honrosas.
Aluno do 3º ano do Colégio Etapa, Pedro Sponchiado acreditava que teria um bom resultado, mas avaliava que não seria suficiente para conquistar a medalha de ouro. O aluno atribui a boa surpresa às conversas com os veteranos da competição. Nos dois dias de provas, também teve tempo de trocar experiências com colegas de outros países que se hospedaram no mesmo hotel, como Holanda, Irlanda, Austrália e Nova Zelândia.
O estudante assegura que integrar a elite da matemática mundial não lhe garante um tratamento diferente entre seus colegas de escola.
— É normal. Mas ninguém pede cola, isso eu não dou — diverte-se. — Tenho colegas que participam de olimpíadas de outras disciplinas. Às vezes tenho dúvidas, então pergunto para eles.
Segundo o regulamento, Pedro ainda tem o direito de participar mais uma vez da olimpíada. O estudante pretende voltar ao torneio, enquanto prepara-se para tentar uma vaga em uma universidade americana.
O atual vencedor da Medalha Fields, considerado o Nobel da Matemática, é o brasileiro Artur Ávila, que foi medalhista de ouro na Olimpíada Internacional em 1995. Pedro, no entanto, não sabe se seguirá o mesmo caminho.
— Acho que a medalha é mais voltada para quem quer fazer pesquisa em matemática. Penso em seguir uma carreira voltada para computação. De qualquer forma, é muito difícil ganhar.
Um participante ilustre da edição carioca da olimpíada voltou a integrar a delegação de seu país na Romênia: Hafez al-Assad, filho do ditador sírio Bashar al-Assad. Seu desempenho não foi dos mais brilhantes — ficou em 486º lugar. Foi o último colocado entre os seis concorrentes da Síria.
DELEGAÇÃO ALEMÃ TRAZ PASSADO E FUTURO PARA A 70ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC
Estande do DWIH São Paulo ficará na ExpoT&C, mostra de ciência e tecnologia do evento.
O Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo (DWIH São Paulo) participará novamente da 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece de 22 a 28 de julho, na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em Maceió (AL). Além de uma mesa-redonda que irá discutir os impactos da digitalização no ensino superior e na pesquisa, o Centro Alemão terá mais uma vez um estande na ExpoT&C – mostra de ciência e tecnologia que acontece em paralelo à programação científica do evento.
A mesa-redonda contará com a participação de dois especialistas alemães: Friedrich W. Hesse, vice-presidente da Associação Leibniz, diretor e fundador do Instituto Leibniz de Mídia do Conhecimento em Tübingen, e Raimund Vogl, diretor de Tecnologia da Informação da Universidade de Münster (WWU). Da parte do Brasil, o debatedor será Vinícius Pontes Martins, coordenador da Hemeroteca Digital Brasileira. A atividade será coordenada pela pesquisadora Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC).
O impacto da digitalização no ensino e na pesquisa, e também no trabalho, é a principal pauta da agenda do Centro Alemão neste ano. “Além da Reunião Anual da SBPC, vamos voltar a colocar este assunto em discussão no 7˚ Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação, que acontece em outubro próximo”, destaca Marcio Weichert, coordenador do DWIH São Paulo.
ExpoT&C – Já no estande da mostra de ciência e tecnologia da SBPC representantes do DWIH São Paulo e seus cooperadores irão fornecer ao público informações sobre ensino e pesquisa na Alemanha, bem como oportunidades de fomento e cooperação. A Reunião Anual da SBPC recebe, em média, cerca de 10 mil participantes, e grande parte deste público também visita a mostra, o que gera uma ótima visibilidade para os expositores.
No estande do DWIH São Paulo, os visitantes também poderão ver a exposição “Serra da Capivara – os mais antigos vestígios da povoação na América?”, do fotógrafo André Pessoa, que retrata o trabalho arqueológico realizado na região, sua flora e fauna, a cultura e as tradições locais. Idealizada pela Sociedade Alemã de Amparo à Pesquisa (DFG), a exposição já foi exibida na embaixada brasileira em Berlim e na cidade alemã de Bonn.
A abertura será realizada no dia 24, das 11h30 às 13h00, no Auditório do MCTIC na ExpoT&C, com a participação de André Pessoa, do arqueólogo e pesquisador da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), Demétrio da Silva Mutzenberg; e do presidente da Associação ProBrasil e idealizador da exposição, Uwe Weibrecht.
A Serra da Capivara é conhecida por seus sítios arqueológicos únicos e suas impressionantes pinturas rupestres, que integram o conjunto dos patrimônios mundiais culturais da Unesco. Hoje se discute a possibilidade desses vestígios serem os mais antigos indícios da habitação humana na América.
Um dos pesquisadores envolvidos no trabalho arqueológico é Markus Reindel, do Instituto Alemão de Arqueologia (DAI). Dentre suas atividades, está a investigação de restos vegetais que podem ajudar a estimar o período de transição da economia baseada na caça e na coleta para a agricultura. O projeto recebeu fomento da DFG e foi destaque em um filme-documentário da emissora alemã ZDF, que também será exibido no estande.
ESTUDO MOSTRA QUE INVESTIMENTO EM PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLOGIA NO MUNDO ESTÁ ABAIXO DO PIB GLOBAL
Sayonara Moreno, Agência Brasil
Desigualdade na inovação
Um primeiro desafio é a superação da desigualdade nos investimentos entre países ricos e pobres. “A diferença na inovação global permanece ampla, com economias mais ricas liderando o cenário de inovação e grandes hiatos em termos de praticamente todos os indicadores de inovação entre esses líderes e outras nações menos desenvolvidas”, pontua o relatório.
Nações da América Latina, da África e da Ásia Central ainda precisam, na avaliação dos autores, seguir exemplos de experiências bem-sucedidas como a da China. O país figura na 17ª posição no ranking do Índice Global de Inovação, mas já ocupa a liderança em volume de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento, publicações e patentes. O estudo destaca países de renda média com bons desempenhos em inovação, como Colômbia, Sérvia, Tailândia, Costa Rica e Mongólia.
Na avaliação dos autores, um caminho seria um esforço de redução dos protecionismos que permita uma dinâmica de geração de novos conhecimentos e de inovação. Além disso, defendem políticas públicas na melhoria dos diversos aspectos analisados para a qualificação da inovação, como a educação, a melhoria do ambiente de negócios, a melhoria da pesquisa científica e produção de patentes, mais investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento e o estímulo à exportação de produtos de alta tecnologia.
Energia renovável
O mesmo estudo aponta que os países devem investir mais na priorização de fontes alternativas de energia. Segundo as estimativas dos autores, até 2040 o mundo estará usando 30% mais eletricidade do que atualmente. E as matrizes atuais são consideradas insustentáveis frente ao cenário das mudanças climáticas.
O fortalecimento das fontes alternativas passa sobretudo pela inovação. Mas as novidades tecnológicas neste campo estão sendo produzidas com diferentes objetivos entre os países. Para avançar rumo a uma transição da matriz energética, as políticas públicas conduzidas pelos Estados é apontada como frente central.
Inovação reduz custos de energias renováveis, como a eólica
Para os especialistas, a inovação já avança para a redução de custos de energias renováveis, como solar e eólica, e medidas de eficiência energética (que reduzem o consumo). Mas, além de fontes mais limpas, novas tecnologias podem contribuir no consumo regulado de forma eficiente em cidades inteligentes e na otimização do armazenamento e distribuição de redes elétricas inteligentes.
Um exemplo positivo mencionado no relatório é a aplicação de patentes em tecnologia verde. Entre 2007 e 2013, o número dobrou, saindo de nove para 18 mil. Em seguida, houve uma queda de até 15 mil pedidos anuais em 2016, com um leve aumento em 2017.
Contudo, os investimentos em fontes renováveis de energia entraram em uma fase de estagnação a partir de 2011, após crescerem em média 32% ao ano desde 2004. Em 2017, o crescimento em relação ao ano anterior foi de 2%.
BRASIL SOBE CINCO POSIÇÕES EM RANKING DE INOVAÇÃO
O Globo, 10.07.2018
O Brasil subiu cinco posições no ranking mundial de inovação elaborado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) em parceria com a Universidade de Cornell e com a escola de negócio Insead. Apesar da elevação observada do ano passado para este, o país está na 64ª, entre 126 economias listadas. A Suíça é a líder do ranking, chamado Global Innovation Index (GII), pelo oitavo ano consecutivo. Na comparação com 18 economias da América Latina e Caribe, o Brasil parece na sexta colocação.
Segundo o material, a elevação da colocação brasileira, que saiu da 69ª posição para a atual 64ª, se deve principalmente pelo aumento de gastos com pesquisa e desenvolvimento, importações e exportações de alta tecnologia e pela qualidade das publicações científicas nacionais. Neste tópico, o estudo salienta os materiais publicados pela Universidade de São Paulo (USP), de Campinas (Unicamp) e também pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"O Índice Global de Inovação é importante para a construção e aperfeiçoamento das políticas de inovação no Brasil, porque aponta nossas oportunidades para melhoria e nossos pontos fortes", comentou, por nota, Robson Andrade, presidente da CNI, que é parceira na elaboração do estudo.
Atrás da Suíça estão: Países Baixos, Suécia, Reino Unido, Singapura, EUA, Finlândia, Dinamarca, Alemanha e Irlanda.
Chamam atenção no levantamento na queda de posições dos Estados Unidos, que saíram na quarta para a sexta posição em 2018. Por outro lado, a China entrou para a lista das 20 principais economias inovadoras e ocupa agora a 17ª posição — em 2017, os chineses estavam em 22.
"A rápida ascensão da China reflete uma direção estratégica definida pela liderança principal para desenvolver a capacidade de inovação", diz, em nota, o diretor-geral da OMPI, Francis Gurry.
Os suíços, que lideram a listagem, se mantém na posição por causa do alto número de registro de patentes, além do vultuoso investimento em pesquisa em desenvolvimento, aponta o estudo.
Metodologia
O ranking Global Innovation Index (GII) lista 126 economias e as classifica com base em 80 indicadores, que vão desde as taxas registro de patentes até a criação de aplicativos para smartphones, gastos com educação e publicações científicas e técnicas.
Publicado anualmente desde 2007, o GII leva em conta dados sobre as instituições de cada país, capital humano e pesquisa, infraestrutura, sofisticação do mercado e das empresas, bem como o desenvolvimento de produtos tecnológicos e criativos.
O índice é calculado pela PwC e tem o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Top 10:
- Suíça
- Países Baixos
- Suécia
- Reino Unido
- Singapura
- EUA
- Finlândia
- Dinamarca
- Alemanha
- Irlanda
PRESSÃO PRÓ-DESMATAMENTO E BARGANHAS POLÍTICAS COMPROMETEM METAS BRASILEIRAS DE EMISSÃO DE GÁS CARBÔNICO
Patricia Fachin, IHU On-Line, 19.07.2018
Créditos da foto: Welington Pedro de Oliveira/Fotos Públicas
Apesar de a política brasileira de combate ao desmatamento ter sido aprimorada nos últimos anos, um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e da Universidade de Brasília - UnB demonstra que as barganhas concedidas pelo Estado brasileiro até 2016 podem reverter os índices de desmatamento no país e comprometer a meta brasileira de redução das emissões de gás carbônico assumidas no Acordo de Paris. Segundo um dos coautores da pesquisa, Raoni Rajão, da UFMG, embora o governo tenha fortalecido as políticas de controle ao desmatamento, de outro lado “houve uma pressão e uma sinalização pró-desmatamento maior, que acabou anulando ou se sobrepondo à pressão antidesmatamento. O que tentamos mostrar neste estudo é justamente essa situação paradoxal, na qual a capacidade de controle do desmatamento se manteve, mas, ao mesmo tempo, a pressão pró-desmatamento aumentou”, explica.
Entre as sinalizações que favoreceram o desmatamento, Rajão destaca a aprovação do Código Florestal em 2012 e a não criação de novas Unidades de Conservação. “Um marco importante foi a aprovação do Código Florestal em 2012. Inclusive a reforma do Código Florestal surgiu a partir do momento em que o Código antigo começou a ser implementado e começou a ‘doer no bolso’ do produtor e daqueles que desmatam, e esse setor se organizou para, dado que a regra estava ficando difícil, mudá-la”, frisa na entrevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line. Na avaliação dele, o novo Código Florestal foi “uma grande colher de chá para o setor produtivo, porque se perdoou tudo o que aconteceu no passado. Tanto é assim que 60% do desmatamento ilegal feito até 2008 foi perdoado pelo Código de 2012. Agora, o problema é que isso acabou sendo lido pelo setor produtivo que está ligado ao desmatamento como uma mensagem de que se ele conseguiu vencer o governo e anular o desmatamento feito no passado, futuramente poderia haver um novo perdão”. E adverte: “É preocupante passar essa mensagem de que com pressão e articulação no governo se consegue reverter leis ambientais, que é algo inclusive inconstitucional, porque não se pode diminuir a proteção em áreas ambientais”.
Raoni Rajão é professor de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia no departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e membro do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da mesma instituição. Também atua nos programas de Pós-Graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais da UFMG e Social and Political Sciences of the Environment (Radboud University/Holanda). Ele é graduado em Ciência da Computação pela Universidade de Milão-Bicocca (Itália) e mestre e doutor em Organização, Trabalho e Tecnologia pela Universidade de Lancaster (Inglaterra). Desde o mestrado se dedica ao estudo da relação entre tecnologia, ciência e políticas públicas, com ênfase na avaliação de políticas de controle do desmatamento e de pagamento por serviços ambientais.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Na semana passada, noticiou-se na imprensa um estudo feito pelo senhor e pelo professor Britaldo, juntamente com pesquisadores da Coppe/UFRJ e da UnB, acerca das barganhas políticas feitas a partir de 2016 e o modo como elas afetaram o controle do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Em que consiste esse estudo e quais dados o fundamentam?
Raoni Rajão – Esse estudo surgiu da percepção de uma contradição. Seria errado dizer que houve uma reversão ou um enfraquecimento das políticas de desmatamento nos últimos anos. Na verdade, elas se mantiveram, com alguma flutuação de orçamento, mas nada que não tivesse acontecido nos anos anteriores. Isso porque o governo tem dificuldade de manter o fluxo de recursos, mas de maneira geral foram mantidos aprimoramentos pontuais e, inclusive, ajudamos o Ibama a realizá-los. Então, o ponto do nosso estudo foi o seguinte: por que o desmatamento aumentou se a política de desmatamento continuou e melhorou? Para responder a essa questão, analisamos as políticas de controle de desmatamento para entender que estamos num contexto mais amplo de governança ambiental, que são as ações de controle do desmatamento do Ministério do Meio Ambiente e também as ações dos outros ministérios, as ações do setor privado, as sinalizações políticas que são dadas pelo Congresso e pela presidência.
Então, o que ajudou a explicar a queda do desmatamento nos períodos anteriores foi a concomitância de uma estruturação da política de controle de desmatamento, que praticamente não existia antes de 2004. Depois se teve um contexto político favorável, com tolerância zero ao desmatamento, mas na sequência, mesmo com a manutenção da política do desmatamento, houve uma pressão e uma sinalização pró-desmatamento maior, que acabou anulando ou se sobrepondo à pressão antidesmatamento. O que tentamos mostrar neste estudo é justamente essa situação paradoxal, na qual a capacidade de controle do desmatamento se manteve mas, ao mesmo tempo, a pressão pró-desmatamento aumentou.
A partir dessa constatação, tentamos olhar para o futuro, pensando num cenário no qual existe uma sinalização política antidesmatamento, no qual se pode diminuir o desmatamento conforme as metas assumidas pelo país em 2009. Nesse sentido, não estamos propondo que o Brasil assuma uma nova meta, nem estamos sugerindo que se faça uma política de desmatamento zero.
O cenário intermediário que vemos como tendencial é o de manutenção das políticas de controle de desmatamento. Mas com a erosão e a diminuição da capacidade gradual que vem ocorrendo por causa do teto dos gastos, da aposentadoria dos funcionários do Ibama e da não reposição do quadro de funcionários através de novos concursos, prevemos um cenário pior, no qual o Ministério do Meio Ambiente seria extinto e se transformaria numa secretaria do Ministério da Agricultura e, portanto, estaria submetido a esse ministério, como já foi sinalizado por um dos candidatos à Presidência. Se essa situação se concretizar, a política de controle do desmatamento será desmontada e as consequências serão piores.
IHU On-Line - Quais foram as principais barganhas concedidas pelo Estado aos ruralistas e como elas contribuíram para o aumento do desmatamento na Amazônia e no Cerrado?
Raoni Rajão – É difícil, quando se faz uma análise política, relacionar uma ação específica do governo e como isso gerou um aumento do desmatamento. Entretanto, é possível perceber que foram feitas sinalizações importantes e, nesse sentido, um marco foi a aprovação do Código Florestal em 2012. Inclusive a reforma do Código Florestal surgiu a partir do momento em que o Código antigo começou a ser implementado e começou a “doer no bolso” do produtor e daqueles que desmatam, então esse setor se organizou para, dado que a regra estava ficando difícil, mudá-la.
É claro que, no que diz respeito ao Código Florestal, existe uma discussão mais ampla, porque alguns argumentaram à época que era melhor ter uma regra mais fácil e 100% aplicada do que ter uma regra muito forte e que nunca seria aplicada. De certa forma isso ajudou a justificar, para alguns ambientalistas, a construção do novo Código Florestal, que foi uma grande colher de chá para o setor produtivo, porque se perdoou tudo o que aconteceu no passado. Tanto é assim que 60% do desmatamento ilegal feito até 2008 foi perdoado pelo Código de 2012. Agora, o problema é que isso acabou sendo lido pelo setor produtivo que está ligado ao desmatamento como uma mensagem de que se ele conseguiu vencer o governo e anular o desmatamento feito no passado, futuramente poderia haver um novo perdão. É preocupante passar essa mensagem de que com pressão e articulação no governo se consegue reverter leis ambientais, que é algo inclusive inconstitucional, porque não se pode diminuir a proteção em áreas ambientais. Apesar de muitos alertarem para o fato de que se trata de algo inconstitucional, o STF acabou dando um parecer favorável ao Código Florestal, inclusive em aspectos mais controversos como, por exemplo, a anistia por desmatamentos anteriores a 2008, para pequenas propriedades. Existiu ali uma sinalização que foi muito negativa.
Outra sinalização importante ocorreu assim que Dilma Rousseff assumiu o governo: ela diminuiu radicalmente o número de criação de Unidades de Conservação e demarcação de terras indígenas. Inclusive, no nosso artigo, fizemos um levantamento das áreas de Unidades de Conservação criadas ano a ano, que evidencia uma diminuição radical já no governo Lula, mas quando Dilma assume o governo, essa diminuição chega próximo a zero.
No final do governo, ela fez algumas benesses para compensar essa situação, mas ficou evidente a sinalização, pois até então uma estratégia muito clara do governo Lula, no período da Marina Silva, consistia em pegar as áreas devolutas, que são áreas do governo, e ali criar Unidades de Conservação ao invés de deixá-las sem atribuição, o que permite a grilagem das terras. Então tal política sinalizava que essas áreas seriam difíceis de ser griladas e roubadas do governo. Mas essa estratégia foi interrompida. Além disso, no governo Temer foi aprovada uma medida provisória, por pressão dos ruralistas, a qual expandiu benefícios para grileiros, os quais hoje conseguem legalizar, a um preço irrisório, áreas de até 2.500 hectares. São grandes latifúndios de terras públicas — ou seja, nosso patrimônio — que estão sendo desmatados por pessoas que depois conseguem a propriedade dessas terras e as vendem por preços exorbitantes.
A Renca, por exemplo, que é uma reserva de minério de cobre no Pará, não tem uma função ambiental direta, mas acaba tendo uma função indireta, porque ela limita os tipos de uso daquela área. Por causa disso, dentro da Renca foram criadas Unidades de Conservação estaduais pelo Estado do Pará. Mas a partir do momento em que o governo federal quis desfazer essa área, o Estado do Pará também poderia querer desfazer as suas unidades estaduais de conservação e permitir a exploração dessas áreas. Nesse caso, a iniciativa de desfazer a Renca foi fruto do lobby da própria Vale. Depois houve uma pressão internacional enorme e o governo voltou atrás, e o mesmo aconteceu com Jamanxim. Apesar de o governo ter voltado atrás, o sinal para quem quer desmatar está claro: basta pressionar que o governo vai lá e assina o que alguns setores querem e isso gera uma expectativa pró-desmatamento.
Tanto é que no contexto do Jamanxim houve uma explosão de desmatamento nas Unidades de Conservação, porque já estava se esperando que no apagar das luzes do governo Temer se daria uma canetada e se conseguiria desfazer aquelas áreas, facilitando a tomada delas, que a partir de então estariam legalizadas. A diferença entre o legal e o ilegal é uma caneta. Como essa caneta está na mão de quem quer fazer barganha, isso acaba tendo um impacto muito grande na expectativa de quem quer desmatar.
IHU On-Line - Segundo o estudo, somente por desmatamento o Brasil emitiria 1,8 bilhão de toneladas líquidas de gás carbônio em 2030. O que esse percentual representa em comparação com a meta interna assumida pelo país na Conferência do Clima de Paris? Como é feita essa projeção?
Raoni Rajão – Isso mostra que só com o desmatamento o Brasil vai superar o que ele promete em termos de emissão nesse período, o que significa que o país, em 2030, não alcançará as próprias metas internas que foram prometidas no acordo de Paris.
É importante enfatizar que uma das nossas preocupações é que o governo escolha quais setores poderão emitir gás carbônico. Nesse caso, alguns setores poderiam desmatar, porque o governo quer usar a meta de emissão de gás carbônico para esses setores, mas se for assim, como fica o resto da economia brasileira? Essa sim precisa emitir para produzir, porque para produzir carne, soja, um carro, para produzir energia elétrica, é preciso emitir gás carbônico também, então, o governo estará prejudicando outros setores da economia que precisam emitir para produzir. Ou seja, o governo irá permitir a emissão de gás carbônico para um setor da economia que não gera PIB. O problema é um pouco esse e funciona como uma espécie de orçamento: se gastamos todo o orçamento do governo num setor, não teremos recursos para outros. A mesma coisa acontece em relação ao carbono: se gastarmos em barganha política gerando desmatamento, gerando grilagem de terra, não teremos possibilidade de oferecer barganhas para o setor produtivo, que também irá gerar as taxas de emissões. Esse é o “x da questão”.
IHU On-Line – O senhor defende que o desmatamento deveria ser controlado para permitir que outros setores da economia, que geram um PIB maior, possam usar a cota de emissões de gás carbônico?
Raoni Rajão – Exato. A tendência é gerarmos uma economia de baixo carbono, de maneira mais efetiva, mas pelo menos nos próximos 50 anos, até que se faça a transição para a economia de baixo carbono, teremos que emitir para poder crescer. Então, temos que poder emitir num lugar que gere crescimento. É importante ter noção disso, porque quando alguém desmata, há uma perda para todo mundo, inclusive para a agropecuária moderna. Não se trata de uma briga do ambientalista preocupado em salvar as árvores contra a agropecuária. O governo poderia permitir o desmatamento legal em áreas de expansão de algumas culturas que têm alto valor agregado e não em áreas de fronteira onde é economicamente inviável produzir alimentos. Os que estão desmatando essas áreas fazem isso para grilar as terras e depois tomá-las do Estado, para depois vendê-las sem produzir alimento e PIB.
IHU On-Line - Considerando essas barganhas já concedidas pelo governo, que tipo de política o Brasil deveria implementar para alcançar suas metas de redução das emissões de gás carbônico?
Raoni Rajão – Um dos pontos centrais está ligado às terras devolutas; são 80 milhões de hectares de terras públicas não designadas na Amazônia. O problema é que enquanto essas terras não estiverem designadas, elas estarão abertas para serem usadas por grileiros que as desmatam e depois são usadas pela especulação imobiliária. É absolutamente urgente pensar formas para que essas áreas tenham um destino específico, porque à medida que elas entram no mapa, quem grila terra vai ficar atento e não irá naquelas áreas.
Além disso, é absolutamente essencial que seja sinalizado que acabou a farra de se desfazerem as Unidades de Conservação. Isso porque a partir do momento que se cria a expectativa de que com pressão política a Unidade de Conservação é desfeita, aí vira moda e todos vão querer fazer a mesma coisa, vão querer pressionar também no âmbito estadual, porque os estados também têm um papel importante na criação de Unidades de Conservação.
Também é importante que se continue com o aprimoramento das plataformas políticas de controle do desmatamento. O Ibama tem feito um bom trabalho, mas, infelizmente, toda vez que relatamos situações de desmatamento, a tendência é falar que isso acontece porque não há fiscalização — essa é a narrativa típica. Porém, ela é incorreta porque a situação é mais complexa do que isso. De todo modo, é preciso continuar aprimorando a fiscalização, é preciso fazer investimentos, promover concursos, por exemplo, porque faz anos que não há concurso do Ibama, e hoje a quantidade de fiscais é 50% menor do que há alguns anos, logo, isso impacta a capacidade de ação do órgão.
Também é importante pensar em incentivos para a legislação. Se acabássemos com o desmatamento ilegal na Amazônia, seria possível reduzir muito o desmatamento, mas esse não é o caso do Cerrado. Nesse sentido é necessário pensar em como implementar aspectos, os quais já estão inclusive em lei, em que, por exemplo, é feito o pedido de estudo de viabilidade ou de se demonstrar a necessidade de desmatar uma nova área. Há possibilidade de ser criado um imposto de autorização de desmatamento legal que possa, depois, ser revertido para o uso sustentável de outras áreas.
Hoje, infelizmente, é muito mais barato para o produtor desmatar uma nova área, por exemplo, para poder expandir o pasto, do que recuperar uma área já degradada. Existe um incentivo econômico muito grande para que se continue desmatando sempre novas áreas em vez de manter e utilizar, de maneira sustentável, as áreas já abertas e utilizadas. É um pacote que precisa ser pensado em conjunto.
IHU On-Line — O estudo fez algum cálculo para medir em que percentual o desmatamento foi reduzido a partir da política de desmatamento, em contraposição a que percentual de áreas foram desmatadas por causa das barganhas concedidas pelo governo?
Raoni Rajão – É difícil atribuir valores percentuais de maneira direta. O que houve foi uma série de estudos que tentam compreender o papel dessas diferentes políticas para explicar como o desmatamento saiu de 20 mil quilômetros quadrados em 2005 para 4 mil quilômetros quadrados em 2012. Esses estudos mostraram um aumento substancial dos atos de infração emitidos pelo Ibama nos municípios. O meu estudo, particularmente, mostra a revolução tecnológica que aconteceu dentro dos órgãos ambientais, porque antes os técnicos iam para campo sem saber onde procurar o desmatamento, mas hoje eles fazem monitoramentos por satélite. A própria criação de Unidades de Conservação foi muito importante e, além disso, houve mudanças legislativas importantes, como, por exemplo, a criação da lista negra dos municípios desmatadores. Aqueles municípios que estão nessa lista têm dificuldades de conseguir créditos com bancos e isso gerou uma reação importante para o setor produtivo na região Amazônica. Ou seja, esses são dados de uma série de estudos que apontam como o desmatamento chegou a esses valores, mas não existe um estudo integrado.
Como o elemento político estava presente no período de 2005 a 2012, fica difícil separar a influência dele desses outros elementos. Entretanto, o que mostramos é que se a partir de 2012 as políticas que levaram ao desmatamento foram mantidas, então o que mudou foi de fato a reversão de algumas políticas, como a redução das Unidades de Conservação. Então, apesar de não atribuirmos um percentual a cada uma dessas políticas, fica claro que tem que ter havido uma influência importante da dimensão política para poder explicar essa reversão, porque, do contrário, ela não se explica e estaríamos com os mesmos índices de desmatamento que foram registrados em 2012.
IHU On-Line — Dado o índice de desmatamento no país, o Brasil não conseguirá cumprir suas metas internas propostas para o acordo de Paris?
Raoni Rajão – Se a tendência se confirmar, não. Tanto é que consideramos que o cenário intermediário é o cenário tendencial. Ou seja, se as questões do desmatamento e do orçamento de carbono não entrarem para a agenda política de 2018, chegaremos a 2030 longe da meta do acordo de Paris. A situação é preocupante porque, com exceção de uma candidata, ninguém toca nesse assunto. Pelo contrário, candidatos à esquerda e à direita estão querendo se aproximar do agronegócio porque ele é uma grande potência, gera PIB, mas não fazem uma aproximação qualificada no sentido de afirmarem que querem apoiar o agronegócio que busca crescer, que quer gerar uma agricultura de baixo carbono, e não aquele agronegócio que quer roubar terra. Mas, infelizmente, essa mensagem fica muito misturada na discussão política e a tendência é a de ter uma eleição que não trate do assunto.
IHU On-Line — Que questões são urgentes e precisam constar no debate eleitoral acerca da questão ambiental?
Raoni Rajão — É importante começar a discutir a agenda do orçamento de carbono, porque o carbono é um recurso finito: nós emitimos dia a dia, toda vez que ligamos o carro estamos emitindo gás carbônico, porém é importante fazer essa emissão de maneira inteligente. É a mesma coisa com o orçamento da União, que precisa ser pensado de maneira mais efetiva. Não é simplesmente cortar gastos, aumentar impostos ou aumentar investimentos, mas fazer gastos de maneira mais efetiva. Infelizmente, isso está fora do debate e é curioso que esteja fora do debate em um contexto em que, por exemplo, mesmo dando sinalizações pró-desmatamento, tanto Kátia Abreu, que foi ministra de Dilma, quanto Blairo Maggi, que é ministro de Temer, já falaram publicamente que a agricultura não precisa desmatar para crescer. Este foi o cenário: de 2005 para 2012 houve um aumento espetacular das exportações brasileiras de soja e de carne, e a produção agrícola do Brasil aumentou substancialmente, isso em um cenário em que o desmatamento caiu.
De fato, há pessoas ligadas ao agronegócio falando que não precisa desmatar para poder crescer, então, por que isso não vira uma linha comum de propostas? O que aconteceu nesses últimos tempos é que o setor do agronegócio que quer desmatar não está sendo repreendido pelo agronegócio que está querendo produzir. Parte dos candidatos não quer atacar essa questão do desmatamento e da diminuição das emissões de gás carbônico, a meu ver, porque não querem ofender parte importante do eleitorado deles. Entretanto é essencial conseguir separar estes dois públicos: a agricultura que está querendo produzir e aquela que está querendo só desmatar.
IHU On-Line — Deseja acrescentar algo?
Raoni Rajão — Um ponto a ser colocado é que esse estudo é resultado de um trabalho de duas equipes de ponta de duas universidades brasileiras e que utilizou modelos desenvolvidos no Brasil. Normalmente, quando se trata de grandes estudos sobre mudanças climáticas, há uma tendência muito grande de copiar e colar modelos desenvolvidos fora do país, o que faz com que não tenhamos uma capacidade de entender as nossas particularidades nacionais. Nesse sentido, esse estudo foi representativo e também, de certa forma, foi importante para o desenvolvimento científico do país. É relevante enfatizar isso e a importância de continuar a se fazer investimentos nessa área, pois esse estudo que fizemos só foi possível porque, anteriormente, essa mesma equipe fez parte de um grande projeto do Ministério da Ciência e Tecnologia, onde fizemos as projeções de emissões do Brasil até 2050.
É importante haver investimento para a Ciência e Tecnologia, porque se não existir investimento em Ciência e Tecnologia nas universidades, não teremos inteligência governamental no país. Infelizmente estamos num cenário onde isso não é visto, onde acredita-se que as universidades públicas são espaços privilegiados ou que são politizados, mas esses são espaços em que se gera inteligência e se faz pesquisa.
*Publicado originalmente na IHU On-Line
PROCESSADOR NEUROMÓRFICO BATE CÉREBRO ELETRÔNICO DE SUPERCOMPUTADOR
Site Inovação Tecnológica, 18.07.2018
Um dos chips do Spinnaker, construído com memoristores. [Imagem: Univ. Manchester/Divulgação]
Cérebro eletrônico
Em uma apresentação feita há cerca de três meses, o processador Spinnaker era um dentre os três processadores neuromórficos que estão mais próximos de sair da escala de laboratório - já existe uma versão deste cérebro eletrônico disponível pela internet.
Agora, a equipe responsável por sua construção demonstrou que esse processador, construído com uma arquitetura que tenta imitar a forma como o cérebro humano funciona, produz resultados similares aos das melhores simulações do cérebro feitas por supercomputadores e usadas nas pesquisas de neurociências.
E essa aferição de qualidade do processamento - precisão e velocidade - é bem mais do que um empate: Os processadores neuromórficos fazem o mesmo trabalho consumindo uma fração da eletricidade usada pelos processadores eletrônicos tradicionais.
Redes neurais em hardware
O objetivo principal da equipe liderada pelo Centro de Pesquisa Julich, na Alemanha, é usar o processador neuromórfico em estudos sobre processamento neural no cérebro, ampliando o conhecimento sobre o aprendizado e a memória, e também sobre distúrbios como epilepsia e doença de Alzheimer.
Um simulador computacional rodando em um supercomputador hoje leva vários minutos para simular um segundo de atividade cerebral. Por isso, ainda estamos longe de poder estudar processos de longo prazo no cérebro, como a aprendizagem, que leva horas ou dias - menos ainda degenerações neurais, que tipicamente levam anos para se manifestar.
"A capacidade de rodar redes neurais detalhadas em larga escala rapidamente e com baixo consumo de energia vai impulsionar a pesquisa em robótica e facilitar estudos sobre aprendizado e distúrbios cerebrais. O Spinnaker pode rodar modelos biológicos detalhados do córtex - a camada externa do cérebro que recebe e processa informações dos sentidos - fornecendo resultados muito semelhantes aos de uma simulação equivalente de software em um supercomputador," disse o professor Sacha van Albada, coordenador dos testes.
Desenvolvido nos últimos 15 anos e baseado na estrutura e funcionamento do cérebro humano, o Spinnaker é um computador composto por meio milhão de elementos computacionais simples, imitando as sinapses, controlados pelo seu próprio software. O projeto é a parte de hardware (Plataforma de Computação Neuromórfica) do Projeto Cérebro Humano.
Bibliografia:
Performance Comparison of the Digital Neuromorphic Hardware SpiNNaker and the Neural Network Simulation Software NEST for a Full-Scale Cortical Microcircuit Model
Sacha J. van Albada, Andrew G. Rowley, Johanna Senk, Michael Hopkins, Maximilian Schmidt, Alan B. Stokes, David R. Lester, Markus Diesmann, Steve B. Furber
Frontiers in Neuroscience
DOI: 10.3389/fnins.2018.00291
BRASIL PERDE R$ 5,7 BILHÕES POR ANO EM PLÁSTICOS NÃO RECICLADOS
Agência Brasil, 16.07.2018
Plástico jogado fora
O Brasil produz mais de 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano, dos quais 13,5% - o equivalente a 10,5 milhões de toneladas - são plásticos.
Se todo esse montante de plástico fosse reciclado, seria possível retornar cerca de R$ 5,7 bilhões para a economia, segundo levantamento do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb).
"O Brasil ainda destina inadequadamente cerca de 40% de todo o resíduo gerado no país. São bilhões de reais que poderiam ser revertidos para a construção ou modernização de aterros sanitários, ampliação dos serviços de coleta e outras atividades relacionadas à limpeza urbana. O gerenciamento de resíduos envolve uma rede complexa de atividades e a reciclagem é um pilar que precisa começar a ser desenvolvido como oportunidade de negócio. Do contrário, não terá resultado concreto", explicou Márcio Matheus, presidente do Selurb.
A entidade avalia que os números refletem uma realidade mundial e que o aumento do poder de compra da população e os altos investimentos em novas fábricas e tecnologias serão responsáveis por um crescimento de cerca de 30% na produção de plástico em menos de 10 anos.
Gestão de resíduos sólidos
Uma das alternativas em relação à gestão de resíduos sólidos apontadas pela entidade seria a erradicação dos quase 3 mil lixões existentes no país e a implantação de uma rede regionalizada de aterros sanitários, para tratar adequadamente os resíduos - o Selurb é uma entidade que representa as empresas que constroem e administram aterros sanitários.
"Se ilude quem acha que é possível fazer reciclagem em um país continental sem buscar soluções de escala. A reciclagem só será possível quando houver viabilidade econômica, o que inclui incentivos governamentais, com isenções fiscais, e estrutura logística para tal. A primeira medida é desenvolver soluções logísticas que concentrem esses materiais, como ecoparques - que apresentam, também, a estrutura dos aterros legalizados. A partir disso, será possível diluir os altos custos logísticos e trazer viabilidade econômica para que os materiais recicláveis cheguem à indústria a um preço atrativo, como aconteceu nos EUA," disse o engenheiro Carlos Rossin, consultor ligado ao Selurb.
ESTUDO APONTA CAMINHO PARA EXPANSÃO E INTENSIFICAÇÃO DA AGROPECUÁRIA BRASILEIRA
Elton Alisson, Agência FAPESP, 19.07.2018
– A produção agropecuária brasileira como um todo aumentou nas últimas décadas. A agricultura, contudo, tem apresentado maior produtividade e tem sido mais eficiente em termos de uso da terra e de emissão de gases de efeito estufa por tonelada de proteína produzida do que a pecuária. Essa diferença na produtividade e eficiência dos setores agrícola e pecuário representa um potencial para melhorias no uso da terra e de outros recursos utilizados para a produção de alimentos hoje no país.
A constatação é de um estudo feito por pesquisadores do Laboratório de Geoprocessamento (Geolab) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) em colaboração com colegas do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e da Chalmers University of Technology, na Suécia.
O estudo faz parte do projeto Atlas da Agropecuária Brasileira, apoiado pela FAPESP. Os resultados foram publicados na revista Elementa – Science of the Antropocene, editada pela University of California, nos Estados Unidos.
“Identificamos que a agricultura tem sido muito mais eficiente tanto em produção de proteína por hectare como em emissões de gases de efeito estufa do que a pecuária nas últimas décadas”, disse Luís Fernando Guedes Pinto, pesquisador do Imaflora e um dos autores do estudo, à Agência FAPESP.
Os pesquisadores avaliaram o crescimento da produção, da produtividade e da eficiência das safras agrícola e pecuária brasileiras nas últimas décadas a fim de estimar os impactos da expansão e intensificação dessas atividades nas metas de desmatamento zero e de redução das emissões de gases de efeito estufa pelo setor agropecuário.
Para isso, usaram métodos estatísticos de modo a converter as safras agrícola e pecuária brasileira de 1975 a 2006 em proteína e energia. Os dados foram relacionados com estimativas de emissões diretas de gases de efeito estufa.
As análises dos dados mostraram que houve crescimento da área plantada com culturas agrícolas em todas as regiões do Brasil, enquanto a área de pastagem diminuiu no Sul e Sudeste e aumentou na região Norte. A produção das duas atividades aumentou no mesmo período em todas as regiões, com destaque para o Centro-Oeste. Porém, há uma grande diferença nas taxas de crescimento de produção e de produtividade entre os cultivos e as pastagens.
Em 2006, por exemplo, a produção de proteína vegetal foi 20 vezes maior que a de proteína bovina, mesmo que a agricultura ocupe uma área 2,6 vezes menor que as de pastagens – de 160 milhões de hectares contra 61 milhões de hectares de lavoura.
A produtividade agrícola no mesmo ano também foi 25 vezes maior do que a pecuária. Enquanto a agricultura produziu 0,25 tonelada de proteína vegetal por hectare e 2 toneladas de gases de efeito estufa (GEE) por tonelada de proteína, a pecuária produziu 0,01 tonelada de proteína animal por hectare e 283 toneladas de GEE por tonelada de proteína.
“A safra agrícola de 2006 foi suficiente para suprir as necessidades de proteína de 1,3 bilhão de pessoas, enquanto a de pecuária garantiria as necessidades de 66 milhões de pessoas”, disse Guedes.
O estudo também apontou que, embora o sistema de produção de carne de aves e suínos seja mais eficiente que o de pecuária para a produção de proteína, ele é seis vezes menos eficiente do que o de proteína vegetal como fonte primária de alimentos.
“Mesmo assim, as análises indicaram que entre 1975 e 2006 a proporção da produção vegetal destinada à ração para a criação de frangos e porcos aumentou, enquanto diminuiu a proporção destinada diretamente para a alimentação humana”, disse Guedes.
Caminho para expansão
Na avaliação dos pesquisadores, os achados do estudo sugerem que alcançar o desmatamento zero, o uso eficiente da terra e sistemas alimentares mais sustentáveis no Brasil exigirão uma combinação de intensificação de sistemas de pastagem e pecuária, otimização de sistemas de alimentação animal, aumento da participação do consumo de culturas como fonte de proteína e alinhamento de políticas que afetam a silvicultura e a agricultura.
Uma vez que atingir essas metas será um grande desafio, eles sugerem no estudo um caminho para a expansão e a intensificação da agropecuária visando desmatamento zero e sistemas de uso da terra e de produção de alimentos sustentáveis.
Algumas das sugestões desse caminho são priorizar a produção vegetal como a principal fonte de alimento humano; priorizar a carne de aves e suínos como a principal fonte de proteína animal; manter a produção pecuária no longo prazo em terras não aptas para a produção vegetal; e permitir a intensificação da pecuária em sistemas de pastagem em terras marginais não aráveis ou naquelas adequadas para a lavoura, porém ainda não necessárias para a produção de culturas agrícolas.
“O caminho seria primeiro priorizar o aumento da área ocupada por culturas agrícolas e não por pastos. Se a agricultura crescer em cima de áreas de pastagem não teria desmatamento”, disse Guedes à Agência FAPESP.
“Essa mudança poderia ser alcançada por uma estratégia robusta que combinasse penalidades e incentivos e prevenisse os riscos de um efeito rebote para a intensificação da agricultura”, afirmou.
O pesquisador pondera que esse roteiro considera somente a produtividade e a eficiência do uso da terra e da produção de alimentos, sem levar em conta outras questões determinantes para a expansão e a intensificação da agricultura como infraestrutura, hábitos alimentares e demandas de consumo de alimentos.
Além disso, as análises de 1975 a 2006 não capturaram importantes políticas recentes e mudanças que ocorreram na governança do setor e que têm visado a redução do desmatamento e a agropecuária de baixo carbono.
“O novo censo agropecuário é fundamental para termos dados que permitam uma análise da situação atual e projetar cenários”, disse Guedes.
O estudo Asymmetries of cattle and crop productivity and efficiency during Brazil´s agricultural expansion from 1975 to 2006 (doi: 10.1525/elementa.187), de Gerd Sparovek e outros, pode ser lido na revista Elementa – Science of the Antropoceneem.
www.elementascience.org/articles/10.1525/elementa.187/.
LISTA INTERNACIONAL ELEGE OS 25 MELHORES APLICATIVOS PARA ENSINAR E APRENDER
Porvir, 17.07.2018
Quais são os melhores aplicativos para ensinar e aprender? A Associação Americana de Bibliotecários Escolares (AASL) publicou uma lista com os 25 destaques de 2018. Entre as selecionadas, estão ferramentas que promovem inovação, criatividade, participação e colaboração na educação.
Clips
Plataforma: iOS
O aplicativo transforma o iPhone em um estúdio de produção de vídeos, com ferramentas para incluir legendas, adesivos, filtros e músicas.
Fairytale Play Theater
Plataformas: iOS e Android
Com essa ferramenta, crianças podem criar suas próprias versões de contos de fada clássicos, como “Branca de Neve”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Os Três Porquinhos” e “Cinderela”. Para isso, elas podem selecionar cenas, trilhas sonoras, personagens e adereços.
Engaging Congress
Plataformas: iOS e Android
O jogo usa documentos, animações e outros recursos multimídia para que estudantes do ensino fundamental entendam princípios básicos de um governo representativo e os desafios que eles enfrentam na sociedade atual.
Google Spotlight Stories
Plataformas: iOS e Android
Voltado para dispositivos móveis ou equipamentos com a tecnologia de realidade virtual, o Google Spotlight oferece narrativas imersivas em 360 graus que podem ser baixadas para facilitar o acesso.
Google Tradutor
Plataformas: iOS e Android
Outra ferramenta que ganhou destaque foi o Google Tradutor, que além dos recursos tradicionais para traduzir textos, permite fotografar placas em outros idiomas, ler ou ouvir traduções com o uso do microfone.
GooseChase
Plataformas: iOS e Android
O aplicativo permite criar atividades de aprendizagem divertidas, seguindo o formato de uma caça ao tesouro. Com a ferramenta, os educadores podem adicionar listas de missões e enviar pistas aos alunos.
Hopscotch
Plataforma: iOS
Com interface colorida e muitos tutoriais, o aplicativo permite que crianças (e adultos) criem seus próprios jogos. Tudo isso enquanto aprendem fundamentos de programação.
Human Anatomy Atlas
Plataformas: iOS e Android
Direcionado aos profissionais da saúde, professores e alunos, o aplicativo cria um laboratório 3D em qualquer lugar. No atlas é possível selecionar tecidos e órgãos, sistemas, músculos e ossos, além de acessar um banco de perguntas em sete idiomas (ainda não existe versão em português).
Incredibox
Plataformas: iOS e Android
O aplicativo é usado para ensinar noções de ritmo aos alunos, que podem criar composições de hip-hop, electro, pop ou ritmos brasileiros.
Libby
Plataformas: iOS e Android
Para simplificar o empréstimo de livros digitais, o aplicativo ajuda localizar coleções disponíveis em bibliotecas públicas. A ferramenta também disponibiliza um leitor de e-books e um player de audiolivro.
Metaverse
Plataformas: iOS e Android
Com o Metaverse é possível criar experiências de realidade aumentada, criar jogos, gincanas e memes.
Office Lens
Plataformas: iOS e Android
Além de ser útil como um scanner de documentos, recibos e cartões de visita, o aplicativo oferece ao usuário a capacidade de tirar fotos de um quadro branco ou uma placa e transformá-las em um documento reconhecido por texto em produtos da Microsoft.
PBS KIDS Games
Plataformas: iOS e Android
Para facilitar a aprendizagem e engajar os alunos, o aplicativo reúne jogos relacionadas à ciência, matemática, criatividade.
PBS KIDS Vídeo
Plataformas: iOS e Android
O aplicativo oferece vídeos educativos adequados para crianças, incluindo episódios e clipes das séries do PBS KIDS.
Periodic table
Plataformas: iOS e Android
Desenvolvido pela Royal Society of Chemistry, o aplicativo reúne história, alquimia, podcasts, vídeos e informações em uma tabela periódica interativa. Os conteúdos podem ser acessados nos níveis introdutório, intermediário e avançado.
Pixie
Plataformas: iOS e Android
A ferramenta permite que os estudantes criem histórias digitais, quadrinhos e podcasts. Com recursos de texto, arte, narração de voz e imagens, o Pixie funciona como um aplicativo de autoria.
Procreate
Plataforma: iOS
Aplicativo oferece recursos para desenho, pintura e ilustração. A ferramenta oferece diferentes pincéis e canetas para criar arte digital.
PuppetMaster
Plataforma: iOS
Por meio de uma câmera que captura os gestos da criança, o aplicativo de animação consegue dar vida a qualquer imagem. A ferramenta também permite gravação de voz para criar um vídeo animado.
Recap
Plataformas: iOS e Android
Recap funciona como um aplicativo de resposta e reflexão dos alunos para que pais e professores tenham uma visão sobre o seu aprendizado. Na ferramenta, os educadores podem incluir perguntas para serem respondidas em vídeo pelos estudantes.
RelationShapes
Plataformas: iOS e Android
Voltado para primeira infância, o jogo estimula o desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas e raciocínio visual-espacial. As crianças movam e redimensionem formas para criar imagens divertidas.
Science Journal
Plataformas: iOS e Android
O aplicativo funciona como um diário para acompanhar o desenvolvimento de projetos de ciências. Transformando o celular em um sensor de luz, som e movimento, ele permite medir diferentes variáveis para acompanhar experimentos e registrar observações.
SDG
Plataformas: iOS e Android
O aplicativo reúne Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e conecta pessoas em ações e eventos para colaborar com essas tarefas.
Seeing AI
Plataforma: iOS
O aplicativo usa inteligência artificial para auxiliar pessoas com deficiência visual obterem audiodescrição de documentos, produtos, cenas, pessoas, cores, dinheiro e caligrafia, além de informações de localização e distância de objetos.
Signed Stories
Plataforma: iOS
O aplicativo reúne livros ilustrados com animações, incluindo contos de fadas clássicos, contos populares, canções de ninar e cantigas. Além disso, ele também disponibiliza jogos educacionais.
Swiipe
Plataforma: iOS
O aplicativo funciona como um serviço de notícias abastecido por agências populares em diferentes países. Os usuários podem escolher entre mais de 60 fontes, de esportes até entretenimento e negócios.
NOTA PÚBLICA PELA REVOGAÇÃO DA LEI DA REFORMA DO ENSINO MÉDIO – Nº. 13415/2017 E RETIRADA DA PROPOSTA DE BNCC APRESENTADA EM ABRIL DE 2018.
https://abecs.com.br/entidades-lancam-nota-publica-solicitando-revogacao-da-reforma-do-ensino-medio/
O Comitê do Ensino Médio da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), a Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS), a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) vêm a público requerer junto ao Ministério da Educação (MEC) e à Presidência da República a revogação da Lei nº. 13415/2017, que reforma o Ensino Médio, bem como a retirada da proposta de Base Nacional Curricular Comum (BNCC) apresentada em abril de 2018 e que está sendo debatida em audiências públicas.
Estamos nos unindo as mais variadas vozes de entidades científicas e de estudiosos(as) da educação que a despeito das diferentes posições políticas e de concepções sobre o sistema nacional de educação, têm concordado e reiterado que essa proposta de Ensino Médio aprofunda as desigualdades sociais e educacionais no Brasil. Desde a publicação da Medida Provisória MP 746/2016 que a SBPC, a SBS, a ABA, a ABECS, a ANPOCS, ANPOF, a ANPED, entre outras entidades científicas, pronunciaram-se contrárias à proposta de um Ensino Médio amorfo, sem os componentes curriculares que sustentam as formações nas diferentes profissões e áreas de atuação, incluindo-se a de formação de professores(as).
As críticas também ressaltavam a falta de tempo para um debate amplo com toda a sociedade e com os sujeitos diretamente envolvidos com as escolas, como por exemplo, os(as) estudantes e professores(as). Os(As) estudantes e professores(as) do Ensino Médio manifestaram-se, enfaticamente, contrários a essa reforma, mobilizando milhares de jovens que ocuparam as escolas em vários Estados da federação, em 2016. Ao contrário da propaganda oficial, é forte a reação contrária ao cenário proposto para o Ensino Médio, tanto por parte de pesquisadores(as) universitários(as), como das comunidades escolares que estão na base do sistema educacional.
Essa reforma representa a negação dos direitos de aprendizagem dos(as) estudantes brasileiros(as), especialmente dos(as) oriundos(as) das classes populares, que há muito pouco tempo conseguiram chegar ao Ensino Médio, ainda não universalizado no Brasil, haja visto que atinge cerca de 68% de matrículas na idade escolar de 15 a 17 anos. Se somarmos os(as) jovens adultos(as) que tentam voltar a esse nível de ensino, teremos um contingente enorme que precisa ser incluído nas escolas. Com tanto esforço para chegar ao Ensino Médio, esses sujeitos têm direito a uma educação de qualidade, com conteúdos científicos, componentes curriculares diferentes e que os prepare para a inserção no mundo do trabalho, nas Instituições de Educação Superior e, sobretudo, à participação na vida cultural, social e política, exercendo plenamente a cidadania, conforme prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/1996).
A referida Lei e a proposta de BNCC de 2018 não garantem a obrigatoriedade de oferta dos cinco itinerários formativos em todas as escolas e estados e nem os treze componentes curriculares vigentes até então. Retiram das escolas todos os conteúdos, garantindo apenas as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, empobrecendo o currículo escolar. Estabelece, assim, a oferta de uma “escola pobre para os pobres”, retrocedendo em, pelo menos, duas décadas no debate educacional do país.
Em especial, as entidades científicas signatárias dessa nota expressam sua revolta com a exclusão das disciplinas da área de Ciências Humanas, entre as quais, a Sociologia, privando nossos(as) estudantes dos conteúdos de Ciências Sociais indispensáveis à compreensão crítica da realidade e à tomada de posição política. Não é possível o atendimento dos propagados objetivos da atual reforma do Ensino Médio sem a oferta de disciplinas da área de Ciências Humanas no currículo escolar.
Considerando, então, a forma antidemocrática com que essa Lei e a essa proposta de BNCC foram elaboradas e impostas ao país, e a consequente destruição do Ensino Médio em seu caráter universalizante, como última etapa da Educação Básica no Brasil, exigimos a revogação da Lei nº. 13415/2017 e a retirada da proposta de BNCC apresentada em abril de 2018.
As entidades signatárias dessa nota assumem uma posição em defesa da qualidade da educação brasileira e conclamam o Governo Federal a dialogar com especialistas da área. O futuro de nossa juventude e do Brasil está em jogo.
Brasília, 17 de julho de 2018
Comitê do Ensino Médio da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS),
Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS)
Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Associação Brasileira de Antropologia (ABA).
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS).
COM CRISE E CORTES NA CIÊNCIA, JOVENS DOUTORES ENCARAM O DESEMPREGO: 'TÍTULO NÃO PAGA ALUGUEL'
Geração formada durante o boom nos cursos de pós-graduação – e de ofertas de trabalho – hoje convive com a incerteza, disputando as poucas bolsas de pesquisa disponíveis ou tendo de deixar a ciência de lado para sobreviver.
Jovens doutores de diversas áreas de atuação estão enfrentando dificuldades no mercado de trabalho (Foto: CECILIA TOMBESI/BBC NEWS)
O estatístico Paulo Tadeu Oliveira, de 55 anos, defendeu seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP) em agosto de 2008. Dez anos depois, ainda não conseguiu ingressar no mercado de trabalho. O pesquisador, que é deficiente visual, emendou três pós-doutorados em busca de especialização e experiência, mas não passou nas diversas seleções para o quadro de universidades públicas. Atualmente, está no quarto estágio pós-doutoral, desta vez sem apoio financeiro.
Em busca de trabalho na iniciativa privada, ele consultou 18 headhunters para tentar enquadrar seu currículo ao mercado, mas encontrou respostas similares: o estatístico não possui experiência corporativa e, ao mesmo tempo, é considerado overqualified (qualificado demais) para as posições disponíveis. Em maio, ele relatou sua história à Comissão de Direitos Humanos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e espera resposta.
Assim como Oliveira, diversos jovens doutores (ou seja, titulados recentemente) estão patinando profissionalmente. A concorrência continua crescendo: no ano passado, foram formados 21.609 novos doutores – ao todo, são 302.298, incluindo estrangeiros residentes no país.
Em 2006, o país atingiu a meta de formar 10 mil doutores e 40 mil mestres por ano, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgados à época. Em 2014, o Plano Nacional de Educação estabeleceu uma nova meta: a formação de 25 mil doutores por ano até 2020.
O problema é que o principal destino de doutores, a área da educação – 74,5% dos empregados estão nas universidades ou institutos de pesquisa – sentiu os efeitos da crise econômica no país.
O orçamento do Ministério da Educação (MEC) sofreu cortes de R$ 7,7 bilhões em 2015 e de R$ 10,7 bilhões em 2016, segundo dados da própria pasta. No Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) 44% (R$ 2,5 bilhões) foram congelados em 2017, de acordo com números do governo.
A Capes, vinculada ao MEC, perdeu R$ 1 bilhão por ano desde 2015; o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao MCTIC, também perdeu cerca de R$ 1 bilhão no caixa de 2015 para 2016, o que afeta programas de pós-doutorado, por exemplo.
Nas instituições particulares, o quadro também é pessimista, com a demissão de milhares de professores - a Estácio de Sá, por exemplo, demitiu 1,2 mil docentes em dezembro de 2017 – e o trancamento de matrículas de alunos, que registrou um aumento de 22,4% entre 2011 e 2015, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
Entre 1996 e 2014, o número de programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) triplicou no país, informa o relatório Mestres e Doutores 2015, o mais recente da série. Elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o estudo revela que o período também registrou um boom na formação de mestres (379%) e doutores (486%) no país.
Um novo estudo em andamento no CGEE revela também a taxa de empregabilidade de doutores recém-titulados: entre 2009 e 2014, o índice se estabilizou em cerca de 73%, mas em 2016 caiu para 69,3%.
"Historicamente, a taxa de emprego é mais estável, fruto de uma política constante, passando por governos variados. Apesar de ter cada vez mais doutores, podemos afirmar que até 2015 eles foram absorvidos pelo mercado, público e privado", diz a coordenadora da pesquisa, Sofia Daher, de 55 anos.
"A queda não é drástica, mas sinaliza uma tendência nova. Houve uma redução considerável de concursos para professores universitários", disse ela à BBC News Brasil.
O pesquisador Ronaldo Ruy, de 36 anos, é um retrato desse novo cenário: está desempregado desde a defesa de seu doutorado na Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2016. "Estou buscando pós-doutorado para não tirar definitivamente os dois pés da ciência", diz ele, que fez cursos no Smithsonian Research Tropical Institute e no Florida Museum of Natural History, nos EUA.
Atualmente dependendo da ajuda financeira da família, Ruy buscará trabalho fora de sua área de atuação. "O amor pela ciência não as paga contas. No meu caso particular, a situação chegou ao ponto da minha família ter dado prazo para que eu saia de casa e inevitavelmente terei que seguir outro caminho (profissional)", conta.
Foi o que fez Karen Carvalho, de 36 anos, doutora em neurociências pela USP.
Após a conclusão da pesquisa no Instituto Butantan, em novembro, ela tentou ingressar na indústria farmacêutica, sem sucesso.
"Durante o doutorado, desenvolvi depressão. Uma ironia, pois meu campo de estudo é estresse e depressão", diz a bióloga, que hoje atua como corretora de imóveis.
De acordo com uma investigação com 2 mil estudantes de 26 países, publicada na revista Nature Biotechnology em março, os pós-graduandos têm seis vezes mais chance de sofrer ansiedade e depressão do que a população geral.
Além das pressões do doutorado, Carvalho afirma que a falta de perspectiva agravou seu quadro.
"No Brasil, a gente é tratado como 'só estudante' durante a pós. Falta olhar para o cientista como um profissional, muitas vezes muitíssimo qualificado. Você se mata para fazer mestrado e doutorado, e depois pensa: e agora, vou fazer o que com os títulos? Só perdi meu tempo? É uma tristeza, perde-se o brilho olhando para a situação atual da ciência. A gente está no limbo."
O biólogo professor da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Hermes-Lima, de 53 anos, vem criticando o que vê como uma formação excessiva de doutores desde 2008.
"Teve uma inundação de 'cérebros'. É a lei do mercado: se você tem essa 'commodity' demais, desvaloriza-se", afirma.
Para Hermes-Lima, a última década registrou "uma alucinada proliferação" de cursos de pós-graduação no país, priorizando quantidade, e não qualidade da formação acadêmica. "Aí chegou o teto - e o teto agora está começando a cair", ilustra.
"A crise econômica empurrou muita gente sem real motivação científica para a universidade. Sem emprego, muita gente buscou refúgio na ciência, de olho nas bolsas. A crise demorou para chegar na ciência, mas agora chegou", critica.
O filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação do governo Dilma Rousseff, pensa diferente. "Parar de investir na formação doutoral é um risco. Como um doutor demora em regra quatro anos para se titular, uma parada significará que, quando precisarmos de mais doutores, eles não estarão disponíveis", analisa.
Para ele, a dificuldade de manter o ritmo de investimento para jovens doutores está relacionada "por um lado, à crise econômica; por outro, às prioridades diferentes do novo governo".
Procurado pela BBC News Brasil, o Ministério da Educação diz não ser "verdade que falte recurso para as universidades". "A expansão das universidades federais trouxe impactos significativos para o orçamento do MEC, que precisam ser compreendidos em sua plenitude", escreve a pasta, em nota.
Essa expansão, acrescenta, "foi realizada sem planejamento". "O ano de 2014 foi influenciado pelas eleições e por um momento econômico em que a gestão anterior não mensurou os efeitos dos gastos exagerados e sem controle. Diversos programas aumentaram recursos fora da realidade, fazendo com que a própria gestão anterior iniciasse as reduções, a partir de 2015", conclui.
De 2003 a 2010, houve um salto de 45 para 59 universidades federais, o que representa uma ampliação de 31%; e de 148 câmpus para 274 câmpus/unidades, crescimento de 85%. A expansão também proporcionou uma interiorização – o número de municípios atendidos por universidades federais foi de 114 para 272, um crescimento de 138%, segundo dados do próprio MEC.
Por sua vez, o MCTIC afirma que está atuando junto à equipe econômica para maior disponibilização de recursos. "Em anos anteriores, os esforços do MCTIC para recomposição orçamentária têm dado resultados, com a liberação de recursos contingenciados ao longo do ano. No cenário de restrições orçamentárias, o MCTIC mantém ainda permanente diálogo com os gestores de suas entidades vinculadas para que os recursos sejam otimizados, minimizando o impacto em suas atividades."
Diante da falta de oportunidade no mercado, tanto na iniciativa privada quanto nas instituições públicas, muitos jovens doutores apostaram na possibilidade de um pós-doutorado, conforme diversos relatos à BBC Brasil. A bolsa mensal do CNPq é de R$ 4,5 mil.
Diferentemente do mestrado ou doutorado, o pós-doutorado não é um título: é uma especialização ou um estágio para aprimorar o nível de excelência de determinada área acadêmica. É visto como um aperfeiçoamento do currículo para processos seletivos para docente nas universidades públicas.
Para a maioria dos candidatos, porém, as expectativas acabaram frustradas.
"A proposta, apesar de meritória, não pode ser atendida nesta demanda, considerando-se a disponibilidade de recursos", dizia a resposta-padrão enviada a dezenas de doutores recém-titulados que tinham pedido bolsas na modalidade Pós-Doutorado Júnior (PDJ), do CNPq.
Diante do resultado, divulgado em meados de junho, muitos doutores relataram sua indignação ao serem rejeitados em depoimento em grupo de 6,6 mil pesquisadores brasileiros no Facebook. Sob a condição de anonimato, um parecerista do CNPq conta que os avaliadores também ficaram frustrados. "Não importa o quanto o projeto é excelente, não há recursos para todo mundo; é infrutífero para a ciência do país".
No início deste ano, dos 2.550 pedidos recebidos pelo CNPq, foram concedidas 363 bolsas de PDJ. No primeiro calendário de 2017, foram 2392 pedidos e 359 concessões.
Doutor em psiquiatria pela UFRGS, com temporada de estudos na Tufts University, nos EUA, o pesquisador Dirson João Stein, de 44 anos, tentou quatro editais de pós-doutorado desde abril, diante da falta de concursos na área. Não conseguiu aprovação em nenhum.
"Vejo como uma oportunidade de transição entre a vida estudantil e a vida profissional. Há possibilidade de praticar a docência, um dos principais pré-requisitos para a seleção de professores", considera. Assim como Ruy, Stein depende da família e, agora, faz freelancer como garçom para festas em São Leopoldo (RS).
A psicóloga Inara Leão Barbosa, de 60 anos, que pesquisa desemprego desde 2003, destaca que um de seus efeitos psicossociais é o isolamento dos amigos e da família.
"É um sentimento de regressão, um impacto muito violento. Eles, que eram considerados tão inteligentes, passam a ser vistos como vagabundos que não querem trabalhar. Muitos voltam a morar com os pais e são tratados como adolescentes. Eles se culpam como indivíduos, esquecendo que a crise faz parte do sistema", diz Barbosa, professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Muitos doutores vão parar no subemprego. "E, se você não quiser (o subemprego), no momento de crise tem uma fila de gente que quer", afirma.
Professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o historiador Rodrigo Turin, 38, diz que a academia está sendo pautada por conceitos como "produtividade", "inovação" e "excelência", respondendo a uma lógica de mercado.
"Já começaram a aparecer, inclusive, ofertas de postos não-remunerados, nos quais esses jovens acadêmicos são induzidos a pesquisar e dar aulas apenas para poder 'engordar' seus currículos e, assim, se tornarem mais competitivos", critica.
Essa "ideologia da excelência" é um dos pontos estudados por Lara Carlette, de 29 anos. Sua tese Universidades de classe mundial e o consenso pela excelência, defendida no Departamento de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em fevereiro, foi indicada ao Prêmio Capes pela originalidade do trabalho.
Ao propor um desdobramento de sua pesquisa para o CNPq, ela recebeu dois pareceres positivos e uma decisão negativa que, ironicamente, indicava falta de originalidade.
Segundo Carlette, os jovens doutores vivem impasses: por um lado, muitos passam anos na condição de bolsistas de dedicação exclusiva (o que proíbe vínculo empregatício, assim limitando a possibilidade de experiência docente); por outro lado, a experiência é cobrada nos concursos.
Na mesma linha, os acadêmicos precisam preservar a originalidade de suas teses (o que limita a publicação de artigos durante o doutorado), mas a produtividade (o número de publicações) é cobrada nos processos seletivos e nos editais.
"Pode parecer dramático, mas conviver com isso diariamente é torturante. Saber ler a conjuntura, e não individualizar a falta de oportunidades, é essencial", adiciona a pesquisadora, que já foi questionada inclusive pela juventude: foi chamada de "novinha" durante um processo seletivo.
"Depois da alegria e do alívio de defender uma tese, você está desempregado no dia seguinte. Título não paga aluguel."
OS 100 ANOS DE NELSON MANDELA
Lucas Seco, UOL Educação, 16.07.2018
Esse ano comemora-se o centenário de nascimento de Nelson Mandela, um dos maiores líderes do século XX. Por esse motivo, o assunto pode aparecer nos principais exames vestibulares do país. Mas, antes de falar de Mandela, vamos contextualizar um pouco e pensar a história da África do Sul.
Esse país africano, com uma enorme multiplicidade de grupos étnicos nativos, foi, ao longo do século XIX, colonizado por brancos europeus, particularmente ingleses e holandeses. Aos poucos, os brancos foram controlando a economia e as estruturas políticas e criaram um regime segregacionista conhecido como Apartheid a partir de 1948. A característica mais importante do Apartheid é que transformava o racismo e o segregacionismo em uma política de Estado totalmente legalizada.
Mandela nasceu em julho de 1918, membro da etnia Xhosa, frequentou a escola e mais tarde a faculdade de Direito. Ainda na juventude, Mandela foi militante estudantil na luta contra a política segregacionista e, posteriormente, uniu-se ao Congresso Nacional Africano, conhecido também pela sigla CNA (ou em inglês African National Congress, ANC). O CNA é um movimento e um partido político sul-africano que existe até hoje. No início, Mandela teve uma militância política pacífica, porém, com o passar dos anos, e, principalmente após episódios de violência da polícia sul-africana contra os negros, ele aderiu à luta armada.
Em 1961, Mandela tornou-se líder da Umkhonto we Sizwe (“Lança da Nação” ou MK), espécie de braço armado do CNA. Nessa oportunidade, passou por treinamento paramilitar em vários países com o objetivo de levar adiante a resistência armada contra o governo branco da África do Sul. Posteriormente, acabou sendo preso, levado a julgamento e passou 27 anos na prisão.
Durante os anos de cárcere, Mandela foi se tornando um símbolo da resistência na luta contra o Apartheid. Os militantes na África do Sul, além de movimentos e campanhas no mundo inteiro, pediam a libertação do grande líder sul-africano. Em1990, em meio a pressões internacionais e após intensas negociações, o presidente Frederik de Klerk libertou Nelson Mandela. Os dois líderes ganharam o Prêmio Nobel da Paz em 1993.
Aos 75 anos, Nelson Mandela foi eleito presidente e governou a África do Sul entre os anos de 1994 e 1999, sendo considerado o principal responsável pela transição para o fim do regime segregacionista e a construção de um novo país. O governo de Mandela ficou marcado pela reconciliação interna e externa, assim ganhando o respeito internacional.
A luta contra o Apartheid teve inúmeros movimentos internos e externos, além de integrantes ilustres como Steve Biko, famoso ativista sul-africano, e o arcebispo Desmond Tutu, também ícone da resistência na África do Sul. Porém, Nelson Mandela, por sua trajetória de dificuldades e principalmente pela forma como conduziu o país, sem revanchismos, acabou se tornando uma referência mundial e um dos principais líderes do século XX.
Morreu aos 95 anos, em 2013, na África do Sul.
Prof. Marcos Antonio Lucena - Secretário Regional
Profa. Rejane Mansur Nogueira - Secretária Adjunta
José Antônio Aleixo da Silva (Editor)Professor titular da UFRPE e Conselheiro da SBPC.
Matheus Santos Veras
Designer do Jornal