Notícias:
"CARTA DE PERNAMBUCO". DOCUMENTO RESULTANTE DO SEMINÁRIO TEMÁTICO DA SBPC
"POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O BRASIL QUE QUEREMOS"
FACEPE LANÇA O EDITAL DE BOLSAS DE PÓS-GRADUAÇÃO PARA O 2º SEMESTRE DE 2018
Notícias FACEPE, 14.05.2018
O NOBEL QUE AJUDOU A DESENVOLVER A FÍSICA NO BRASIL E PULOU CARNAVAL
Ildeu de Castro Moreira*, 11.05.2018
NAGIB NASSAR DÉCADAS DE PESQUISA RECONHECIDAS PELO CNPq
CIENTISTA POTIGUAR GRADUADO PELA UFRN TORNA-SE IMORTAL DA CIÊNCIA
Tribuna do Nordeste, 10.05.2018
ADEUS, MESTRE COIMBRA
Planeta COPPE Notícias, 16.05.2018
ABERTAS AS INSCRIÇÕES PARA O XXIX PRÊMIO JOVEM CIENTISTA COM O TEMA:
"INOVAÇÕES PARA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL"
SALVAR A ÁGUA E O SOLO NO NOSSO SEMIÁRIDO
Washington Novaes, O estado de São Paulo, 11.05.2018
DESCOBERTA NA AMAZÔNIA ENZIMA PARA FABRICAR ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO
Agência Fapesp, 14.05.2018
TECNOLOGIA INÉDITA DE MONITORAMENTO DA AMAZÔNIA COMEÇA A FUNCIONAR
Site Inovação Tecnológica, 11.05.2018
REVOLUÇÃO NA NEUROCIÊNCIA: NEURÔNIOS DO CÉREBRO NÃO MORREM COM A IDADE
Diário da Saúde, 11.05.2018
SERÁ QUE O MAL DE PARKINSON COMEÇA NO INTESTINO?
Diana Kwon, Scientific American Brazil, Maio 2018
CIENTISTAS IDENTIFICAM A `MELHOR IDADE` PARA APRENDER UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA
BBC brasil.com - Agência Brasil, 15.05.2018
DOMINANDO OS MAPAS: A CHAVE PARA O FUTURO DA DIREÇÃO
GeoDireito, 13.05.2018
CURSO ATO DE DESENHAR (GRÁTIS)
Plínio Santos
"CARTA DE PERNAMBUCO". DOCUMENTO RESULTANTE DO SEMINÁRIO TEMÁTICO DA SBPC
"POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O BRASIL QUE QUEREMOS"
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) completa 70 anos em julho deste ano. Sua consistente trajetória em defesa do desenvolvimento científico da nação exige que ela alerte toda a população brasileira para a atual destruição em curso do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), construído a duras penas por várias gerações de brasileiros e brasileiras. Laboratórios, escolas, universidades, institutos federais e institutos nacionais estão sendo sucateados ou estão até mesmo na iminência de serem fechados. Desapareceu o ministério integralmente dedicado à C&T e o orçamento para investimento nessa área voltou a níveis de 2002, valor reduzido a 1/3 do que foi aplicado oito anos atrás. Os atuais cortes drásticos nos recursos para CT&I, após mais de uma década de aumento significativo, colocam todo esse investimento anterior, em recursos e em pessoal qualificado, em risco. Estão ameaçadas a continuidade das pesquisas e a formação de novos cientistas.
Isto significa que o futuro do Brasil está em jogo, já que ciência e tecnologia é um fator do qual depende o desenvolvimento econômico e social de qualquer nação contemporânea. É necessário que se estabeleçam, em futuro próximo, políticas públicas que tenham a ciência e a tecnologia como elementos essenciais de um processo de desenvolvimento sustentável, que conduza ao aumento da riqueza nacional, que deve ser repartida de forma menos desigual, e da qualidade de vida da população estabelecendo um equilíbrio entre o econômico, ambiental e social.
Diante deste cenário, em um ano de eleições amplas no âmbito executivo e legislativo, tanto a nível federal quanto estadual, é essencial que a comunidade científica brasileira, por meio de sua entidade científica mais ampla e abrangente, a SBPC, aponte com nitidez os caminhos que vislumbra para reverter a grave crise atual.
No dia 13 de abril de 2018, no auditório da Fundação Oswaldo Cruz no Campus da Universidade Federal de Pernambuco em Recife, a SBPC promoveu um seminário temático para debater políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação que possam recolocar o Brasil nos trilhos do desenvolvimento sustentável. Foi o primeiro de oito seminários temáticos da SBPC, da série “Políticas Públicas para o Brasil que Queremos”, que serão realizados neste semestre em diversos estados brasileiros.Ao longo de um dia de intensos debates, doze pontos essenciais para a reconstrução da ciência brasileira foram levantados:
- A recriação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação inteiramente destinado a esta área. Ele deve estar articulado e apoiar os órgãos de CT&I estaduais e municipais e, em especial, as Fundações de Amparo à Pesquisa que estão em grave crise;
- A revogação da Emenda Constitucional 95 (a chamada Lei do Teto) ou a sua alteração radical;
- O impedimento de contingenciamento dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e a recuperação paulatina dos recursos já contingenciados. O uso adequado e o acompanhamento permanente de todos os fundos públicos de apoio a atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D);
- A recuperação dos níveis orçamentários de investimento em CT&I ao valor máximo do período 2009-2014;
- O estabelecimento da meta de investir 2,0% do Produto Interno Bruto nos recursos para P&D nos próximos anos, com um planejamento efetivo para alcançar a meta;
- O apoio e o fortalecimento dos programas e instrumentos essenciais à C&T, como os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), o Edital Universal e o Programa de Infraestrutura da Finep (PROINFRA), bem como a consolidação e modernização de centros nacionais de equipamentos multiusuários;
- O cumprimento dos acordos internacionais em andamento na área cientifica e o apoio à participação do Brasil nos grandes programas internacionais de pesquisa que forem julgados adequados para o país;
- A efetiva aplicação nos níveis federal, estadual e municipal, do novo Marco Legal de CT&I, e o seu aprimoramento, a partir da avaliação de seu funcionamento. Remoção ou aperfeiçoamento de outras legislações que dificultem a realização de pesquisas científicas e tecnológicas;
- A construção de um Plano Nacional de CT&I, com prioridades conectadas com as grandes questões nacionais, e o estabelecimento de projetos mobilizadores nacionais, em articulação com uma política industrial moderna e com o apoio a processos e investimentos em inovação nas empresas. O Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) deve ser o órgão articulador desse Plano, que deve destacar o papel decisivo das estruturas estaduais e regionais de CT&I;
- A melhoria da qualidade da educação em todos os níveis, em particular a educação científica, com a valorização salarial e simbólica do professor da educação básica, a utilização de metodologias de ensino baseadas na investigação e o uso adequado de política de cotas;
- O estabelecimento de gestões públicas que levem em conta os resultados provenientes do conhecimento científico, respeitem o meio ambiente e promovam a inovação e a inclusão sociais;
- A defesa da soberania nacional em questões estratégicas como a Petrobrás, a exploração do pré-sal, as fontes de energia solar e eólica, a indústria aeronáutica nacional, a política espacial brasileira, e o Marco Civil da Internet.
Uma demanda especifica de Pernambuco e do Nordeste foi também considerada importante: a reativação da representação do MCTI no Nordeste, que possui um Conselho Consultivo envolvendo universidades, instituições de pesquisa, setor industrial privado etc, para traçar planos para o desenvolvimento da região.
Estes pontos constituem uma proposta preliminar de agenda mínima para ser discutida com as instâncias da SBPC, com outras sociedades científicas e com os demais setores da sociedade de modo a constituir a base para o documento sobre políticas públicas para CT&I a ser entregue aos candidatos à Presidência da República. Documentos similares, tendo tais pontos como referência, serão também construídos coletivamente e apresentados aos candidatos ao Congresso Nacional e também aos candidatos ao Executivo e ao Legislativo na escala estadual. Para que tais ações ganhem maior amplitude, é essencial uma aproximação entre a comunidade científica e suas entidades com os movimentos sociais e com outros setores organizados da sociedade brasileira.
As eleições de 2018, que devem ser efetivamente livres e democráticas, desempenharão um papel crucial para a definição dos rumos do Brasil no século 21. Em função das decisões governamentais em curso, corre-se o sério risco de desnacionalização de recursos e cérebros. É imperativo que os candidatos a cargos eletivos se pautem por uma agenda político-científica-tecnológica capaz de reverter o atual curso de desmontagem do sistema nacional de CT&I. A SBPC se posiciona em defesa das conquistas científicas e educacionais da nação, e conclama todas e todos a esse debate.
Durante o seminário temático a grande maioria dos participantes expressou também sua preocupação com a situação geral no país, na qual a CT&I está inserida, e com os graves retrocessos vivenciados recentemente nos campos social, ambiental, econômico e político, como resultado de ações de um governo que não tem o respaldo do povo brasileiro para alterações tão drásticas na legislação e nas políticas públicas. Tais preocupações se estenderam para os direitos civis que devem existir e serem efetivos em uma democracia. A Constituição brasileira deve ser respeitada por todos os poderes, inclusive o Poder Judiciário, e todos os cidadãos, em particular os gestores, os políticos e os candidatos, de todas as vertentes, devem ser tratados com os mesmos direitos e garantias constitucionais, o que não vem ocorrendo.
FACEPE LANÇA O EDITAL DE BOLSAS DE PÓS-GRADUAÇÃO PARA O 2º SEMESTRE DE 2018
Notícias FACEPE, 14.05.2018
A FACEPE lança o edital 09/2018 do Programa de Bolsas de Pós-Graduação (PBPG) que distribuirá 50 (cinquenta) bolsas de mestrado e 30 (trinta) de doutorado para estudantes ingressantes exclusivamente no 2º semestre de 2018.
O Programa de Concessão de Bolsas de Pós-Graduação da FACEPE objetiva ampliar a oferta de bolsas de pós-graduação stricto sensu (mestrado acadêmico e doutorado) para o atendimento à formação de recursos humanos qualificados, com ênfase em áreas de interesse estratégico para o desenvolvimento do estado, bem como na consolidação de cursos novos e na interiorização das atividades de pesquisa.
O encaminhamento (apenas eletrônico) das propostas deverá ser realizado pelos coordenadores dos PPGs até 20/06/2018.
Acesse aqui o edital e também a oferta de complementação de bolsas por terceiros.
O NOBEL QUE AJUDOU A DESENVOLVER A FÍSICA NO BRASIL E PULOU CARNAVAL
Ildeu de Castro Moreira*, 11.05.2018
Richard Feynman, que completaria cem anos nesta sexta (11), contribuiu para estabelecer o ensino da ciência no país
[RESUMO] O Nobel americano Richard Feynman, que completaria cem anos este mês, foi personagem central para o desenvolvimento da física no Brasil. Com palestras, publicações e apoio à consolidação de instituições científicas, contribuiu para estabelecer o então incipiente ensino da ciência no país.
O dia 11 de maio deste ano marca o centenário de um dos cientistas mais influentes do século 20: o norte-americano Richard Feynman (1918-1988), que se destacou por seus estudos seminais em vários domínios da física teórica, em particular física quântica e de partículas e teoria do hélio líquido superfluido.
Extraordinariamente criativo e original, Feynman recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1965 (com Julian Schwinger e Sin-Itiro Tomonaga) pelas contribuições independentes ao desenvolvimento da teoria da eletrodinâmica quântica. Em 1999, em pesquisa realizada com físicos de todo o mundo, foi considerado um dos dez cientistas mais importantes de todos os tempos.
Mas sua fama não se esgota aí. Feynman é reconhecido por ser um professor excepcional; suas famosas “Lectures on Physics” (“Lições de Física”) são referência universal acerca dos fundamentos dessa área.
Em 1966, fez uma célebre palestra com o título “Há muito espaço lá embaixo”, na qual chamou a atenção para o enorme potencial tecnológico existente na escala atômica. Ela é considerada o ponto de partida de um novo ramo: a nanotecnologia.
Em 1986, teve papel de destaque na comissão que investigou as causas do acidente da nave espacial Challenger. Fez uma brilhante demonstração pública sobre o efeito da baixa temperatura nas vedações de borracha do tanque de combustíveis.
Seu espírito crítico, ao contestar avaliações anteriores do acidente, levou-o a enunciar uma definição mordaz: “A ciência é a crença na ignorância dos experts”.
Feynman esteve no Brasil algumas vezes —a primeira em 1949, a última em 1966. Apreciador da música em geral e do samba em particular, que considerava um ritmo alegre e espontâneo, desfilou em bloco carnavalesco do Rio de Janeiro em 1952. Educador inveterado, lecionou por aqui e deu importante contribuição nos primórdios da física teórica brasileira, na década de 1950, além de ter influenciado na renovação do ensino de física no país.
Na sua primeira passagem pelo Brasil, Feynman veio a convite do físico brasileiro Jayme Tiomno, que conhecera na Universidade de Princeton (EUA). Permaneceu no Rio por seis semanas ministrando cursos no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Na palestra “A eletrodinâmica quântica”, apresentada em português em seminário organizado pela Academia Brasileira de Ciências, descreveu os resultados obtidos por ele, Schwinger e Tomonaga.
Deu uma entrevista para um jornal carioca sobre eletrodinâmica quântica, a sua nova teoria do pósitron e a interação de partículas nucleares.
Nela, destacou seu apreço pelo novo núcleo de pesquisa em física, o CBPF, “formado por um grupo abnegado de pesquisadores, sob a direção do professor Cesar Lattes”.
Feynman afirmou: “Foi para mim um privilégio dar a minha colaboração a essa prestigiosa organização que, embora ainda em início, tantos serviços está prestando ao desenvolvimento da ciência no Brasil. Creio que o centro está destinado a grandes realizações em benefício do Brasil e da ciência, merecendo bem toda cooperação que lhe possam prestar o governo e a população”.
Dois anos depois, ele retornaria ao Brasil, em período sabático, após convite de José Leite Lopes, seu amigo e grande físico brasileiro, cujo centenário de nascimento também é comemorado neste ano. Feynman estava incomodado com o clima de falta de liberdade resultado do macartismo em seu país.
Atuou como professor no CBPF e na Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro), de setembro de 1951 a maio de 1952. Lecionou um curso de eletromagnetismo na graduação e outros dois, mais avançados, sobre física nuclear e eletrodinâmica quântica.
Apresentou duas comunicações científicas em português na terceira Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Belo Horizonte. Em 1952, escreveu um trabalho sobre a teoria do méson, com Leite Lopes, e publicou depois, nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, um interessante artigo de revisão sobre a situação da física teórica.
Em 1953, de novo no Brasil, fez pesquisas sobre a teoria atômica do hélio líquido que seriam publicadas em revistas internacionais em 1953 e 1954. Elas foram contribuições muito relevantes para o entendimento do estranho fenômeno de superfluidez que pode ocorrer com o hélio a temperaturas muito baixas.
Mas o acontecimento mais conhecido de Feynman no Brasil ocorreu em maio de 1952, quando fez, no Rio, uma palestra instigante sobre o ensino de física, com base em sua experiência na educação local. O destaque veio do relato feito em seu livro “O Senhor Está Brincando, Sr. Feynman!” (1985), que se tornou um best-seller mundial.
Feynman descreveu ali, de forma irônica, situações de sua interação com estudantes brasileiros que ilustravam sua crítica ao ensino da física baseado na memorização e sem a dimensão investigativa. Oswaldo Frota-Pessoa, biólogo brasileiro, escreveu em um artigo de jornal:
“Assisti [a] uma conferência espantosa. Um físico de fama mundial no setor da eletrodinâmica quântica, Richard P. Feynman, do CalTech (EUA), nos disse, em português claro, embora estropiado (um ano de Brasil), que, em verdade, não estamos ensinando ciência e nossos alunos não estão aprendendo. (...) E o pior é que ele tem toda a razão. Feynman é um homem raro: diz diretamente o que pensa e tudo o que pensa; e diz com tal entusiasmo e amor que se torna ao mesmo tempo contundente e encantador”.
Não foi pequeno o impacto que as observações de Feynman produziram. Leite Lopes mencionou que ele e Tiomno foram estimulados a fazer a tradução de um livro norte-americano para o ensino de física.
Alguns anos depois, em junho de 1963, Feynman voltaria a discutir o problema de ensinar física na América Latina em palestra na 1ª Conferência Interamericana de Ensino de Física, ocorrida no Rio.
Sua preocupação com o desenvolvimento da física no Brasil ficou evidente ao ajudar na recuperação da biblioteca do CBPF, destruída por um incêndio em 1959. Para isso, enviou uma carta a muitos de seus colegas dos EUA solicitando revistas científicas e livros para o novo prédio. Ele mesmo doou suas coleções de algumas das revistas científicas de física mais importantes da época.
As visitas de Feynman também contaram com momentos descontraídos. Encantou-se pelo Carnaval carioca, aprendeu a tocar frigideira, ensaiou durante meses e desfilou, em fevereiro de 1952, no bloco Os Farsantes de Copacabana, que ganhou o primeiro lugar de um desfile naquele ano.
Em fevereiro de 1966, já tendo recebido o Nobel, veio acompanhado de sua esposa, Gweneth, como convidado especial da Prefeitura do Rio de Janeiro. Folião animado e alegre, assistiu a desfiles e participou de alguns dos bailes mais famosos da cidade.
Feynman se dizia “utter ignoramus” (totalmente ignorante) em relação à política, mas se incomodava com a repressão às ideias e expressava preocupação com a democracia e os direitos humanos. Como exemplo disso, recusou convites para ir à União Soviética “por sentir-se desconfortável em um país onde havia perseguições por causa de ideias”.
Na sua vinda ao Brasil, em 1966, condenou, em entrevistas, as perseguições políticas a cientistas e físicos brasileiros, entre os quais mencionou seus colegas Mario Schenberg e José Leite Lopes. Talvez por antecipar uma possível crítica de Feynman à repressão política, foi suspensa, pelas autoridades aeronáuticas, a recepção com as escolas de samba que ele receberia ao desembarcar.
O Nobel de Física não retornaria mais ao Brasil.
As vindas de Richard Feynman deixaram marcas na física do país. Se os tempos ditatoriais não tivessem afastado das universidades e instituições de pesquisa alguns de seus amigos e colegas brasileiros, talvez este grande cientista tivesse colaborado de maneira mais acentuada para o desenvolvimento da ciência na terra de que tanto gostava.
*Ildeu de Castro Moreira é professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Foi diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do MCTI (2004-2013). É autor de “Einstein e o Brasil” (Editora UFRJ).
NAGIB NASSAR DÉCADAS DE PESQUISA RECONHECIDAS PELO CNPq
Prof. Nagib Nassar e o presidente do CNPq Mário Neto Borges
Geneticista, botânico e melhorista de plantas que dedicou a pesquisa por mais de cinquenta nove anos Nagib Nassar, professor emérito da Universidade de Brasília , acaba de receber o título de Pesquisador Emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), uma das mais importantes honrarias brasileiras na área científica. A escolha do Nagib foi motivada por sua contribuição cientifica tanto de ensino como na pesquisa de melhoramento de plantas com enfoco da cultura da mandioca.
Ao longo de seis décadas (se formou em 1958 e logo ingressou na Universidade), Nagib tem se dedicado ao ensino, à pesquisa inovadora e à publicação na área de melhoramento genético e botânica. Foi docente e pesquisador da universidade de Brasília onde formou gerações de agrônomos e biólogos, introduziu inúmeros disciplinas e conhecimentos e formulou métodos inovadoras de melhoramento da cultura da mandioca.
Suas pesquisas e inovações como transferência de genes uteis de espécies silvestres a variedades cultivadas e descobertas por ele sobre apomixia, quimera e transferência de conteúdo proteico e ácidos armênicos altos a mandioca prometem uma revolução no melhoramento da mandioca e outras culturas.
Pela qualidade de suas pesquisas e seus resultados, recebeu uma das mais altas e prestigiados prêmios mundiais e dedicou todo valor do prêmio (cem mil dólar), e usou seus próprios recursos para criar uma fundação que serve e apoia pesquisadores jovens que trabalham com cultura da mandioca oferecendo os bolsas durante todo período de seu estudo. Além de mestrandos e doutorandos brasileiros beneficiou de sua fundação alunos de países africanos que estudam a cultura.
O Nagib Nassar é um dos pesquisadores com maior tempo de atuação e produtividade no CNPq tendo ingressando como bolsista da instituição desde 1976, e continuou bolsista até este ano (2018). Na Universidade Brasília, após sua aposentadoria obrigatória em 2008, por ter chegado aos 70 anos, e ter recebido título honorário de professor Emérito da Universidade no ano seguinte (2009), continua pesquisando e ensinando até o presente momento.
Veja texto completo de sua
publicação http://www.geneconserve.pro.br/site/pags/reprints.php
CIENTISTA POTIGUAR GRADUADO PELA UFRN TORNA-SE IMORTAL DA CIÊNCIA
Tribuna do Nordeste, 10.05.2018
O cientista potiguar José Renan de Medeiros, graduado em física (1976) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mestre em astronomia (1980) pelo Observatório Nacional, e doutor em ciências (1990) pela Universidade de Genebra, na Suíça - entre diversas outras titulações e estudos em espectroscopia, fotometria estelar, rotação, magnetismo, nucleossíntese e multiplicidade estelar e exoplanetologia, sendo atualmente professor no Departamento de Física Teórica e Experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), tomou posse como acadêmico titular da Academia Brasileira de Ciências, em sessão magna no Museu do Amanhã, na cidade do Rio de Janeiro.
José Renan de Medeiros, graduado em física pela UFRN, tornou-se o novo imortal da ciência
O professor Renan, como é carinhosamente conhecido por seus milhares de ex-alunos dos Colégios Winston Churchill, Marista e da UFRN, é o primeiro Norte-rio-grandense, e o primeiro professor da UFRN, a entrar na ABC. Sua eleição ocorreu em dezembro último, com aprovação dos membros titulares da Academia de todas as áreas da ciência.
Além de ser um cientista de grande destaque internacional, conduzindo a construção de instrumentos científicos para a busca de planetas habitáveis fora do Sistema Solar - junto com colaboradores de diversos países, o Prof. José Renan de Medeiros é também membro de comissões da CAPES e do CNPq. No cenário internacional, nosso imortal mantém colaborações com cientistas de Universidades e Institutos de pesquisas de 10 países, da América do Sul, América do Norte, Europa, Ásia e África.
Sobre a sensação de tornar-se imortal da Academia Brasileira de Ciências, o professor Renan Medeiros responde que, “enxergo nessa conquista sobretudo uma vitória institucional e uma quebra de paradigma por abrir as portas para que outros cientistas potiguares também possam chegar ao panteão da ciência brasileira. ”
Medeiros, diz ainda que, “sinto nessa conquista o reconhecimento da comunidade científica do país ao meu trabalho como pesquisador e educador ao longo de quase quatro décadas de vida dedicadas à Universidade. ”
Academia Brasileira de Ciências
Fundada em 3 de maio de 1916, a Academia Brasileira de Ciências tem como missão reconhecer e estimular o ingresso em seus quadros dos mais importantes pesquisadores brasileiros que, pela liderança que exercem no avanço das atividades científicas e tecnológicas do País, podem ser considerados os representantes mais legítimos da comunidade científica nacional, além de identificar e estimular jovens com grande potencial para Ciência, e representar a comunidade científica brasileira, nacional e internacionalmente, visando a implementação de uma política de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), que promova o desenvolvimento da Ciência em benefício da sociedade. A ABC promove ainda a mobilização da comunidade científica para atuar junto aos poderes constituídos, visando o avanço científico e tecnológico nacional e o incentivo à inovação.
ADEUS, MESTRE COIMBRA
Planeta COPPE Notícias, 16.05.2018
A Coppe/UFRJ informa, com grande pesar, o falecimento do seu fundador, professor Alberto Luiz Galvão Coimbra, 94 anos, na manhã desta quarta-feira, 16 de maio de 2018. Nascido em 1923, no Rio de Janeiro, Coimbra fundou a Coppe, em 1963, a primeira pós-graduação em Engenharia do Brasil, hoje o maior centro de ensino e pesquisa da América Latina na área.
O velório do professor Alberto Luiz Galvão Coimbra, será realizado, nesta quinta-feira, 17 de maio, no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, a partir das 10h. A cerimônia de cremação terá início às 16h.
Mestre em Engenharia Química pela Universidade de Vanderbilt (1949), Coimbra defendeu energicamente um modelo de ensino baseado em horário integral, com dedicação exclusiva. Isso em uma época em que ser professor universitário no Brasil era só uma atividade extra, e quando as escolas de Engenharia, então existentes, se preocupavam, basicamente, em formar profissionais para o mercado, ele queria investir em pesquisa.
Baseada em três pilares – excelência acadêmica, dedicação exclusiva de professores e alunos e aproximação com a sociedade –, a pós-graduação criada por Coimbra inspirou e serviu de modelo para outros cursos de pós-graduação criados posteriormente no Brasil, mudando os rumos do sistema universitário no país.
Coimbra fez uma viagem aos Estados Unidos em 1960, a convite de seu orientador, professor Frank Tiller, para conhecer diversas universidades americanas. A disputa entre os Estados Unidos e a União Soviética pela primazia nos avanços tecnológicos provocara uma reformulação nos cursos de Engenharia americanos. Havia uma nova ênfase na pesquisa científica, uma valorização dos fundamentos da física e da matemática. O entendimento influenciou a ideia visionária de Coimbra de estabelecer um curso de pós-graduação no Brasil, em uma época em que era rara tal continuidade nos estudos. Era o que faltava ao Brasil, achava Coimbra, já tomado pelo sonho de ver brotar tecnologia na terra do café.
Exílio
Determinado, Coimbra ocupou duas salas do prédio da Praia Vermelha, destinadas a professores quase sempre ausentes, para acomodar os primeiros alunos do curso de mestrado em Engenharia Química, embrião do programa de pós-graduação em Engenharia, que viria a ser a Coppe.
Com poucos recursos, buscava convênios para trazer professores estrangeiros, fossem americanos ou russos, em pleno regime militar. Por conta desta atuação em prol de uma ciência independente, foi convocado para depor na Polícia Federal e fichado, com direito a humilhação. Teve seu rosto coberto por capuz e conduzido, coercitivamente ao Quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca, onde funcionava o DOI-Codi.
Em 1973, o Conselho Universitário decidiu que Alberto Luiz Coimbra seria proibido de exercer postos de chefia. O fundador da Coppe deixou então a universidade e foi acolhido pelo amigo José Pelúcio Ferreira, então na direção da Finep, empresa pública financiadora de ciência e tecnologia. Lá passou dez anos exilado da vida universitária, período que considerou “o pior de sua vida”.
A reabilitação veio em 1981, ainda durante o regime militar, quando recebeu o Prêmio Anísio Teixeira, do Ministério da Educação. “Quando viram que o Ministério da Educação ia me dar o prêmio, tiveram de revogar a proibição de ocupar cargos de chefia na UFRJ”, contou o professor. De volta à Coppe em 1983, Coimbra assumiu a coordenação do Programa de Engenharia Química, o primeiro curso da Coppe, no qual permaneceu como pesquisador até se aposentar, em 1993, já com as merecidas honrarias, tornando-se Professor Emérito da UFRJ. Em 2015, tornou-se Pesquisador Emérito do CNPq.
Em 1995, a instituição que Coimbra sonhou e construiu deu-lhe um dos maiores reconhecimentos que se pode receber em vida: passou a se chamar Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. Manteve-se, porém, a sigla que ele escolhera 30 anos antes: Coppe.
Aposentado, residiu durante anos em uma casa em Teresópolis, em cuja fachada tremulava a bandeira do Botafogo, com sua esposa Marlene, com a qual permaneceu casado por 40 anos. Entre os atrasos do Brasil, um dos que mais lamentava era que o ensino em tempo integral implantado na Coppe, que se estendeu para a graduação, não tenha chegado aos ensinos médio e fundamental. “Se pagarem bem à professorinha e colocarem o aluno na escola das 9 às 15 horas, o Brasil dá um salto”, garantia. O idealismo não pede aposentadoria.
Leia a entrevista pelo professor e publicada na revista “Engenharia e inovação: a arte de antecipar o futuro”.
ABERTAS AS INSCRIÇÕES PARA O XXIX PRÊMIO JOVEM CIENTISTA COM O TEMA: "INOVAÇÕES PARA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Instituído pelo CNPq em 1981, o Prêmio conta com a parceria da Fundação Roberto Marinho e com o patrocínio do Banco do Brasil e da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
A premiação consiste em mais de R$ 1,2 milhão, entre valores em espécie, computadores portáteis, troféus, diplomas e bolsas de estudo do CNPq (Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado).
O Prêmio será entregue pelo Presidente da República, até dezembro de 2018, no Palácio do Planalto.
As inscrições estarão abertas até às 18h (horário de Brasília/DF) do dia 31 de julho de 2018 e devem ser realizadas no endereço eletrônico www.jovemcientista.cnpq.br. No site encontram-se todas as informações sobre o Prêmio: categorias, linhas de pesquisa, regulamento, vídeos e material de divulgação.
Atenciosamente,
José Ricardo de Santana
Diretor de Cooperação Institucional
SALVAR A ÁGUA E O SOLO NO NOSSO SEMIÁRIDO
Washington Novaes, O estado de São Paulo, 11.05.2018
Pessoas habituadas a acompanhar o noticiário dos jornais e da televisão devem ter-se surpreendido nas últimas semanas com as informações sobre a frequência maior e a gravidade dos chamados “eventos climáticos” no País. E não apenas aqui, mas em todo mundo. Não por acaso, esta semana viu também a realização, em Bonn, na Alemanha, de mais uma rodada de negociações que possam conduzir a um documento de consenso entre os países signatários do Acordo de Paris (o Brasil entre eles), que buscam evitar que a temperatura média do nosso planeta ultrapasse uma alta de 1,5 grau Celsius (embora muitos cientistas digam que será inevitável uma elevação de 2 graus ou mais). Essas altas poderão ter efeitos desastrosos em grandes partes do mundo (UNFCCC, abril de 2018).
Por aqui, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) aprovou documento sobre pesquisas do Programa de Pós-Graduação em Economia do campus Sorocaba segundo as quais gêneros alimentícios de origem animal – especialmente carne bovina e laticínios – “lideram o ranking de alimentos cuja produção ocasiona mais emissões de gases do efeito estufa, sendo responsáveis por 93% a 98% das emissões, dependendo da região do país”. Já entre alimentos de origem vegetal, “a produção de arroz desponta como principal responsável pela emissão desses gases” (UFSCar, 2/5). E mais: o sistema agroalimentar tem afetado as mudanças climáticas por ser uma das principais fontes de emissões de gases do efeito estufa, sobretudo de metano – pela fermentação entérica do gado e pelo cultivo de arroz; de óxido nítrico, razão do manejo dos solos e do uso de fertilizantes nitrogenados – e dióxido de carbono, dado o uso de combustíveis fósseis nos vários segmentos da cadeia agroindustrial, como ressalta o professor Danilo Rolim Dias de Aguiar, do Departamento de Economia (Comunicação Ufscar, 2/5).
Além disso tudo, eventos climáticos extremos e desastres – ressaltam outros documentos da área – já atingiram milhões de pessoas, além de perdas de US$ 190 bilhões anuais.
Numa cidade do Paquistão, Nawabshah, a temperatura há poucos dias chegou a 50,2 graus Celsius. Em Karachi, 1.200 pessoas morreram, num dos países mais vulneráveis a mudanças do clima. Segundo a publicação Nature Climate Change, ondas de calor nos próximos três anos atingirão 30% da população.
Não estamos imunes a fenômenos como esses. A Articulação Semiárido está “denunciando a morte do Rio São Francisco” e exige “ações imediatas” para “reverter o quadro de penúria, abandono, exploração, descaso e privatização de suas águas”. Os 160 municípios que o rio banha em Minas Gerais, na Bahia, em Pernambuco, Alagoas e Sergipe “passam por um dos piores momentos de sua existência” (ASA Brasil – Articulação Semiárido, 2/5). Na foz do rio, a vazão média, que antes era de 2.943 metros cúbicos por segundo, agora não ultrapassa 554 metros cúbicos por segundo. Em consequência, o mar avança “rio adentro” mais de 50 quilômetros e já compromete o abastecimento de água potável para as populações urbana e rural, por causa da alta taxa de salinidade da água, e aumenta a taxa de hipertensão entre moradores da região.
O professor Osvaldo Ferrera Valente, da Universidade Federal de Viçosa (MG), afirma que a construção de “tantas barraginhas” está sendo feita, com os parcos recursos disponíveis, “sem obedecer a fundamentos da hidrologia de produção”, não onde a ciência recomenda, e sim onde o terreno permite. “Implanta-se e pronto: cumprida a obrigação e dinheiro jogado fora. E a situação continua cada vez pior.”
Serão altos os custos para enfrentar o problema das águas no Semiárido. Desde 2016 a Agência Nacional de Águas vem desenvolvendo uma análise de custo-benefício de medidas de adaptação, por exemplo, na bacia hidrográfica do Piancó-Piranhas-Açu, entre os Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, onde têm sido frequentes as variações climáticas. Há mais de cinco anos a região vive dificuldades sociais e econômicas por falta de chuvas e escassez de água potável. Em razão do nível crítico das chuvas e do armazenamento nos principais reservatórios, a população segue vulnerável e, em muitos casos, depende de caminhões-pipa.
Não bastasse, a contaminação do solo já é um desafio para a produção de alimentos, a segurança alimentar e a saúde humana, mas ainda pouco se sabe sobre essa temática – adverte um relatório da FAO, organização da ONU para a agricultura e a alimentação (FAO, 2/5). Diz o documento que a industrialização, as guerras, a mineração e a intensificação da agricultura contribuíram para o desafio da segurança alimentar e da saúde humana. Mas ainda pouco se sabe sobre a escala desse desafio e dessa ameaça.
O despejo descontrolado de dejetos nas cidades agrava o problema. “A contaminação dos solos afeta a comida que comemos, a água que bebemos, o ar que respiramos e os nossos ecossistemas”, diz a diretorageral adjunta da FAO, Helena Semedo. “O potencial dos solos para enfrentar a contaminação é limitado e por isso a prevenção da contaminação dos solos deveria ser uma prioridade para o mundo”.
O pouco que sabemos, contudo, contém advertências: na Austrália já se conhecem 80 mil locais com contaminação dos solos; a China informa que 16% de seus solos e 19% das áreas agrícolas estão contaminados; na União Europeia são 3 milhões de lugares contaminados; nos Estados Unidos, 3 mil lugares. A contaminação afeta a segurança alimentar, ao dificultar o metabolismo das plantas e reduzir os rendimentos agrícolas, ao diminuir o consumo humano – sem falar no efeito altamente nocivo do chumbo, do arsênico e de outros produtos químicos e farmacêuticos.
Desde 2061 está aprovado um documento da FAO sobre formatos para enfrentar a contaminação dos solos. Mas pouco se avançou, na prática.
Há mais de cinco anos a região vive dificuldades sociais e econômicas por causa da falta de chuvas.
DESCOBERTA NA AMAZÔNIA ENZIMA PARA FABRICAR ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO
Agência Fapesp, 14.05.2018
Descoberta na Amazônia enzima-chave para obtenção do etanol de segunda geração, ou etanol celulósico.[Imagem: Beta-Glucosidase Amazônica]
Etanol de celulose
A produção do etanol de segunda geração, ou etanol celulósico, obtido a partir da palha e do bagaço da cana-de-açúcar, pode aumentar em até 50% a produção brasileira de álcool.
Nosso país possui a melhor biomassa do planeta, a capacidade industrial instalada, a engenharia especializada e a levedura adequada.
Mas ainda falta completar a composição do coquetel enzimático capaz de viabilizar o processo de sacarificação, por meio do qual os açúcares complexos (polissacarídeos) são despolimerizados e decompostos em açúcares simples. Compor uma plataforma microbiana industrial para a produção do conjunto de enzimas necessárias é o alvo de todas as pesquisas na área.
Um importante resultado acaba de ser alcançado com a descoberta de microrganismos naturais capazes de produzir uma enzima crítica para o êxito do empreendimento. A descoberta foi feita no lago Poraquê, no município de Coari (Amazonas), próximo do Terminal Solimões da Petrobras.
O estudo contou com a participação de pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), da Petrobras, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Enzima para fabricar etanol
Isolada, caracterizada e produzida, a enzima mostrou-se compatível com duas fases essenciais da produção do etanol de segunda geração: a fermentação e a sacarificação. A realização simultânea dessas duas etapas oferece a perspectiva de uma grande redução de custos para a indústria sucroalcooleira, uma vez que as reações podem ocorrer em um único reator e com economia de reagentes.
"A sacarificação é a etapa mais cara do processo. De 30% a 50% do custo do etanol celulósico é despendido com as enzimas necessárias para transformar os açúcares complexos em açúcares simples. E, atualmente, a eficiência da conversão realizada por essas enzimas está entre 50% e 65%. Isso significa que de 50% a 35% do açúcar disponível na biomassa é 'perdido' durante a sacarificação. O grande propósito do nosso estudo foi encontrar biocatalisadores capazes de contribuir para o aumento da eficiência", disse Mário Tyago Murakami, um dos coordenadores da pesquisa.
Segundo o pesquisador, no arsenal de enzimas necessárias, atuando de maneira sinérgica, as beta-glucosidases têm importância fundamental, porque respondem pela última fase da cascata de sacarificação da celulose.
"Sabemos que, à medida que aumenta o percentual do produto da sacarificação, a taxa do processo de sacarificação cai porque a presença do produto inibe a atuação das enzimas. Isso é uma espécie de regra geral. No caso específico, a glicose gerada restringe a atuação das beta-glucosidases. Esse gargalo tecnológico tem sido objeto de estudos exaustivos. Para aumentar a eficiência da sacarificação, é preciso que as beta-glucosidases sejam altamente tolerantes à presença da glicose", disse Murakami.
Devido a especificidades genéticas, decorrentes de diferenças no processo evolutivo, enzimas homólogas podem apresentar variados graus de resistência à inibição pelo produto.
Por isso os pesquisadores partiram para um esforço de bioprospecção, procurando as beta-glucosidases mais adaptadas à biomassa existente no território brasileiro. Para isso, foram investigados os processos naturais que ocorrem em diferentes biomas do país, tanto na Floresta Amazônica como no Cerrado.
Alimentação de celulose
O achado mais promissor ocorreu no lago Poraquê, onde amostras da comunidade microbiana não cultivável local apresentaram genes codificadores de beta-glucosidases com o potencial industrial procurado.
"Em um habitat como o lago Poraquê os microrganismos adaptaram-se a uma alimentação muito rica em polissacarídeos, constituída por resíduos de madeira, folhas de plantas e etc. A enzima beta-glucosidase presente nesses microrganismos é distinta de enzimas homólogas resultantes de pressões evolutivas diferentes", disse Murakami.
O próximo passo será fazer estudos de combinação dessa enzima com os coquetéis enzimáticos fúngicos já existentes, visando o ganho de eficiência no aumento da sacarificação.
"Uma vez extraído o gene de interesse, a partir de bibliotecas gênicas de microrganismos não cultiváveis e de possíveis modificações racionais baseadas no conhecimento da estrutura para aumento de termoestabilidade, ele é transferido para outros hospedeiros por meio de técnicas de biologia molecular. O hospedeiro em questão é o trichoderma, um fungo filamentoso que já possui um arsenal de enzimas ativas sobre carboidratos. Com a adição da beta-glucosidase amazônica, ele terá seu potencial aumentado. Trata-se de potencializar uma plataforma microbiana industrial já existente", disse Murakami.
Bibliografia:
A novel β-glucosidase isolated from the microbial metagenome of Lake Poraquê (Amazon, Brazil)
Danyelle Toyama, Mariana Abrahão Bueno de Morais, Felipe Cardoso Ramos, Letícia Maria Zanphorlin, Celisa Caldana Costa Tonoli, Augusto Furio Balula, Fernando Pellonde Miranda, Vitor Medeiros Almeida, Sandro Roberto Marana, Roberto Ruller, Mario Tyago Murakami, Flavio Henrique-Silva
Biochimica et Biophysica Acta - Proteins and Proteomics
Vol.: 1866, Issue 4, April 2018, Pages 569-579
DOI: 10.1016/j.bbapap.2018.02.001
TECNOLOGIA INÉDITA DE MONITORAMENTO DA AMAZÔNIA COMEÇA A FUNCIONAR
Site Inovação Tecnológica, 11.05.2018
Tecnologia inédita faz primeiro registro de monitoramento de animais na Amazônia. [Imagem: Instituto Mamirauá]
Monitoramento automático
Com o filhote a tiracolo, uma fêmea de macaco-prego faz seu caminho pela floresta até subir numa árvore em busca de alimento. Este pode até parecer um registro comum, mas a cena ganha contornos inéditos por representar um importante passo no conhecimento sobre a Amazônia.
Trata-se do primeiro registro feito por um sistema pioneiro para monitorar a biodiversidade em tempo real. Em abril, os pesquisadores concluíram os testes para o funcionamento da tecnologia, que deverá ajudar na conservação das espécies na Amazônia.
O projeto Providence, colaboração científica internacional liderada no Brasil pelo Instituto Mamirauá, é formado por uma rede de sensores instalada na floresta amazônica. Os equipamentos foram colocados numa área de 3,5 milhões de hectares onde estão as reservas Mamirauá e Amanã - duas das maiores unidades de conservação do país.
Os módulos da tecnologia Providence são equipados com câmeras e microfones, que vão captar, 24 horas por dia, o movimento e o comportamento da vida que habita o interior da floresta.
Transmissão automática
O grande avanço trazido pela tecnologia é a sua capacidade de identificar espécies de animais por imagem e som e transmitir essas informações automaticamente, por satélite, WiFi ou 3G. A ideia é criar um observatório da biodiversidade da Amazônia de fácil acesso para a sociedade.
Segundo o pesquisador Emiliano Ramalho, do Instituto Mamirauá, na próxima fase, o projeto Providence terá uma plataforma online para acesso livre e gratuito à informação gerada a partir da tecnologia.
"Queremos que essas informações sejam úteis para outros pesquisadores, para que a ciência avance. Que o sistema seja usado como ferramenta de educação, de manejo de recursos naturais e conservação pelas comunidades locais e gestores de unidades e, de maneira geral, ser usado para enviar uma mensagem para todo o mundo sobre o que está acontecendo com a biodiversidade na Amazônia", afirmou Ramalho.
Projeto Providence
O Providence é composto por dois módulos de imagem e som que operam em conjunto para gravar e identificar espécies da fauna. Graças ao clima quente e úmido da Amazônia, o sistema é alimentado com painéis de energia solar. Para evitar consumo desnecessário, parte dos dispositivos funciona em estado semidormente, ou seja, é ativada somente quando um animal se aproxima. Completando a estrutura, antenas transmitem os dados - fotos e áudios - para o banco de dados do projeto.
Para a comunicação ser bem-sucedida, as antenas da tecnologia foram instaladas em pontos altos da floresta, em geral, árvores de grande porte, a exemplo da urucurana e do apuí. "Um módulo sonoro também foi implantado dentro de um lago para registrar sons de espécies subaquáticas, como o boto cor-de-rosa e o tucuxi," explica o pesquisador Michel André, do Laboratório de Aplicações Bioacústinas da Universidade Politécnica da Catalunha, que integra a colaboração.
André lembra que as tecnologias de som são um valioso recurso de monitoramento uma vez que conseguem alcançar distâncias maiores de captação do que os dispositivos de imagem. "Então, mesmo que não tenhamos a imagem do animal, seremos capazes de identificá-lo pelo som que ele emite."
Os módulos de som do Providence têm dois microfones - um para frequências sonoras audíveis por seres humanos e outro para sons que escapam aos nossos ouvidos, como os produzidos por morcegos.
Já os módulos de imagem são "os olhos" do sistema e estão habilitados para filmar à luz do dia, na escuridão da mata à noite (com o auxílio de lentes infravermelho) e mesmo em condições climáticas adversas, como em temporais. "Com os testes feitos ao longo do ano passado até o momento, conseguimos adaptar os equipamentos às condições desafiadoras da Amazônia," ressalta o cientista Paulo Borges, da organização científica CSIRO, da Austrália.
A identificação das espécies é feita por um sistema de inteligência artificial desenvolvido pelo Instituto de Computação da Universidade Federal do Amazonas. O sistema, de acordo com a pesquisadora Eulanda Santos, está sendo treinado para reconhecer espécies de animais característicos da Amazônia, como a onça-pintada e o mutum.
REVOLUÇÃO NA NEUROCIÊNCIA: NEURÔNIOS DO CÉREBRO NÃO MORREM COM A IDADE
Diário da Saúde, 11.05.2018
Já se sabia que a plasticidade cerebral mantém-se por toda a vida, embora as tarefas mudem de endereço no cérebro. [Imagem: Wikimedia]
Cérebro se renova em qualquer idade
A teoria científica atualmente aceita estabelece que os adultos não desenvolvem novos neurônios.
É por isso que os cientistas dizem que a memória começa a falhar na velhice, porque nenhum novo neurônio nasceria no hipocampo, uma parte do cérebro responsável pela memória, emoção e cognição.
Contudo, a Dra Maura Boldrini, da Universidade de Colúmbia e do Instituto de Psiquiatria do Estado de Nova York (EUA) afirma que toda a pesquisa científica anterior, que embasava essas conclusões, "pode ser jogada pela janela!"
De fato, parece que o cérebro humano nunca pára de se renovar - homens e mulheres idosos saudáveis podem gerar tantas novas células cerebrais quanto as pessoas jovens.
Neurônios nascem na velhice
A equipe chegou a essa conclusão revolucionária depois de examinar os cérebros de 28 pessoas previamente saudáveis, entre 14 e 79 anos, que morreram subitamente por acidentes. O que se revelou é que pessoas com 79 anos tinham tantos novos neurônios se formando no hipocampo quanto aquelas que tinham 14 anos. Na verdade, alguns cérebros de pessoas mais velhas produziam mais células cerebrais novas do que os cérebros de algumas pessoas mais jovens.
Isso indica que os idosos permanecem mais cognitiva e emocionalmente saudáveis do que se acreditava - ou seja, as perdas cognitivas e de memória na velhice não devem ser consideradas "naturais", devendo haver mecanismos que as expliquem, sobretudo porque nem todos os idosos apresentam essas deficiências.
"Todos conhecemos pessoas que estão na casa dos 90 e poucos anos e estão afiadas," disse a Dra Boldrini. Até certo ponto, sua pesquisa discutindo as teorias aceitas até agora, de que os neurônios parariam de se desenvolver depois da adolescência, explica por que isso é possível.
Menos vasos sanguíneos
Essa mudança de paradigma na neurociência foi possível porque esta é a primeira pesquisa publicada na qual os neurônios recém-formados e o estado dos vasos sanguíneos dentro do hipocampo humano inteiro foram estudados logo após a morte em pessoas de diferentes idades gozando de plena saúde. A equipe se certificou de que as pessoas do estudo não eram cognitivamente deficientes e não sofriam de depressão ou tomavam antidepressivos, já que essas condições podem afetar a produção de novas células cerebrais.
Contudo, a análise também revelou que há menos vasos sanguíneos e menos conexões entre as células do cérebro das pessoas mais velhas - quanto mais idoso o indivíduo, menos novos vasos sanguíneos ele forma.
A equipe pretende agora comparar os cérebros perfeitamente saudáveis com os cérebros de doentes, em busca de explicações para doenças neurodegenerativas e novos tratamentos para condições psicológicas e neurológicas, como Alzheimer e Parkinson.
SERÁ QUE O MAL DE PARKINSON COMEÇA NO INTESTINO?
Diana Kwon, Scientific American Brazil, Maio 2018
Novas evidências ligam a doença degenerativa ao trato gastrointestinal
Georgetown University Medical Center
As primeiras evidências de que o intestino poderia estar envolvido no Mal de Parkinson surgiram há mais de 200 anos. Em 1817, o cirurgião inglês James Parkinson relatou que alguns pacientes portadores da condição que ele denominou “paralisia trêmula” experimentavam constipação. Em um dos seis pacientes que ele descreveu, o tratamento dos problemas gastrointestinais pareceu aliviar os problemas de movimentação associados ao Parkinson.
Desde então, os médicos notaram que a constipação é um dos sintomas mais comuns do Mal de Parkinson, aparece em cerca de metade dos indivíduos diagnosticados com a doença, e frequentemente precede o início das deficiências relacionadas ao movimento. Ainda assim, por muitas décadas, a pesquisa sobre o Parkinson se concentrou no cérebro. Os cientistas inicialmente focaram na perda de neurônios que produzem dopamina, uma molécula envolvida em muitas funções, incluindo o movimento. Mais recentemente, eles também se concentraram na agregação da alfa-sinucleína, uma proteína que se modifica, passando a ter um formato disforme, em pacientes com Parkinson. Uma mudança ocorreu em 2003, quando Heiko Braak, um neuroanatomista da Universidade de Ulm, na Alemanha, e seus colegas propuseram que o Mal de Parkinson pode ter origem no intestino e não no cérebro.
A teoria de Braak foi baseada na observação de que, em amostras post-mortem de pacientes com Parkinson, agrupamentos de alfa-sinucleína chamados de corpos de Lewy apareceram tanto no cérebro quanto no sistema nervoso gastrointestinal (que controla o funcionamento do intestino).
O trabalho de Braak e seus colegas também sugeriu que as mudanças patológicas nos pacientes geralmente se desenvolvem de formas previsíveis, começam no intestino e terminam no cérebro. Na época, os pesquisadores especularam que esse processo estava ligado a um "patógeno ainda não identificado" que viaja através do Nervo Vago - um feixe de fibras que conecta os principais órgãos do corpo ao tronco cerebral (que une a medula espinhal ao cérebro).
A ideia de que os primeiros estágios da doença de Parkinson podem ocorrer no trato gastrointestinal vem ganhando força. Crescentes evidências apoiam esta hipótese, mas a questão de como as alterações nos intestinos conduzem a neurodegeneração no cérebro continua a ser uma área ativa de investigação. Alguns estudos propõem que os agregados da alfa-sinucleína se movem dos intestinos para o cérebro através do Nervo Vago. Outros sugerem que certas moléculas, tais como os produtos de degradação por bactérias, estimulam a atividade ao longo desse canal, ou que o intestino influencia o cérebro através de outros mecanismos, como a inflamação. Juntas, no entanto, essas descobertas aumentam o crescente consenso de que “mesmo que a patologia [do Parkinson] seja impulsionada por anormalidades cerebrais, isso não significa que o processo comece no cérebro”, diz Michael Schlossmacher, um cientista médico do Instituto de Pesquisa do Hospital de Ottawa.
O caminho do estômago para o cérebro
O Nervo Vago, um feixe de fibras que se origina no tronco encefálico e inerva os principais órgãos, incluindo o intestino, pode ser a principal via pela qual os gatilhos patológicos do Mal de Parkinson viajam do trato gastrointestinal para o cérebro. Exames epidemiológicos recentes de pacientes com vagotomia, cujos nervos vagos foram cortados, mostram que eles têm um risco menor de desenvolver Parkinson. Os pesquisadores também demonstraram que as fibras de alfa-sinucleína, injetadas no trato gastrointestinal de roedores, podem ser transportadas do Nervo Vago ao cérebro.
Se a alfa-sinucleína viaja do intestino para o cérebro, surge a questão: por que a proteína se acumula no intestino em primeiro lugar? Uma possibilidade é que a alfa-sinucleína produzida no sistema nervoso gastrointestinal ajude a combater patógenos. No ano passado, Michael Zasloff, professor da Universidade de Georgetown, e sua equipe, relataram que a proteína apareceu nas entranhas de crianças sadias após infecções por norovírus, e que, pelo menos em laboratório, a alfa-sinucleína conseguia atrair e ativar as células imunológicas.
Os próprios micróbios são outro potencial motivo para a formação de alfa-sinucleína intestinal. Pesquisadores descobriram que, em camundongos, as proteínas bacterianas poderiam desencadear a agregação da alfa-sinucleína no intestino e no cérebro. Algumas proteínas produzidas por bactérias podem formar fibras pequenas e resistentes, cuja forma possibilita às proteínas próximas se dobrarem e juntarem de maneira semelhante aos príons responsáveis pela doença da vaca louca, explica Robert Friedland, neurologista da Universidade de Louisville, e um dos autores do estudo.
O microbioma, a totalidade de microorganismos do corpo humano, tem grande interesse para os pesquisadores do Parkinson. Produziram-se vários relatórios sobre indivíduos com a doença que possuíam uma composição singular de micróbios intestinais. Os cientistas também descobriram que o transplante de micróbios fecais de pacientes para roedores predispostos a desenvolver o Mal de Parkinson pode piorar os sintomas motores da doença e aumentar a agregação da alfa-sinucleína no cérebro.
Ao invés de as proteínas bacterianas ocasionarem o enrolamento incorreto, Sarkis Mazmanian, um microbiologista da Caltech, acredita que esses micróbios podem estar agindo através dos metabólitos que produzem, como os ácidos graxos de cadeia curta. Experiências com ratos de seu laboratório mostraram que essas moléculas parecem ativar as microglias, células imunes do cérebro.
Os metabólitos, acrescenta Mazmanian, podem enviar um sinal através do Nervo Vago ou contorná-lo completamente por outro caminho, através da corrente sanguínea. Como os estudos epidemiológicos descobriram que a remoção do Nervo Vago não elimina completamente o risco de Parkinson, outras rotas cerebrais também podem estar envolvidas. "No momento, estamos testando [essa] pergunta", diz Mazmanian.
Um papel para a inflamação
Outra ideia, sustenta que a inflamação intestinal, que ocorre possivelmente a partir de micróbios intestinais, poderia originar a doença de Parkinson. A mais recente evidência que apóia esta teoria vem de um grande estudo epidemiológico, no qual Inga Peter, epidemiologista genético da Escola de Medicina Icahn, no Monte Sinai, e seus colegas examinaram duas grandes bases de dados médicas dos EUA para investigar a sobreposição entre doenças intestinais inflamatórias e o Parkinson.
Essa análise comparou 144.018 indivíduos com Doença de Crohn ou Colite Ulcerativa e 720.090 pessoas saudáveis. O estudo revelou que a prevalência de Parkinson foi 28% maior em indivíduos com doenças inflamatórias intestinais do que naqueles do grupo controle, o que confirma as descobertas anteriores de que os dois distúrbios compartilham elos genéticos. Além disso, os pesquisadores descobriram que, em pessoas que utilizaram remédios para reduzir a inflamação - Inibidores do Fator de Necrose Tumoral (TNF, na sigla em inglês) - a incidência da doença neurodegenerativa caiu 78%.
Este estudo valida a teoria de que a inflamação intestinal pode impulsionar a patogênese de Parkinson, diz Madelyn Houser, uma estudante de pós-graduação que realiza suas pesquisas junto à neurocientista Malú Tansey na Universidade Emory. O resultado do anti-TNF em particular, acrescenta, sugere que a "sobreposição entre as duas doenças pode ser mediada primariamente pela inflamação".
A inflamação intestinal pode dar origem a Parkinson de várias maneiras, explica Houser. Uma possibilidade é que um intestino cronicamente inflamado possa elevar seus níveis de alfa- sinucleína - como sugere a investigação de Zasloff em crianças - ou então, pode causar inflamação por todo o corpo, o que pode aumentar a permeabilidade das barreiras do intestino e do sangue . Esse intestino também poderia aumentar citocinas circulantes, moléculas que podem promover inflamação. Tansey acrescenta que mudanças no microbioma também podem influenciar a inflamação intestinal.
"Provavelmente há vários caminhos que levam substâncias do intestino ao cérebro", diz Peter, explicando que ainda é cedo para descartar hipóteses. Por enquanto, sua equipe está focada em determinar se o efeito protetor dos compostos anti-TNF ocorre porque houve uma diminuição da inflamação em todo o corpo, o que poderia resultar de outras condições, ou se eles só beneficiam indivíduos com distúrbios intestinais. Peter planeja investigar a prevalência de Parkinson em outros pacientes que tomam esses medicamentos, como aqueles com psoríase ou artrite reumatóide.
Como nem todos os pacientes com Parkinson terão distúrbios intestinais inflamatórios, os achados das investigações sobre a co-ocorrência das duas condições podem não ser unânimes aos portadores da doença neurodegenerativa, diz Mazmanian. Ainda assim, esses estudos, e muitos outros que surgiram nos últimos anos, apóiam a ideia da relação entre o intestino e a Doença de Parkinson, acrescenta. "Se isso for verdade, podemos criar intervenções direcionadas ao intestino em vez do cérebro."
Alguns pesquisadores já começaram a testar essas intervenções. Em 2015, Zasloff e seus colegas fundaram uma empresa, a Enterin, que atualmente está testando um composto que retarda a agregação da alfa-sinucleína no intestino. Embora o tratamento tenha a intenção de reduzir os sintomas não motores do Parkinson, como a constipação, os pesquisadores esperam que, ao mirar na patologia intestinal precoce, eles possam restaurar - ou impedir - os efeitos da doença no sistema nervoso central.
Embora muitas evidências sustentem a ideia da origem intestinal do Parkinson, permanece a questão do quão cedo essas alterações gastrointestinais ocorrem, diz Tansey. Além disso, outros cientistas sugeriram a possibilidade de que a doença comece em outras partes do corpo. De fato, Braak e seus colegas também encontraram corpos de Lewy no bulbo olfatório, o que os levou a propor o nariz como outro lugar potencial de início da doença. "Acredito que provavelmente existem vários locais de origem para a doença de Parkinson", diz Viviane Labrie, neurocientista do Van Andel Research Institute, em Michigan. "Para alguns, pode ser o intestino, para outros, o sistema olfativo - pode também ser apenas algo que ocorre no cérebro."
CIENTISTAS IDENTIFICAM A `MELHOR IDADE` PARA APRENDER UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA
BBC brasil.com - Agência Brasil, 15.05.2018
Há uma `janela de oportunidade` etária para aprender idiomas com fluência, segundo uma pesquisa recém-divulgada do MIT (Massachusetts Institute of Technology), o famoso centro interdisciplinar de pesquisa dos EUA.
O tema não é alvo de consenso entre pesquisadores, mas o estudo do MIT indica que se você quer ter conhecimento gramatical de inglês como um nativo, deve tentar começar a estudar essa língua ao redor dos 10 anos de idade. Depois disso, diz a pesquisa, torna `praticamente impossível alcançar proficiência semelhante a um falante nativo` do idioma.
Adolescentes continuam a ter habilidade aguçada para idiomas até os 17 ou 18 anos - mais tempo do que se pensava previamente. Mas, entrando na vida adulta, essa capacidade começa a se perder.
Cientistas já sabiam que o bilinguismo (ou mesmo o multilinguismo) deve ser praticado até com bebês, como uma forma até de estimular o cérebro e o desenvolvimento de habilidades essenciais na vida adulta, tais quais concentração e controle emocional. Mas até agora, segundo o MIT, havia pouca certeza a respeito de qual seria o período `ótimo` de aprendizado de outros idiomas.
`Não vemos muitas diferenças entre pessoas que começaram (a aprender um idioma) a partir do nascimento ou que começaram aos 10 anos, mas vemos um declínio depois dessa idade`, diz, em comunicado do MIT, Joshua Hartshorne, professor de Psicologia e coautor da pesquisa, a qual é seu projeto de pós-doutorado.
Quis
As descobertas, publicadas no periódico especializado Cognition, foram elaboradas a partir de um teste gramatical (em inglês) realizado via Facebook por quase 670 mil pessoas de diferentes idades e nacionalidades.
As perguntas do quiz visavam testar a capacidade dos participantes de determinar se frases em inglês, como `Yesterday John wanted to won the race`, estão gramaticalmente corretas.
O teste perguntava ainda a idade dos participantes, há quanto tempo eles estudam inglês e em que circunstâncias - eles por acaso se mudaram para um país de língua inglesa?
Cerca de 246 mil dos 370 mil participantes cresceram ouvindo apenas inglês, enquanto os demais eram bilíngues ou multilíngues, de origens finlandesa, turca, alemã, russa ou húngara, por exemplo. A maioria tinha entre 20 e 30 e poucos anos.
Ao analisar os dados, usando um modelo computadorizado, os pesquisadores confirmaram que o aprendizado de gramática de um idioma é mais robusto durante a infância, prossegue na adolescência e depois se torna bem mais difícil na vida adulta.
Persistir mesmo assim
Não está claro por que há uma queda nas habilidades de aprendizado aos 18 anos. Cientistas atribuem isso ao fato de o cérebro ficar menos mutável ou adaptável na vida adulta.
`Pode ser uma mudança biológica ou algo social ou cultural`, diz Josh Tenenbaum, coautor do estudo e professor de Ciências Cognitivas no MIT. `Em geral, a idade de 17 e 18 anos é o período em que muitas sociedades deixam de considerar uma pessoa menor de idade. Depois disso, ela (jovem) muitas vezes sai de casa, ou talvez comece a trabalhar em tempo integral ou vá estudar algo específico na universidade. Tudo isso pode afetar seu ritmo de aprendizado de qualquer idioma.
Mas adultos não devem perder o ânimo em aprender um idioma: apesar das dificuldades maiores em relação às crianças, eles também são capazes de adquirir um bom conhecimento da língua, dizem os pesquisadores.
Além disso, aprender um novo idioma na vida adulta faz bem ao cérebro e pode até mesmo retardar possíveis doenças de degeneração cerebral, como a demência, segundo outras pesquisas prévias.
E mesmo as conclusões do MIT são alvo de questionamento: `A ideia de que você não consegue alcançar habilidade semelhante à de um nativo se não começar cedo é questionável. Há casos raros (disso), mas eles existem e são documentados`, diz a professora Marilyn Vihman, do Departamento de Linguagem da Universidade de York (Reino Unido).
`Há pessoas que com 20 e poucos anos aprendem novos idiomas a ponto de se tornarem espiões. Não acredito que haja uma idade crítica, apenas uma estabilização (nas habilidades) após a adolescência, para a maioria, mas não a totalidade dos falantes.`
A pesquisadora Danijela Trenkic, também da Universidade de York, destacou que o estudo do MIT lidou com apenas um aspecto da linguagem: a gramática.
`Você pode ser um excelente comunicador, mesmo sem ser um falante nativo ou mesmo sem acertar a gramática de todas as sentenças`, diz ela.
O MIT diz que a abordagem adotada - o quiz online - permitiu aos estudiosos fazer diagnósticos do conhecimento idiomático `de centenas de milhares de pessoas em diferentes estágios de aprendizagem. Ao medir a habilidade gramatical de pessoas de diferentes idades, que começaram a aprender inglês em diferentes momentos de suas vidas, (os pesquisadores) conseguiram obter dados suficientes para diversas conclusões significativas`, como as mencionadas acima.
`Há muitas outras coisas nesses dados que ainda podem ser analisadas`, diz Hartshorne. `Queremos atrair a atenção de outros cientistas para o fato de que esses dados estão disponíveis e podem ser usados.
DOMINANDO OS MAPAS: A CHAVE PARA O FUTURO DA DIREÇÃO
GeoDireito, 13.05.2018
O carro conectado do futuro dependerá fortemente de um sistema de mapeamento baseado em dados - uma plataforma atualizada automaticamente que pode entender o ambiente rodoviário, além da gama de sensores de bordo de um carro.
Os mapas precisam ser precisos e atualizados. Para isso, as empresas da indústria automotiva, incluindo as montadoras, podem compartilhar seus dados por meio de uma Plataforma Aberta de Localização. Este sistema recebe e agrega informações de sensores ativos e anônimos para enriquecê-lo, com dados de localização de alta precisão, e transmiti-lo de volta aos carros em tempo real. Esse loop é contextualizado ainda com a geolocalização e informações relevantes sobre as mudanças nas condições da estrada.
Mas a questão permanece. A indústria automotiva está pronta para abraçar essa mudança e adotar uma plataforma colaborativa aberta?
A indústria automotiva como a conhecemos
Quase todos os carros de luxo de hoje estão ligados aos servidores da fabricante. As conexões da Web estão crescendo, permitindo que os carros compartilhem as informações mais recentes com outros veículos no mesmo sistema. Mas, mesmo que os veículos estejam atravessando a divisão digital, a realidade é que os dados que eles geram atualmente não vão muito longe. Com mais de 50 marcas diferentes de veículos, o mercado permanece fragmentado. Hoje, há apenas um punhado de provedores de serviços de tráfego de equipamento original com serviços de tráfego personalizados para seus motoristas, mas os dados coletados não são suficientemente ricos para fornecer uma imagem completa da rede rodoviária como a conhecemos.
Aqui reside a importância da colaboração, que dentro da indústria automotiva não pode ser suficientemente enfatizada. Para perceber plenamente a visão de um futuro autônomo, as áreas de equipamento original e as empresas de tecnologia precisam começar a trabalhar em conjunto. Pegue Audi, BMW e Daimler, por exemplo; apesar de serem competidores, cada um desses três compartilha exclusivamente seus dados de sensores por meio de um serviço baseado em nuvem fornecido pela HERE Technologies, permitindo a criação de serviços personalizados. Da redução do congestionamento ao aumento da segurança no automóvel, ter acesso a este conjunto de dados diversificado ajuda a HERE a criar novos e inovadores serviços para enfrentar os desafios em andamento.
Mapas atualizados automaticamente
A condução altamente automatizada depende fortemente da fusão contínua e da ingestão de dados rodoviários estáticos e dinâmicos resgatados pelos sistemas de condução e segurança de um veículo. Onde eu estou exatamente? O que vem a seguir? Como posso chegar lá confortavelmente e com segurança? Estes são os tipos de perguntas que devem ser processadas por veículos automáticos a cada segundo. No mundo real, as mudanças acontecem o tempo todo - o trabalho de construção começa, as falhas ocorrem, as condições climáticas são imprevisíveis - e o mapa deve refletir essas mudanças constantes, ser atualizado em tempo real e atualizar automaticamente.
Por meio de parcerias de compartilhamento de dados a Audi, BMW e a Daimler, ao longo do tempo, conseguirão enviar dados suficientes que serão integrados na nuvem que permitirão a criação de um mapa HD atualizado automaticamente e em tempo real. Estes mapas serão extremamente importantes para o futuro autônomo do qual estamos sonhando. Um mapa que se atualiza automaticamente está constantemente procurando incorporar a mais recente informação contextualmente útil com base na localização e ambiente envolvente do carro autônomo, garantindo que o passageiro chegue ao seu destino da maneira mais rápida, segura e eficiente possível.
Embora a visão seja nosso maior e mais dominante sentido, ela tem seus limites. Mas o mesmo não pode ser dito sobre carros autônomos. Esta nova geração de veículos precisará ver o tráfego, saber o que está ao virar a esquina e entender o que está acontecendo nas imediações em todos os momentos. Mais importantes ainda, esses veículos precisarão entender o ambiente rodoviário além do alcance de seus sensores, câmeras e radares a bordo e, ao mesmo tempo, trazer a total confiança de sua segurança para o público.
Ainda que isso pareça uma questão visionária, os mapas construídos em dados "novos" serão a força motriz por trás do conhecimento em tempo real, como a lente para ver o que realmente é "ao virar a esquina". Os veículos precisarão de dados em tempo real, precisos e semanticamente ricos para arrumar posições referentes ao nível de pista, identificar limites e objetos na estrada. Esses dados contextuais permitirão que carros autônomos manobrem de forma proativa e imediata em resposta a quaisquer mudanças ou incidentes que possam afetar as condições de condução.
Segurança em mapas atualizados automaticamente
Mapas atualizados automaticamente serão fundamentais para determinar o sucesso de um futuro autônomo. Esses mapas reunirão, analisarão e redistribuirão constantemente informações de atualizações de crowdsourcing em tempo real para garantir que o veículo possa navegar com segurança na estrada em que esta está viajando. Além disso, ainda existe o principal elemento de confiança que precisa ser superado. Enquanto muitos ainda são céticos quanto à segurança desses carros autônomos, a inteligência que essa tecnologia e dados de localização em tempo real trazem terá o poder de instilar e consolidar nossa confiança em carros autônomos e dar aos passageiros a confiança para se entregarem as rédeas de condução.
A capacidade de coletar e gerenciar dados de pessoas, lugares e coisas em tempo quase real promete oferecer uma experiência de condução muito mais segura. O mapa digital atualizado automaticamente será parte integrante do sucesso da automação no futuro e, à medida que os carros se tornarem mais inteligentes, os consumidores se tornarão mais confiantes.
A era da autonomia está sobre nós e a promessa de uma experiência eficiente, sem costura e sem incidentes é um elemento crucial para determinar o sucesso da visão autônoma do carro.
CURSO ATO DE DESENHAR (GRÁTIS)
Plínio Santos
Eu mudei do Brasil para Portugal em 2016, e em 6 de maio de 2017, iniciei estudos para continuar ensinando arte pela Internet. Neste aniversário de 1 ano, eu lhe dou meu minicurso de desenho de presente!!!
Eu coloco os fundamentos do que aprendi com os Grandes Mestres nos vídeos do minicurso. É de graça. Traga suas amigas e amigos, é só passar o link para todos! Venha desenhar comigo!
São 10 aulas com livro de exercícios que você recebe imediatamente. O link para as informações e matrícula é esse aqui: Minicurso Gratuito - O Ato de Desenhar.
Um grande abraço!
Plínio Santos
Prof. Marcos Antonio Lucena - Secretário Regional
Profa. Rejane Mansur Nogueira - Secretária Adjunta
José Antônio Aleixo da Silva (Editor)Professor titular da UFRPE e Conselheiro da SBPC.
Matheus Santos Veras
Designer do Jornal