Notícias:
UFRPE RETIFICA CONCURSO PÚBLICO COM 27 VAGAS PARA DOCENTES
Portal da UFRPE
MORRE O MÉDICO E PROFESSOR EDMUNDO MACHADO FERRAZ
Diário de Pernambuco
O “PRÊMIO RICARDO FERREIRA AO MÉRITO CIENTÍFICO” DESTE ANO VAI PARA A PROFA. DRA. JOSEFA SALETE BARBOSA CAVALCANTI
Notícias da FACEPE
FALTA POUCO PARA A SNCT EM PERNAMBUCO
Portal do Espaço Ciências
PALESTRA DO PRESIDENTE DO CNPq NO NÚCLEO DE ESTUDOS AVANÇADOS DO INSTITUTO OSWALDO CRUZ, RIO DE JANEIRO
COMO AGÊNCIAS ESTRANGEIRAS FAZEM E PENSAM INOVAÇÃO
Notícias da ABC
STF INICIA JULGAMENTO DE AÇÕES SOBRE O NOVO CÓDIGO FLORESTAL
Notícias do STF
XÔ OBSCURANTISMO
Nelson Pretto*, Jornal A Tarde
MELHORES UNIVERSIDADES PAGAS SÃO MENOS DISPUTADAS QUE PIORES PÚBLICAS
Luciana Alvarez, UOL Educação
AVALIAÇÃO DA CAPES APONTA CRESCIMENTO DA PÓS-GRADUAÇÃO BRASILEIRA
CCS/Capes
CAPES PODE DESCREDENCIAR 119 CURSOS DE MESTRADO E DOUTORADO NO PAÍS
Raphael Kapa e Renata Mariz, O Globo
TEMER MASCARA NA ONU RETROCESSOS AMBIENTAIS DE SEU GOVERNO
Maurício Tuffani, Direito da Ciência
DADO DE REDUÇÃO DE DESMATAMENTO CITADO POR TEMER NA ONU É PRELIMINAR, DIZ IMAZON
Ambiente Brasil
‘O BRASIL NÃO É DESIGUAL POR ACIDENTE’; ENTREVISTA COM PEDRO HERCULANO DE SOUZA, PESQUISADOR DO IPEA
Maíra Mathias – EPSJV/Fiocruz, Ecodebate
O MASSACRE DAS ABELHAS
Comentários de Nagib Nassar
CELULARES PODERÃO CONTAR COM CÂMERA CIENTÍFICA
Site Inovação Tecnológica
DEZ ERROS QUE MOSTRAM FALTA DE INTIMIDADE COM O INGLÊS
O GLOBO
UFRPE RETIFICA CONCURSO PÚBLICO COM 27 VAGAS PARA DOCENTES
Portal da UFRPE, 19.09.2017
Inscrições devem ser realizadas via Internet e custam de R$ 130,00 a R$ 190,00.
A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) retificou o Concurso Público com remunerações de R$ 4.455,22 a R$ 9.585,67, que visa contratar 27 Professores para a Sede Dois Irmãos e para o Colégio Dom Agostinho Ikas-Codai.
Os requisitos necessários para concorrer à disciplina de Filosofia foram alterados. Agora ela exige que o candidato possua Doutorado em Filosofia ou em Educação, conforme é possível conferir no documento que está disponível em nosso site.
Este certame também traz vagas nas matérias de Fitopatologia (1), Fitossanidade (1), Fitossanidade/ Entomologia (1), Ensino de Ciências Biológicas (1), Botânica/ Fisiologia Vegetal (1), Botânica/ Sistemática de Criptógamos (1), Recursos Naturais Renováveis/ Florestamento e Reflorestamento/ Técnicas e Operações Florestais (1), Recursos Naturais Renováveis/ Proteção Florestal/ Incêndios Florestal/ Pragas e Doenças (1), Silvicultura/ Genética e Melhoramento Florestal (1), Silvicultura/ Silvicultura Urbana e Conservação da Natureza (1), Filosofia (2), Fundamentos das Atividades Físicas e Esportivas na Educação Física (2), Arquitetura e Organização de Computadores / Tópicos Avançados em Arquitetura e Organização de Computadores (1), Geografia (1), História (1), História/ História da África (1), História/ História da América (1) e Matemática (1), que estão lotadas nos Departamentos de Agronomia, Biologia, Ciência Florestal, Ciências Sociais, Educação Física, Estatística e Informática, História e Matemática da Sede.
Há ainda ofertas para o Colégio Dom Agostinho Ikas-Codai nas áreas de Língua Portuguesa e Língua Inglesa (1), Planejamento, Gestão e Comunicação Social (1), Contabilidade, Gestão Tributária, Gestão Financeira, Gestão de Pessoas, Logística e Administração de Produção (1), Sistemas de Produção Agropecuária e Fundamentos de Educação e Gestão ambiental (1), História (1), Geografia e Meio ambiente (1) e Fundamentos de Física, Hidrometeorologia, Meteorologia Aplicada e Sensoriamento Remoto (1).
Todas as aulas devem ser ministradas durante 40h semanais, em regime de dedicação exclusiva, sendo que o salário pode variar conforme a Titulação dos candidatos classificados na Provas Escrita, que está prevista para ser aplicada no dia 11 de dezembro de 2017, Didática e de Títulos.
As inscrições possuem taxas de R$ 130,00 e R$ 190,00 e devem ser feitas pelo endereço eletrônico www.concurso.ufrpe.br até às 18h do dia 17 de outubro de 2017.
Jornalista: Karina Felício
Morre o médico e professor Edmundo Machado Ferraz
Diário de Pernambuco, 20/09/2017
Cirurgião foi o primeiro médico do Norte e Nordeste a realizar uma cirurgia bariátrica, na década de 1990
Morreu, na manhã desta quarta-feira, o médico e professor Edmundo Machado Ferraz, 77 anos. O velório será realizado esta tarde no Cemitério Morada da Paz, no Paulista, onde a cremação será realizada às 18h. Ferraz faleceu em consequência de um mieloma múltiplo, um câncer das células plasmáticas da medula óssea, que ele descobriu há três meses. Ele deixa uma esposa, três filhos e sete netos.
Graduado há cerca de 40 anos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com doutorado e livre-docência em medicina pela mesma universidade, pós-doutorado no Departamento de Cirurgia do Guy’s Hospital da Universidade de Londres, Dr. Edmundo foi um dos mais celebrados profissionais da sua área no Brasil. Na década de 1990, foi o primeiro médico do Norte e Nordeste a realizar uma cirurgia bariátrica.
"Nós nos conhecemos desde os 12 anos, quando morávamos no Derby. Mais tarde, fizemos faculdade juntos. Ele participou dos primeiros transplantes de fígado, presidiu várias entidades nacionais e internacionais ligadas à cirurgia geral. Formou centenas de cirurgiões pela UFPE, inclusive o que o operou, dr Tércio Bacelar", disse o médico e amigo de infância e profissão, Durval Valença.
Professor titular por duas décadas da UFPE, foi diretor-superintendente do Hospital das Clínicas e presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, além de ter sido o primeiro profissional fora do eixo Rio–São Paulo eleito presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Aposentou-se compulsoriamente aos 70 anos, mas continuava atuando no Hospital das Clínicas (HC/PE).
Em 2015, presidiu a Academia Pernambucana de Medicina. Em 2014 foi homenageado com o título de professor emérito da UFPE. Reconhecido internacionalmente pelo trabalho científico desenvolvido, foi o fundador do curso de doutorado em medicina da UFPE, membro titular e fundador da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, consultor da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde, entre outros cargos. "Ele era um rubro negro doente. Muito culto, gostava de ler e viajar", disse o médico e amigo, Oscar Coutinho.
"Papai foi uma pessoa que influenciou toda uma geração de cirurgiões. Era um professor que tinha uma dedicação àquela universidade (UFPE) e àquele Hospital das Clínicas que nunca vi igual. Teve uma importância nacional enorme. Ele levou o nome da medicina, da cirurgia pernambucana a um patamar importante no cenário nacional", comentou o filho e médico, Álvaro Ferraz.
O “PRÊMIO RICARDO FERREIRA AO MÉRITO CIENTÍFICO” DESTE ANO VAI PARA A PROFA. DRA. JOSEFA SALETE BARBOSA CAVALCANTI
Notícias da FACEPE, 20.09.2017
A eleição do nome foi realizada na 2ª Reunião Ordinária de 2017 do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco – FACEPE em 06/06/2017 e este ano a área agraciada foi a de Ciências Humanas, Letras e Sociais. O Prêmio Ricardo Ferreira ao Mérito Científico será entregue no dia 20 de outubro do corrente ano no Salão Nobre da FACEPE.
A Profa. Josefa Salete Barbosa Cavalcanti é professora titular do Departamento de Sociologia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco e dos Programas de Pós-Graduação em Sociologia e em Antropologia da UFPE e pesquisadora 1-C do CNPq.
Tem doutorado em Sociologia pela Manchester University e mestrado em Antropologia Social pela UFRJ, com pós-doutorado na University of Wisconsin/Madison e na Cardiff University.
Foi professora visitante: University of Wisconsin/Madison, Cardiff University, Sam Houston State University, Universität Hamburg, Freie Universität Berlin, Universidad Nacional del Comahue e Universidad Nacional de Córdoba. Foi Professora da UFPB. É membro do comitê científico do Doutorado em Estudios Sociales Agrarios- Universidad Nacional de Córdoba; professora titular da Maestria en Sociologia de la Agricultura, e do Doctorado en Estudios Sociales Rurales y Agrarios da Universidad Nacional del Comahue. Membro do comitê Executivo do RC40 da International Sociology Association, ISA (2010-2018).
Coordenadora e membro do comitê assessor do CNPq(2011-2014); foi membro da comissão de avaliação de cursos de pós-graduação da área de Sociologia da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Ex-Secretária geral da Sociedade Brasileira de Sociologia (2005-2007). Ex-Vice-Presidente da Associação Latino-Americana de Sociologia Rural.
Áreas de atuação: Antropologia e Sociologia, com ênfase em Sociologia Rural e Antropologia Rural. Principais temas: globalização da agricultura e dos alimentos; desenvolvimento rural, sociedades camponesas; desigualdades sociais; trabalhadores migrantes, trabalho e gênero.
Publicou 23 artigos, 27 trabalhos em anais, 61 resumos, 12 livros e 55 capítulos de livros.
A profa. Josefa foi agraciada recentemente com o Prêmio Florestan Fernandes 2017 concedido pela Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS).
FALTA POUCO PARA A SNCT EM PERNAMBUCO
Portal do Espaço Ciências
Percurso das caravanas, programação dos polos e solicitação das exposições foram pauta da 4ª reunião em Pernambuco
As Ações da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) já começaram em Pernambuco. Na maioria dos polos, as escolas estão trabalhando o tema “A Matemática está em Tudo” desde as primeiras reuniões de organização. Em outubro, eles farão a culminância dos trabalhos, com mostra de trabalhos, palestras, minicursos, oficinas e outras atividades. As caravanas Ciência Móvel, Notáveis Cientistas de Pernambuco e Caravana da Astronomia completarão a programação, junto com as exposições “Jogos e Acasos”, que serão distribuídas entre 40 polos.
O percurso das caravanas também já está definido e contempla 14 instituições em doze municípios. As três caravanas estarão juntas em Porto de Galinhas, Ipojuca, onde haverá a abertura da SNCT. Além das caravanas, haverá apresentações culturais, exposição de Robótica, mostra de parceiros, entre outras atividades. “É importante que os vários polos do estado possam estar presentes e abrilhantar os momentos de abertura e encerramento da Semana”, ressaltou o diretor do Espaço Ciência, Antonio Carlos Pavão.
De Ipojuca, o Ciência Móvel segue para o Recife (PCR); a Caravana Notáveis Cientistas de Pernambuco vai para Araçoiaba e a de Astronomia, para Paulista. A segunda parada do Ciência Móvel será no IFPE Caruaru; a dos Notáveis no IFPE Recife e a da Astronomia, em Angelim. Destes locais, a primeira caravana parte para Altinho e a Caravana da astronomia vai para Itacuruba.
Nesta data, 26 de outubro, a Caravana Notáveis Cientistas de Pernambuco participa de uma sessão especial no plenário da Assembleia Legislativa, quando serão apresentados os três cientistas que passam a integrar os homenageados do projeto. São eles: Suely Lins Galdino, Farmacologista (1954 – 2012); Nelson Nogueira Saldanha, Jusfilósofo (1933 – 2015); e Zeferino de Jesus Barbosa Rocha, Psicanalista (1928 – 2016). A sessão acontece na manhã do dia 26, no plenário da Assembleia.
Na sexta-feira (27), as caravanas seguem, respectivamente, para Pesqueira, Arcoverde e Itaíba; e se encontram no encerramento, em Afogados da Ingazeira. “Aqueles que não conseguimos contemplar neste período poderão ser contemplados nas semanas anteriores ou nas semanas seguintes, de forma que possamos atender a todos”, explica Roberta Cristina, da Gerência de Programas do Espaço Ciência.
A exposição “Jogos e Acasos”, que está sendo produzida pelo Espaço Ciência para distribuição entre os polos também foi pauta da reunião. Ela une jogos de estratégia e jogos de azar, que despertam o raciocínio lógico e levam as pessoas a refletir, de forma lúdica e interativa, sobre o que se chama de sorte e o estudo das probabilidades.
Serão distribuídas 40 exposições e mais de trinta polos já efetuaram sua solicitação. “É bom ressaltar que só receberão a exposição os polos que estiverem com eventos cadastrados no site da SNCT. Após as ações, os beneficiados deverão nos enviar um relatório com as atividades e atendimentos realizados com a exposição”, explica Roberta.
ACESSE O FORMULÁRIO DE SOLICITAÇÃO DA EXPOSIÇÃO
Para Antonio Carlos Pavão, é muito gratificante ver o quanto se tem avançado com a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. “Os polos já estão trabalhando em suas escolas com o tema da matemática. Há muitas atividades interessantes programadas e nossa expectativa é que tenhamos uma SNCT ainda melhor que a do ano passado”, diz.
A próxima reunião está prevista para o mês de outubro, quando os polos poderão receber suas exposições.
PALESTRA DO PRESIDENTE DO CNPq NO NÚCLEO DE ESTUDOS AVANÇADOS DO INSTITUTO OSWALDO CRUZ, RIO DE JANEIRO
COMO AGÊNCIAS ESTRANGEIRAS FAZEM E PENSAM INOVAÇÃO
Notícias da ABC, 13.09.2017
Realizado nos dias 28 e 29 de agosto, o Seminário Internacional de Promoção, Desenvolvimento, Apoio e Avaliação da Inovação, uma parceria da Academia Brasileira de Ciências (ABC) com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), contou com apresentações sobre políticas de ciência, tecnologia e inovação, na perspectiva das agências de fomento.
Superintendente de Planejamento da Finep, Rogério Medeiros foi o mestre de cerimônias da primeira rodada de debates, que contou com a presença da executiva da Unidade de Monitoramento e Avaliação da Agência Nacional de Investigação e Inovação (ANII) do Uruguai Elisa Hernandez e do cônsul comercial da Noruega e conselheiro de Ciência e Tecnologia da Agência de Inovação do país (Innovation Norway), Rune Andersen.
Entre as iniciativas encampadas pelos dois países para promover a pesquisa e a inovação, o superintendente de Planejamento da Finep ressaltou o aporte de US$ 280 milhões realizados pelo Uruguai nos últimos dez anos para mover o setor. Já a Noruega, o bem-sucedido programa de clusters (aglomerados) na área de petróleo e gás foi o destaque. A iniciativa tem levado o país a atingir importantes resultados na economia. "Nos mesmos moldes dos arranjos produtivos locais no Brasil, os clusters na Noruega geraram um efeito multiplicador muito grande para esta cadeia de produção", disse Rogério Medeiros.
"É notório que o ambiente de negócios evolui muito mais quando se está territorialmente no mesmo espaço", acrescentou ele, que logo em seguida convidou Elisa Hernandez, executiva da ANII, para contar um pouco sobre os trabalhos da jovem agência uruguaia de inovação, que tem apenas dez anos de existência.
Identificação do impacto das iniciativas de fomento à pesquisa e à inovação
Desde a sua fundação, a ANII adotou métricas de monitoramento e avaliação de pesquisadores e projetos. Segundo Hernandez, o monitoramento é uma espécie de processo rotineiro de coleta de dados e medição do alcance dos objetivos dos programas, com a identificação de pontos fortes e fracos e ajustes em seu desenho para otimizar a performance e resultados. Já a avaliação usa métodos de pesquisa social para estudar os fatores, previsíveis ou não, que possam determinar a efetividade, eficiência e impacto de um projeto.
Análises econométricas e levantamentos estatísticos baseados em pesquisas quantitativas estão dentro do variado conjunto de metodologias utilizadas pela ANII para identificar o impacto das iniciativas de fomento à pesquisa e à inovação. As avaliações dão destaque, inclusive, às percepções dos beneficiários dos programas sobre os resultados dos projetos, em diferentes dimensões.
Elisa Hernandez explicou como a agência uruguaia monitora seus programas
A agência também adota pesquisas qualitativas, que utilizam entrevistas estruturadas e semiestruturadas, assim como grupos focais. Hernandez explicou que é conveniente a realização de ambas as avaliações, quantitativas e qualitativas, para se chegar a melhores recomendações às políticas de inovação. "Mas, independentemente da metodologia utilizada, planejamento é a base para se atingir o impacto desejado", afirmou.
A executiva acrescentou que os custos e benefícios da avaliação devem ser pesados. Dar a devida importância à comunicação dos resultados, onde o principal desafio é ajustar as políticas ao perfil das audiências, isto é, ao público beneficiário do programa, também deve ser prioridade. "É preciso pensar na criação de produtos adequados a cada um deles, e em níveis diferentes, o que nem sempre é fácil", disse Hernandez, acrescentando: "Apresente conclusões criativas para melhorar o impacto das avaliações".
Superintendente de Planejamento da Finep, Rogério Medeiros reforçou a análise de Hernandez sobre a importância da organização de metodologias de avaliação de impacto como forma de ajuste e reequilíbrio das ações dos programas de inovação promovidos por agências e instituições de fomento. Ele também concordou que é preciso que se preveja uma certa dose de flexibilidade, como destacou a palestrante. "A flexibilidade é necessária para se ajustar e reequilibrar os programas e iniciativas de inovação, que são sempre muito criativos. Já observamos durante esse evento que a inovação tem um efeito de mais longo prazo. Além dos resultados imediatos, há impactos que podem aparecer apenas alguns anos depois que o projeto de apoio terminou. Com relação aos efeitos de causalidade e a identificação de quais programas geraram o impacto X na empresa, estes são realmente difíceis de se prever depois de terminado o apoio", sintetizou Medeiros.
Conectando o polo produtivo e o polo intelectual
Rune Andersen é conselheiro de Ciência e Tecnologia da Innovation Norway
Com oito escritórios espalhados em 45 países do mundo, a Agência de Inovação da Noruega (Innovation Norway) busca estar sempre perto tanto da indústria, quanto dos mercados. Criar empreendedores bem-sucedidos, empresas com capacidade de crescimento e grupos de inovação diversificados e integrados é a principal missão da instituição. "A Noruega é um país pequeno, há muitos produtos que não têm mercado por lá. Por isso, procuramos compradores em países pelo mundo", disse Rune Andersen. Voltada para o apoio à indústria, universidades e institutos de pesquisa, a agência norueguesa atua como interlocutora do polo produtivo e do polo intelectual. "Não acreditamos que o diálogo entre centros acadêmicos e indústrias vá acontecer sozinho. Sabemos que esse diálogo precisa ser mobilizado", alertou o cônsul.
Em 2016, 28% dos recursos do Conselho de Pesquisa da Noruega foram aplicados em pesquisa e desenvolvimento. Em números reais, foram cerca de R$ 520 milhões para a indústria, R$ 1,2 bilhões para os institutos de pesquisa e R$ 920 milhões para as universidades. Segundo Andersen, as ações da Innovation Norway sempre visam facilitar a transferência de conhecimento da universidade para a indústria. "Buscamos uma sintonia fina entre a comercialização e o desenvolvimento da inovação. A interdependência dessas funções pode ser medida com precisão. Por isso, temos trabalhado muito para atingir esses resultados, que podem ser monitorados pelo PIB [Produto Interno Bruto], por exemplo", afirmou.
A agência norueguesa monitora o impacto de seus programas por meio do alcance dos objetivos propostos. Na lista de prioridades, há espaço, inclusive, para a melhoria dos serviços sociais dentro da Noruega. "Isso também está sempre na nossa agenda e nunca vai mudar", acentuou Andersen, acrescentando que o aconselhamento dos ministros de Estado do país sobre a importância de se aplicar em inovação também faz parte da agenda estratégica da agência.
O executivo relatou que a exigência de que a agência ajudasse a gerar mais empreendedores de sucesso e clusters de negócios inovativos na Noruega, contribuindo para reestruturar a indústria do país, partiu de uma requisição do próprio Parlamento local, ainda em 2000. "Em 2013 elaboramos um novo sistema de governança e contratamos um corpo independente de estatísticos. Eles receberam uma lista de todas as empresas às quais damos apoio e usaram métodos estatísticos para avaliar o impacto dos programas de fomento num período de três anos", disse Andersen.
O cônsul explicou que para medir o impacto atribuído a um programa de incentivo, a agência avalia o valor adicionado ao negócio/produto, o número de empregados, o retorno de ativos e como as atividades geraram patentes. "É um monitoramento rápido e prático", avaliou. Segundo Andersen, o que a agência identificou com essa medição é bastante significativo: "Um apoio de 1,5 milhão de coroas norueguesas [R$ 600 mil] traz um retorno sete vezes maior. Temos a noção de que o investimento em inovação gera resultado", ressaltou. "Os dados nos mostram que temos um valor agregado maior e uma produtividade mais elevada do que os do grupo controle. E é isso o que o governo quer ouvir", acrescentou o executivo.
No quesito inovação, Andersen afirmou que as empresas dentro do cluster têm uma performance e um crescimento melhor e maior do que as que estão fora dele, além de gerarem um valor agregado também mais elevado. "Isto impacta no aumento de contratações de profissionais", ressaltou. Segundo o executivo, os próprios empresários percebem como a formação de clusters funciona. "Eles nos trazem resultados muito bons, o que nos leva a financiar programas que podem ajudar a indústria, seja por meio de financiamento ou de consultoria às empresas", disse Andersen, lembrando que o modelo de arranjo produtivo local também gera resultados positivos dentro dos institutos de pesquisa e das universidades.
O especialista ressaltou, porém, alguns desafios que precisam ser vencidos para que seja possível alcançar uma maior precisão no desenho e encaminhamento das políticas de inovação do seu país. "Quanto tempo leva para que a participação em um programa tenha efeitos sobre o empreendimento? Como identificamos a durabilidade desse efeito? Quando um suporte termina e outro começa? Como classificamos um tipo de programa de apoio se observarmos múltiplos programas nos anos subsequentes?", listou ele.
Andersen observou que a capacidade da agência de resolver problemas depende, também, de como ela ouve os atores participantes do programa de incentivo. "A relação de confiança construída entre agência e empresários é o que contribui para gerar resultados para a inovação e a economia no país", destacou ele.
O que a Espanha e a Coreia podem ensinar ao Brasil em termos de inovação?
Jong-ouk Youn e Alvaro Prata
Secretário de Tecnologia, Desenvolvimento e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o Acadêmico Alvaro Toubes Prata conduziu a segunda rodada de debates sobre inovação na perspectiva das agências de fomento. Na mesa, o chefe de Estudos e Comunicações do Centro para o Desenvolvimento Tecnológico e Industrial (CDTI) da Espanha, Andres Ubierna, e o diretor da Divisão de Políticas em Tecnologia do Ministério de Pequenas Empresas e Startups (MSS, na sigla em inglês) da Coreia do Sul, Jong-ouk Youn.
Prata introduziu o tema ressaltando as características do sistema de apoio à tecnologia e à inovação brasileiro. "É um sistema que vem sendo construído há anos. Nossas agências datam da década de 60. São três agências fortes: o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e a Finep, ligadas ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e a Fundação Capes, ligada ao Ministério da Educação. Estas três agências financiam as instituições, os pesquisadores e as empresas", disse Prata.
Ele relatou marcos importantes de nossa história nessa área. "A década de 70 viu o início dos planos de desenvolvimento e integração da indústria. A década de 80, a criação do Ministério de Ciência e Tecnologia e a criação da Lei Rouanet, em 1986. Na década de 90, tivemos as políticas industriais e de mercado exterior, além da Lei de Informática e os fundos setoriais, tão importantes que são e que foram para a nossa política científica e tecnológica", listou Prata.
O secretário ressaltou ainda a importância da Lei da Inovação em 2004 e a Lei do Bem em 2005, que veio a vigorar em 2006. Embora já tenha dez anos, a Lei do Bem atingiu pouco mais de mil empresas, de um potencial de 150 mil. Resultado ainda tímido, segundo Prata. "neste momento estamos trabalhando para o aprimoramento dessa lei", ressaltou.
Destacando a preocupação com a inovação na agenda brasileira, o Acadêmico apontou que embora faça boa ciência, o Brasil tem dificuldade em usá-la amplamente para beneficiar o setor industrial, promovendo o desenvolvimento tecnológico, a inovação, o desenvolvimento econômico e social. "É com prazer que temos a oportunidade de ouvir dois países que têm muito a nos ensinar nestes aspectos", disse Prata.
O secretário frisou que a Coreia do Sul é o país cujo setor privado mais investe em pesquisa e desenvolvimento. "Mais de 4% do seu PIB é investido em pesquisa e desenvolvimento [P&D]", destacou. "No Brasil, o investimento em P&D está em torno de 1,2%. Se compararmos apenas o investimento realizados pelo setor público da Coreia do Sul e do Brasil os números são 0,95% e 0,72%, respectivamente. Isso mostra que nós podemos crescer, mas não temos muito espaço para isso por meio de investimentos do setor público. Temos que fazer, sim, que o setor público alavanque o investimento do setor privado em P&D", avaliou Prata."Nossa grande fragilidade está no baixo investimento do setor privado em P&D", acrescentou.
Sobre as ações da Espanha no campo da inovação, o secretário do MCTIC apontou como "surpreendente" a maneira como o país se relaciona sobretudo com os ambientes de inovação. "Recentemente, o país divulgou um relatório da Associação de Parques Tecnológicos da Espanha, que reúne 49 unidades, emprega mais de 160 mil pessoas e abriga quase 8 mil empresas. O faturamento chegou a 26 bilhões de euros, representando um crescimento de quase 7%, comparado ao ano anterior", ressaltou Prata.
O Brasil conta hoje com uma estrutura de ambientes de inovação ampla e diversificada, que em números redondos possui cerca de 90 iniciativas de parques tecnológicos, sendo 30 já existentes, 30 em fase de consolidação e 30 em fase de projeto. "O que nós não conseguimos fazer de maneira eficiente, ainda, é permitir que eles sejam instituições superavitárias e que gerem recursos", declarou Prata. "Mais de 20% do PIB da China vêm dos parques tecnológicos. Precisamos fazer com que isso também aconteça aqui", defendeu ele.
O secretário ressaltou ainda que no momento atual de dificuldade de irrigar o sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação do Brasil, o MCTIC tem se voltado ao estímulo do empreendedorismo de base tecnológica, à consolidação de empresas emergentes e à aproximação entre o ambiente acadêmico e industrial.
Apresentação do Centro para o Desenvolvimento Tecnológico e Industrialda Espanha pelo chefe de Estudos e Comunicações, Andres Ubierna
Rastreando a dinâmica de causa e efeito entre o programa de apoio e os indicadores
O chefe do CDTI da Espanha, Andres Ubierna, explicou que a instituição dá suporte a diversas áreas e não apenas aos empreendimentos de base tecnológica. "O CDTI apoia empresas de todos os portes, embora haja esforços especiais para alavancar os pequenos e médios negócios. Os programas de apoio são monitorados e avaliados tanto por perspectivas técnicas, quanto financeiras".
De acordo com o executivo, o monitoramento da iniciativa e o controle do impacto dos resultados se dá desde o lançamento até a finalização do apoio. Um plano anual é desenhado onde constam recursos, atividades a serem desenvolvidas e resultados esperados. O processo de avaliação da agência espanhola dá destaque também à comunicação e à disseminação dos resultados. "Além do retorno tecnológico, seja por meio da produção de inovações e patentes, e do retorno econômico, que pode ser medido pelo aumento de empregos, vendas, produtividade e internacionalização da empresa, avaliamos se o programa contribuiu para a mudança de comportamento da empresa, isto é, se houve a geração de uma cultura de inovação", frisou Ubierna.
O palestrante apresentou algumas das técnicas de coleta de informações, que são feitas de forma contínua, por meio de pesquisas eletrônicas e integradas. Segundo ele, a agência tem usado sistemas dinâmicos que se adequam a cada tipo de projeto. Quanto à avaliação, ela é realizada em duas etapas: no momento do desenvolvimento do produto/serviço e após o lançamento deste no mercado.
"No período de 2012 a 2014, tivemos 3.400 projetos finalizados, sendo 48% de empresas pequenas, 29% de médias e 23% de grandes. Mais de 90% geraram inovações em produtos, sendo que cerca de 60% deles se transformaram em líderes de mercado de seu segmento", contou Ubierna. Com resultados superiores às expectativas, o palestrante relata que 93% dos empresários afirmaram que as vendas aumentaram e 74% apontaram para um crescimento nas exportações. Outros 84% planejavam investir em pesquisa e desenvolvimento e em torno de 60% disseram que fariam novos investimentos produtivos e reforçariam a capacidade de comercialização.
Assim como a primeira etapa de avaliações, o acompanhamento dos resultados obtidos nos primeiros dois anos após o lançamento do produto/serviço no mercado também apontou para avanços. Segundo o executivo do CDTI, 66% dos empresários afirmaram ter tido sucesso e cerca de 30% faliram por causa da demanda. Em torno de 13% das vendas foram geradas por causa do projeto implementado e 60% dos empresários foram contemplados com novos projetos do CDTI.
Ubierna concluiu sua exposição destacando que a avaliação do impacto deve fazer parte do projeto e do planejamento, quando se lida com programas de pesquisa e inovação. "É preciso sempre rastrear a dinâmica de causa e efeito entre o programa e os indicadores, assim como utilizar técnicas quantitativas complementadas com avaliações qualitativas", lembrou o executivo.
A vez das pequenas e médias empresas
Jong-ouk Youn: "US$ 900 milhões serão investidos em pesquisa e inovação neste ano"
Assim como a Espanha, a Coreia do Sul também tem orientado suas políticas de inovação para as pequenas e médias empresas, em especial para as startups de base tecnológica. Diretor de um departamento do Ministério de Pequenas e Médias Empresas, Jong-ouk Youn contou que só no ano passado o país direcionou US$ 2,8 bilhões para o setor. "O orçamento total do departamento chega a 10 bilhões de nossa moeda. Mais de 130 milhões de empregos são gerados por meio das pequenas e médias empresas", disse Youn, mostrando o quanto o governo coreano valoriza e aposta nas startups.
"Todos vocês conhecem o Samsung Galaxy 8. Quase 500 componentes deste smartphone foram lançados por nós. Parece que é um jogo de quebra-cabeças. A maiorias dessas peças vem dessas pequenas e médias empresas - 99,87% das empresas da Coreia", destacou Jong-ouk Youn.
Promover a competitividade das companhias de menor porte é uma prioridade do governo da Coreia do Sul, segundo o diretor do ministério. "Há alguns anos, a estrutura da economia do país estava focada em grandes empresas. Hoje, o governo direciona os investimentos para as pequenas e médias empresas. A agenda do governo está pautada na inovação por meio da cooperação entre indústria, academia, institutos de pesquisa e estas empresas", afirmou.
Jong-ouk Youn informou que 4,9% do PIB coreano serão investidos em pesquisa e inovação este ano, o que em dólares chega a aproximadamente US$ 900 milhões. A previsão é que o país dobre os investimentos até 2022. Ele lembrou que, tal como o Brasil, a Coreia do Sul enxerga na parceria entre universidades, institutos de pesquisa e pequenas e médias empresas uma estratégia de sucesso para alavancar esses empreendimentos. "Temos valorizado essas parcerias, pois sabemos que o uso da infraestrutura da universidade diminui os custos de produção", disse Jong-ouk Youn. "O estudo da comercialização e do marketing deve ser direcionado, a fim de que se saiba se o produto será vendável ou não. As startups não contam com essa estrutura de marketing, por isso a Coreia do Sul criou uma linha de apoio voltado a esse setor", ressaltou ele.
O país também vê como estratégico o desenvolvimento de políticas de inovação para a indústria. Jong-ouk Youn explicou que o foco é na criação de fábricas inteligentes e autônomas, com a integração de todos os processos de fabricação, usando tecnologias atualizadas. "É preciso disseminar esse modelo de fábricas inteligentes para essas pequenas e médias empresas também. O ministério prevê expandir para essas empresas o big data, a internet das coisas e a informação na nuvem", relatou.
Mesmo com os avanços e fortes investimentos do governo coreano na solidificação de uma cultura empreendedora e de alta tecnologia no país, a Coreia enxerga limitações para o pleno desenvolvimento das startups. Segundo Jong-ouk Youn, o maior desafio continua sendo a sobrevivência dessas empresas. "As startups exigem uma proteção equivalente a um investimento de risco na Bolsa. Identificamos que muitas startups faliram, mas estamos tentando revitalizá-las por meio do uso de fundos de investimentos do próprio governo", destacou ele, deixando a sugestão aos brasileiros.
(Aline Salgado para NABC)
STF INICIA JULGAMENTO DE AÇÕES SOBRE O NOVO CÓDIGO FLORESTAL
Notícias do STF, 14.09.2017
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou nesta quinta-feira (14) o julgamento de cinco ações que tratam do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012), todas de relatoria do ministro Luiz Fux. As Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 4901, 4902 e 4903, ajuizadas pela Procuradoria-Geral da República, e a ADI 4937, de autoria do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), pedem a inconstitucionalidade de diversos dispositivos do novo Código Florestal. Já a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 42, proposta pelo Partido Progressista (PP) defende a constitucionalidade da lei.
PSOL
Na primeira parte da sessão, as partes apresentaram suas alegações aos ministros. Em nome do PSOL, o advogado André Maimoni afirmou que o partido, embora seja a favor do desenvolvimento e dos negócios agropecuários, tem uma visão diferente quanto ao uso da terra da que foi expressa pela lei que, em seu entendimento, viola os princípios da responsabilidade e da solidariedade entre as gerações. Segundo ele, a norma flexibiliza e fragiliza o sistema ambiental. Ele apontou como inconstitucional, entre outros pontos, a anistia concedida aos produtores rurais em relação a danos ocorridos antes de 2008, sustentando que ainda que seja possível abrir mão de penas administrativas ou criminais, o mesmo não ocorre com a obrigação de reparar o meio ambiente. “Na visão do partido, a Constituição não dá guarida para irresponsabilidade em relação ao meio ambiente”, afirmou.
PP
O representante do PP, Rudy Maia Ferraz, afirmou que o novo Código Florestal faz a composição de interesses antagônicos e que revogar a lei depois de cinco anos de vigência representaria retrocesso. Em seu entendimento, a norma faz a composição entre pontos antagônicos, mas legítimos. Disse, ainda, que o partido foi motivado a ajuizar a ADC 42 porque, em razão de diversas decisões judiciais com resultados discrepantes, os produtores rurais estavam tendo dificuldades em saber quais pontos da lei estavam em vigor. Também em nome do PP, o advogado Vicente Gomes, argumentou que o novo código representa avanços na legislação do ponto de vista ambiental, dará previsibilidade e segurança jurídica e irá permitir maior controle sobre a preservação dos remanescentes de mata atlântica e do cerrado.
PGR
O vice-procurador-geral da República, Nicolau Dino, afirmou que, no entendimento da PGR, o novo código é falho na tentativa de conciliar preservação ambiental e desenvolvimento sustentável, dois preceitos constitucionais. Segundo ele, houve uma flexibilização nas regras de uso quanto às Áreas de Preservação Permanente (APP) e de Reserva Legal Florestal, reduzindo, de forma indevida nos níveis de proteção. Ele lembrou que a Constituição promove o que classificou de “direito de propriedade ambientalmente qualificado”, condicionando seu exercício com o dever de proteção ambiental e a manutenção de sua função social.
Apontou que, do ponto de vista da sustentabilidade ambiental e da função ecológica da reserva legal, é inconstitucional permitir sua recomposição com o plantio de espécies exóticas. Apontou os dispositivos que consolidam áreas desmatadas antes das alterações dos percentuais de reserva legal exigidos, concedem anistia de multas e isentam de reparação os responsáveis por desmatamento ilegal ocorrido antes de 22 de julho de 2008, violam a regra constitucional de proteção ambiental e reparação de danos.
AGU
A ministra da Advocacia-Geral da União, Grace Maria Fernandes, defendeu a constitucionalidade das regras do novo Código Florestal. Segundo ela, a lei inaugura uma nova perspectiva referente à gestão ambiental, fazendo o equilíbrio entre preservação ambiental e desenvolvimento nacional, sob o ponto de vista do desenvolvimento sustentável. A ministra afirmou que a gestão integrada de APPs e reservas legais é estratégia para evitar o fracionamento dos habitats e permitir sua melhor conservação. A ministra afirmou que a recomposição ambiental é obrigatória, mesmo para desmatamentos ilegais ocorridos antes de julho de 2008, mas o tratamento dado aos agricultores que tenham promovido danos ambientais é diferenciado, estimulando a recomposição das áreas.
De acordo com ela, as novas regras estimulam o infrator a se tornar um agente de recuperação de áreas degradadas pois, enquanto o proprietário rural cumprir termo de compromisso de reparação, as infrações nas quais tiver sido autuado ficam suspensas. Ela explica que não há anistia, mas sim a conversão da multa pecuniária em prestação de serviços ambientais e apenas no caso de a reparação pactuada ter sido integralmente cumprida. Afirmou, ainda, que a norma não é falha em relação à proteção ambiental no tocante à redução da reserva legal que, segundo a ministra, ocorre apenas na Amazônia Legal e se o município já tiver pelo menos 50% de sua área protegida, seja por unidade de conservação ou por reserva indígena.
Na sequência do julgamento, pronunciaram-se os representantes das entidades admitidas nos processos como amici curiae (amigos da Corte).
XÔ OBSCURANTISMO
Nelson Pretto*, Jornal A Tarde, 19.09.2017
Estive recentemente em Curitiba, capital do Paraná e da Lava Jato. Visitei o belíssimo MON – Museu Oscar Niemeyer. Estava interessado na mostra das obras apreendidas pela Operação, as quais deveriam estar lá, mas a sala estava fechada para manutenção, diziam os monitores.
Toda vez que visito esses espaços, fico a me perguntar por que não conseguimos atrair museus de grande porte para Salvador, que tem na cultura sua amálgama mais forte. Temos somente o MAM e Palacete das Artes, e nada mais de grandioso.
Em Belo Horizonte, encontramos o Museu de Arte da Pampulha; no Rio, os Centros Culturais BB e CEF; em São Paulo, o MASP, Tomie Ohtake e outros; em Porto Alegre, o belo Iberê Camargo, do arquiteto português Álvaro Siza Vieira, o MARGS e Santander Cultural. Neste último, nos deparamos recentemente com a covarde atitude do banco espanhol, que suspendeu a exposição Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira, em cartaz há quase um mês. Isso por conta de provocações lideradas pelo conservador Movimento Brasil Livre (MBL), que destilou seu ódio e intolerância nas redes sociais, alegando atentado à família, estimulo à pedofilia e zoofilia, entre outros argumentos. A exposição buscava mostrar como, através da arte, podemos ver e viver a diversidade da complexa sexualidade humana, nada mais necessário para o momento contemporâneo.
Ora, arte comportada, nem pensar! A função da arte é incomodar, isso sim! É provocar, e fazer-nos pensar sobre os nossos valores mais profundos. Há muito digo isso sobre a nobre função da educação: ela tem que incomodar e não acomodar!
Vivemos tempos obscurantistas. Não podemos baixar a guarda.
É obvio que nem todos precisam admirar obras de arte. Mas, se não gostam, que não vão à exposição. Simples assim. Agora, impedir que se aprecie essas obras chega a ser ridículo. Infelizmente, é isso que vivemos no País, trilhando caminhos perigosos da intolerância e censura.
Não podemos deixar de bradar, cotidianamente e em todos os espaços, por liberdade para a arte, para a educação, para o Brasil.
* Nelson Pretto é Professor da UFBA e Conselheiro da SBPC.
MELHORES UNIVERSIDADES PAGAS SÃO MENOS DISPUTADAS QUE PIORES PÚBLICAS
Luciana Alvarez, UOL Educação, 18.09.2017
A universidade está entre as 20 melhores do Brasil, tem mais de 50 anos de tradição e um campus moderno, oferece programas de intercâmbio no exterior e seus alunos são bem vistos no mercado de trabalho. Mesmo assim, a relação candidato-vaga da PUC-RS –melhor privada do país ficou em 0,9 em 2016.
O caso não é isolado: todas as universidades brasileiras com alta concorrência (mais de dez candidatos por vaga), são públicas, apesar da queda na qualidade dessas escolas. E até as melhores particulares, como PUC-RS ou a PUC-Rio, têm concorrência baixa (menos de 2) ou média (2,1 a 10 candidatos/vaga), respectivamente.
Para o diretor executivo da ABMES (associação de mantenedoras de ensino superior), Sólon Caldas, a disputa nas instituições privadas caiu nos últimos anos. `A preferência pelas públicas ficou mais manifesta desde 2015, com o esvaziamento do Fies (programa federal de financiamento estudantil)`, diz.
O desafio de atrair vestibulandos cresceu por causa do momento econômico do país. `Com o desemprego alto, muitos dos que gostariam de entrar numa faculdade deixam para depois`, diz Carlos Monteiro, presidente da CM Consultoria Educacional.
Ávila Oliveira, coordenador do cursinho Unificado, de Porto Alegre, diz ser clara a preferência dos alunos pelas públicas, em todas as classes sociais. `Mesmo com os problemas que têm enfrentado, elas mantém o prestígio.`
Segundo ele, a própria dificuldade para entrar torna as públicas mais desejáveis. `Como a seleção é rigorosa, quem cursa uma federal é aluno de alto rendimento.`
Vinda de uma família de baixa renda, Lavínia Veber, 20, conseguiu bolsa integral numa faculdade particular, mas sonha em cursar arquitetura na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). `Sei que há cursos bons, mas a faculdade particular nunca é tão valorizada`, diz ela, que agora faz faculdade e pré-vestibular. `Vou prestar vestibular na UFRGS no fim ano. Se não entrar, seguirei na particular.`
AVALIAÇÃO DA CAPES APONTA CRESCIMENTO DA PÓS-GRADUAÇÃO BRASILEIRA
CCS/Capes, 19.09.2017
No Brasil, o Sistema Nacional da Pós-Graduação (SNPG) cresce de forma sustentável e contínua, atingindo o crescimento de 25% no número de programas nos últimos quatro anos - em dados absolutos o sistema avançou de 3.337 para 4.175 programas entre os anos de 2013 e 2016.
No quadriênio apurado por essa avaliação, houve um aumento de 77% no número de cursos de mestrado profissional. O mestrado acadêmico e o doutorado também evoluíram atingindo um percentual de aumento de 17% e 23%, respectivamente.
Gráfico 1 - Demonstra o crescimento dos cursos de pós-graduação dentro do período avaliativo (Fonte: CAPES)
Mais da metade (51%) dos programas avaliados possuem mestrado e doutorado, totalizando 2.128; O SNPG tem hoje 1.270 programas dedicados exclusivamente ao mestrado acadêmico (30%); 703 são mestrados profissionais (17%) e 74 programas de pós-graduação possuem apenas o curso de doutorado (2%). Os números completos serão publicados nesta quarta-feira, 20, no portal da CAPES.
A primeira fase da avaliação foi concluída em agosto, após cerca de 40 dias de trabalho das comissões de especialistas, distribuídas em 49 áreas de avaliação. Foram analisados programas com, pelo menos, um ano de funcionamento. As comissões utilizam como base para a avaliação as informações fornecidas de forma contínua pelos programas durante o período avaliado, por meio da Plataforma Sucupira. Os critérios de avaliação consideram cinco quesitos: proposta do programa, corpo docente, corpo discente, produção intelectual e inserção social.
Nessa etapa houve uma mudança no sistema de avaliação que passou a adotar o intervalo de quatro anos entre as análises, período alterado em decorrência da aceleração do crescimento do sistema nacional de pós-graduação.
Os resultados da avaliação têm usos diversos: estudantes se baseiam nas notas para escolher seus futuros cursos e agências de fomento nacionais e internacionais orientam suas políticas segundo as notas atribuídas da avaliação. Os estudos produzidos são a base para uma agenda de redução de desigualdades entre regiões do Brasil ou no âmbito das áreas do conhecimento.
Crescendo com excelência
O país conta atualmente com 11% dos programas com desempenho equivalente a padrões internacionais de excelência, com notas 6 e 7, totalizando 465 programas de pós-graduação. Um percentual de 18% do SNPG atingiu nota 5, alcançando nível de excelência nacional. As notas 4 e 5 significam um desempenho entre bom e muito bom. Aos cursos que apresentam padrões mínimos de qualidade, com desempenho médio, é atribuída nota 3.
É importante ressaltar que os programas abertos recentemente, que não formaram turmas, e que participam pela primeira vez da avaliação, geralmente mantêm a nota inicial de recomendação, 3 e 4.
Gráfico 2 - (Fonte: CAPES)
Entre as áreas de avaliação com a maior concentração de cursos com excelência internacional estão Ciências Biológicas III (Microbiologia, Parasitologia e Imunologia) com 41,4%, Química com 34,8%, Astronomia e Física 33,3%, Matemática, Probabilidade e Estatística 32,3% e Geociências com 31,7%. Acesse aqui a tabela com a concentração dos cursos de excelência.
A avaliação quadrienal da CAPES revela que o crescimento dos cursos foi acompanhado pela manutenção da qualidade da pós-graduação brasileira. A maioria dos 4.175 programas avaliados (67%) tiveram suas notas mantidas; 22% aumentaram as notas e apenas 11% apresentaram queda nos índices.
Gráfico 3 - 67% dos programas mantiveram suas notas. (Fonte: CAPES)
Desempenho Regional
O amplo diagnóstico realizado pela CAPES também revela uma tendência de recuperação das regiões tradicionalmente defasadas. Na avaliação quadrienal verificou-se um bom desempenho da região Norte.
Em relação às notas, o Norte destacou-se com a maior proporção de notas mantidas e uma maior concentração de programas nota 03, por serem novos. Foram 113 programas com nota 3, e 72 com nota 4. O Norte tem cinco programas de excelência nacional com nota 6. São eles: o programa de Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em Manaus; e os programas de Geologia e Geoquímica, Genética e Biologia Molecular, Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários e Desenvolvimento sustentável do Trópico Úmido da Universidade do Pará em Belém.
Nesta região, onde a pós-graduação teve início relativamente tardio, estão localizados somente 5% dos programas brasileiros, num total de 227, e quase a metade deles está no Pará. Apesar do crescimento expressivo, a oferta ainda apresenta déficit já que cerca de 8% da população do país reside na região. Ainda assim 15% de seus programas melhoraram as notas.
Também em relação às notas, a região Sul concentrou a maior proporção de programas com notas aumentadas (28%) e a menor redução (7%). O Centro-Oeste teve aumento em 24% de suas notas e o Nordeste 19%. No outro extremo, o Sudeste teve a maior proporção de programas com notas diminuídas (14%), ficando acima da média nacional.
Avaliação Quadrienal
A Avaliação Quadrienal 2017 foi realizada por 1.550 consultores, que se reuniram no edifício-sede da CAPES, em Brasília de 3 de julho a 11 de agosto de 2017. Os consultores avaliaram os 4.175 programas e seus 6.303 cursos, sendo 3.398 de mestrado, 2.202 de doutorado e 703 de mestrado profissional.
As comissões utilizam como base para a avaliação as informações fornecidas de forma contínua pelos programas durante o período avaliado, por meio da Plataforma Sucupira. Ao início de cada ano, as informações referentes ao ano anterior são chanceladas pelos pró-reitores.
A relação de notas está publicada em listas organizadas por IES e Área de Avaliação, separadas por modalidade. Acesse, abaixo, cada uma das planilhas:
- Resultado por IES - Programas Acadêmicos
- Resultado por IES - Programas Profissionais
- Resultado por Área de Avaliação - Programas Acadêmicos
- Resultado por Área de Avaliação - Programas Profissionais
CAPES PODE DESCREDENCIAR 119 CURSOS DE MESTRADO E DOUTORADO NO PAÍS
Raphael Kapa e Renata Mariz, O Globo, 20.09.2017
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação (MEC) poderá descredenciar 119 programas de pós-graduação do país. Esses programas stricto sensu (mestrado, doutorado e mestrado profissional) receberam as notas mais baixas na mais recente avaliação do MEC, cujo resultado foi divulgado hoje no Diário Oficial da União. Os reprovados terão 30 dias para apresentar recurso à nota atribuída na avaliação oficial. As notas mais baixas, 1 e 2, representam 2,8% do total de programas avaliados.
Já um terço dos programas obteve nota 3, considerado padrão mínimo de qualidade. Segundo a Capes, esse percentual não deve ser considerado como significado de rendimento ruim porque boa parte deles é recém-criada ou foi submetido a apenas dois processos de avaliação. Ou seja, ainda é preciso esperar para ver se o programa se estrutura ou se os problemas perduram e não são corrigidos.
Os programas com nota 3, numa escala de 1 a 7, correspondem a 32,8% dos 4.175 programas existentes no país.
— Temos que ter uma atenção especial a esse grupo que está com nota 3. Para um curso novo existir é necessário que ele tenha as qualificações desta nota e com chance de atingir outras maiores nas próximas avaliações — avalia Robert Verhine, professor titular da Universidade Federal da Bahia e doutor em educação comparada.
UERJ NÃO TEVE PROGRAMAS DESCREDENCIADOS
No outro extremo, com padrão internacional de excelência evidenciado pelas notas 6 ou 7, estão apenas 11,1% dos programas, enquanto 17,9% alcançaram média 5, que mostra excelência nacional. Com nota 4, que representa bem ou muito bem avaliado, são 35,4%. Mesmo passando por uma crise financeira nos últimos anos, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) foi uma das que não tiveram programas descredenciados. UFRJ, USP, UFF, IME e UNB tiveram cursos de mestrados e doutorados descredenciados.
— A avaliação leva em conta quatro anos e as coisas que acontecem nos programas de pós-graduação não mudam rapidamente. A Uerj tem toda uma história construída, com um corpo docente constituído e forte. O impacto dos cortes demora mais na pós-graduação — afirma Robert.
Os dados fazem parte da Avaliação Quadrienal 2017, que abrangeu os 4.175 programas de pós-graduação e seus 6.303 cursos em 49 áreas de conhecimento. A análise leva em conta cinco quesitos: proposta do programa, corpo docente, corpo discente, produção intelectual e inserção social.
Dos cursos relacionados, são 3.398 mestrados, 2.202 doutorados e 703 mestrados profissionais. O número de formações cresceu 25% desde 2013, quando foi feita a última avaliação. O mestrado profissional apresentou o maior incremento proporcional no período, passando de 397 para 703 cursos, um salto de 77%.
— O mestrado profissional está sendo promovido por duas razões. A primeira é alinhar o conhecimento acadêmico com outras áreas da sociedade. Temos problemas com inovação por essa falta de integração. A segunda razão é que a Capes tem uma política de não financiamento dos programas profissionais. Promovê-los é bom para a Capes que não gasta dinheiro com eles — diz Robert.
Nas instituições públicas, 12,5% dos programas de pós-graduação alcançaram as melhores notas (6 e 7), contra apenas 5% das formações no ensino privado. Já no extremo oposto, com as menções mais baixas (1 e 2), o fenômeno se repete: 2,6% das formações oferecidas pelas públicas e 3,75% pelas particulares estão nessa faixa de avaliação. O mestrado é a pós-graduação stricto sensu com mais concluintes no Brasil. De 2013 a 2016, o país formou 187.971 mestres, 72.454 doutores e 32.513 mestres profissionais. No total, foram 80.197 pessoas tituladas no ano passado - um aumento de quase 20% em relação a 2013
TEMER MASCARA NA ONU RETROCESSOS AMBIENTAIS DE SEU GOVERNO
Maurício Tuffani, Direito da Ciência, 19.09.2017
Discurso do presidente se apoia em retórica genérica para causar impressão positiva nas Nações Unidas
Em seu discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, nesta terça-feira, o presidente Michel Temer creditou a seu governo avanços na proteção do meio ambiente que não correspondem à realidade. A começar por ele ter afirmado que “retomamos o bom caminho” no combate ao desmatamento, apesar ele ter reduzido a proteção de unidades de conservação, entre elas a Floresta Nacional de Jamanxin, subsidiando ocupações ilegais de produtores rurais grileiros em mais de R$ 600 milhões.
Transcrevo a seguir a parte do discurso em que Temer tratou sobre esses assuntos.
Em todas as frentes, o Brasil procura dar sua contribuição para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Contribuição que, necessariamente, inclui o combate à mudança do clima. Seguiremos empenhados na defesa do Acordo de Paris. No ano passado, aqui mesmo em Nova York, depositei o instrumento de ratificação do Acordo pelo Brasil. Essa é matéria que não comporta adiamentos. Há que agir já.
Meu país – e é com satisfação que o digo – está na vanguarda do movimento em direção a uma economia de baixo carbono. A energia limpa e renovável no Brasil representa mais de 40% de nossa matriz energética: três vezes a média mundial. Somos líderes em energia hídrica e em bioenergia.
O Brasil, senhoras e senhores, orgulha-se de ter a maior cobertura de florestas tropicais do planeta. O desmatamento é questão que nos preocupa, especialmente na Amazônia. Nessa questão temos concentrado atenção e recursos. Pois trago a boa notícia de que os primeiros dados disponíveis para o último ano já indicam a diminuição de mais de 20% do desmatamento naquela região. Retomamos o bom caminho e nesse caminho persistiremos.
Nenhuma menção, é claro, ao desastrado decreto de extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), gerador de um imbróglio que levou o governo às raias do ridículo.
Mal o presidente terminou sua fala, surgiram as primeiras reações. Seguem as avaliações de três especialistas em meio ambiente.
André Ferretti, gerente na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, coordenador-geral do Observatório do Clima e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza:
Ao afirmar que o Brasil deve se preocupar em desenvolver uma economia de baixo carbono e com a proteção da cobertura de florestas, o presidente Temer oculta as recentes atividades realizadas por seu governo. Nossas florestas e áreas protegidas nunca foram tão ameaçadas como nos últimos meses, seja por Medidas Provisórias que propõem a redução de unidades de conservação, seja por decretos que permitem atividades de mineração em plena floresta amazônica. Essas ações, que atendem ao interesse de uma minoria que detém poder no Congresso, põem em risco justamente o que se diz ser a maior riqueza do Brasil – o agronegócio. São exatamente os produtores rurais que necessitam dos serviços prestados por áreas naturais preservadas. Não se pode ignorar também a questão de segurança da sociedade, diante dos recentes eventos climáticos extremos. A melhor maneira de amenizar seus danos é por meio de de proteção e do restauro de ecossistemas. E a conduta de Temer não parece estar alinhada com seu discurso.
Maurício Voivodic, secretário-executivo do WWF Brasil:
O Brasil é o sétimo maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, e as últimas medidas propostas ou sancionadas pelo presidente Temer não contribuem para mudar esse cenário. Muito pelo contrário, colocam o país e o mundo em risco. Os dados oficiais produzidos pelo Inpe apontam que no ano de 2016 tivemos a maior alta do corte raso na Amazônia desde 2008 – perdemos quase 8.000 quilômetros quadrados de floresta – e boa parte em Unidades de Conservação. Além disso, estamos perdendo cobertura nativa no cerrado a uma velocidade tremenda: foram 9.483 quilômetros quadrados de vegetação desmatada em 2015. Isso equivale a mais de seis cidades de São Paulo e supera em 52% a devastação na Amazônia no mesmo ano. O que espera do governo brasileiro é uma política pública estruturada de combate ao desmatamento, na Amazônia e em todo país, dialogada com a sociedade.
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima:
Como todos imaginavam, o presidente Michel Temer tentou passar aos líderes mundiais uma imagem do Brasil sobre meio ambiente e mudanças climáticas que só se sustenta em páginas de discursos. Ele escondeu as altíssimas taxas de desmatamento, os números absurdos de incêndios florestais em todas as regiões do país e a escalada de violência contra povos indígenas e lideranças comunitárias, batendo recordes de assassinatos, que são resultado direto da destruição da agenda socioambiental do país em troca de votos da bancada ruralista. Retrocessos que só podem ser comparados aos promovidos pelo governo de Donald Trump nos EUA.
Não é a primeira vez que Temer apela ao Acordo de Paris para amenizar a imagem negativa que seu governo, desgastado sob acusações de corrupção acumula também na área ambiental. Em 5 de junho, em evento comemorativo do Dia Mundial do Meio Ambiente, no Palácio do Planalto, o presidente assinou o decreto de promulgação do Acordo de Paris sobre o Clima, cuja ratificação já havia sido encaminhada sua ratificação para as Nações Unidas em 21 setembro do ano passado. No mesmo dia, seis ex-ministros do Meio Ambiente pediam o veto às duas medidas provisórias que reduziram a proteção de unidades de conservação.
DADO DE REDUÇÃO DE DESMATAMENTO CITADO POR TEMER NA ONU É PRELIMINAR, DIZ IMAZON
Ambiente Brasil, 20.09.2017
Nesta terça-feira (19), o presidente Michel Temer discursou 72ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e apresentou um dado de mais de 20% da redução do desmatamento da Amazônia. A organização Imazon, autora do estudo citado por Temer, no entanto, diz que o “dado é impreciso” e que a redução tem uma relação com a queda nos preços no gado, não com uma política aplicada pelo governo.
“O desmatamento é questão que nos preocupa, especialmente na Amazônia. Nessa questão temos concentrado atenção e recursos. Pois trago a boa notícia de que os primeiros dados disponíveis para o último ano já indicam diminuição de mais de 20% do desmatamento naquela região. Retomamos o bom caminho e nesse caminho persistiremos”, disse o presidente em Nova York.
O levantamento publicado pelo Imazon se refere ao período entre agosto de 2016 a julho de 2017, feito por meio do Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD). Há quase um mês, o G1 adiantou o dado e mostrou a queda de 21%, o que interrompe uma curva de crescimento após cinco anos.
De acordo com Barreto, o estudo é importante porque ajuda a ter uma sinalização mais frequente da intensidade do desmatamento. O pesquisador conta que, antes, o número apresentado era anual, o que dificultava um acompanhamento e uma resposta mais rápida de proteção.
Porém, Barreto explica que o número é criado por meio de uma análise de imagens com resolução de 250 metros por 250 metros, o que não garante uma alta precisão sobre o que realmente está sob risco ambiental — só consegue filtrar áreas com mais foco de desmatamento.
“É um dado preliminar. Este número mensal é bom porque você consegue responder a casos de desmatamento com mais rapidez. O que nós contestamos é usá-lo como se fosse a taxa final, como se fosse um número preciso”, disse.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) faz um levantamento mais preciso, com resolução de 30 metros por 30 metros, com números divulgados anualmente. De acordo com o Imazon, há a expectativa de que este dado oficial também mostre uma redução do desmatamento no Brasil, mas não necessariamente resultado de uma ação do governo.
“Temer não pode atribuir uma eventual queda à política pública, porque o preço do gado caiu 15% entre 2015 e 2017, o que certamente influencia a redução do desmatamento. Eles [fazendeiros/produtores] ficam menos interessados em desmatar quando o preço está baixo”, disse Barreto.
O presidente recentemente recebeu uma série de críticas e de ações na Justiça devido a decreto para extinguir uma antiga reserva na Amazônia, a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca). A decisão do governo foi contestada por organizações não-governamentais, ambientalistas e celebridades. Segundo o governo, a extinção da reserva não torna irrestrita a exploração mineral na área.
Além disso, em julho deste ano, a Noruega anunciou o corte de metade do repasse ao Fundo Amazônia. Seriam R$ 200 milhões a menos para a proteção da floresta brasileira. Vidar Helgesen, ministro de Clima e Meio Ambiente da Noruega, disse, no entanto, que o valor exato do corte só vai ser definido no final deste ano.
“De acordo com as regras que foram desenhadas pelas próprias autoridades brasileiras, se o desmatamento aumenta, haverá menos dinheiro saindo da Noruega”, disse. “Se o desmatamento diminuir, o dinheiro volta”, ele garantiu. (Fonte: G1)
‘O BRASIL NÃO É DESIGUAL POR ACIDENTE’; ENTREVISTA COM PEDRO HERCULANO DE SOUZA, PESQUISADOR DO IPEA
Maíra Mathias – EPSJV/Fiocruz, Ecodebate, 20.09.2017
No último fim de semana, novos dados sobre a persistente desigualdade social brasileira voltaram a circular. O recente estudo de Marc Morgan, do World, Wealth & Income Database, cruza as declarações de renda dos brasileiros nos últimos 15 anos com pesquisas domiciliares e de renda nacionais.
O pesquisador, vinculado ao grupo do economista francês Thomas Piketty, demonstra que ao contrário do que se pensava, a desigualdade no Brasil cresceu no período. Segundo ele, o 1% mais rico concentra 28% da renda nacional – um crescimento de 3% desde 2001. O contraste com as pesquisas domiciliares é grande: se dependesse só dos dados da Pnad, feita pelo IBGE, o número seria 11% da renda. Também os 10% mais ricos aumentaram sua participação na renda: foram de 55% para 61%. E os 50% mais pobres subiram de 11% para 12%. Quem perdeu então? Segundo Morgan, enquanto as elites e os mais pobres conseguiram ganhos, os 40% no meio declinaram sua participação de 34% para 32%.
Esses achados não são novidade para quem leu os últimos estudos produzidos aqui mesmo no Brasil, por pesquisadores como Rodrigo Orair, Sergio Gobetti, Evilásio Salvador, Marcelo Medeiros e Fábio Castro. O entrevistado da semana faz parte desse time. Pedro Herculano de Souza, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), analisou em 2016 a mais longa série histórica do imposto de renda já publicada, que vai de 1926 a 2013. O período em que fomos menos desiguais foi entre 1942 e 1963, quando o 1% mais rico chegou a abocanhar ‘apenas’ 17% da renda total. Isso foi uma exceção, já que ao longo desses anos o centésimo mais rico deteve entre 20% e 25% de todos os rendimentos brasileiros fatia que, desde 2006, está na casa dos 23% – e agora, segundo Marc Morgan, pode ter chegado a 28%.
Para começar a conversa, acho importante diferenciar as diferentes formas de se medir a desigualdade de um país. Para onde olhavam os pesquisadores que apontavam que a desigualdade no Brasil vinha caindo?
Basicamente para as pesquisas domiciliares do IBGE, principalmente a Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio], que era anual, agora é semestral e virou a principal fonte. É uma pesquisa que todo mundo considera muito boa, com razão. E não só aqui, como no mundo inteiro, a partir dos anos 1960, as pesquisas domiciliares se transformaram na forma padrão de medir a desigualdade. São pesquisas que começaram a ser feitas em grande escala mostrando, ao mesmo tempo, renda, educação, mercado de trabalho. Então, viraram matéria-prima fundamental. Porém, se essas pesquisas têm vantagens, sempre se soube que elas também têm desvantagens quando o objetivo é medir a desigualdade em uma sociedade.
Quais são elas?
As pesquisas domiciliares não medem bem a renda de quem é muito rico. Elas medem bem a renda do trabalho, ou seja, de quem é assalariado, mas não a renda do capital. Basicamente, quem é muito rico nem é sorteado nem topa ser entrevistado. Se topa, tem maior probabilidade de não querer dizer a sua renda ou de subestimar a sua renda. Isso acontece porque é mais fácil você lembrar qual o valor do seu contracheque do que fazer uma conta com todos os investimentos que você tem no banco. E sempre se soube que isso era um problema mas, durante muito tempo, como nos países mais ricos a desigualdade estava baixa, isso não era um problema tão grave.
O que fez com que outros pesquisadores olhassem para um outro conjunto de variáveis que apontam exatamente o crescimento da desigualdade, inclusive no Brasil?
Isso começa a mudar no início dos anos 2000, principalmente a partir do trabalho do Thomas Piketty [economista francês que ficou mundialmente conhecido em 2013 a partir da publicação de ‘O Capital no Século 21’, onde demonstra como a desigualdade no mundo explodiu a partir dos anos 1980].
Ele não inventou nada novo, mas recuperou uma prática que existia no começo do século 20 e tinha sido esquecida: usar dados do imposto de renda. Antes da criação das pesquisas domiciliares mundo afora, media-se a desigualdade pelo imposto de renda. Piketty fez um baita trabalho histórico e resgatou isso, fez melhorias metodológicas, e mostrou a trajetória da desigualdade desde a Primeira Guerra Mundial, primeiro na França, depois, nos Estados Unidos e em outros países.
A partir daí, ficou mais claro que as pesquisas domiciliares subestimam muito o rendimento dos mais ricos e por que isso é um problema. Nos Estados Unidos, todo o aumento da desigualdade que aconteceu dos anos 1980 para cá foi concentrado no 1% mais rico; no 0,1% mais rico. O imposto de renda mostrou que o aumento da desigualdade foi muito maior do que as pesquisas domiciliares sugeriam.
Então esse trabalho contribui para a formação dessa onda de novas pesquisas inclusive no Brasil?
No Brasil a gente também usava pesquisa domiciliar por vários motivos. Primeiro, porque aproximadamente só 20% dos adultos pagam ou declaram imposto de renda. E a pesquisa domiciliar cobre a população toda. Segundo, porque os próprios dados do imposto de renda disponibilizados pela Receita Federal nunca foram muito contínuos ao longo do tempo. Eles publicavam, paravam, voltavam a publicar mas com outro formato… O resultado é que desde o final dos anos 1990 estávamos no escuro. Até que em 2016, eles liberaram um conjunto de tabelas. E esses dados mostram um quadro bem diferente do que as pesquisas domiciliares mostravam.
E qual é a metodologia usada pelos organismos internacionais, que respaldavam a queda da desigualdade no Brasil?
Os organismos internacionais usam as pesquisas domiciliares que são feitas nos países. O indicador mais tradicional é o índice de Gini, que é muito sensível ao que acontece na faixa populacional que está no meio dos extremos da distribuição de renda. É um indicador popular no mundo todo, mas não é o único. Existem outros indicadores que dão mais peso ao que acontece com os mais ricos; outros dão mais peso ao que acontece entre os mais pobres. Até aquele momento, a melhor informação disponível mostrava uma queda na desigualdade. Mas como o dado do imposto de renda capta muito melhor o rendimento de quem é muito rico, os resultados mudaram. Isso está sendo demonstrado por vários colegas brasileiros, por mim e, agora, pelo centro de pesquisas do Piketty. Os resultados podem ter pequenas diferenças, mas apontam para a mesma direção e as conclusões são basicamente as mesmas.
Uma parte importante do capital político do Partido dos Trabalhadores vem da melhora da vida da população mais pobre durante os anos em que esteve no poder federal. Mas esses novos estudos vêm mostrar que a desigualdade não diminuiu. Por quê?
Houve alguma redistribuição entre os 50% mais pobres. Mas quem perdeu em termos relativos não foram os mais ricos e sim quem estava no meio. A fatia dos ricos não mudou nada e a renda seguiu muito concentrada no topo, aquele 1% e 10% mais ricos.
Você descobriu que o 1% mais rico abocanhou entre 20% e 25% da renda nacional num período de tempo longo, de 1926 até 2013. O estudo de Marc Morgan fala que essa porção chegou, em 2015, a 28% da renda nacional…
Parece bem razoável dizer pelo menos que a desigualdade ficou bastante estável nesse período, certo? Não é dizer que nada mudou. Alguma distribuição na parte de baixo houve; não foi muito grande mas houve. Mas a renda é tão concentrada no topo que acaba que isso tem uma influência muito grande sobre qualquer indicador de desigualdade. E como, de acordo com os dados do imposto de renda, o topo não mudou, a desigualdade continuou.
Não estou dizendo que a Pnad esteja errada, nada disso. Mas, fazendo a leitura mais cética dos dados de imposto de renda, é possível dizer, no mínimo, que se houve alguma queda da desigualdade ela foi bem menor do que a gente imaginava. E também que, agora, as melhores evidências sugerem que houve estabilidade porque não houve mudança significativa do que acontece no topo. Acho que esse é um bom resumo do que a gente sabe até agora. Mas nada impede que num futuro próximo, a gente tenha mais dados ou dados mais detalhados e tenha que rever isso.
Em que medida o foco dos estudos sobre a desigualdade recair sobre a renda dos mais pobres e a ênfase de vários organismos internacionais ser a redução da pobreza tem sido uma cortina de fumaça para o poder econômico e político do 1% mais rico que só muito recentemente ganha a atenção dos movimentos sociais? Isso ajudou que, durante um tempo, a concentração de renda dessas elites ficasse escondida?
Essa pergunta é essencial sob vários aspectos. Inevitavelmente, ajudou e ajuda. Do ponto de vista dos organismos internacionais, temos que reconhecer que eles não têm poder para coagir os países a comprarem determinadas bandeiras. Funcionam na base da adesão. Politicamente, é óbvio que eliminar a pobreza é muito mais palatável do que falar em desigualdade dentro da sociedade. Infinitamente mais palatável do que afirmar que o 1% mais rico cumpre um papel fundamental nessa dinâmica, etc. Afinal, ninguém vai dizer que é contra reduzir a pobreza… É como reduzir a mortalidade infantil, não existe antagonismo nisso. Uma consequência de o foco recair na redução da pobreza é que os governos podem apostar na narrativa de que só com crescimento econômico conseguem resolver o problema.
Sem questionar as bases estruturais da desigualdade…
Foi basicamente o que aconteceu. Houve uma queda da pobreza internacional, algo em torno de US$ 1,90 por pessoa ao dia nos últimos 30 anos. É uma queda brutal que foi puxada, sobretudo, porque a China e a Índia cresceram muito e são países muito populosos. Todo mundo pode e deve comemorar, mas foi puxado totalmente por crescimento econômico. Agora, falar em redução da desigualdade e em redistribuição de renda é muito mais difícil.
Até porque após a Segunda Guerra Mundial a desigualdade caiu no mundo desenvolvido. A própria guerra nivelou a sociedade, os ricos deixaram de ser um problema, digamos assim. E enquanto por lá a desigualdade estava baixa, não parecia ser um problema tão premente. Até o início do século 21, a desigualdade não estava na agenda política e intelectual. Agora, isso começa a mudar. Até nos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU já há uma meta de combate à desigualdade. Então é algo que depende muito da capacidade da academia e dos movimentos sociais, dos partidos políticos de pautarem o tema. Mas, evidentemente, falar de pobreza é sempre mais confortável, você não cria nenhum antagonismo imediato. Já quando você fala em desigualdade gera reações muito viscerais e muito imediatas, então é um tabu. Mas acho que esse tabu está diminuindo…
Inclusive no Brasil?
O Brasil é um caso engraçado. Quase todos os partidos políticos em algum momento do seu programa falam em diminuir a desigualdade, o tema já está incrustado na retórica política brasileira mas, ao mesmo tempo, não se faz muito a respeito. Todo mundo reconhece mas só da boca para fora. Óbvio que tem uma pressão por incorporar as camadas mais pobres e oferecer serviços; isso, sem dúvida nenhuma. Mas o tema de concentração de renda entre os mais ricos no Brasil tem pouca ressonância política.
Qual é o combate mais eficaz à concentração de renda entre os mais ricos? Seria uma mudança importante no imposto de renda?
O Brasil não é desigual por acidente. Ser [um país] desigual como o Brasil requer muito esforço. Nenhuma medida isolada vai resolver o problema, nem transformar o Brasil na França em um par de décadas. E olha que a França nem é o país mais igualitário do mundo, mas é um país razoável. Dito isso, acho que muitas coisas teriam que ser feitas na hipótese de a redução da desigualdade se transformar em uma prioridade para o país. Teria que fazer muita coisa ao mesmo tempo e de maneira sustentada num prazo de 20, 30 anos, para caminhar rumo a um nível francês.
Nesse instante, o que poderia ajudar mais seria fazer uma reforma tributária que mudasse o cenário. Quando falo em mudar, não falo em aumentar o volume da carga tributária total, que é alto para o nosso nível de desenvolvimento. Estou falando em mudar a composição da carga tributária, em aumentar os tributos diretos de uma forma mais progressiva que diminuísse a tributação indireta sobre o consumo. Não resolveria o problema da desigualdade, mas seria um primeiro passo bastante promissor.
Nesse sentido, também poderíamos corrigir distorções que existem como a isenção da tributação sobre os dividendos e a própria alíquota máxima de 27,5%, que é relativamente baixa. Países parecidos com o Brasil cobram 35%, o próprio Brasil já cobrou mais do que isso. E rever outros impostos, como o IPTU, que poderia ser muito mais progressivo. O IPTU é mal cobrado no Brasil. Era para ser um imposto super-redistributivo e não é nada redistributivo. Corrigir todas as distorções seria um ótimo primeiro passo, mas eu não vejo muita chance de isso acontecer.
Na sua tese, quando olha para a concentração de renda ao longo de nove décadas, você descobre que o período em que a elite saiu desse patamar de abocanhar entre 20% e 25% da renda nacional para um número menor, de 17%, foi no período imediatamente antes do golpe empresarial-militar. Mostra que, longe de ser esse agente passivo que ‘paga o pato’, a elite brasileira se organiza para derrubar medidas e governos que ataquem seus interesses…
Nos anos 1960, muita coisa estava acontecendo no Brasil. Depois do Estado Novo, tivemos uma democracia francamente em expansão e um debate público muito forte, um nível de mobilização política crescente, tanto na cidade quanto no campo, que foi uma novidade da época. E tudo isso rapidamente degringolou para uma polarização que terminou no golpe. O sistema político não foi capaz de lidar com aquele conflito. Óbvio que tinha a Guerra Fria que também piorava a questão.
Os primeiros anos da ditadura foram dureza, houve muita coisa ao mesmo tempo que favoreceu a concentração de renda. O PAEG, de 1964 a 1967, era explicitamente baseado no diagnóstico de controle da inflação pelo arrocho salarial. O salário mínimo teve uma queda real, os reajustes foram bem abaixo da inflação, os índices de inflação foram manipulados; para não falar em toda a perseguição política. Um pouco depois houve também um esforço deliberado de favorecer a concentração bancária, por exemplo, com a ideia de que bancos maiores seriam mais eficientes e, no final das contas, os bancos só ficaram maiores, tendo menos competição. Foi um ataque em múltiplas frentes, justamente porque o golpe tinha acabado de acontecer. Foi um período em que teve uma liberdade reformista muito grande e todas as reformas foram na linha de contenção salarial, de um lado, e liberalização para facilitar a vida do empresariado, do outro.
Qualquer semelhança não é mera coincidência…
Pois é, se repete mais ou menos. Hoje, o que eu vejo é uma forte oposição a qualquer medida de cunho redistributivo mais forte. Um exemplo é quando o Fernando Haddad [ex-prefeito de São Paulo] tentou implementar uma progressividade no IPTU e foi impedido pela Justiça, que deu ganho de causa para uma ação da Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo]. Não é uma oposição vinda só dos deputados e senadores, mas de toda uma elite que inclui uma fração do próprio poder público, que é o Judiciário. E, do outro lado, não há um contrapeso organizado, homogêneo e com força, então fica um jogo muito assimétrico. Até os grandes sindicatos, como a CUT, defendem corrigir a tabela do imposto de renda pela inflação para diminuir as alíquotas efetivas.
Como esses novos estudos que miram na desigualdade vendo a dinâmica do topo da pirâmide podem ajudar a desmontar a percepção disseminada de que todo mundo paga o pato? Porque a força simbólica desse discurso parece demonstrar que o assunto tem alguma relevância para a população…
É um problema de comunicação, também. Quando você fala que a carga tributária é alta – e realmente ela é alta para o nosso padrão de desenvolvimento –, parece que todo mundo paga a mesma coisa. Pelo que eu vi desde os anos 1920, dificilmente sairemos do nível de desigualdade em que estamos, para o bem, mas também duvido que a gente vá piorar muito mais do que isso. É quase inviável, não existem exemplos muito piores do que o Brasil, estaríamos inventando um novo tipo de sociedade. Mais provável é que a gente continue igual e o discurso do pato continue reverberando sem que a discussão avance. Eu vejo pouco esforço dos próprios partidos, talvez porque sejam muito dependentes de financiadores de campanha que, obviamente, são as grandes empresas.
Ou porque acreditam na política de conciliação.
É muito mais fácil tentar acomodar todas as demandas pelo lado do gasto [público] até o momento em que não dá mais. Aí estoura uma crise fiscal, faz-se um ajuste para tentar acomodar de novo todo mundo até a próxima crise fiscal. A história do Brasil é isso: não fazer escolhas e conciliar. Mas o caso brasileiro é dramático pelo patamar de desigualdade.
O Brasil é o país mais desigual do mundo?
Não, porque comparação internacional é sempre complicada. Você faz o melhor possível para compatibilizar os dados mas nunca é perfeito. E também a gente não tem dado para todos os países do mundo. Provavelmente os piores países são aqueles que não conseguem sequer ter estrutura para gerar esses dados. Mas, entre os países sobre os quais há dados, o Brasil está sempre ali: ou é o pior ou está entre os piores. Não sei se entre os dez, os 20 ou os 30 piores, mas que a gente está entre os piores, está.
É importante lembrar que a maior parte do mundo era muito desigual nos séculos 18 e 19. Os países onde realmente a coisa mudou relativamente em pouco tempo foram aqueles que passaram por catástrofes muito grandes. Notadamente, a Primeira Guerra Mundial, a grande depressão de 1929 e a Segunda Guerra mudaram radicalmente a distribuição de renda em vários países ricos. Países que, no início do século 20, não eram tão diferentes do Brasil mas que, depois da Segunda Guerra, já eram completamente diferentes.
Nosso grande desafio seria inventar um jeito pacífico, tranquilo, sem catástrofe, de sermos o primeiro país a sair desse nível de desigualdade e chegar a um nível civilizado. Eu não conheço exemplos assim. Em geral, acontece alguma coisa muito errada que obriga uma distribuição de perdas. A necessidade acaba forçando regras que impõem uma redistribuição e um conjunto de políticas que nasce junto.
Os Estados Unidos fizeram o caminho inverso, conseguiram sair de uma desigualdade baixa para uma desigualdade alta de um jeito relativamente pacífico. Esse exemplo existe; o oposto é que parece ser bem mais difícil.
E o que você considera um nível civilizado de renda para o 1% e para os 10% mais ricos?
Na maior parte dos países do mundo, o 1% quase sempre ganha entre 5% e 15% da renda. Os países que estão acima de 15% são, em geral, os países latino-americanos – Brasil, Argentina, Colômbia –, também a África do Sul e os Estados Unidos. Se o Brasil um dia tiver esse 1% mais rico ganhando 12% da renda, eu estaria bem satisfeito. Seria melhor do que a previsão mais otimista. Mas isso significa que, na prática, teria que cair de 24% para 12%, uma perda relativa de metade da renda. Isso não quer dizer tirar metade da renda de ninguém, mas que o crescimento [da renda] desse 1% teria que ser bem menor do que no restante da sociedade, o que é muito difícil de acontecer. Os 10% teriam que ganhar abaixo de 40% da renda, pelo menos.
E a gente está em 60%, segundo os dados.
Seria outra diminuição bem grande. Estamos longe.
E esses 40% que no estudo do centro do Piketty é caracterizado como ‘classe média’ tem ter uma participação de, pelo menos, 40% na renda nacional também?
Com certeza, mais até. Mas pelo menos isso.
E, segundo a pesquisa, a participação desta parcela caiu de 34% em 2001 para 32% em 2015.
Só a participação desse 40% em 40% da renda mudaria completamente a sociedade brasileira. Em um nível que a gente não consegue nem imaginar. O Brasil é um país acostumado a ser desigual, isso é um problema enorme.
A aposta padrão de todos os governos é tentar, de alguma forma, fazer o crescimento voltar a todo custo: se voltar, maravilha, tentar capitalizar em cima disso, acomodar as demandas – e as demandas do Brasil são infinitas, dado o grau de carência, não tem nem saneamento básico universalizado. A aposta vai ser como sempre foi: vamos esperar que o crescimento vá resolver. E, possivelmente, enquanto estiver crescendo, as coisas vão se acalmar, quando a renda está subindo as pessoas ficam mais satisfeitas.
O MASSACRE DAS ABELHAS
Comentários de Nagib Nassar
A noticia de massacres de abelhas relatada pelo jornal eletrônico Ecodebate e atribuída aos agrotóxicos tem parte de verdade, a outra parte não é.
O fenômeno do desaparecimento das abelhas foi explicado que tem ocorrido no mundo todo, Isto é certo ate uma certa limite pois em certos países europeus não há , e está associado ao uso de agrotóxicos que contêm neonicotinoides. O artigo do Ecodebate disse, isto não é verdade pois a nicotina e derivados são usados desde mais de setenta anos no mundo inteiro e no Brasil especificamente.
O fator novo no Brasil nos últimos cinco anos e nos Estados Unidos desde quinze anos é a expansão das plantas transgênicas Bt. Isto coincide exatamente com histórico das abelhas mortas. A imprensa americana debateu intensivamente nos últimos dez anos pois cada ano a desastre aumenta e as perdas ficam maior e todas imprensas livres refere as culturas Bt particularmente algodão e hortaliças crucíferas.
Vários jornais publicaram alertando aos danos causados pelo plantio dos transgênicos Bt. Calcula-se que 50% a 90% das abelhas que se alimentam do pólen de sua florada, tenham desaparecido nos EUA, só em ano. A morte de abelhas refletiu em perda de mais de dois terços da produção nacional americana de mel. Trata-se de uma quantia avaliada por nada menos de 14 bilhões dólares anualmente! Em todos os cantos há reclamações pelos agricultores americanos sobre as abelhas que estão acabando, desaparecendo! e colmeias vazias!
Em 24 Estados onde se concentram atividades agrícolas e se plantam as culturas transgênicas Bt. A inserção dessa toxina, por meios moleculares às culturas americanas, aumentou nos últimos anos e incluiu várias culturas hortícolas e de campo, estendendo a culturas como as do algodão, até mesmo à da mostarda.
Uma grande parte dessas culturas são plantas algemas, que dependem da polinização por insetos para formar seus frutos. Os insetos polinizadores mais ativos são as abelhas. Há ainda outros insetos que pertencem a outras famílias, mas todos estão unidos pelo perigo de serem contaminados pela uma toxina, durante suas visitas às flores de plantas.
Quando as colmeias começaram a ficar desabitada, foram notadas pelos agricultores americanos, que perceberam algo perigoso pairando no ar. Logo os seus medos ficaram ainda maiores, quando o desaparecimento das abelhas aumentou a cada ano, atingindo nos últimos anos um nível de 90% das colmeias em alguns estados, como a Flórida.
Os cientistas chamaram o caso de Colapso Desordenado de Colmeias (CDC), atribuído principalmente pela intoxicação oriunda da toxina de plantas. Inicialmente, o CDC foi notado na Flórida e logo confirmado em todos os Estados agrícolas plantadores de culturas Bt, particularmente o algodão e a mostarda.
Os agricultores produtores de mel relataram perda na produção do mel de nada menos que 50%, chegando a alguns estados a 90%. Esse índice não tem antecedência em toda a história da produção agrícola nos EUA.
Há uma preocupação aumenta cada dia entre os economistas e analistas agrícolas americanos que a catástrofe possa ser ainda maior e afetar significativamente a produção e o consumo alimentício em todos os EUA.
Somente nos anos passados a perda é calculada anualmente nos EUA foi em torno de 1/3 de toda a produção alimentícia americana. Se o perigo chegou ao Brasil nos últimos anos não devemos fechar os olhos ao que pode ficar a causa. E se a perda como calcula Ecodebate é uma morte um bilhão de abelhas, como ficar próximo ano?
O Brasil é o maior produtor de mel em toda a América Latina. Além disso, o mais importante é que nós somos o maior produtor mundial de culturas alimentícias, que dependem de polinização por insetos, como a laranja e outras plantas cítricas. Estamos olhando silenciosamente a destruição do nosso meio ambiente e ecossistemas, e andando cegos a uma catástrofe que não tem fim.
CELULARES PODERÃO CONTAR COM CÂMERA CIENTÍFICA
Site Inovação Tecnológica, 19.09.2017
O protótipo já é adequado para inserção no gabinete de um celular comercial. [Imagem: Micro and Nanotechnology Lab/University of Illinois at Urbana-Champaign]
Laboratório em um cellular
Embora já existam celulares com até três câmeras, pesquisadores da Universidade de Illinois, nos EUA, estão tentando vender para a indústria a ideia de adicionar aos aparelhos o que eles de "câmera científica".
Trata-se de um sensor de imagem especial projetado para ser usado em aplicações médicas, monitoramento ambiental e, por que não, para captar algumas imagens interessantes com outros espectros de cor.
Os professores Brian Cunningham e John Dallesasse estão nesse projeto há três anos, quando a Fundação Nacional de Ciências dos EUA lhes deu a incumbência de desenvolver um "laboratório em um celular" - ou dito de outra forma, de transformar um telefone celular em um pequeno laboratório portátil de múltiplos propósitos.
Agora eles apresentaram a primeira versão de uma câmera espectroscópica que cabe dentro de um celular comum e utiliza apenas componentes disponíveis comercialmente - principalmente os LEDs para iluminação das amostras.
Câmera espectroscópica
A câmera foi projetada para captar os comprimentos de ondas da luz - o espectro - que revelam como a luz é absorvida pelos líquidos e refletida pelos sólidos. Esse espectro dá informações precisas sobre os materiais, permitindo desde analisar a composição química de uma amostra, até realizar exames médicos.
Uma das principais preocupações da equipe foi eliminar a necessidade de que o celular fosse conectado a outro aparelho para completar as leituras, de forma a viabilizar o conceito de laboratório portátil. Com esta câmera espectroscópica, o celular pode ser colocado diretamente sobre a amostra sólida ou sobre um cartucho contendo a amostra líquida e dar os resultados na tela ou transmiti-los para o médico, por exemplo.
"Para que o conceito funcione, os fabricantes de smartphones adicionariam uma câmera para fins científicos [aos seus aparelhos]", explicou o professor Cunningham. "Os píxeis do sensor de imagem adicional teriam um filtro linear variável colado por cima, que transforma a câmera em um espectrômetro. Como o componente seria uma parte integral do telefone, as informações geradas por ele podem ser integradas perfeitamente com outras informações sobre o paciente e o teste que está sendo realizado, ao mesmo tempo interagindo com um sistema de serviço inteligente baseado na nuvem que fornece feedback imediato."
Para demonstração do conceito, a equipe realizou um exame chamado ELISA, sigla em inglês para ensaio de imunoabsorção enzimática, que detecta a enzima fibronectina, uma proteína cuja concentração é usada para ajudar a determinar o risco de que uma mulher grávida dê à luz prematuramente.
Negociações
O professor Cunningham afirma que já está em contato com vários fabricantes de celulares para tentar vender a ideia, se possível em associação com prestadores de serviços de saúde.
"Eu acredito que a 'saúde móvel' vai significar testes de diagnóstico médico para a nutrição ou o bem-estar, um serviço que as principais empresas de smartphones podem ajudar a fornecer," disse ele. "Elas estão procurando maneiras pelas quais os cuidados com a saúde podem ser incorporados em suas capacidades. Esperamos encontrar empresas interessadas em diferenciar seus telefones de outros ao apresentarem essa capacidade".
Bibliografia:
Integrated spectroscopic analysis system with low vertical height for measuring liquid or solid assays
Yuhang Wana, John A. Carlson, Saoud A. Al-Mulla, Wang Peng, dKenneth D. Long, Benjamin A. Kesler, Patrick Su, John M. Dallesasse, Brian T. Cunningham
Sensors and Actuators B: Chemical
DOI: 10.1016/j.snb.2017.08.126
DEZ ERROS QUE MOSTRAM FALTA DE INTIMIDADE COM O INGLÊS
O GLOBO, 18/09/2017
Música, séries de TV, publicidade, roupas, apps e livros. A língua inglesa está inserida em quase todos os aspectos da vida dos jovens brasileiros. Para quem duvida disso, é só lembrar os momentos do dia em que o idioma se faz presente: ao dar play no serviço de streaming pelo smartphone, ao usar o Instagram para fazer “stories”, ao abrir um site, escolher um “look” para usar, ler um e-book ou comer fast food.
Mesmo assim, alguns ainda se sentem pouco íntimos da língua, principalmente nos momentos de avaliação em provas. Um dos motivos para essa barreira é a maior dificuldade com a gramática, algo que pode se estender até o Ensino Médio e influenciar a nota do Enem.
Para Ana Paula Cruz, gerente do departamento pedagógico da Yes! Idiomas, um dos erros mais graves cometidos pelos estudantes no aprendizado de inglês é estabelecer relações inexistentes entre a língua materna e o idioma estrangeiro.
— Muitos alunos costumam fazer associações entre o inglês e o português, mas as duas línguas têm estruturas bem diferentes. O português é bem mais difícil. É comum as pessoas se confundirem com o uso de verbos auxiliares ao tentar aplicar as regras de um idioma em outro — pontua Ana Paula.
10 erros comuns no uso do inglês
Omissão do sufixo “s” na terceira pessoa do singular
O verbo “did” fica sempre antes do sujeito em interrogativas
Phrasal Verbs: as preposições podem alterar o significado de cada verbo
Large x Largo: “large” significa grande em inglês, e não largo
Pretend x Intend: “To pretend” significa fingir, enquanto “To intend”, pretender
Actually x Nowadays: os dois termos têm sentidos diferentes
Private x Particular: “Particular” indica algo específico, enquanto “Private” significa algo particular
Troca do pronome pessoal: “he” refere-se sempre a “ele”, enquanto “she” a “ela”
Present Perfect x Past Perfect: “have” e “has” à frente do sujeito sinalizam Present Perfect
Artigo antes de adjetivo: só é possível quando o adjetivo está acompanhado de substantivo
Ana Paula lembra que é comum a dúvida no uso da letra “s” em verbos que concordam com a terceira pessoa do singular. Por exemplo, a frase “She likes to play games” é frequentemente escrita com omissão do “s” (“She like to play games”), o que está incorreto. Na terceira pessoa do singular (“he”, “she” e “it”), usa-se o sufixo “s” ou “es” para o verbo principal. Ou seja, “He watches TV every week”, e não “He watch TV every week”.
Verbos em frases interrogativas também são motivos de incerteza, segundo a educadora. Nesse caso, usa-se o verbo auxiliar “did” (passado de “do”) sempre antes do sujeito. Exemplo: “Did you like it?” ou “Where did she go?”. Isso rende problemas porque as perguntas não precisam ter a ordem alterada em português. Assim, “Ela foi ao parque.” e “Ela foi ao parque?” estão corretas. Em inglês, porém, é necessária a alteração. “She went to the park” corresponde à interrogativa “Did she go to the park?”.
Ana Paula Cruz ressalta ainda que os grandes vilões para quem tem dificuldades com a gramática do inglês podem ser os “phrasal verbs”, verbos com o sentido completamente modificado de acordo com a preposição que os acompanha:
— Os phrasal verbs, ou seja, o verbo com uma preposição, são muito complicados porque exigem exemplos em mente para cada caso, como “put”, “cut” e “get”. Esses são verbos que tomam significados bem diferentes a partir de cada preposição, como em “get up” [levantar-se], “get away with” [se safar] e “get to” [chegar a].
Alguns conceitos simples, no entanto, podem deixar muitos alunos em dúvida. A tradutora Luciana dos Santos foi professora de inglês por mais de 10 anos e lembra que assuntos do nível básico confundem até alunos avançados, como a troca de pronomes pessoais.
— A confusão entre “he” [ele] e “she” [ela] é mais comum do que as pessoas imaginam. Quando os alunos estão aprendendo uma língua, tudo é diferente, dos fonemas à grafia. É normal que muitos desses tópicos confundam, mesmo após alguns meses de estudo — ressalta Luciana.
Outro conceito do inglês que a tradutora considera fonte de problemas é a dificuldade para diferenciar tempos verbais. Enquanto o present perfect diz respeito ao passado com influência no presente, o past perfect é o passado totalmente resolvido. Uma dica é perceber que, quando “has” e “have” estão à frente, trata-se do present perfect. Por exemplo, “I have had so many jobs” indica um passado que faz parte do presente, enquanto “I had so many jobs” sugere um passado concluído.
Há ainda outro motivo de dor de cabeça para os estudantes, de acordo com Ana Paula Cruz. Os “false friends”, ou “falsos amigos”, confundem quem está aprendendo o idioma.
Como o nome já indica, “falsos amigos” são termos entre duas línguas que enganam. Eles têm grafias parecidas, mas significados completamente diferentes, como “large” e “largo”.
pesar de ser quase idêntica, a palavra em inglês se refere ao tamanho grande, e não à largura de algo.
Quase sempre em tom de pegadinha, alguns falsos cognatos já foram cobrados no vestibular e até no Enem. Ao argumentar sobre a importância de conhecer os “false friends” e outros segredos do tipo, Ana Paula Cruz lista várias situações similares onde os alunos mais tropeçam:
— “Pretend” [fingir] e “intend” [pretende] são muito confundidos, assim como “actually” [na verdade] e “nowadays” [hoje em dia]. Além disso, as palavras “private” [particular] e “particular” [específico] são palavras campeãs em fazer os alunos errarem. São temas difíceis, claro, mas com boa fixação, exercícios e professores competentes, é possível ter essas imagens em mente.
Segundo Luciana dos Santos, muitos estudantes se confundem em provas com o uso de artigos antes de adjetivos. Isso porque a língua inglesa permite que artigos sejam usados antes deles, mas só quando acompanhados de um substantivo. Com isso, “I was a happy” é uma frase que não faz sentido (“Eu era uma feliz”, em tradução livre). No entanto, ao adicionar um substantivo, a oração se torna possível: “I was a happy person”.
Para Ana Paula, um dos segredos para ganhar proximidade com a língua inglesa, seja falada ou escrita, é criar memórias visuais do idioma através de produtos culturais. Esse é um método cada vez mais acessível, graças ao sucesso de séries de TV e músicas internacionais.
— Encontrar fontes de aprendizado que sejam mais agradáveis é fundamental, como filmes, séries e músicas. Dá para aproveitar fenômenos da televisão como “Game of Thrones” e “The Walking Dead” ou ouvir bastante e aprender as letras das músicas que estão nas playlists dos candidatos. Usar o idioma em vários contextos permite internalizar esses conhecimentos com mais facilidade — conclui Ana Paula.
SECRETARIA REGIONAL DE PERNAMBUCO
Prof. Marcos Antonio Lucena - Secretário Regional
Profa. Rejane Mansur Nogueira - Secretária Adjunta
José Antônio Aleixo da Silva (Editor)Professor titular da UFRPE e Conselheiro da SBPC.
Bianca Pinto Cardoso
Designer do Jornal